SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição é igual para alunos e mestres, inclusive o ...
SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR
Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Em Jeremias 36 a 39 há 99 versos. Sugerimos começar a aula lendo, com os alunos, Jeremias 39.1-18 (5 a 7 min.).
A revista funciona como guia de estudo e leitura complementar, mas não substitui a leitura da Bíblia. Esta lição apresenta três momentos marcantes: o registro da profecia, a perseguição ao profeta e a concretização do juízo divino.
O professor deve enfatizar a fidelidade de Jeremias ao proclamar a Palavra, mesmo diante da rejeição. O rolo queimado por Jeoaquim representa a resistência humana à mensagem divina, enquanto a prisão e a cisterna revelam os sofrimentos enfrentados pelos que servem a Deus com integridade. Por fim, a queda de Jerusalém confirma que nenhuma resistência humana pode impedir o cumprimento do juízo. Mostre aos alunos que a Palavra de Deus permanece firme e que obedecer, mesmo sob pressão, é o caminho da verdadeira vitória.
Este blog foi feito com muito carinho 💝 para você. Ajude-nos 🙏 . Envie uma oferta de qualquer valor fazendo um Pix/E-mail pecadorconfesso@hotmail.com e você estará colaborando para que esse blog continue trazendo conteúdo exclusivo e de edificação para a sua vida.
OBJETIVOS
Entender o papel de Babilônia como instrumento do juízo divino.
Identificar os enganos provocados pelos falsos profetas.
Confiar na Palavra de Deus, mesmo em tempos de cativeiro.
PARA COMEÇAR A AULA
Mostre uma Bíblia impressa e algumas folhas velhas de jornal. Rasgue algumas dessas folhas diante da turma e pergunte: “Como vocês se sentem vendo isso?” Depois questione: “E se eu rasgasse páginas da Bíblia? Como vocês reagiriam?” Explique que foi isso que o rei Jeoaquim fez: desprezou a mensagem de Deus. Conclua perguntando: “Será que também não desprezamos a Palavra quando desobedecemos ou ignoramos Deus?”. Finalize lembrando que Deus nos chama a respeitar, guardar e praticar Sua Palavra.
LEITURA ADICIONAL
Texto Áureo
“mandaram retirar Jeremias do átrio da guarda e o entregaram a Gedalias, filho de Aicão, filho de Safã, para que o levasse para o seu palácio; assim, habitou entre o povo.” Jr 39.14
Leitura Bíblica Com Todos
Jeremias 39.1-18
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Jeremias 39.1–18 — Queda de Jerusalém, fidelidade de Deus e cuidado pelos seus
Panorama e estrutura
O capítulo 39 narra o cumprimento histórico do anúncio profético: a tomada de Jerusalém pelos babilônios (586/587 a.C.), o colapso da casa de Davi sob Zedequias, a quebra das muralhas e deportações, junto com dois sinais de graça: a salvaguarda de Jeremias (vv.11–14) e a promessa pessoal a Ebede-Meleque (vv.15–18). O texto mostra a soberania de YHWH no juízo e sua providência particular para os que nele confiam.
Comentário bíblico-teológico
39.1–3 — Cerco e brecha
“Foi aberta uma brecha” (תִּבָּקַע, tibbāqaʿ, de בָּקַע, baqaʿ, “fender, romper”). A imagem é teológica: o que se rompeu não foi apenas pedra, mas a autoconfiança de Judá (cf. Jr 21.4–7). Os títulos babilônicos no v.3 (p.ex., רַב־סָרִיס, rab-sārîs, “chefe dos eunucos”; רַב־מָג, rab–māg, “chefe dos magos/estudiosos”) enfatizam a total dominação imperial. Jeremias havia dito: “Entreguei esta cidade” (cf. Jr 32.28–29). Agora, cumpre-se.
39.4–10 — Destino de Zedequias e dos habitantes
Zedequias foge, é capturado e cegado depois de ver os filhos morrerem (vv.6–7). A lex talionis aqui não é vingança arbitrária; é a reversão do pacto quebrado (cf. 2Rs 25.7; Jr 34.17–22). A deportação e o incêndio (v.8) refletem o fim do sistema que se recusou a ouvir os profetas. Em contraste, o v.10 registra um ato surpreendente: Nebuzaradã “deixou dos pobres” e lhes deu vinhas e campos. É um êxodo às avessas: os poderosos saem, os pobres herdam a terra (eco de Lv 25; Is 61.1–7).
Hebraico-chave:
- רַב־טַבָּחִים (rab–ṭabbāḥîm, “chefe da guarda/executores”): instrumento do juízo, mas também do cuidado providencial no caso de Jeremias (vv.11–14).
- דַּלּוֹת (dallôt, “os pobres/fragilizados”): alvo da reversão social (cf. Jr 22.16).
39.11–14 — O resgate de Jeremias (Texto Áureo, v.14)
A ordem explícita: “Põe os olhos sobre ele” (וְשִׂים עֵינֶיךָ עָלָיו) e “não lhe faças mal” (אַל־תַּעֲשֶׂה־לוֹ רָעָה)… “conforme ele te falar, assim faze” (כַּאֲשֶׁר יְדַבֵּר אֵלֶיךָ כֵּן עֲשֵׂה; v.12). É a inversão: o profeta desprezado passa a ditar sua própria locação. Entregue a Gedalias, filho de Aicam, filho de Safã, o mesmo clã que antes protegera Jeremias (Jr 26.24), e “habitou entre o povo” (וַיֵּשֶׁב בְּתוֹךְ הָעָם). Teologicamente, o profeta permanece presente no meio dos sobreviventes para orientar o remanescente (cf. Jr 40–44). A expressão בְּתוֹךְ הָעָם (betôk hāʿam) ressalta encarnação pastoral: ministério junto e não à margem.
39.15–18 — Palavra a Ebede-Meleque
Ao etíope (עֶבֶד־מֶלֶךְ הַכּוּשִׁי), que havia intercedido por Jeremias (Jr 38.7–13), Deus promete: “Eis que Eu te livrarei” (הִנְנִי מַצִּילְךָ; Hifil de נצל, nṣl, “arrancar, salvar”), “não serás entregue… de quem temes” e “a tua vida te será por despojo” (וְהָיְתָה לְךָ נַפְשְׁךָ לְשָׁלָל; v.18). Motivo: “porque confiaste (בָּטַחְתָּ, bātaḥ) em mim”. Em Jeremias, a fórmula “vida por despojo” marca quem se rende à palavra de YHWH e é preservado (Jr 21.9; 45.5). A graça alcança um estrangeiro marginalizado: a pertença verdadeira não é étnica, é fiducial (confiança).
Teologia do capítulo
- O juízo é de YHWH: Babilônia é instrumento (cf. Jr 25).
- A Palavra se cumpre: a queda certifica o profeta verdadeiro (Dt 18.22; Jr 1.12).
- Graça no juízo: Deus preserva pessoas (Jeremias, Ebede-Meleque) e um remanescente.
- Reversão social: os pobres recebem a terra — um vislumbre do jubileu sob o governo providencial de Deus.
- Critério do remanescente: confiança obediente (בָּטַח) na palavra, não status ou poder.
Palavras hebraicas destacadas
- בָּקַע (baqaʿ, “romper”) — v.2: brecha que expõe a falência da autodefesa.
- רַב־טַבָּחִים — “chefe da guarda/executores”; agente de juízo e de proteção (vv.11–14).
- וַיֵּשֶׁב בְּתוֹךְ הָעָם — “habitou entre o povo”; presença pastoral no pós-catástrofe (v.14).
- נצל (Hifil) — “livrar, arrancar” (v.17).
- בָּטַח (bātaḥ, “confiar”) — critério de salvação pessoal (v.18).
- נֶפֶשׁ לְשָׁלָל — “vida por despojo”; fórmula de preservação (v.18).
Referências acadêmicas (sugestivas)
- J. A. Thompson, O COMENTARIO DE JEREMIAS.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale).
- William L. Holladay, Jeremiah (2 vols.).
- R. P. Carroll, Jeremiah (OTL).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming.
- Leslie C. Allen, Jeremiah (OTL suplemento).
- G. L. Keown, P. J. Scalise & T. G. Smothers, Jeremiah 26–52 (WBC 27).
Aplicação pessoal
- Permaneça “entre o povo”: ministério autêntico não se isola em tempos de ruína; fica e serve.
- Confie enquanto age: como Ebede-Meleque, una coragem prática (intervenção) à confiança em Deus — Ele sabe livrar os que nele confiam.
- Disciplina não é abandono: Deus pode usar perdas para reordenar nossa vida ao redor da sua palavra; busque escutar e render-se.
- Cuidado com os pequenos: Deus visita os “dallôt”; pratique justiça que redistribui cuidado e abre caminhos aos vulneráveis.
Tabela expositiva de Jeremias 39
Perícope
Ênfase
Termos-chave
Doutrina/Teologia
Aplicação
39.1–3
Brecha e ocupação
בָּקַע (romper); títulos babilônicos
Soberania de Deus no juízo
Reconheça quando Deus desfaz seguranças falsas
39.4–7
Queda de Zedequias
“cegar”, justiça retributiva
Julgamento do pacto violado
O poder sem obediência termina em trevas
39.8–10
Incêndio e pobres na terra
דַּלּוֹת (pobres)
Reversão social; resquício de jubileu
Sirva ao vulnerável; Deus o prioriza
39.11–14
Salvaguarda de Jeremias
“não lhe faças mal”; “habitou entre o povo”
Validação do profeta; presença pastoral
Permaneça presente para edificar o remanescente
39.15–18
Oráculo a Ebede-Meleque
נצל (livrar); בָּטַח (confiar); נֶפֶשׁ לְשָׁלָל
Salvação pessoal pela confiança obediente
Coragem + fé: Deus guardará sua vida como “despojo”
Síntese: Jeremias 39 confirma que Deus cumpre sua palavra em juízo, mas não abandona os que nele confiam. Ele resguarda seu profeta, honra o estrangeiro fiel e inicia, mesmo nas ruínas, sinais de restauração para o povo. Que aprendamos a habitar entre o povo, confiando e servindo, até que a esperança floresça de novo.
Jeremias 39.1–18 — Queda de Jerusalém, fidelidade de Deus e cuidado pelos seus
Panorama e estrutura
O capítulo 39 narra o cumprimento histórico do anúncio profético: a tomada de Jerusalém pelos babilônios (586/587 a.C.), o colapso da casa de Davi sob Zedequias, a quebra das muralhas e deportações, junto com dois sinais de graça: a salvaguarda de Jeremias (vv.11–14) e a promessa pessoal a Ebede-Meleque (vv.15–18). O texto mostra a soberania de YHWH no juízo e sua providência particular para os que nele confiam.
Comentário bíblico-teológico
39.1–3 — Cerco e brecha
“Foi aberta uma brecha” (תִּבָּקַע, tibbāqaʿ, de בָּקַע, baqaʿ, “fender, romper”). A imagem é teológica: o que se rompeu não foi apenas pedra, mas a autoconfiança de Judá (cf. Jr 21.4–7). Os títulos babilônicos no v.3 (p.ex., רַב־סָרִיס, rab-sārîs, “chefe dos eunucos”; רַב־מָג, rab–māg, “chefe dos magos/estudiosos”) enfatizam a total dominação imperial. Jeremias havia dito: “Entreguei esta cidade” (cf. Jr 32.28–29). Agora, cumpre-se.
39.4–10 — Destino de Zedequias e dos habitantes
Zedequias foge, é capturado e cegado depois de ver os filhos morrerem (vv.6–7). A lex talionis aqui não é vingança arbitrária; é a reversão do pacto quebrado (cf. 2Rs 25.7; Jr 34.17–22). A deportação e o incêndio (v.8) refletem o fim do sistema que se recusou a ouvir os profetas. Em contraste, o v.10 registra um ato surpreendente: Nebuzaradã “deixou dos pobres” e lhes deu vinhas e campos. É um êxodo às avessas: os poderosos saem, os pobres herdam a terra (eco de Lv 25; Is 61.1–7).
Hebraico-chave:
- רַב־טַבָּחִים (rab–ṭabbāḥîm, “chefe da guarda/executores”): instrumento do juízo, mas também do cuidado providencial no caso de Jeremias (vv.11–14).
- דַּלּוֹת (dallôt, “os pobres/fragilizados”): alvo da reversão social (cf. Jr 22.16).
39.11–14 — O resgate de Jeremias (Texto Áureo, v.14)
A ordem explícita: “Põe os olhos sobre ele” (וְשִׂים עֵינֶיךָ עָלָיו) e “não lhe faças mal” (אַל־תַּעֲשֶׂה־לוֹ רָעָה)… “conforme ele te falar, assim faze” (כַּאֲשֶׁר יְדַבֵּר אֵלֶיךָ כֵּן עֲשֵׂה; v.12). É a inversão: o profeta desprezado passa a ditar sua própria locação. Entregue a Gedalias, filho de Aicam, filho de Safã, o mesmo clã que antes protegera Jeremias (Jr 26.24), e “habitou entre o povo” (וַיֵּשֶׁב בְּתוֹךְ הָעָם). Teologicamente, o profeta permanece presente no meio dos sobreviventes para orientar o remanescente (cf. Jr 40–44). A expressão בְּתוֹךְ הָעָם (betôk hāʿam) ressalta encarnação pastoral: ministério junto e não à margem.
39.15–18 — Palavra a Ebede-Meleque
Ao etíope (עֶבֶד־מֶלֶךְ הַכּוּשִׁי), que havia intercedido por Jeremias (Jr 38.7–13), Deus promete: “Eis que Eu te livrarei” (הִנְנִי מַצִּילְךָ; Hifil de נצל, nṣl, “arrancar, salvar”), “não serás entregue… de quem temes” e “a tua vida te será por despojo” (וְהָיְתָה לְךָ נַפְשְׁךָ לְשָׁלָל; v.18). Motivo: “porque confiaste (בָּטַחְתָּ, bātaḥ) em mim”. Em Jeremias, a fórmula “vida por despojo” marca quem se rende à palavra de YHWH e é preservado (Jr 21.9; 45.5). A graça alcança um estrangeiro marginalizado: a pertença verdadeira não é étnica, é fiducial (confiança).
Teologia do capítulo
- O juízo é de YHWH: Babilônia é instrumento (cf. Jr 25).
- A Palavra se cumpre: a queda certifica o profeta verdadeiro (Dt 18.22; Jr 1.12).
- Graça no juízo: Deus preserva pessoas (Jeremias, Ebede-Meleque) e um remanescente.
- Reversão social: os pobres recebem a terra — um vislumbre do jubileu sob o governo providencial de Deus.
- Critério do remanescente: confiança obediente (בָּטַח) na palavra, não status ou poder.
Palavras hebraicas destacadas
- בָּקַע (baqaʿ, “romper”) — v.2: brecha que expõe a falência da autodefesa.
- רַב־טַבָּחִים — “chefe da guarda/executores”; agente de juízo e de proteção (vv.11–14).
- וַיֵּשֶׁב בְּתוֹךְ הָעָם — “habitou entre o povo”; presença pastoral no pós-catástrofe (v.14).
- נצל (Hifil) — “livrar, arrancar” (v.17).
- בָּטַח (bātaḥ, “confiar”) — critério de salvação pessoal (v.18).
- נֶפֶשׁ לְשָׁלָל — “vida por despojo”; fórmula de preservação (v.18).
Referências acadêmicas (sugestivas)
- J. A. Thompson, O COMENTARIO DE JEREMIAS.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale).
- William L. Holladay, Jeremiah (2 vols.).
- R. P. Carroll, Jeremiah (OTL).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming.
- Leslie C. Allen, Jeremiah (OTL suplemento).
- G. L. Keown, P. J. Scalise & T. G. Smothers, Jeremiah 26–52 (WBC 27).
Aplicação pessoal
- Permaneça “entre o povo”: ministério autêntico não se isola em tempos de ruína; fica e serve.
- Confie enquanto age: como Ebede-Meleque, una coragem prática (intervenção) à confiança em Deus — Ele sabe livrar os que nele confiam.
- Disciplina não é abandono: Deus pode usar perdas para reordenar nossa vida ao redor da sua palavra; busque escutar e render-se.
- Cuidado com os pequenos: Deus visita os “dallôt”; pratique justiça que redistribui cuidado e abre caminhos aos vulneráveis.
Tabela expositiva de Jeremias 39
Perícope | Ênfase | Termos-chave | Doutrina/Teologia | Aplicação |
39.1–3 | Brecha e ocupação | בָּקַע (romper); títulos babilônicos | Soberania de Deus no juízo | Reconheça quando Deus desfaz seguranças falsas |
39.4–7 | Queda de Zedequias | “cegar”, justiça retributiva | Julgamento do pacto violado | O poder sem obediência termina em trevas |
39.8–10 | Incêndio e pobres na terra | דַּלּוֹת (pobres) | Reversão social; resquício de jubileu | Sirva ao vulnerável; Deus o prioriza |
39.11–14 | Salvaguarda de Jeremias | “não lhe faças mal”; “habitou entre o povo” | Validação do profeta; presença pastoral | Permaneça presente para edificar o remanescente |
39.15–18 | Oráculo a Ebede-Meleque | נצל (livrar); בָּטַח (confiar); נֶפֶשׁ לְשָׁלָל | Salvação pessoal pela confiança obediente | Coragem + fé: Deus guardará sua vida como “despojo” |
Síntese: Jeremias 39 confirma que Deus cumpre sua palavra em juízo, mas não abandona os que nele confiam. Ele resguarda seu profeta, honra o estrangeiro fiel e inicia, mesmo nas ruínas, sinais de restauração para o povo. Que aprendamos a habitar entre o povo, confiando e servindo, até que a esperança floresça de novo.
Verdade Prática
A Palavra de Deus se cumpre, mesmo diante da oposição e das perseguições aos que a anunciam.
INTRODUÇÃO
I- O ROLO DE LIVRO 36
1- O mandado de Deus a Jeremias 36.2
2- A leitura pública do rolo 36.6
3- O rei queima o rolo 36.23
II- JEREMIAS PRESO 37 e 38
1- Jeremias advertido a não falar 37.10
2- A prisão injusta de Jeremias 37.15
3- Lançado na cisterna 38.6
III- JERUSALÉM É TOMADA PELA BABILÔNIA 39
1- A queda de Jerusalém 39.1
2- O destino do rei Zedequias 39.7
3- A libertação de Jeremias 39.14
APLICAÇÃO PESSOAL
DINAMICA EXTRA
Comentário de Hubner Braz
📖 Dinâmica – O Rolo do Livro, Jeremias Preso e a Queda de Jerusalém
🎯 Objetivo:
- Compreender os acontecimentos de Jeremias 36–39.
- Refletir sobre obedecer a Deus mesmo em situações adversas.
- Identificar as consequências da desobediência ao Senhor.
📝 Materiais:
- Papel grande ou cartolina para simular um rolo do livro.
- Canetas coloridas.
- Cordas ou fitas para simular prisão.
- Cartões com personagens: Jeremias, Jehudi, Jeoaquim, oficiais da corte, povo de Jerusalém.
📌 Passo a Passo:
- Preparação
- Monte a sala como um “cenário de Jerusalém”:
- Um canto para o palácio do rei Jeoaquim.
- Um canto para o povo de Jerusalém.
- Um canto para a prisão de Jeremias.
- Distribuição de personagens
- Escolha voluntários para serem Jeremias, Jehudi, Jeoaquim, oficiais e povo.
- Leitura dramatizada
- Leia trechos selecionados de Jeremias 36–39:
- Jeremias ditando o rolo (36.1–4)
- Jehudi lendo o rolo diante do rei (36.5–21)
- Rei Jeoaquim rasgando o rolo (36.22–32)
- Jeremias preso e Jerusalém cercada (37–38)
- A queda da cidade e o desespero do povo (39.1–10)
- Atividade prática: O rolo do livro
- Um voluntário segura a cartolina simulando o rolo do livro.
- Outro “rei Jeoaquim” tenta rasgar pedaços do rolo.
- A turma discute: O que podemos aprender sobre obedecer a Deus mesmo quando outros resistem?
- Reflexão em grupo
- Pergunte:
- Jeremias foi corajoso ao obedecer a Deus. Como podemos ter coragem hoje?
- Quais consequências a desobediência trouxe para Jerusalém?
- Como podemos aplicar essas lições em nossa vida pessoal ou comunitária?
📊 Tabela Expositiva – Personagens e Lições
Personagem
Ação principal
Lição prática
Jeremias
Escreve e entrega a mensagem de Deus
Obediência, coragem, fidelidade
Jehudi
Lê o rolo diante do rei
Cumprir responsabilidades com diligência
Jeoaquim
Rasga o rolo
Rebeldia contra Deus traz consequências
Povo de Jerusalém
Ignora os avisos
Falta de arrependimento = queda espiritual
Deus
Mensagem preservada e fiel
Deus cumpre Suas promessas, mesmo com oposição
💡 Conclusão da dinâmica:
Assim como Jeremias permaneceu fiel mesmo preso e enfrentando oposição, nós também devemos obedecer a Deus, confiar em Suas promessas e reconhecer que a desobediência traz consequências, mas a fidelidade traz esperança.
📖 Dinâmica – O Rolo do Livro, Jeremias Preso e a Queda de Jerusalém
🎯 Objetivo:
- Compreender os acontecimentos de Jeremias 36–39.
- Refletir sobre obedecer a Deus mesmo em situações adversas.
- Identificar as consequências da desobediência ao Senhor.
📝 Materiais:
- Papel grande ou cartolina para simular um rolo do livro.
- Canetas coloridas.
- Cordas ou fitas para simular prisão.
- Cartões com personagens: Jeremias, Jehudi, Jeoaquim, oficiais da corte, povo de Jerusalém.
📌 Passo a Passo:
- Preparação
- Monte a sala como um “cenário de Jerusalém”:
- Um canto para o palácio do rei Jeoaquim.
- Um canto para o povo de Jerusalém.
- Um canto para a prisão de Jeremias.
- Distribuição de personagens
- Escolha voluntários para serem Jeremias, Jehudi, Jeoaquim, oficiais e povo.
- Leitura dramatizada
- Leia trechos selecionados de Jeremias 36–39:
- Jeremias ditando o rolo (36.1–4)
- Jehudi lendo o rolo diante do rei (36.5–21)
- Rei Jeoaquim rasgando o rolo (36.22–32)
- Jeremias preso e Jerusalém cercada (37–38)
- A queda da cidade e o desespero do povo (39.1–10)
- Atividade prática: O rolo do livro
- Um voluntário segura a cartolina simulando o rolo do livro.
- Outro “rei Jeoaquim” tenta rasgar pedaços do rolo.
- A turma discute: O que podemos aprender sobre obedecer a Deus mesmo quando outros resistem?
- Reflexão em grupo
- Pergunte:
- Jeremias foi corajoso ao obedecer a Deus. Como podemos ter coragem hoje?
- Quais consequências a desobediência trouxe para Jerusalém?
- Como podemos aplicar essas lições em nossa vida pessoal ou comunitária?
📊 Tabela Expositiva – Personagens e Lições
Personagem | Ação principal | Lição prática |
Jeremias | Escreve e entrega a mensagem de Deus | Obediência, coragem, fidelidade |
Jehudi | Lê o rolo diante do rei | Cumprir responsabilidades com diligência |
Jeoaquim | Rasga o rolo | Rebeldia contra Deus traz consequências |
Povo de Jerusalém | Ignora os avisos | Falta de arrependimento = queda espiritual |
Deus | Mensagem preservada e fiel | Deus cumpre Suas promessas, mesmo com oposição |
💡 Conclusão da dinâmica:
Assim como Jeremias permaneceu fiel mesmo preso e enfrentando oposição, nós também devemos obedecer a Deus, confiar em Suas promessas e reconhecer que a desobediência traz consequências, mas a fidelidade traz esperança.
INTRODUÇÃO
Os capítulos 36 a 39 de Jeremias apresentam o auge da rejeição à mensagem profética e o cumprimento do juízo anunciado por Deus. O rolo com as palavras proféticas é queimado, o profeta é preso e lançado na cisterna e Jerusalém, finalmente, é tomada pelos babilônios, como Deus havia predito. Apesar da tentativa de silenciar a Palavra de Deus e o profeta Jeremias, a mensagem divina se cumpriu com a queda de Jerusalém e o livramento do profeta.
I- O ROLO DE LIVRO
A ordem de Deus para que Jeremias escrevesse todas as Suas palavras em um rolo de livro tem um significado profundo e solene.
1- O mandado de Deus a Jeremias (36.2) Toma um rolo de livro, e escreve nele todas as palavras que te falei contra Israel, contra Judá e contra todas as nações, desde o dia em que te falei, desde os dias de Josias até hoje.
Jeremias já profetizava há mais de vinte anos, desde os dias do rei Josias, e agora Deus manda que essas palavras sejam preservadas em um documento escrito, para serem lidas ao povo e aos líderes. Trata-se de um registro formal e permanente da revelação divina, assegurando que o conteúdo profético não se perdesse nem fosse deturpado. O objetivo era claro: que, ouvindo novamente os avisos de Deus, o povo se arrependesse e mudasse seus caminhos (36.3). Assim, o registro não era apenas um aviso, mas também uma oportunidade final de arrependimento. Além disso, o fato de o conteúdo incluir não apenas mensagens contra Judá, mas também contra outras nações, evidencia o caráter universal da mensagem de Jeremias, pela qual Deus é proclamado o Senhor soberano de todos os povos.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Jeremias 36.2 — “Toma um rolo de livro e escreve nele…”
Contexto imediato (caps. 36–39). A sequência mostra a tentativa humana de silenciar a Palavra (36: o rei Jeoiaquim queima o rolo), a violência contra o profeta (38: cisterna), e o cumprimento do juízo com a queda de Jerusalém (39). Em 36.2, porém, vemos a inscrição (inscripturation) da revelação: Deus ordena que a mensagem seja preservada por escrito e proclamada publicamente (36.6–10), oferecendo ainda uma última chance de arrependimento (36.3).
1) “Toma um rolo de livro” — מְגִלַּת־סֵפֶר (megillat-sefer)
- A combinação de termos (rolo + livro) sublinha o suporte físico da revelação: um rolo (normalmente couro preparado) que contém um documento formal (sefer). Cf. Sl 40.7 (“na megillat-sefer está escrito a meu respeito”), indicando registro solene.
- Teologicamente, Deus vincula sua Palavra a um testemunho público e durável (cf. Is 8.1–2). O escrito pode ser lido, relido, copiado, resistindo a “apagamentos” políticos (36.23, 32).
2) “Escreve nele todas as palavras que te falei” — כְּתֹב… כָּל־הַדְּבָרִים אֲשֶׁר דִּבַּרְתִּי (ketov… kol-haddəvarim asher dibbartî)
- כָּתַב (katav, “escrever”): ação de fixar;
- דָּבָר (dābār, “palavra/assunto”): no AT, palavra eficaz e performativa de YHWH (Jr 1.12).
- “Todas as palavras” preserva a integridade do oráculo. Em 36.4, Baruc “escreveu, da boca de Jeremias” (מִפִּי; mippî), destacando mediação profética por ditado: a Palavra é de Deus, transmitida pelo profeta, fixada pelo escriba.
3) “Contra Israel, contra Judá e contra todas as nações” — עַל־יִשְׂרָאֵל… יְהוּדָה… כָּל־הַגּוֹיִם
- A tríade abrange o Norte (Israel), o Sul (Judá) e as nações (caps. 46–51), proclamando a soberania universal de YHWH. O pecado é pactual (Judá) e também ético-universal (nações); o juízo abrange ambos, e a misericórdia também (cf. Jr 12.14–17).
4) “Desde os dias de Josias até hoje” — מִיּוֹם דִּבַּרְתִּי… מִימֵי יוֹשִׁיָּהוּ וְעַד־הַיּוֹם הַזֶּה
- Marca cerca de duas décadas de ministério (de c. 627 a.C. até a data do episódio), compondo um corpus coerente. O rolo funciona como memória pactual e ato de graça: “talvez (’ûlay) ouçam… e se convertam” (36.3; שׁוּב, shuv), de modo que Deus “perdoe” (salach).
- A escrita visa não apenas arquivar juízo, mas abrir caminho ao arrependimento.
5) Dimensão canônica e pastoral
- Jr 36 mostra como nascem os livros proféticos: revelação → ditado → leitura pública → revisão/expansão (36.32: “acrescentou ainda muitas palavras semelhantes”).
- Pastoralmente, a Palavra escrita sustenta a fé quando as instituições ruem (36–39). Mesmo queimado um exemplar, a Palavra não é anulada (cf. 2Tm 2.9).
Palavras hebraicas-chave
- מְגִלָּה / סֵפֶר (megillah / sefer) – rolo/documento; formalidade e publicidade do oráculo.
- כָּתַב (katav) – escrever, fixar;
- דָּבָר (dābār) – palavra eficaz;
- שׁוּב (shuv) – voltar/ converter-se (36.3, alvo do rolo);
- סָלַח (salach) – perdoar (36.3), graça que acompanha o juízo.
Referências acadêmicas (seleção)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 21–36; Jeremiah 37–52 (Anchor Yale).
- William L. Holladay, Jeremiah (Hermeneia).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming.
- William McKane, A Critical and Exegetical Commentary on Jeremiah (ICC).
- F. F. Bruce, The Canon of Scripture.
- R. T. Beckwith, The Old Testament Canon of the New Testament Church.
Aplicação pessoal
- Escritura antes de estratégia: Deus manda escrever e ler, porque confronto e consolo nascem do texto inspirado. Centralize a comunidade na leitura pública (cf. Ne 8; 1Tm 4.13).
- Integridade na transmissão: “Todas as palavras” desafia pregadores/igrejas a não podarem temas impopulares (juízo/arrependimento), nem acrescentarem fardos humanos.
- Esperança no meio do colapso: quando poderes tentam “queimar” a verdade, Deus redita e amplia (36.32). Confie: a Palavra permanece e alcança o propósito (Is 55.10–11).
- Memória espiritual: pratique “memoriais escritos” (devocionais, confissões, votos), permitindo que Deus reescreva nossa história com arrependimento e fé.
Tabela expositiva — Jr 36.2 “o rolo e suas finalidades”
Elemento
Texto/termo
Função no contexto
Doutrina destacada
Implicação prática
Suporte
Megillat-sefer (rolo de livro)
Formaliza e publica a palavra
Revelação inscrita e preservada
Centralidade da leitura pública
Ato
Ketov (escreve)
Fixar “todas as palavras”
Inspiração/verbalidade (Deus fala palavras)
Fidelidade exegética: pregar o que está escrito
Conteúdo
“Contra Israel… Judá… e as nações”
Escopo universal
Soberania de YHWH sobre todos os povos
Ética pública cristã, missão até os confins
Horizonte
“Desde Josias até hoje”
Unifica décadas proféticas
História sob a palavra
Perseverança: Deus guia épocas longas
Propósito
“Talvez ouçam e se convertam”
Juízo com oferta de graça
Arrependimento e perdão
Chamado a voltar hoje (36.3)
Mediação
“Da boca de Jeremias… Baruc escreveu”
Profeta dita; escriba registra
Palavra de Deus por meios humanos
Valorize ministérios complementares (púlpito & ensino)
Indestrutibilidade
36.23,32 (queima & reedição)
Tentam silenciar; Deus amplia
A Palavra não pode ser acorrentada
Coragem para testemunhar apesar de censuras
Síntese: Em Jr 36.2, Deus transforma a profecia em ato público durável: um rolo que testemunha juízo e, sobretudo, graça que convida ao retorno. Quando a cidade cai e reis queimam textos, a Palavra permanece, preserva um remanescente e reacende esperança.
Jeremias 36.2 — “Toma um rolo de livro e escreve nele…”
Contexto imediato (caps. 36–39). A sequência mostra a tentativa humana de silenciar a Palavra (36: o rei Jeoiaquim queima o rolo), a violência contra o profeta (38: cisterna), e o cumprimento do juízo com a queda de Jerusalém (39). Em 36.2, porém, vemos a inscrição (inscripturation) da revelação: Deus ordena que a mensagem seja preservada por escrito e proclamada publicamente (36.6–10), oferecendo ainda uma última chance de arrependimento (36.3).
1) “Toma um rolo de livro” — מְגִלַּת־סֵפֶר (megillat-sefer)
- A combinação de termos (rolo + livro) sublinha o suporte físico da revelação: um rolo (normalmente couro preparado) que contém um documento formal (sefer). Cf. Sl 40.7 (“na megillat-sefer está escrito a meu respeito”), indicando registro solene.
- Teologicamente, Deus vincula sua Palavra a um testemunho público e durável (cf. Is 8.1–2). O escrito pode ser lido, relido, copiado, resistindo a “apagamentos” políticos (36.23, 32).
2) “Escreve nele todas as palavras que te falei” — כְּתֹב… כָּל־הַדְּבָרִים אֲשֶׁר דִּבַּרְתִּי (ketov… kol-haddəvarim asher dibbartî)
- כָּתַב (katav, “escrever”): ação de fixar;
- דָּבָר (dābār, “palavra/assunto”): no AT, palavra eficaz e performativa de YHWH (Jr 1.12).
- “Todas as palavras” preserva a integridade do oráculo. Em 36.4, Baruc “escreveu, da boca de Jeremias” (מִפִּי; mippî), destacando mediação profética por ditado: a Palavra é de Deus, transmitida pelo profeta, fixada pelo escriba.
3) “Contra Israel, contra Judá e contra todas as nações” — עַל־יִשְׂרָאֵל… יְהוּדָה… כָּל־הַגּוֹיִם
- A tríade abrange o Norte (Israel), o Sul (Judá) e as nações (caps. 46–51), proclamando a soberania universal de YHWH. O pecado é pactual (Judá) e também ético-universal (nações); o juízo abrange ambos, e a misericórdia também (cf. Jr 12.14–17).
4) “Desde os dias de Josias até hoje” — מִיּוֹם דִּבַּרְתִּי… מִימֵי יוֹשִׁיָּהוּ וְעַד־הַיּוֹם הַזֶּה
- Marca cerca de duas décadas de ministério (de c. 627 a.C. até a data do episódio), compondo um corpus coerente. O rolo funciona como memória pactual e ato de graça: “talvez (’ûlay) ouçam… e se convertam” (36.3; שׁוּב, shuv), de modo que Deus “perdoe” (salach).
- A escrita visa não apenas arquivar juízo, mas abrir caminho ao arrependimento.
5) Dimensão canônica e pastoral
- Jr 36 mostra como nascem os livros proféticos: revelação → ditado → leitura pública → revisão/expansão (36.32: “acrescentou ainda muitas palavras semelhantes”).
- Pastoralmente, a Palavra escrita sustenta a fé quando as instituições ruem (36–39). Mesmo queimado um exemplar, a Palavra não é anulada (cf. 2Tm 2.9).
Palavras hebraicas-chave
- מְגִלָּה / סֵפֶר (megillah / sefer) – rolo/documento; formalidade e publicidade do oráculo.
- כָּתַב (katav) – escrever, fixar;
- דָּבָר (dābār) – palavra eficaz;
- שׁוּב (shuv) – voltar/ converter-se (36.3, alvo do rolo);
- סָלַח (salach) – perdoar (36.3), graça que acompanha o juízo.
Referências acadêmicas (seleção)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 21–36; Jeremiah 37–52 (Anchor Yale).
- William L. Holladay, Jeremiah (Hermeneia).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming.
- William McKane, A Critical and Exegetical Commentary on Jeremiah (ICC).
- F. F. Bruce, The Canon of Scripture.
- R. T. Beckwith, The Old Testament Canon of the New Testament Church.
Aplicação pessoal
- Escritura antes de estratégia: Deus manda escrever e ler, porque confronto e consolo nascem do texto inspirado. Centralize a comunidade na leitura pública (cf. Ne 8; 1Tm 4.13).
- Integridade na transmissão: “Todas as palavras” desafia pregadores/igrejas a não podarem temas impopulares (juízo/arrependimento), nem acrescentarem fardos humanos.
- Esperança no meio do colapso: quando poderes tentam “queimar” a verdade, Deus redita e amplia (36.32). Confie: a Palavra permanece e alcança o propósito (Is 55.10–11).
- Memória espiritual: pratique “memoriais escritos” (devocionais, confissões, votos), permitindo que Deus reescreva nossa história com arrependimento e fé.
Tabela expositiva — Jr 36.2 “o rolo e suas finalidades”
Elemento | Texto/termo | Função no contexto | Doutrina destacada | Implicação prática |
Suporte | Megillat-sefer (rolo de livro) | Formaliza e publica a palavra | Revelação inscrita e preservada | Centralidade da leitura pública |
Ato | Ketov (escreve) | Fixar “todas as palavras” | Inspiração/verbalidade (Deus fala palavras) | Fidelidade exegética: pregar o que está escrito |
Conteúdo | “Contra Israel… Judá… e as nações” | Escopo universal | Soberania de YHWH sobre todos os povos | Ética pública cristã, missão até os confins |
Horizonte | “Desde Josias até hoje” | Unifica décadas proféticas | História sob a palavra | Perseverança: Deus guia épocas longas |
Propósito | “Talvez ouçam e se convertam” | Juízo com oferta de graça | Arrependimento e perdão | Chamado a voltar hoje (36.3) |
Mediação | “Da boca de Jeremias… Baruc escreveu” | Profeta dita; escriba registra | Palavra de Deus por meios humanos | Valorize ministérios complementares (púlpito & ensino) |
Indestrutibilidade | 36.23,32 (queima & reedição) | Tentam silenciar; Deus amplia | A Palavra não pode ser acorrentada | Coragem para testemunhar apesar de censuras |
Síntese: Em Jr 36.2, Deus transforma a profecia em ato público durável: um rolo que testemunha juízo e, sobretudo, graça que convida ao retorno. Quando a cidade cai e reis queimam textos, a Palavra permanece, preserva um remanescente e reacende esperança.
2- A leitura pública do rolo (36.6) Entra, pois, tu e, do rolo que escreveste, segundo o que eu ditei, lê todas as palavras do SENHOR, diante do povo, na Casa do SENHOR, no dia de jejum; e também as lerás diante de todos os de Judá que vêm das suas cidades.
Por não poder comparecer pessoalmente ao templo, pois estava encarcerado, Jeremias envia seu fiel escriba, Baruque, para realizar a leitura pública do rolo. Essa leitura ocorre em um momento propício: um dia de jejum, quando o povo estava reunido na Casa do Senhor. A leitura pública tinha um papel crucial na tradição israelita, especialmente em tempos de crise espiritual e social. Era um chamado à reflexão e ao arrependimento, diante das advertências divinas. O texto do verso 4 destaca que Baruque foi o fiel escrivão deste livro e o verso 8 garante que ele leu exatamente conforme Jeremias havia mandado. A iniciativa de Jeremias e Baruque, de apresentar a Palavra de Deus ao povo e aos líderes, ainda que sabendo da possível rejeição, revela a obediência corajosa do profeta, disposto a falar em nome de Deus mesmo quando a mensagem é dura e impopular.
3- O rei queima o rolo (36.23) E sucedeu que, tendo Jeudi lido três ou quatro folhas, o rei as rasgou com um canivete de escrivão e as lançou no fogo que estava no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo que estava no braseiro.
A reação do rei Jeoaquim ao ouvir a leitura do rolo é chocante e demonstra seu total desprezo pela Palavra do Senhor. Rasgar e queimar o rolo era mais do que um ato de censura: era uma tentativa deliberada de anular a autoridade de Deus e silenciar o profeta Jeremias. O uso do canivete de escriba para cortar o rolo folha por folha, e depois lançá-las ao fogo, expressa o desprezo do rei por cada palavra ali escrita, como se pudesse apagar o juízo divino com esse gesto. No entanto, a destruição física do rolo não anula a Palavra de Deus, pois o próprio Senhor manda que Jeremias o escreva novamente, “com muitas outras palavras semelhantes” (36.32). Esse episódio revela o conflito direto entre o poder humano e a autoridade divina. Enquanto Jeoaquim, na sua arrogância, tenta eliminar a Palavra, Deus mostra que Sua mensagem não depende da vontade dos homens e que nada pode impedir o cumprimento de Seus desígnios. A rejeição à Palavra de Deus, especialmente por parte dos líderes, traz sérias consequências ao povo e à nação.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
O episódio situa-se no 5º ano de Jeoaquim (c. 604 a.C., mês nono; Jr 36.9), em clima de crise nacional após Carquemis (605 a.C.). Jeremias dita a Baruque um rolo (מְגִלָּה, meguilá) com “todas as palavras” que o SENHOR lhe falara (36.2–4), para ser lido publicamente no templo num dia de jejum (36.6,9). O relato progride em quatro movimentos: leitura ao povo (36.6–10), aos oficiais (36.11–19), ao rei (36.20–26) e, por fim, a reedição do rolo “com muitas outras palavras semelhantes” (36.32).
Exegese de Jr 36.6 — A leitura pública do rolo
“Entra… e lê (קָרָא, qará)… todas as palavras do SENHOR (דִּבְרֵי יְהוָה, divrê YHWH)… no dia de jejum (צֹום, tsom).”
- Mediação profética e inspiração: “que escreveste da minha boca (מִפִּי, mippî)” sublinha a origem divina e a natureza mediada da revelação (cf. 1.9). A cadeia falar-ditar-escrever-ler dá forma ao processo canônico e ao ministério público da Palavra.
- Leitura pública: “nos ouvidos do povo” (בְּאָזְנֵי הָעָם, be’oznê ha‘am) evoca Dt 31.10-13 e Ne 8 (Ezra), quando a leitura convoca a comunidade à aliança. O jejum cria um espaço de contrição, típico de tempos de crise (Jl 2.15).
- Função pastoral: Jeremias, impedido (prisão/impedimento; cf. 36.5), delega a Baruque. Fidelidade e coragem pastoral emergem como virtudes do escriba-servo (36.8; cf. cap. 45).
LXX: anaginōskō (ἀναγινώσκω, “ler”), biblíon (βιβλίον, “rolo”), nēsteía (νηστεία, “jejum”) reforçam os eixos da proclamação pública e da assembleia penitente.
Exegese de Jr 36.23 — O rei queima o rolo
“Quando Jeudi leu três ou quatro colunas (דְּלָתוֹת, delatôt, lit. ‘portas’ ⇒ colunas do rolo), [o rei] o rasgou com a faca de escriba (תַּעַר הַסֹּפֵר, ta‘ar hassôfer) e o lançou ao fogo que estava no braseiro (הָאַח, ha’ach)…”
- Desprezo deliberado: Ação simbólica de censura régia que confronta a autoridade divina. O contraste com Josias (2Rs 22–23), que rasga as vestes ao ouvir a Lei, é intencional: Josias se humilha; Jeoaquim queima.
- Detalhes materiais: Delatôt indica o formato em colunas; a “faca de escriba” era instrumento legítimo do ofício (aparar penas/alisar couro), aqui pervertido para destruir a revelação; o braseiro na “casa de inverno” (36.22) ressalta a insensibilidade do rei aquecido, enquanto o povo jejua no frio do nono mês.
- Indestrutibilidade da Palavra: A queima não derrota o Deus que fala: segue-se nova edição com acréscimos (36.32). A Palavra é vulnerável em seu suporte, mas invencível em seu conteúdo (cf. Is 40.8; 1Pe 1.24-25).
LXX (36.23): o gesto é descrito com verbos de corte e queima (κατακαίω), mantendo o escândalo teológico do ato.
Temas teológicos principais
- Autoridade e processo da revelação: “da minha boca” → ditado → escrita → leitura pública. Inspiração dinâmica e histórica, que inclui reformulação fiel (36.32).
- Liturgia da Palavra: Jejum + leitura pública como meios ordinários de arrependimento comunitário (Dt 31; Ne 8; Jl 2).
- Coração do líder diante da Escritura: Josias rasga vestes; Jeoaquim rasga o rolo. A resposta ao ouvir define o destino (cf. Jr 26; 2Cr 36.12–16).
- A Palavra e o poder: O Estado tenta calar a profecia; Deus reitera e amplia sua mensagem. O profeta sofre, mas a Palavra prossegue (2Tm 2.9).
- Vocação e coragem servil: Baruque encarna a fidelidade anônima do ministério da Palavra (36.8; 45.1-5).
Análise lexical (hebraico/“grego” LXX)
- מְגִלָּה (meguilá) / LXX βιβλίον: rolo; suporte físico da revelação (36.2,6,23,28,32).
- קָרָא (qará) / ἀναγινώσκω: ler, proclamar (36.6,10,13,15).
- צֹום (tsom) / νηστεία: jejum (36.6,9) como prática de humilhação comunitária.
- דְּבַר/דִּבְרֵי יְהוָה (davar/divrê YHWH) / λόγος Κυρίου: “palavra do SENHOR” — fonte e conteúdo da mensagem (36.6).
- דְּלָתוֹת (delatôt): “portas/colunas” do rolo (36.23) — evidencia o formato em colunas.
- תַּעַר הַסֹּפֵר (ta‘ar hassôfer): “faca de escriba” (36.23) — utensílio do ofício, aqui invertido para profanação.
- אָח (’ach): “braseiro”/lareira portátil (36.22–23), único em Jr, realçando cenário invernal e comodidade régia.
Aplicações (pessoal e eclesial)
- Priorize a leitura pública da Escritura nas assembleias (1Tm 4.13; Ne 8), especialmente em tempos de crise: a Palavra convoca ao arrependimento.
- Responda como Josias, não como Jeoaquim: ao ser confrontado, rasgue o coração (Jl 2.13), não a Bíblia.
- Sirva como Baruque: ministérios discretos (ler, copiar, preparar liturgias) sustentam a obra de Deus.
- Confie na resiliência da Palavra: hostilidades podem destruir suportes, não a mensagem (Is 55.10-11).
- Discernimento pastoral: jejum e proclamação precisam andar juntos — sem teatro religioso no palácio enquanto o povo se humilha no templo.
Tabela expositiva
Tema
Verso(s)
Termo-chave (hebraico/LXX)
Sentido
Teologia
Referências cruzadas
Aplicação hoje
Leitura pública
36.6,10
קָרָא / ἀναγινώσκω
Proclamar em assembleia
Palavra cria e convoca o povo
Dt 31.10-13; Ne 8
Ler a Escritura como ato central do culto
Dia de jejum
36.6,9
צֹום / νηστεία
Humilhação comunitária
Arrependimento coletivo
Jl 2.12-17
Conectar jejum à escuta obediente
Autoridade da Palavra
36.2–4
מִפִּי; דִּבְרֵי יְהוָה
Origem divina, mediação profética
Inspiração dinâmica
Jr 1.9; 2Tm 3.16
Pregar com fidelidade ao texto
Profanação régia
36.23
דְּלָתוֹת; תַּעַר; אָח
Queima colunar com faca e braseiro
Poder humano vs. Palavra
2Rs 22–23 (contraste)
Líderes devem se submeter à Escritura
Indestrutibilidade
36.27–32
“muitas outras palavras”
Reedição ampliada
Palavra persevera e amplia juízo
Is 40.8; 1Pe 1.24-25
Confiança: Deus sustenta sua revelação
Vocação de Baruque
36.8; 45
הַסֹּפֵר (escriba)
Servo fiel e sofredor
Ministério silencioso
Jr 45.1-5
Valorizar ministérios discretos
Bibliografia seletiva (acadêmica/cristã)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT, Eerdmans).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 21–36 (Anchor Yale Bible, Yale).
- R. P. Carroll, Jeremiah (Old Testament Library, T&T Clark).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming (Eerdmans).
- Tremper Longman III & Raymond Dillard, An Introduction to the Old Testament (Zondervan).
- Karel van der Toorn, Scribal Culture and the Making of the Hebrew Bible (Harvard).
- Christopher J. H. Wright, The Message of Jeremiah (BST, IVP).
- (Em português, quando disponível:) Comentário Bíblico Beacon – Jeremias (CPAD); Comentário Bíblico NVI; Bíblia de Estudo de Aplicação Pessoal (Vida).
Síntese homilética
Título: “Quando o rei queima, Deus reescreve”
Idea-chave: A Palavra de Deus pode ser cortada e queimada pelos poderosos, mas nunca calada; ela forma o povo na leitura pública, julga a arrogância dos líderes e prossegue por servos fiéis como Baruque.
O episódio situa-se no 5º ano de Jeoaquim (c. 604 a.C., mês nono; Jr 36.9), em clima de crise nacional após Carquemis (605 a.C.). Jeremias dita a Baruque um rolo (מְגִלָּה, meguilá) com “todas as palavras” que o SENHOR lhe falara (36.2–4), para ser lido publicamente no templo num dia de jejum (36.6,9). O relato progride em quatro movimentos: leitura ao povo (36.6–10), aos oficiais (36.11–19), ao rei (36.20–26) e, por fim, a reedição do rolo “com muitas outras palavras semelhantes” (36.32).
Exegese de Jr 36.6 — A leitura pública do rolo
“Entra… e lê (קָרָא, qará)… todas as palavras do SENHOR (דִּבְרֵי יְהוָה, divrê YHWH)… no dia de jejum (צֹום, tsom).”
- Mediação profética e inspiração: “que escreveste da minha boca (מִפִּי, mippî)” sublinha a origem divina e a natureza mediada da revelação (cf. 1.9). A cadeia falar-ditar-escrever-ler dá forma ao processo canônico e ao ministério público da Palavra.
- Leitura pública: “nos ouvidos do povo” (בְּאָזְנֵי הָעָם, be’oznê ha‘am) evoca Dt 31.10-13 e Ne 8 (Ezra), quando a leitura convoca a comunidade à aliança. O jejum cria um espaço de contrição, típico de tempos de crise (Jl 2.15).
- Função pastoral: Jeremias, impedido (prisão/impedimento; cf. 36.5), delega a Baruque. Fidelidade e coragem pastoral emergem como virtudes do escriba-servo (36.8; cf. cap. 45).
LXX: anaginōskō (ἀναγινώσκω, “ler”), biblíon (βιβλίον, “rolo”), nēsteía (νηστεία, “jejum”) reforçam os eixos da proclamação pública e da assembleia penitente.
Exegese de Jr 36.23 — O rei queima o rolo
“Quando Jeudi leu três ou quatro colunas (דְּלָתוֹת, delatôt, lit. ‘portas’ ⇒ colunas do rolo), [o rei] o rasgou com a faca de escriba (תַּעַר הַסֹּפֵר, ta‘ar hassôfer) e o lançou ao fogo que estava no braseiro (הָאַח, ha’ach)…”
- Desprezo deliberado: Ação simbólica de censura régia que confronta a autoridade divina. O contraste com Josias (2Rs 22–23), que rasga as vestes ao ouvir a Lei, é intencional: Josias se humilha; Jeoaquim queima.
- Detalhes materiais: Delatôt indica o formato em colunas; a “faca de escriba” era instrumento legítimo do ofício (aparar penas/alisar couro), aqui pervertido para destruir a revelação; o braseiro na “casa de inverno” (36.22) ressalta a insensibilidade do rei aquecido, enquanto o povo jejua no frio do nono mês.
- Indestrutibilidade da Palavra: A queima não derrota o Deus que fala: segue-se nova edição com acréscimos (36.32). A Palavra é vulnerável em seu suporte, mas invencível em seu conteúdo (cf. Is 40.8; 1Pe 1.24-25).
LXX (36.23): o gesto é descrito com verbos de corte e queima (κατακαίω), mantendo o escândalo teológico do ato.
Temas teológicos principais
- Autoridade e processo da revelação: “da minha boca” → ditado → escrita → leitura pública. Inspiração dinâmica e histórica, que inclui reformulação fiel (36.32).
- Liturgia da Palavra: Jejum + leitura pública como meios ordinários de arrependimento comunitário (Dt 31; Ne 8; Jl 2).
- Coração do líder diante da Escritura: Josias rasga vestes; Jeoaquim rasga o rolo. A resposta ao ouvir define o destino (cf. Jr 26; 2Cr 36.12–16).
- A Palavra e o poder: O Estado tenta calar a profecia; Deus reitera e amplia sua mensagem. O profeta sofre, mas a Palavra prossegue (2Tm 2.9).
- Vocação e coragem servil: Baruque encarna a fidelidade anônima do ministério da Palavra (36.8; 45.1-5).
Análise lexical (hebraico/“grego” LXX)
- מְגִלָּה (meguilá) / LXX βιβλίον: rolo; suporte físico da revelação (36.2,6,23,28,32).
- קָרָא (qará) / ἀναγινώσκω: ler, proclamar (36.6,10,13,15).
- צֹום (tsom) / νηστεία: jejum (36.6,9) como prática de humilhação comunitária.
- דְּבַר/דִּבְרֵי יְהוָה (davar/divrê YHWH) / λόγος Κυρίου: “palavra do SENHOR” — fonte e conteúdo da mensagem (36.6).
- דְּלָתוֹת (delatôt): “portas/colunas” do rolo (36.23) — evidencia o formato em colunas.
- תַּעַר הַסֹּפֵר (ta‘ar hassôfer): “faca de escriba” (36.23) — utensílio do ofício, aqui invertido para profanação.
- אָח (’ach): “braseiro”/lareira portátil (36.22–23), único em Jr, realçando cenário invernal e comodidade régia.
Aplicações (pessoal e eclesial)
- Priorize a leitura pública da Escritura nas assembleias (1Tm 4.13; Ne 8), especialmente em tempos de crise: a Palavra convoca ao arrependimento.
- Responda como Josias, não como Jeoaquim: ao ser confrontado, rasgue o coração (Jl 2.13), não a Bíblia.
- Sirva como Baruque: ministérios discretos (ler, copiar, preparar liturgias) sustentam a obra de Deus.
- Confie na resiliência da Palavra: hostilidades podem destruir suportes, não a mensagem (Is 55.10-11).
- Discernimento pastoral: jejum e proclamação precisam andar juntos — sem teatro religioso no palácio enquanto o povo se humilha no templo.
Tabela expositiva
Tema | Verso(s) | Termo-chave (hebraico/LXX) | Sentido | Teologia | Referências cruzadas | Aplicação hoje |
Leitura pública | 36.6,10 | קָרָא / ἀναγινώσκω | Proclamar em assembleia | Palavra cria e convoca o povo | Dt 31.10-13; Ne 8 | Ler a Escritura como ato central do culto |
Dia de jejum | 36.6,9 | צֹום / νηστεία | Humilhação comunitária | Arrependimento coletivo | Jl 2.12-17 | Conectar jejum à escuta obediente |
Autoridade da Palavra | 36.2–4 | מִפִּי; דִּבְרֵי יְהוָה | Origem divina, mediação profética | Inspiração dinâmica | Jr 1.9; 2Tm 3.16 | Pregar com fidelidade ao texto |
Profanação régia | 36.23 | דְּלָתוֹת; תַּעַר; אָח | Queima colunar com faca e braseiro | Poder humano vs. Palavra | 2Rs 22–23 (contraste) | Líderes devem se submeter à Escritura |
Indestrutibilidade | 36.27–32 | “muitas outras palavras” | Reedição ampliada | Palavra persevera e amplia juízo | Is 40.8; 1Pe 1.24-25 | Confiança: Deus sustenta sua revelação |
Vocação de Baruque | 36.8; 45 | הַסֹּפֵר (escriba) | Servo fiel e sofredor | Ministério silencioso | Jr 45.1-5 | Valorizar ministérios discretos |
Bibliografia seletiva (acadêmica/cristã)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT, Eerdmans).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 21–36 (Anchor Yale Bible, Yale).
- R. P. Carroll, Jeremiah (Old Testament Library, T&T Clark).
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming (Eerdmans).
- Tremper Longman III & Raymond Dillard, An Introduction to the Old Testament (Zondervan).
- Karel van der Toorn, Scribal Culture and the Making of the Hebrew Bible (Harvard).
- Christopher J. H. Wright, The Message of Jeremiah (BST, IVP).
- (Em português, quando disponível:) Comentário Bíblico Beacon – Jeremias (CPAD); Comentário Bíblico NVI; Bíblia de Estudo de Aplicação Pessoal (Vida).
Síntese homilética
Título: “Quando o rei queima, Deus reescreve”
Idea-chave: A Palavra de Deus pode ser cortada e queimada pelos poderosos, mas nunca calada; ela forma o povo na leitura pública, julga a arrogância dos líderes e prossegue por servos fiéis como Baruque.
II- JEREMIAS PRESO (37 e 38)
As mensagens de Jeremias sobre o juízo de Deus incomodavam os líderes de Judá. O profeta, por insistir em transmitir a Palavra do Senhor, acabou enfrentando prisão, espancamento e tentativa de morte. Sua trajetória mostra o preço da fidelidade.
1- Jeremias advertido a não falar (37.10) Porque, ainda que ferísseis a todo o exército dos caldeus que pelejam contra vós, e ficassem entre eles apenas homens traspassados, cada um se levantaria da sua tenda e queimaria esta cidade a fogo.
A advertência de Jeremias ao rei Zedequias e aos líderes de Judá é clara: o juízo de Deus não seria revogado. Mesmo que o exército caldeu estivesse ferido, Deus faria com que a cidade fosse destruída. A insistência do profeta contraria os discursos otimistas dos falsos profetas que prometiam paz. Por esta razão ele é ameaçado e preso mas não altera a mensagem, porque sabe que ela vem do Senhor e não dele mesmo. O texto revela o caráter soberano de Deus, cujo propósito não pode ser frustrado, e a firmeza do profeta, que permanece fiel à sua missão, apesar da hostilidade que o cerca. É um alerta ao povo de Judá, mas também aos líderes, que insistiam em buscar alianças humanas em vez de se renderem à vontade divina.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
II — JEREMIAS PRESO (Jr 37–38)
Comentário bíblico-teológico aprofundado (com análise léxica hebraica/LXX, bibliografia acadêmica e tabela expositiva)
1. Contexto histórico-literário (síntese)
Os capítulos 37–38 situam-se no reinado de Zedequias, em meio à segunda fase da agressão babilônica que culminou na queda de Jerusalém (c. 589–587/586 a.C.). O clima político é de polarização: aconselhamento pró-Egito, expectativas messiânicas e profetas que garantem paz contrapõem-se às advertências de Jeremias sobre submissão e juízo. A narrativa mostra como a recusa da liderança em acolher a Palavra de Deus transforma a dissidência profética num problema politico e, por fim, num crime passível de prisão.
2. Resumo narrativo (capítulos 37–38)
Breve sequência narrativa: (a) Jeremias continua a dizer que Jerusalém será entregue ao rei da Babilônia; (b) é preso sob a acusação de "deserção" (ser pró-caldeus); (c) Zedequias interroga-o secretamente e o profeta reafirma a entrega inevitável; (d) os príncipes conspiram e mandam atirá-lo numa cisterna (ou poço) esperando que ele morra; (e) Ebed-Meleque, o etíope, intervém, obtém permissão e tira Jeremias do poço; (f) o profeta volta ao cárcere, mas sobrevive e continua falando. O texto preserva tensão entre a recusa humana e a fidelidade profética.
3. Exegese focal: Jr 37:10 (versículo-chave) — leitura e sentido
A forma hebraica (WLC) do versículo traz:
כִּי אִם־הִכִּיתֶם כָּל־חֵיל כַּשְׂדִּים ... וְנִשְׁאֲרוּ בָם אֲנָשִׁים מְדֻקָּרִים ... יָקֻמֻ וְשָׂרְפ֛וּ אֶת־הָעִ֥יר הַזֹּ֖את בָּאֵֽשׁ׃.
(O WLC; cf. traduções modernas).
— Sentido geral: Jeremias afirma que mesmo uma vitória militar total (se os judeus “vencessem”/“ferissem” o exército caldeu) não impediria o cumprimento do juízo: ainda que restassem apenas “homens medukkarim (מְדֻקָּרִים)” — literalmente “perfurados/pierced”, isto é, gravemente feridos — esses sobreviventes se levantariam de suas tendas e consumariam a destruição da cidade. A ênfase é teológica: a eficácia do juízo divino não depende de forças humanas.
4. Análise léxica (hebraico) — palavras-chave em Jr 37:10
- הִכִּיתֶם (hikkitem / “vós feristes / smote”) — forma verbal do campo semítico ligada ao sentido de ferir, derrotar, abater (ver quadro lexical do verbo ‘to strike/smite’). Funciona aqui como hipótese contrafactual: “mesmo se vós ferísseis…”. (Veja paradigmas de להכות/נָכָה).
- חֵיל כַּשְׂדִּים (cheil Kasdim) — “o exército dos caldeus (babilônicos)”, expressão padrão para as forças inimigas que cercam Jerusalém.
- מְדֻקָּרִים (medukkārîm) — particípio pu‛al (passivo/resultativo) do verbo דָּקַר (dāqar) = “furar, perfurar; ficar perfurado, ferido”. O uso aqui descreve homens “traspassados / gravemente feridos” — imagem forte que comunica que mesmo os poucos feridos seriam capazes, por desígnio divino, de saírem de suas tendas e incendiarem a cidade. A nuance do termo traz a ideia de sofrimento extremo (comparável ao uso em Lamentações 4:9).
- אִישׁ בְּאָהֳלוֹ יָקֻמוּ — “cada homem em sua tenda se levantará”: a expressão sublinha que mesmo indivíduos dispersos, frágeis, agirão coletivamente para cumprir o propósito divino. (Nota: algumas leituras textuais e a LXX apresentam variações que afetam a versos menores; o núcleo semântico, porém, permanece).
5. Leitura na LXX e variante textual
A tradição grega (Brenton/LXX) apresenta diferenças de ordenação e, em alguns lugares, variantes de leitura — como acontece em várias partes de Jeremias (ordem de perícopas distinta na LXX). Essas diferenças não mudam a ideia central do versículo (a inevitabilidade do juízo), mas são importantes para história textual e recepção antiga do livro.
6. Observações teológicas e hermenêuticas
- Soberania de Deus vs. confiança política: Jeremias propõe que a segurança de Judá não se funda em manobras militares ou alianças (Egito), mas na disposição do povo e na vontade de Deus; confiar em medidas humanas e em falsos profetas é vã.
- O custo profético: Prisões, humilhações e tentativas de silenciar o profeta mostram o preço da fidelidade — tema recorrente em Jeremias (cf. 20; 26). A narrativa molda o profeta como testemunha que sofre, não como vencedor político.
- Deus não é impotente diante da derrota humana: a imagem de feridos que, ainda assim, cumprirão a vontade divina, sublinha que Deus reorienta a história mesmo por meios “frágeis”. Isso aponta para uma teologia da providência que não depende da capacidade humana.
7. Aplicação pessoal e eclesial
- Líderes espirituais e políticos: o texto adverte pastores, líderes e cidadãos sobre os perigos de buscar soluções meramente políticas sem submeter-se ao discernimento profético da Escritura.
- Igreja e liturgia pública: a proclamação da Palavra deve preceder políticas; quando a Palavra é silenciada (literalmente ou simbolicamente) a comunidade empobrece.
- Para o obreiro perseguido: Jeremias encoraja a fidelidade corajosa: o servo fiel pode sofrer, mas a missão permanece. Valorize ministérios “Baruque/Ebed-Meleque” — os servos que arriscam para salvar o mensageiro.
- Discernimento de “falsos profetas”: distinguir conselhos que prometem soluções fáceis (paz garantida) de advertências que chamam ao arrependimento.
8. Tabela expositiva (capítulos 37–38)
Trecho
Palavra/Imagem chave (heb.)
Exegese resumida
Ponto teológico
Aplicação prática
Jr 37:1–8
צִדְקִיָּהוּ / חֵיל פַּרְעֹה
Contexto político: Zedequias e a brevíssima ajuda do Egito
Decisões políticas não anulam juízo divino
Avaliar alianças políticas à luz da Palavra
Jr 37:9–13
נִלְחָמִים / הִכִּיתֶם
Advertência: ilusão de que o cerco acabará
Soberania de Deus sobre resultados militares
Prevenção contra autoengano e falsa esperança
Jr 37:13–21
אֲנָשִׁים מְדֻקָּרִים
Prisão e interrogação de Jeremias
O profeta é cabeça de ponte entre Deus e rei
Coragem pastoral mesmo em risco pessoal
Jr 38:1–13
קָצוּ / אָסָר
Conspiração dos príncipes; cárcere
Rejeição institucional da Palavra
Defesa do profeta quando perseguido
Jr 38:14–28
בּוֹר (אֲרוּכָה/בּוֹר) / אֶבֶד־מֶלֶךְ
Jeremias lançado na cisterna; resgate por Ebed-Meleque
Misericórdia e intervenção de um estrangeiro leal
Valorizar agentes inesperados de cuidado
(Resumo exegético e aplicações condensadas).
9. Bibliografia acadêmica recomendada (seletiva)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — boa introdução exegética-evangelical e leitura textual.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary) — análise filológica e histórico-crítica detalhada.
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming — ênfase teológica e pastoral.
- R. P. Carroll, Jeremiah (OTL) — abordagem crítica e literária (consultar para variações textuais).
- Artigo: The Imprisonment of Jeremiah in Its Historical Context — análise do cenário político e recepção narrativa.
10. Síntese homilética (curta)
Título: “Quando a coragem vale o cárcere” — Ideia-chave: A fidelidade à Palavra de Deus pode levar à marginalização e ao sofrimento, mas a missão divina não depende da capacidade humana; antes, ela expõe e julga os corações dos líderes e preserva a esperança do remanescente. (Ilustração: Ebed-Meleque como exemplo prático de compaixão que protege a verdade).
II — JEREMIAS PRESO (Jr 37–38)
Comentário bíblico-teológico aprofundado (com análise léxica hebraica/LXX, bibliografia acadêmica e tabela expositiva)
1. Contexto histórico-literário (síntese)
Os capítulos 37–38 situam-se no reinado de Zedequias, em meio à segunda fase da agressão babilônica que culminou na queda de Jerusalém (c. 589–587/586 a.C.). O clima político é de polarização: aconselhamento pró-Egito, expectativas messiânicas e profetas que garantem paz contrapõem-se às advertências de Jeremias sobre submissão e juízo. A narrativa mostra como a recusa da liderança em acolher a Palavra de Deus transforma a dissidência profética num problema politico e, por fim, num crime passível de prisão.
2. Resumo narrativo (capítulos 37–38)
Breve sequência narrativa: (a) Jeremias continua a dizer que Jerusalém será entregue ao rei da Babilônia; (b) é preso sob a acusação de "deserção" (ser pró-caldeus); (c) Zedequias interroga-o secretamente e o profeta reafirma a entrega inevitável; (d) os príncipes conspiram e mandam atirá-lo numa cisterna (ou poço) esperando que ele morra; (e) Ebed-Meleque, o etíope, intervém, obtém permissão e tira Jeremias do poço; (f) o profeta volta ao cárcere, mas sobrevive e continua falando. O texto preserva tensão entre a recusa humana e a fidelidade profética.
3. Exegese focal: Jr 37:10 (versículo-chave) — leitura e sentido
A forma hebraica (WLC) do versículo traz:
כִּי אִם־הִכִּיתֶם כָּל־חֵיל כַּשְׂדִּים ... וְנִשְׁאֲרוּ בָם אֲנָשִׁים מְדֻקָּרִים ... יָקֻמֻ וְשָׂרְפ֛וּ אֶת־הָעִ֥יר הַזֹּ֖את בָּאֵֽשׁ׃.
(O WLC; cf. traduções modernas).
— Sentido geral: Jeremias afirma que mesmo uma vitória militar total (se os judeus “vencessem”/“ferissem” o exército caldeu) não impediria o cumprimento do juízo: ainda que restassem apenas “homens medukkarim (מְדֻקָּרִים)” — literalmente “perfurados/pierced”, isto é, gravemente feridos — esses sobreviventes se levantariam de suas tendas e consumariam a destruição da cidade. A ênfase é teológica: a eficácia do juízo divino não depende de forças humanas.
4. Análise léxica (hebraico) — palavras-chave em Jr 37:10
- הִכִּיתֶם (hikkitem / “vós feristes / smote”) — forma verbal do campo semítico ligada ao sentido de ferir, derrotar, abater (ver quadro lexical do verbo ‘to strike/smite’). Funciona aqui como hipótese contrafactual: “mesmo se vós ferísseis…”. (Veja paradigmas de להכות/נָכָה).
- חֵיל כַּשְׂדִּים (cheil Kasdim) — “o exército dos caldeus (babilônicos)”, expressão padrão para as forças inimigas que cercam Jerusalém.
- מְדֻקָּרִים (medukkārîm) — particípio pu‛al (passivo/resultativo) do verbo דָּקַר (dāqar) = “furar, perfurar; ficar perfurado, ferido”. O uso aqui descreve homens “traspassados / gravemente feridos” — imagem forte que comunica que mesmo os poucos feridos seriam capazes, por desígnio divino, de saírem de suas tendas e incendiarem a cidade. A nuance do termo traz a ideia de sofrimento extremo (comparável ao uso em Lamentações 4:9).
- אִישׁ בְּאָהֳלוֹ יָקֻמוּ — “cada homem em sua tenda se levantará”: a expressão sublinha que mesmo indivíduos dispersos, frágeis, agirão coletivamente para cumprir o propósito divino. (Nota: algumas leituras textuais e a LXX apresentam variações que afetam a versos menores; o núcleo semântico, porém, permanece).
5. Leitura na LXX e variante textual
A tradição grega (Brenton/LXX) apresenta diferenças de ordenação e, em alguns lugares, variantes de leitura — como acontece em várias partes de Jeremias (ordem de perícopas distinta na LXX). Essas diferenças não mudam a ideia central do versículo (a inevitabilidade do juízo), mas são importantes para história textual e recepção antiga do livro.
6. Observações teológicas e hermenêuticas
- Soberania de Deus vs. confiança política: Jeremias propõe que a segurança de Judá não se funda em manobras militares ou alianças (Egito), mas na disposição do povo e na vontade de Deus; confiar em medidas humanas e em falsos profetas é vã.
- O custo profético: Prisões, humilhações e tentativas de silenciar o profeta mostram o preço da fidelidade — tema recorrente em Jeremias (cf. 20; 26). A narrativa molda o profeta como testemunha que sofre, não como vencedor político.
- Deus não é impotente diante da derrota humana: a imagem de feridos que, ainda assim, cumprirão a vontade divina, sublinha que Deus reorienta a história mesmo por meios “frágeis”. Isso aponta para uma teologia da providência que não depende da capacidade humana.
7. Aplicação pessoal e eclesial
- Líderes espirituais e políticos: o texto adverte pastores, líderes e cidadãos sobre os perigos de buscar soluções meramente políticas sem submeter-se ao discernimento profético da Escritura.
- Igreja e liturgia pública: a proclamação da Palavra deve preceder políticas; quando a Palavra é silenciada (literalmente ou simbolicamente) a comunidade empobrece.
- Para o obreiro perseguido: Jeremias encoraja a fidelidade corajosa: o servo fiel pode sofrer, mas a missão permanece. Valorize ministérios “Baruque/Ebed-Meleque” — os servos que arriscam para salvar o mensageiro.
- Discernimento de “falsos profetas”: distinguir conselhos que prometem soluções fáceis (paz garantida) de advertências que chamam ao arrependimento.
8. Tabela expositiva (capítulos 37–38)
Trecho | Palavra/Imagem chave (heb.) | Exegese resumida | Ponto teológico | Aplicação prática |
Jr 37:1–8 | צִדְקִיָּהוּ / חֵיל פַּרְעֹה | Contexto político: Zedequias e a brevíssima ajuda do Egito | Decisões políticas não anulam juízo divino | Avaliar alianças políticas à luz da Palavra |
Jr 37:9–13 | נִלְחָמִים / הִכִּיתֶם | Advertência: ilusão de que o cerco acabará | Soberania de Deus sobre resultados militares | Prevenção contra autoengano e falsa esperança |
Jr 37:13–21 | אֲנָשִׁים מְדֻקָּרִים | Prisão e interrogação de Jeremias | O profeta é cabeça de ponte entre Deus e rei | Coragem pastoral mesmo em risco pessoal |
Jr 38:1–13 | קָצוּ / אָסָר | Conspiração dos príncipes; cárcere | Rejeição institucional da Palavra | Defesa do profeta quando perseguido |
Jr 38:14–28 | בּוֹר (אֲרוּכָה/בּוֹר) / אֶבֶד־מֶלֶךְ | Jeremias lançado na cisterna; resgate por Ebed-Meleque | Misericórdia e intervenção de um estrangeiro leal | Valorizar agentes inesperados de cuidado |
(Resumo exegético e aplicações condensadas).
9. Bibliografia acadêmica recomendada (seletiva)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — boa introdução exegética-evangelical e leitura textual.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary) — análise filológica e histórico-crítica detalhada.
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming — ênfase teológica e pastoral.
- R. P. Carroll, Jeremiah (OTL) — abordagem crítica e literária (consultar para variações textuais).
- Artigo: The Imprisonment of Jeremiah in Its Historical Context — análise do cenário político e recepção narrativa.
10. Síntese homilética (curta)
Título: “Quando a coragem vale o cárcere” — Ideia-chave: A fidelidade à Palavra de Deus pode levar à marginalização e ao sofrimento, mas a missão divina não depende da capacidade humana; antes, ela expõe e julga os corações dos líderes e preserva a esperança do remanescente. (Ilustração: Ebed-Meleque como exemplo prático de compaixão que protege a verdade).
2- A prisão injusta de Jeremias (37.15) E os príncipes iraram-se muito contra Jeremias, e o espancaram, е о puseram na prisão na casa de Jônatas, o escrivão, porque a tinham convertido em cárcere.
A prisão de Jeremias é resultado direto de sua fidelidade. Por afirmar que Jerusalém cairia nas mãos dos babilônios, ele foi acusado de traição. Os príncipes, inconformados com sua mensagem, mandaram espancá-lo e o colocaram em uma prisão instalada na casa de Jônatas, agora transformada em cárcere. Jeremias, portanto, sofre fisicamente e é privado da liberdade por dizer a verdade. Esse cárcere reflete a rejeição total da liderança de Judá à voz de Deus. Os líderes, que deveriam guiar o povo em direção à vontade divina, tentam silenciar o profeta. A fidelidade de Jeremias o coloca em confronto direto com o poder político e religioso de sua época. Sua prisão destaca o custo do ministério profético, que inclui enfrentar oposição até dos próprios irmãos e líderes da nação.
3- Lançado na cisterna (38.6) Tomaram, pois, a Jeremias, e o lançaram na cisterna de Malquias, filho do rei, que estava no pátio da guarda; e desceram a Jeremias com cordas; e na cisterna não havia água, senão lama; e Jeremias se atolou na lama.
A situação de Jeremias se agrava quando, depois de continuar anunciando o cerco de Jerusalém, ele é lançado na cisterna de Malquias, no pátio da guarda. A intenção era matá-lo de forma cruel, lenta e oculta. Sem água e cheia de lama, a cisterna se torna um símbolo do abandono e da solidão do profeta. O texto relata que Jeremias “se atolou na lama”, imagem que expressa sua completa impotência diante da perseguição. A escolha desse tipo de punição revela a crueldade dos líderes de Judá e a total rejeição à mensagem profética. Jeremias, o porta-voz de Deus, é tratado como inimigo. Contudo, mesmo nesse estado extremo, Deus não o abandona. Por meio de Ebede-Meleque, um oficial etíope da corte, o Senhor providencia o livramento de Jeremias. Ebede-Meleque intercede junto ao rei, e, com cordas e panos usados, Jeremias é retirado da cisterna (38.7-13).
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Jeremias preso (Jer 37:15; 38:6)
A seguir ofereço um comentário que combina leitura cuidadosa do texto hebraico (com referência à LXX), análise lexicográfica, nota exegética e teológica, referências acadêmicas e aplicações práticas. As passagens centrais: Jeremias 37:15 (a prisão/espancamento) e Jeremias 38:6 (o lançamento na cisterna cheia de lama). Texto hebraico e tradução usados como base: texto massorético (Mechon-Mamre) e LXX/Brenton onde útil.
1) Contexto sintético
Os episódios acontecem no cerco final a Jerusalém (reinado de Zedequias). Jeremias repete a palavra de que a cidade será entregue a Babilônia; isso é interpretado pelos líderes como deslealdade/“rendição” e, portanto, como crime político. A reação das autoridades expõe o conflito entre a palavra profética (autoridade divina) e o interesse/medo político da corte. Para estudos históricos e discussão da unidade/narrativa das seções (37–39) ver comentários críticos (Thompson, Lundbom) e estudos recentes sobre o cenário histórico.
2) Exegese focada em Jeremias 37:15 (prisão / espancamento)
Texto (MT, translit. abreviada)
וַיִּקְצְפוּ הַשָּׂרִים עַל־יִרְמְיָהוּ וְהִכּוּ אֹתוֹ וְנָֽתְנוּ אוֹתוֹ בֵּית הָאֵסוּר בֵּית יְהֽוֹנָתָן הַסּוֹפֵר כִּי־אֹתוֹ עָשׂוּ לְבֵית הַכֶּלֶא.
(“Os príncipes se irritaram contra Jeremias, espancaram-no e o puseram na prisão na casa de Jonathan, o escriba — porque tinham convertido essa casa em cárcere.”)
Palavras-chave e análise (hebraico → sentido)
- וַיִּקְצְפוּ (vayyiqṣəp̄û) — do verbo קָצַף (qāṣap̄): “iraram-se, enfureceram-se”. O verbo descreve um surto de cólera (ressalto afetivo que exige resposta), não apenas desaprovação formal. Lex. BDB/Strong’s nota a ideia de explosão de ira.
- וְהִכּוּ אֹתוֹ (vəhikkû otô) — forma perfeita/hiphil ou verbos perf. 3pl “eles o feriram/espancaram”. Raiz: נָכָה / היכה ‘bater, ferir’. A expressão comunica ação corporal violenta; em contexto judicial/político equivale a humilhação pública.
- בֵּית יְהוֹנָתָן הַסּוֹפֵר (beit Yehonatan ha-sōp̄ēr) — “a casa de Jonathan, o escriba/secretário”. Sōp̄ēr (סופר) designa um escriba/funcionário do palácio; a casa do escriba foi convertida em prisão de estado (não prisão pública normal). A nota “porque a tinham convertido em prisão” sugere uso ad hoc de instalações oficiais para prisão política.
Observações exegéticas & teológicas
- Espancamento como resposta política — o profeta não é tratado como interlocutor legítimo, mas como inimigo a ser suprimido. A cólera dos príncipes é reação à “traição” (acusação de que Jeremias ‘passaria’ para os caldeus) e também mecanismo de repressão — isso explica a violência física e a prisão improvisada. (Discussão em Thompson e Lundbom sobre motivações políticas e composição narrativa).
- Função do escriba/corte — transformar a casa do escriba em prisão indica a instrumentalização dos aparelhos administrativos contra dissidência religiosa: o escriba não é apenas copista, mas figura de poder na burocracia. Isso problematiza a relação entre autoridade religiosa e poder estatal. (Comentadores clássicos observam o caráter “carcerário” e vexatório do lugar).
- Teologia do profeta perseguido — Jeremias aqui encarna o padrão profético: fidelidade a palavra de YHWH implica sofrer rejeição. A cena prepara simbolicamente o conceito de testemunho que sofre por anunciar a verdade divina (motivo teológico recorrente em toda a tradição profética e reaparece na literatura cristã). (Brueggemann e outros tratam Jeremias como figura teológica de “sofrimento”/“custo do discípulo”).
3) Exegese focada em Jeremias 38:6 (a cisterna e a lama)
Texto (MT, translit. abreviada)
וַיִּקְחוּ אֶת־יִרְמְיָהוּ וַיִּשְׁלְכוּהוּ בְּבֹור מַלְכִּיָּהוּ בֶּן־הַמֶּלֶךְ אֲשֶׁר בְּחַצְרוֹת הַמִּשְׁמָר וַיַּרְדוּ אֶל־יְרֶמְיָהוּ בְּחֶבְלִים; וּבַבּוֹר אֵין־מָיִם כִּי־טִין בַּטִּין וַיִּתְעַכֵּל יִרְמְיָהוּ בַּטִּינָה.
(forma sintética; ESV/NASB: “They put Jeremiah into the cistern of Malchiah the king’s son… there was no water in the cistern but only mud, and Jeremiah sank into the mud.”)
Palavras-chave e análise (heb./LXX)
- בּוֹר / בֹּאר (bôr / bôr) — “cisterna, fossa, poço; também usado como prisão/dungeon”. Cisternas escavadas eram comuns; algumas, quando vazias, viravam “bocas” de morte. Lex. (Strong’s/BDB) explicam que bôr pode ser reservatório de água ou cavidade usada como prisão (Joseph, Jeremias etc.).
- טִין / טִינָה (ṭîn / ṭînâ / ‘tin’/‘tinah’) — “lama, barro, argila”. Em Jer 38:6 o texto enfatiza que não havia água, mas lama (imagem de atolamento/lenta morte). Lex. Strong’s explora o uso figurativo (misericórdia limitada, degradação).
- LXX (grego) — o LXX emprega λάκκον (lákkon)/λάκκος (lakkos) para “cisterna/poço” e βόρβορος / βορβόρος (borboros) para “lama/mire” — a imagem é a mesma: um poço mirrento onde o homem afunda. (ver LXX/Brenton).
Observações exegéticas & teológicas
- Tentativa de homicídio por “morrer naturalmente” — Colocar Jeremias numa cisterna seca cheia de lama indica que os príncipes queriam uma morte lenta (fome, doença, sufocamento na lama) sem responsabilizar-se abertamente por assassinar um profeta; técnica de eliminação social. Comentaristas modernos lêem esse ato como política de “liquidar o dissidente” mantendo aparência de legalidade.
- Imagética bíblica: o “poço” e o “lamaçal” — o “bor” (poço) tem tradição simbólica (Joseph, Sheol, “ir para o poço” = ser abandonado). O fundo lamacento sugere abandono extremo: Jeremias, o porta-voz da palavra, é jogado na “profundidade” da rejeição humana — contraste forte com a altura da missão profética. McClintock e outros tratam do simbolismo do poço em narrativas bíblicas.
- Intervenção divina através de um “estrangeiro” — a narrativa imediatamente segue com Ebed-Meleque (um etíope/cuxita, funcionário do palácio) que intercede e resgata Jeremias. A teologia narrativa quer marcar: Deus usa um “outsider” para preservar seu emissário; a justiça por vezes vem de onde não se espera (tema teológico de incompreensão dos justos pelos próprios compatriotas). Estudos sobre Ebed-Melech destacam sua coragem e importância moral.
4) Tabela expositiva (selecionada — versículos e termos essenciais)
Texto / vocábulo (Heb.)
Tradução literal
Nota exegética
Ponto teológico
Aplicação prática
Jer 37:15 — וַיִּקְצְפוּ הַשָּׂרִים
“Os príncipes enfureceram-se”
קָצַף = explosão de ira; indica resposta emocional intensa, não julgamento frio.
Reação humana ao oráculo divino: hostilidade quando a palavra expõe interesses.
Cuidado com líderes que confundem resistência política com verdade espiritual; cultivar humildade diante da crítica crível.
וְהִכּוּ אֹתוֹ
“e o espancaram”
הִכּוּ (hikkû) = golpearam/espancaram; violência corporal punitiva.
O mensageiro sofre—o evangelho/palavra pode trazer perseguição.
Apoiar e proteger portadores de verdades impopulares; reconhecer custo do testemunho.
בֵּית יְהוֹנָתָן הַסּוֹפֵר
“casa de Jonathan, o escriba”
Casa convertida em prisão política; סופר = escriba/funcionário (poder burocrático).
O aparato administrativo pode reprimir a liberdade religiosa; a burocracia não é neutra.
Vigilância cristã sobre o uso do poder administrative; advocacia por justiça processual.
Jer 38:6 — בּוֹר (bôr)
“cisterna / poço / dungeon”
Designa cisterna que serve como prisão (local físico: pátio da guarda).
O “poço” é local de abandono; imagem de julgamento e exclusão humana.
Reconhecer as estruturas de exclusão; trabalhar por resgatar os “no fundo” (vulneráveis).
טִין / טִינָה (ṭîn / ṭînâ)
“lama, barro”
Atolamento — Jeremias “afunda” na lama; imagem de humilhação e perigo de morte.
A Palavra pode pôr o profeta “no lamaçal” — mas Deus ouve e age através de meios inusitados.
Conforto para quem sofre injustiça: Deus usa intervenientes inesperados; ação prática: socorro imediato (Ebed-Melech).
LXX: λάκκος / βόρβορος
“lakkos / borboros” (pit / mire)
Confere paralela antiguidade do motivo (LXX reproduz simbolismo do MT).
A imagem é pan-bíblica: abismo/poço como lugar de perigo e também de prova.
Leitura intertestamental: solidariedade na tradição judaica/helênica contra violência do poder.
5) Pequena bibliografia comentada (seleção acadêmica)
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary) — estudo exegético detalhado dos capítulos finais; útil para crítica textual e histórico-literária.
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — boa síntese histórica e teológica; discussão sobre o enquadramento dos episódios.
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming — leitura teológica e pastoral, enfatiza a voz profética e o sofrimento.
- Artigo: “The Imprisonment of Jeremiah in Its Historical Context” (RSC / BYU) — estudo acessível que situa politicamente o episódio; útil para história social do texto.
- Bible lexica / recursos online: Mechon-Mamre (Hebrew MT), Strong’s / BDB (verbos נכה, קצף, substantivos בּוֹר, טִין), LXX (Brenton / Blue Letter) para comparação.
6) Aplicação pastoral / pessoal (prática)
- Custo da fidelidade: Jeremias é modelo para líderes e cristãos: ser portador da palavra de Deus pode implicar rejeição e sofrimento. Preparar a comunidade para sustentar aqueles que denunciam pecado/injustiça em nome do Senhor.
- Denunciar o abuso de poder: a instrumentalização do aparelho do Estado/da burocracia contra a verdade exige profecia concreta — denunciar publicamente quando estruturas ferem a justiça.
- