𝗢 𝗦𝗔𝗟𝗠𝗢 𝟮: 𝗔 𝗖𝗢𝗥𝗢𝗔ÇÃ𝗢 𝗗𝗢 𝗡𝗢𝗩𝗢 𝗥𝗘𝗜

O Salmo: A multidão em expectativa grita: Por que se amotinam os gentios,  E os povos imaginam coisas vãs?  Os reis da terra se levantam  E ...

O Salmo:

A multidão em expectativa grita:

Por que se amotinam os gentios, 

E os povos imaginam coisas vãs? 

Os reis da terra se levantam 

E os governos consultam juntamente contra o Senhor 

E contra o seu ungido, dizendo:
Rompamos as suas ataduras, 

E sacudamos de nós as suas cordas.

O Sumo sacerdote intervém acalmando a multidão:

Aquele que habita nos céus se rirá; 

O Senhor zombará deles.
Então lhes falará na sua ira, 

E no seu furor os turbará.

Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião

O Sumo sacerdote recita a súmula de posse:

Proclamarei o decreto: 

O Senhor me disse: Tu és meu Filho, 

                                    Eu hoje te gerei.

Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, 

E os fins da terra por tua possessão.
Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; 

Tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.

A multidão extasiada Levanta a voz reconhecendo o novo rei:

Agora, pois, ó reis, sede prudentes; 

Deixai-vos instruir, juízes da terra.
Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor.
Beijai o Filho, para que se não ire, 

E pereçais no caminho,

Quando em breve se acender a sua ira; 

Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.
Salmos 2:1-12

COMENTÁRIO

O salmo 2 faz parte de uma peça real de salmos junto com os salmos 75, 101 e 109. Esses salmos eram usados e recitados, pelos reis do reino do sul durante a sua coroação religiosa. A povo participava dessa recitação juntamente com a classe sacerdotal. O príncipe da linhagem real de Davi punha-se em pé diante das colunas do templo em Jerusalém. Nesse momento, a grande multidão formada pelo povo, pelos levitas e pelos sacerdotes clamavam em voz alta: 

Por que se amotinam os gentios, 

E os povos imaginam coisas vãs? 

Os reis da terra se levantam 

E os governos consultam juntamente contra o Senhor 

E contra o seu ungido, dizendo:
Rompamos as suas ataduras, 

E sacudamos de nós as suas cordas.
Salmos 2:1-3

A agitação e a gritaria do povo, ansioso diante do santo templo, era a representação da agitação das nações ao redor do reino do sul. A posse de um novo rei era sempre um momento de grande expectativa pelas nações ao redor de Judá. Um rei sem carisma e sem pulso era sempre uma oportunidade das nações subjugadas por Jerusalém se rebelarem e declarar guerra por sua independência. As rebeliões das nações vizinha sempre foram um termômetro da aprovação divina ou não do governante do povo de IHWH (1 RS 11.1-43).  

O sumo sacerdote ergue sua voz e gritava em um tom poderoso, regado pela a unção divina, clamando:

Aquele que habita nos céus se rirá; 

O Senhor zombará deles.
Então lhes falará na sua ira, 

E no seu furor os turbará.
Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião
Salmos 2:4-6

A multidão silenciava diante do poderoso oráculo divino. Os seus olhares voltavam-se para o descendente de Davi. Então o sacerdote iniciava a unção de posse com a recitação da aliança divina com a casa de Davi:

Proclamarei o decreto: 

O Senhor me disse: Tu és meu Filho, 

                                    Eu hoje te gerei.

Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, 

E os fins da terra por tua possessão.
Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; 

Tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.
Salmos 2:7-9

A recitação era feita em forma de um decreto divino. Naquele momento, o óleo representando a unção divina era derramado na cabeça do novo rei. Um novo rei foi “gerado” pela unção divina. Ele é o filho e representante direto de Deus entre os homens. Deus é o seu pai e Lhe dá como herança o seu povo para governar. Sobre o novo rei está as promessas feitas a Abraão de herdar todos os confins da terra. E em demonstração de afeto Deus pergunta o que ele deseja: “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança E os fins da terra por tua possessão.”

          A multidão ia ao delírio e, em voz uníssona, completava a recitação gritando:

Agora, pois, ó reis, sede prudentes; 

Deixai-vos instruir, juízes da terra.
Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor.
Beijai o Filho, para que se não ire, 

E pereçais no caminho,

Quando em breve se acender a sua ira; 

Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.
Salmos 2:10-12

A multidão reconhecia o novo rei como o filho ungido do Deus terrível. Prestando homenagens ao rei: “beijai o filho”.

Essa linda peça real do novo rei, da linhagem de Davi, aponta diretamente para Jesus cristo. Ele é o herdeiro gerado por Deus e autêntico descendente da linhagem de Davi. E com poder regerá toda a terra durante o reino milenial. Essa será a peça que será usada durante sua entronização no milênio.

