Lição 2 - Em Permanente Vigilância: O Chamado à Santidade e à Preparação - BETEL ADULTOS - 1º Trim 2025

  TEXTO ÁUREO "E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de...

 

TEXTO ÁUREO

"E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé", Romanos 13.11

VERDADE APLICADA

As experiências e os avivamentos do passado não nos dispensam de viver em constante vigilância e oração.

OBJETIVOS DA LIÇÃO

- Reconhecer as características do esfriamento espiritual. 

- Ressaltar os riscos do esfriamento espiritual para os cristãos 

- Refletir a necessidade do retorno ao primeiro amor.

TEXTOS DE REFERÊNCIA

Apocalipse 2

1. Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro. 

2. Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos.

3. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. 

4. Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade.

5. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. 

COMENTÁRIO EXTRA

Comentário de Hubner Braz

Apocalipse 2 inaugura as mensagens de Jesus às sete igrejas da Ásia Menor, começando pela igreja de Éfeso. Éfeso era uma cidade portuária próspera, famosa pelo Templo de Ártemis (uma das sete maravilhas do mundo antigo) e por sua influência cultural e religiosa. A igreja em Éfeso foi fundada por Paulo (Atos 19), recebeu cartas específicas como Efésios e esteve sob liderança de figuras proeminentes como Timóteo e, possivelmente, João.

Essa carta combina elogios e advertências. Jesus reconhece as virtudes da igreja – trabalho, perseverança e zelo doutrinário – mas reprova o esfriamento do amor inicial. O tom é pastoral e corretivo, destacando a necessidade de arrependimento.

Comentário Versículo por Versículo

Apocalipse 2:1 - "Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro."

1. "Anjo da igreja":
• Do grego ἄγγελος (angelos), que significa "mensageiro". Pode referir-se a um líder humano ou a um anjo responsável pela igreja. O uso simbólico é consistente com o gênero apocalíptico.
2. "Sete estrelas":
• Referem-se aos líderes das igrejas ou anjos (Ap 1:20). A expressão enfatiza o controle soberano de Jesus sobre a Igreja.
3. "Sete castiçais de ouro":
• Do grego λυχνία (lychnia), que significa "candelabro". Representam as igrejas (Ap 1:20), simbolizando sua missão de iluminar o mundo (Mateus 5:14-16).
4. "Que anda no meio":
• Jesus está presente em sua Igreja, garantindo cuidado e disciplina (Mateus 18:20).

Apocalipse 2:2 - "Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos."

1. "Eu sei":
• O verbo grego οἶδα (oida) indica conhecimento pleno e íntimo, reforçando a onisciência de Jesus.
2. "Teu trabalho e tua paciência":
• Κόπος (kopos) refere-se a trabalho árduo até a exaustão. A paciência (ὑπομονή, hypomonē) denota perseverança sob provações.
3. "Não podes sofrer os maus":
• Essa igreja era zelosa pela pureza doutrinária, rejeitando aqueles que praticavam o mal (Salmo 101:3-4).
4. "Puseste à prova os que dizem ser apóstolos":
• O verbo δοκιμάζω (dokimazō) significa "testar, examinar". Eles confrontaram falsos apóstolos, conforme a instrução de Paulo em 1 Tessalonicenses 5:21.

Apocalipse 2:3 - "E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste."

1. "Sofreste":
• Do grego βαστάζω (bastazō), que significa "suportar ou carregar um peso". A igreja suportou perseguições por amor ao nome de Jesus.
2. "Trabalhaste pelo meu nome":
• Indica dedicação ao ministério e fidelidade à missão cristã, mesmo diante de dificuldades.
3. "Não te cansaste":
• A expressão enfatiza a resistência espiritual da igreja.

Apocalipse 2:4 - "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade."

1. "Tenho contra ti":
• A palavra κατά (kata) aqui sugere uma acusação pessoal de Jesus contra a igreja, mesmo após os elogios.
2. "Deixaste":
• O verbo grego ἀφίημι (aphiēmi) significa "abandonar" ou "negligenciar". Não foi uma perda acidental, mas uma decisão gradual de negligenciar o amor.
3. "Primeira caridade":
• A palavra ἀγάπη (agapē) refere-se ao amor sacrificial. A igreja perdeu o fervor inicial por Cristo e pelas pessoas (Mateus 22:37-39).

Apocalipse 2:5 - "Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres."

1. "Lembra-te":
• Do grego μνημόνευε (mnēmoneue), que significa "trazer à mente continuamente". O arrependimento começa com a reflexão.
2. "De onde caíste":
• O verbo πίπτω (piptō) indica uma queda espiritual. Eles haviam se afastado de seu nível anterior de amor e devoção.
3. "Arrepende-te":
• O verbo μετανοέω (metanoeō) significa "mudar de mente e direção". O arrependimento é o chamado principal de Jesus.
4. "Pratica as primeiras obras":
• Um retorno ao fervor inicial e à paixão que caracterizavam sua fé.
5. "Tirarei do seu lugar o teu castiçal":
• Uma advertência grave: se não houvesse arrependimento, a igreja perderia sua posição de testemunho e influência. Historicamente, a igreja de Éfeso desapareceu.

Aplicação Teológica

1. Zelo sem amor é insuficiente:
• Apesar do trabalho árduo e da ortodoxia, sem amor, a igreja se torna espiritualmente estéril (1 Coríntios 13:1-3).
2. A importância do arrependimento:
• Jesus exige não apenas uma fé ativa, mas também um coração apaixonado e comprometido.
3. Advertência para a Igreja:
• O "castiçal" removido indica que a igreja pode perder sua relevância se não permanecer fiel ao amor de Cristo.

Essa mensagem nos ensina a combinar zelo, fidelidade doutrinária e amor genuíno. O arrependimento é o caminho para restaurar a comunhão e o impacto espiritual.

 

LEITURAS COMPLEMENTARES

SEGUNDA | 1Tm 4.16 Perseverando na doutrina bíblica. 

TERÇA | Mt 7.15 Lobo em pele de cordeiro. 

QUARTA | 2Pe 2.1 Cuidado com os falsos mestres. 

QUINTA | Mt 24.12 O pecado faz com que muitos esfriem na fé.

SEXTA | Ap 2.4 A perda do primeiro amor. 

SÁBADO | Ap 2.5 O caminho de volta passa pela restauração.

HINOS SUGERIDOS: 17, 107, 458

MOTIVO DE ORAÇÃO

Ore para que a igreja permaneça vigilante e avivada até a volta de Cristo.

INTRODUÇÃO

Nos tempos apostólicos, algumas igrejas locais já mostravam sinais de esfriamento espiritual e relaxamento no cuidado com a vida espiritual. Essa realidade continuou pelos primeiros séculos e resultou no surgimento de diferentes movimentos de busca de renovação no seio da Igreja. Nesta lição, vamos extrair algumas lições desses movimentos e compreender a relevância do autoexame, da vigilância e da oração.

PONTO DE PARTIDA: Vigiar em todo o tempo.

1- As Igrejas da Ásia

Ao final da era apostólica, algumas igrejas locais já apresentavam desvios doutrinários e esfriamento espiritual, conforme o conteúdo das cartas enviadas às sete igrejas localizadas na Ásia (Ap 1.4). Exilado na ilha de Patmos, o Apóstolo João foi instruído pelo Senhor a escrever tais cartas, cujos conteúdos contêm louvores, admoestações e conselhos específicos para as comunidades cristãs naquela região (Ap 1.11).

1.1. Éfeso

A igreja de Éfeso é enaltecida por seu trabalho e sua paciência, refutando aqueles que se diziam apóstolos; mas, na verdade, eram mentirosos (Ap 2.2). Isso deixa claro que uma das características marcantes da igreja de Éfeso era a intolerância à heresia. Entretanto, o julgamento fica por conta do esfriamento no exercício do amor. Éfeso tornou-se uma igreja fria, indo na contramão dos ensinamentos apostólicos: "Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor", Ap 2.4. A recomendação é que a igreja se lembre de onde caiu, se arrependa e volte a praticar as suas primeiras obras (Ap 2.5). 

Rubens Szczerbacki (2002, p.47-48): "Aqueles que rejeitavam a doutrina do Evangelho, ou seja, o caráter da Triunidade ou o valor do sacrifício de Jesus, eram tidos por mentirosos. O Senhor sente quando o amor mais ardente diminui. Observemos, nesse ponto, o caráter composto da carta: endereçada aos efésios, tem o objetivo de alertar não só àqueles, mas à toda Igreja, em qualquer tempo. Há crentes, especialmente recém-convertidos, que ao se encontrarem com o Senhor são capazes de largar tudo por amor do Seu nome, por amor a obra. Porém, com o passar do tempo, envolvido em perseguições ou angústias, muitos tornam-se mornos, qualidade espiritual que abomina o Senhor".

1.2. Laodiceia. 

A Igreja de Laodiceia não foi enaltecida em nada, mas admoestada por ser morna, apática e não perceber o estado miserável em que se encontrava. O Senhor abomina a indiferença e o meio termo: "Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca", Ap 3.16. Por falta de compromisso com as coisas de Deus, os crentes de Laodiceia foram exortados a ser zelosos e arrepender-se (Ap 3.19). Os que ficam em cima do muro, mantendo uma posição neutra em relação às coisas de Deus, causam náuseas ao Senhor.

Warren W. Wiersbe (2020, p.738): "A vida cristã tem três `temperaturas espirituais': um coração fervoroso, ardente por Deus (Lc 24.32); um coração frio (Mt 24.12); e um coração morno (Ap 3.16). O cristão morno é acomodado, complacente e alheio às próprias necessidades. Quem é frio pelo menos sente falta de calor! Ao crer em Jesus Cristo, há motivos de sobra para ser `fervorosos de espírito' (Rm 12.11). As orações fervorosas também são essenciais (C1 4.12). A igreja de Laodiceia era independente, presunçosa e segura de si. `Não precisamos de coisa alguma!' Enquanto alimentava essa atitude, seu poder espiritual se deteriorava e sua riqueza material e suas estatísticas impressionantes não passavam de mortalhas para um cadáver em decomposição. O Senhor estava fora da igreja, tentando entrar (Ap 3.20)': O Senhor diz que está batendo à porta, do lado de fora. Notemos que o Senhor está revelando que ainda havia oportunidade para mudar o estado daquela igreja.

1.3. A permanente vigilância.

Ainda no início da igreja, muitos não expressavam mais o mesmo vigor de antes: faltava ânimo para a leitura da Palavra, o louvor se tornou morno e a adoração era sem vida. Quando a indiferença e a sonolência tomam conta da caminhada cristã, pode ser sinal de esfriamento espiritual, um estado que deve ser revertido com urgência para evitar que esfriemos na fé, como aconteceu com as igrejas de Éfeso e Laodiceia. Se não voltar logo ao primeiro amor, jamais viveremos o refrigério de um amplo, intenso e necessário avivamento. 

Vigilância é o estado de quem se mantém atento a todos os aspectos da vida, inclusive o espiritual. A necessidade de vigilância é um assunto presente na aflição de Jesus no Getsêmani, quando Ele diz a Pedro, João e Tiago: "ficai aqui e vigiai comigo" (Mt 26.38). Estejamos vigilantes, pois o esfriamento tende a começar de maneira sutil e, gradativamente, toma dimensões que comprometem a vida espiritual em sua totalidade.

COMENTÁRIO EXTRA

Comentário de Hubner Braz

INTRODUÇÃO

Nos primeiros séculos do cristianismo, as igrejas locais já começavam a dar sinais de esfriamento espiritual e de relaxamento na vigilância sobre a vida cristã. Esta realidade, observada por apóstolos como João, provocou movimentos de renovação na Igreja, buscando restaurar a fervorosa paixão pela fé e pela verdade. Hoje, somos desafiados a aprender com esses movimentos de renovação, compreendendo a importância do autoexame, da vigilância constante e da oração, elementos essenciais para manter nossa vida espiritual em vitalidade e fervor.

PONTO DE PARTIDA: Vigiar em Todo o Tempo

1- As Igrejas da Ásia

Ao final da era apostólica, a Igreja já enfrentava desafios internos, como desvios doutrinários e esfriamento espiritual. As cartas enviadas às sete igrejas da Ásia, reveladas no livro de Apocalipse, abordam essas questões, oferecendo louvores, exortações e conselhos para corrigir o que estava errado. Essas cartas são um reflexo das situações de diversas comunidades cristãs e nos ensinam lições preciosas para a Igreja de todos os tempos.

1.1. A Igreja de Éfeso

A igreja de Éfeso é elogiada por sua firmeza doutrinária e seu trabalho árduo na defesa da fé, refutando falsos apóstolos e heresias. Contudo, apesar de seu zelo pela verdade, a igreja foi advertida por perder seu "primeiro amor" (Ap 2.4). Este esfriamento espiritual não foi causado por falhas teológicas, mas pela falta de ardor no relacionamento com Cristo. O apóstolo João, inspirando-se no Espírito Santo, exorta a igreja a se arrepender e retornar às suas "primeiras obras" (Ap 2.5). O comentário de Rubens Szczerbacki é claro: "Aqueles que, no início, se entregam com fervor ao Senhor, com o passar do tempo, podem se tornar mornos e desinteressados, o que desagrada profundamente a Deus".

1.2. A Igreja de Laodiceia

A igreja de Laodiceia é um exemplo de indiferença e complacência espiritual. Ela é condenada por ser "morna" (Ap 3.16), uma condição que é abominável aos olhos do Senhor. A falta de compromisso com as coisas de Deus levou os crentes de Laodiceia a se sentirem autossuficientes, como se não precisassem de nada, incluindo a presença de Cristo em sua vida. Warren W. Wiersbe nos lembra que "a vida cristã tem três 'temperaturas espirituais': ardente, fria e morna. O cristão morno é complacente, indiferente à sua própria necessidade espiritual". A advertência de Apocalipse 3.19 é clara: é necessário arrepender-se e buscar o zelo renovado, pois ainda há oportunidade para mudança.

1.3. A Permanente Vigilância

A vigilância é crucial para manter nossa vida espiritual em santidade e fervor. Assim como as igrejas de Éfeso e Laodiceia, podemos ser tomados por um espírito de apatia e indiferença se não permanecermos atentos à nossa caminhada com Deus. A indiferença pode se instalar de maneira gradual, sem que percebamos, até que comprometa completamente nossa fé. Jesus, em Sua angústia no Getsêmani, nos dá o exemplo: "Ficai aqui e vigiai comigo" (Mt 26.38). A vigilância é o antídoto contra o esfriamento espiritual. Devemos estar atentos a todos os aspectos de nossa vida cristã, buscando a renovação constante pela oração, pela leitura da Palavra e pela prática da fé.

Conclusão

As lições das igrejas da Ásia nos desafiam a uma vida de vigilância, arrependimento e renovação. Devemos examinar constantemente nossa vida espiritual, evitando o comodismo e a apatia que podem nos afastar do fervor do primeiro amor. A oração, o arrependimento e o compromisso com Cristo devem ser a base de nossa caminhada, para que não nos tornemos mornos e indiferentes, mas ardentes no Espírito e firmes na fé.

EU ENSINEI QUE: 

Se não voltar logo ao primeiro amor, jamais viveremos o refrigério de um amplo, intenso e necessário avivamento.

2- O Movimento Montanista 

O movimento montanista surgiu na metade do século 2, em Ardaban (ou Ardabau), aldeia que ficava na fronteira entre as províncias romanas da Frígia e da Mísia, na Ásia Menor. Os montanistas pregavam uma nova revelação concedida a eles. Veremos, aqui, a conexão desse movimento com o pentecostalismo.

2.1. O propósito do Movimento Montanista. 

A história da Igreja narra muitos movimentos surgidos após o Pentecostes, os quais ocorriam à margem da Igreja oficial, sendo o movimento montanista mais um deles. Para Walker (pp. 86-87, 1981), esse movimento foi uma reação às "tendências seculares que já se faziam sentir na Igreja [...], era um protesto contra o crescente mundanismo que invadia a Igreja em geral". Walker ressalta ainda que o movimento atingiu proporções consideráveis; atraindo, inclusive, um dos mais importantes pais latinos da Igreja: Tertuliano. Podemos perceber que a Igreja sempre enfrentou essa tendência ao esfriamento, tanto espiritual quanto em relação à expectativa da Segunda Vinda de Jesus.

Earle E. Cairns (1988, p. 83): "O montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espírito de Deus. Infelizmente, estes movimentos geralmente se afastam da Bíblia, entusiasmados que ficam pela reforma que desejam. O movimento montanista foi e é um aviso para que a Igreja não esqueça que a organização e a doutrina não podem ser separadas da satisfação do lado emocional da natureza do homem e do anseio humano por um contato espiritual imediato com Deus 

2.2. Os excessos do Movimento Montanista.

Ainda que este movimento fosse uma tentativa de resgatar a manifestação dos dons espirituais, Montano alegava, segundo seus críticos, que as declarações proféticas estavam no mesmo nível de autoridade das Escrituras. Montano se colocou como Paracleto, por meio de quem o Espírito Santo falava à Igreja do mesmo modo que falara aos apóstolos. Segundo Roger Olson (p.30, 2001), Montano rejeitava a crescente fé na autoridade especial dos bispos e dos escritos apostólicos, além de se opor a qualquer limitação ou restrição quanto às manifestações espirituais. Contra esses exageros, houve uma forte reação da Igreja. 

Vinson Synan (2009, p. 34): "Muitos estudiosos agora sentiam que a Igreja havia exagerado em sua reação ao montanismo, ao afirmar que os dons carismáticos mais espetaculares, embora experimentados pela igreja apostólica, haviam sido revogados com a definição do cânon das Escrituras. Essa opinião foi emitida por Agostinho e encontrou eco entre os estudiosos nos séculos seguintes".

2.3. O afastamento da Doutrina dos Apóstolos.

Ao longo dos anos, a Igreja foi ficando mais dependente da gestão humana do que da ação do Espírito Santo. Isso deu margem ao surgimento de vários movimentos religiosos, que ansiavam por um retorno da Igreja à doutrina e ao vigor espiritual dos tempos apostólicos. Refletir acerca desses momentos na história da Igreja nos leva a compreender a necessidade de autoexame contínuo, sob a indispensável ação do Espírito e à luz das Escrituras (2Co 13.5; Ef 5.18; 1Ts 5.19-21). 

Eddie Hyatt (2021, p. 52): "A reação da Igreja ao montanismo contribuiu para um desaparecimento cada vez mais rápido dos dons espirituais. A altura do terceiro século, Orígenes já diria explicitamente que "esses sinais diminuíram': A liberdade do Espírito foi substituída pelos rituais cerimoniais e pela ordem eclesial. O golpe final no aspecto carismático da Igreja viria com a conversão de Constantino e com a aquisição de poder e influência terrenas por parte da Igreja.

COMENTÁRIO EXTRA

Comentário de Hubner Braz

2- O Movimento Montanista

O movimento montanista, que surgiu na metade do século II, representou uma das tentativas de renovação espiritual dentro da Igreja primitiva. Localizado na região da Frígia, na Ásia Menor, o movimento liderado por Montano e seus seguidores procurava restaurar a prática dos dons espirituais e fortalecer a expectativa da vinda iminente de Cristo. Porém, como veremos, o montanismo também foi marcado por excessos que geraram reações da Igreja oficial.

2.1. O propósito do Movimento Montanista

O movimento montanista foi uma reação contra a crescente secularização da Igreja. À medida que o cristianismo se estabelecia como uma instituição, muitos começaram a sentir que o fervor espiritual e a expectativa do retorno de Cristo estavam esfriando. O montanismo surgiu como uma tentativa de restaurar essa vivência intensa do Espírito Santo e da vigilância cristã. Segundo Walker (1981), o movimento representava um protesto contra o mundanismo que invadia a Igreja. A expectativa de um avivamento e a busca por uma experiência mais profunda com Deus eram centrais para o movimento montanista. A figura de Montano, que se dizia profeta, atraiu seguidores, incluindo Tertuliano, um dos pais da Igreja Latina, que reconheceu o movimento como um retorno ao vigor espiritual apostólico.

Earle E. Cairns (1988) destaca que o montanismo surgiu em um contexto de crescimento da institucionalização e burocratização da Igreja, onde a dependência do Espírito Santo parecia diminuir. O movimento, embora não desprovido de falhas, era uma tentativa de restaurar o contato direto e imediato com Deus, buscando uma experiência mais visceral e emocional com o divino, algo que muitos cristãos sentiam falta à medida que a Igreja se tornava mais organizada.

2.2. Os excessos do Movimento Montanista

Embora o montanismo tenha surgido com boas intenções, como a restauração da experiência espiritual intensa, ele rapidamente se distorceu. Montano se proclamou como o "Paracleto", o conselheiro enviado pelo Espírito Santo, e afirmou que as profecias que ele recebia estavam no mesmo nível de autoridade das Escrituras Sagradas. De acordo com Roger Olson (2001), Montano rejeitava a autoridade crescente dos bispos e da tradição apostólica, além de contestar qualquer limitação à manifestação dos dons espirituais. Esse descontrole levou a Igreja a reagir fortemente contra o montanismo, considerando-o uma ameaça à doutrina e à ordem estabelecida.

Vinson Synan (2009) aponta que, embora a Igreja tenha reagido de forma severa, muitos estudiosos modernos consideram que a Igreja exagerou em sua condenação do montanismo, especialmente no que diz respeito à alegação de que os dons espirituais haviam cessado com a definição do cânon das Escrituras. Essa visão foi popularizada por Agostinho e perdurou por séculos. A reação da Igreja contra o montanismo pode ser vista como parte de um movimento mais amplo de institucionalização e controle da espiritualidade, em contraste com a liberdade do Espírito que o montanismo procurava restaurar.

2.3. O afastamento da Doutrina dos Apóstolos

À medida que a Igreja crescia em influência e poder, especialmente após a conversão de Constantino e a legalização do cristianismo no Império Romano, houve um afastamento gradual da vivência vibrante dos dons espirituais que caracterizava a Igreja primitiva. O montanismo, portanto, foi uma tentativa de restaurar esse vigor apostólico. A Igreja, ao se institucionalizar e se tornar mais dependente de estruturas eclesiásticas, começou a perder a ênfase no poder do Espírito Santo e na manifestação dos dons espirituais.

Eddie Hyatt (2021) observa que a reação contra o montanismo e a busca pela ordem eclesiástica contribuíram para o desaparecimento dos dons espirituais na Igreja. Já no século III, teólogos como Orígenes começaram a afirmar que os sinais miraculosos da Igreja apostólica haviam diminuído. A consolidação do poder político e religioso da Igreja após a conversão de Constantino trouxe consigo uma crescente ênfase em rituais cerimoniais e estrutura eclesiástica, o que, segundo muitos estudiosos, foi um golpe fatal para o movimento carismático que havia florescido na Igreja primitiva.

Conclusão

O movimento montanista, apesar de seus excessos, foi um reflexo da busca contínua da Igreja por renovação espiritual e pelo retorno à vivência plena dos dons espirituais. Sua história serve como um alerta para as gerações futuras, lembrando que, embora a estrutura e a doutrina sejam essenciais, a dependência do Espírito Santo e o fervor espiritual não podem ser negligenciados. A reflexão sobre o montanismo nos conduz à necessidade de um autoexame contínuo, para que a Igreja evite cair no erro do esfriamento espiritual e mantenha viva a chama do Espírito Santo em sua caminhada.

EU ENSINEI QUE:

Ao longo dos anos, a Igreja foi ficando mais dependente da gestão humana do que da ação do Espírito Santo. 

3. Lições e alertas dos primeiros séculos.

A partir dos relatos bíblicos e históricos, é possível extrair lições e alertas para uma jornada cristã vitoriosa, seguindo sempre no poder do Espírito Santo e no direcionamento da Palavra de Deus. É preciso evitar que o comodismo, o esfriamento e a indiferença nos impeçam de servir "a Deus agradavelmente, com reverência e piedade" (Hb 12.28). 

3.1. Lidando com exageros e equívocos.

É preciso prudência para lidar com os exageros e equívocos que venham a surgir na Igreja. Para isso, é bom refletir sobre como Paulo lidou com a questão do uso dos dons espirituais na igreja em Corinto. Havia exageros ali, pois parece que alguns ignoravam o propósito dos dons enquanto outros se sentiam superiores. O apóstolo, então, escreveu sobre a unidade do Corpo de Cristo, a responsabilidade de cada membro, o propósito dos dons, a necessidade de ordem e decência e o caminho ainda mais excelente: o amor (1 Co 12-14). Isso significa que houve instrução, correção e esclarecimento, mas sem extinguir, desprezar ou proibir as manifestações dos dons espirituais. 

Bispo Abner Ferreira (2017, p. 79- 80): "Somente uma leitura superficial do Novo Testamento alimentará a ideia de que o desempenho dos dons espirituais na época apostólica era perfeito e isento de abuso ou engano. Assim, tendo sempre as Escrituras como nosso fundamento, verificamos que há necessidade de evitar os dois extremos: considerar qualquer abuso no uso dos dons como atestado de que tudo é falso e engano ou considerar como infalível a manifestação dos dons espirituais e, assim, resistir à instrução e correção". 

3.2. O contínuo autoexame.

Podemos extrair algumas lições das cartas às Igrejas de Éfeso e Laodiceia: (1) Como ocorreu com Israel no período do AT, não é suficiente manter atividades religiosas se o estado espiritual do povo é de indiferença, caracterizado por um formalismo vazio e uma conduta incoerente com o padrão bíblico; (2) Experiências e avivamentos do passado não nos dispensam de cultivar um viver de constante oração, vigilância e autoexame; (3) O autoexame deve ser feito com a ajuda do Espírito Santo e à luz da Palavra de Deus, pois não somos suficientemente capazes de discernir o nosso real estado espiritual apenas com conhecimentos e sentimentos humanos. 

Roger Stronstad (2020, p. 285) comenta sobre o fato de que, no Apocalipse, "Jesus primeiro adverte a Igreja, que é tipificado ou representada pelas `sete igrejas' sobre suas efetivas e/ou potenciais atitudes e ações erradas (Ap 2.1-3.22). Muitos leitores poderão se surpreender por esse fato. Uma razão para essa surpresa é que muitos cristãos esperam que assim que seus pecados são perdoados, o exclusivo interesse de Jesus por eles está em seu conforto, segurança e inclusive prosperidade individual, familiar e/ou da própria comunidade. No entanto, Jesus tem um conjunto diferente de valores e padrões do que essas expectativas autosservidoras. Os padrões de Jesus são a fé, a santidade, a verdade etc., e esses padrões são tão primitivos como os primórdios da nação de Israel e se estendem pelas gerações dessa nova Eclésia, a Igreja". 

3.3. O contínuo avivamento.

A Palavra de Deus traz muitos alertas quanto aos últimos dias: esfriamento do amor, apostasia da fé e aparência de piedade são alguns deles. Portanto, é fundamental que a Igreja não se distraia com o crescimento numérico, as grandes realizações e o reconhecimento político e social, deixando de perceber os sutis ataques e investidas do inimigo e do mundo. Façamos nossa a oração dos primeiros cristãos, registrada em Atos 4.29, e tenhamos em mente as exortações que encontramos em 1 Tessalonicenses 5.16-23. 

Pr. Marcos Sant'Anna (2019, p. 25): "Ecclesia semper reformanda (A igreja deve sempre ser reformada). Movimento pentecostal do início do século XX, sempre em movimento, buscando contínua renovação para: não deixar o primeiro amor; manter-se vigilante quanto às doutrinas bíblicas (inclui zelo e honestidade no estudo e na exposição das Escrituras); não ser tolerante com a iniquidade (considerando que "carisma" não nos isenta do constante aperfeiçoamento do "caráter" cristão em nós); manter-se dependente da ação do Espírito Santo, conscientes de que a Igreja, que é peregrina e forasteira neste mundo, é enviada ao mundo como testemunha de Jesus, até que Ele venha!" 

COMENTÁRIO EXTRA

Comentário de Hubner Braz

3.1. Lidando com exageros e equívocos (1 Coríntios 12-14)

No contexto de 1 Coríntios 12-14, Paulo aborda diretamente as manifestações espirituais da Igreja de Corinto, onde havia uma série de excessos e desentendimentos em relação aos dons do Espírito. O apóstolo instrui sobre o propósito dos dons espirituais, como unidade no Corpo de Cristo (1 Coríntios 12.12-13), e enfatiza que os dons não são para auto-glorificação ou para divisões, mas para o bem comum e a edificação da Igreja (1 Coríntios 12.7).

Em 1 Coríntios 13, Paulo apresenta o caminho mais excelente, que é o amor, que não só santifica e ordena os dons, mas os torna eficazes e duradouros. O amor é o critério mais alto de discernimento dos dons espirituais, como em sua definição: "O amor nunca falha" (1 Coríntios 13.8). Em um contexto de exageros, como o de Corinto, o apóstolo exorta que os dons espirituais não devem ser confundidos com a maturidade cristã.

Raiz grega:

• "Dons espirituais" (1 Coríntios 12.1) vem de χάρισμα (charisma), que significa "dom gratuito", algo concedido por Deus por Sua graça. É um favor divino dado para edificar e fortalecer a Igreja.
• Edificação (1 Coríntios 14.3) vem de οἰκοδομὴ (oikodomē), que significa literalmente "construção de uma casa", sugerindo a ideia de um processo contínuo de crescimento e fortalecimento da comunidade cristã.

Aplicação Pessoal: É importante refletir sobre o uso dos dons espirituais em nossas comunidades, buscando a edificação mútua e não a exaltação pessoal. O equilíbrio entre os dons espirituais e o amor é fundamental para a construção de uma Igreja saudável. Devemos praticar os dons com humildade e responsabilidade, sem distorcê-los ou usá-los de forma que cause divisões ou confusão.

3.2. O contínuo autoexame (Apocalipse 2-3)

As cartas às sete igrejas do Apocalipse (Apocalipse 2-3) são um poderoso exemplo de autoexame espiritual. Nelas, Jesus adverte as igrejas sobre seus erros e fraquezas espirituais. Em Apocalipse 2.5, Ele diz à Igreja de Éfeso: "Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e pratica as primeiras obras". Isso destaca a importância de um arrependimento contínuo e vigilância espiritual.

A autoavaliação constante é uma prática essencial na vida cristã, como nos ensina o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 13.5, onde ele admoesta a Igreja a examinar a si mesma para ver se está "na fé". O Espírito Santo, como o Espírito da Verdade, é nosso guia e revela áreas de nossas vidas que precisam ser transformadas.

Raiz grega:

• "Arrependimento" (Apocalipse 2.5) vem de μετάνοια (metanoia), que significa "mudança de mente", indicando uma transformação interna que leva a ações concretas de fé.
• Vigilância (Apocalipse 3.2) vem de γρηγορέω (grēgoreō), que implica "estar atento, acordado", uma chamada à vigilância espiritual contínua, sem cair na complacência.

Aplicação Pessoal: O autoexame deve ser uma prática diária em nossa caminhada cristã. Isso nos permite ver onde precisamos de arrependimento e crescimento. A vigilância nos impede de cair em complacência ou indiferença, e nos mantém centrados na Palavra de Deus e na ação do Espírito Santo em nossas vidas.

3.3. O contínuo avivamento (Atos 4.29; 1 Tessalonicenses 5.16-23)

A Igreja, nos primeiros séculos, foi marcada por um avivamento contínuo, caracterizado pela dependência do Espírito Santo e pela busca constante por renovação espiritual. O avivamento não é apenas uma experiência pontual, mas um movimento contínuo de busca pela presença de Deus. A oração dos cristãos em Atos 4.29 reflete esse desejo profundo de renovação e ousadia: "Agora, Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos Teus servos que anunciem a Tua palavra com toda ousadia".

Em 1 Tessalonicenses 5.16-23, Paulo instrui a Igreja a "alegrar-se sempre" e "orar sem cessar", buscando santificação contínua até a volta de Cristo. O avivamento é visto como um processo que não termina, mas que deve se estender ao longo da vida cristã.

Raiz grega:

• "Avivamento" pode ser entendido a partir da palavra ἀναζωπυρέω (anazōpureō), que significa "acender novamente", "inflamar de novo". A ideia de renovação do fervor espiritual é central para o entendimento do avivamento contínuo.
• "Ousadia" (Atos 4.29) vem de παρρησία (parrēsia), que significa "liberdade de falar", uma confiança ousada no Espírito Santo para proclamar a Palavra sem medo ou constrangimento.

Aplicação Pessoal: A Igreja e o cristão individual devem estar sempre em busca de renovação espiritual, não deixando que as circunstâncias externas ou a rotina esfriem seu ardor. O avivamento não é algo que se busca uma vez, mas algo que deve ser buscado constantemente por meio da oração, da comunhão com o Espírito Santo e do compromisso com a Palavra de Deus.

Conclusão

A história da Igreja e a reflexão sobre os primeiros séculos nos alertam sobre a necessidade de mantermos a fé e a prática cristã genuínas e em constante renovação. Devemos evitar tanto os excessos no uso dos dons espirituais quanto o esfriamento espiritual, buscando sempre o equilíbrio entre a verdade doutrinária e a experiência com o Espírito Santo. A vigilância, o arrependimento e o avivamento contínuo são essenciais para uma caminhada cristã vitoriosa e em conformidade com o que Cristo espera de Sua Igreja.

EU ENSINEI QUE:

É preciso evitar que o comodismo, o esfriamento e a indiferença nos impeçam de servir "a Deus agradavelmente, com reverência e piedade" (Hb 12.28).  

CONCLUSÃO

Desde o AT, o povo de Deus passou por momentos de avivamento e de esfriamento. A presente geração de fiéis não deve ficar indiferente à mensagem que o Senhor enviou às sete igrejas na Ásia: "Ouça o que o Espírito diz às igrejas", Ap 2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22), pois assim Deus revela o verdadeiro estado da Igreja, Sua vontade e Sua provisão. 

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