     O salmo 2, junto com os salmos 75, 101 e 109, é conhecido como salmo de coroação ou salmo real; esses salmos são construídos a partir da imagem da coroação de um novo rei Davídico. Ou seja, o que devemos visualizar nesses salmos é um novo rei que está sendo publicamente coroado. É muito provável que esses salmos fossem recitados exatamente no dia da coroação dos reis do reino do sul que ascendiam da linhagem de Davi. 

       É fundamental antes de vermos, nesse salmo, a figura do Messias, vermos a imagem de um novo rei de Judá que está tomando posse; e partir daí, vermos a imagem do Messias. O Salmo dois é composto por duas grandes imagens. A saber: as nações vassalas que se aproveitam da transição de poder para se rebelarem (versículos 1 a 3) e o ato de coroação como um processo de filiação divina (na coroação, o novo rei se torna filho e representante de Deus na terra, v.7), que contempla os versículos 4 a 9. Essas duas grandes imagens são as chaves hermenêuticas desse salmo. 

𝗜𝗺𝗮𝗴𝗲𝗺 𝟭: 𝗔𝘀 𝗻𝗮çõ𝗲𝘀 𝘃𝗮𝘀𝘀𝗮𝗹𝗮𝘀 𝘀𝗲 𝗿𝗲𝗯𝗲𝗹𝗮𝗺 

       A relação de vassalagem entre os povos do antigo oriente era muito comum. A Bíblia mostra que Salomão, no Auge de seu reino, dominava vários reinos desde o Eufrates, a leste, as proximidades do Egíto, a oeste, e ao norte, na terra dos Filisteus (1 Rs 4.21). 1 Rs 4.7-19 cita, como exemplo, doze reinos que proviam, cada um por vez, uma vez por ano, durante um mês inteiro, mantimentos para Israel. Isso nada mais era do que uma relação de vassalagem, onde Israel era o Reino dominante (Suserano). Próximo ao fim de seu reinado, após Salomão se afastar de Deus, muitos povos se rebelaram contra Israel e Salomão (1 Rs 11.14-40), abandonando o contrato de vassalagem.

      É assim que devemos visualizar os versos 1,2 e 3 do Salmo 2. Um grupo de nações vassalas que se aproveitam da instabilidade política devido a morte do antigo e a coroação do novo rei. Há uma agitação dos reinos vassalos que se erguem contra o novo rei para pressioná-lo. Como diz o verso 1, é um motim, e como diz o verso 3, as nações vassalas rompem as ataduras e amarras que o antigo rei tinha colocado simbolicamente sobre elas. A imagem é de uma revolta generalizada contra o novo rei.  

  

𝗜𝗺𝗮𝗴𝗲𝗺 𝟮: 𝗔 𝗰𝗼𝗿𝗼𝗮çã𝗼 𝗱𝗼 𝗻𝗼𝘃𝗼 𝗰𝗼𝗺𝗼 𝘂𝗺 𝗽𝗿𝗼𝗰𝗲𝘀𝘀𝗼 𝗱𝗲 𝗳𝗶𝗹𝗶𝗮çã𝗼 𝗱𝗶𝘃𝗶𝗻𝗮.

      Na segunda imagem, vemos a coroação do novo rei da linhagem de Davi, mas numa perspectiva divina. No verso 4, vemos Deus observando a rebelião das nações vassalas, ao mesmo tempo que elege para si um novo rei sobre Israel, v.6. Um decreto é lido e recitado diante de todo povo de Israel, muito provavelmente pelo sumo sacerdote ou um profeta que fala em nome do Senhor, conforme o verso 7. Nesse decreto é declarado que no dia da coroação, retratado como hoje, o novo rei é gerado como filho e representante direto de Deus na terra (v.7). 

      Como herança, visto que agora foi declarado filho de Deus gerado mediante unção, o novo rei recebe a possessão dos reinos da terra, v.8, e autoridade divina sobre os reinos vassalos, para dominá-los, simbolizado como por um cetro de ferro que quebra vasos de barro, v. 9.

       Como foi comentado anteriormente, muito provavelmente esse salmo tenha sido cantado ou recitado nas posses dos reis da linhagem de Davi. A coroação do novo rei, que tem seu reinado ameaçado por reinos vassalos que se rebelam e é empossado como rei (gerado filho de Deus), é a imagem histórica nesse Salmo. Obviamente, com o surgimento da esperança messiânica, principalmente após o cativeiro Babilônico, esse salmo ganhou o contorno messiânico que damos hoje.

𝗥𝗘𝗙𝗘𝗥Ê𝗡𝗖𝗜𝗔

- Blog Sensíveis Salmos -  DINIZ, Marcondes P.; SALMO 26: Davi no Banco dos réus; 2020, editora UICLAP.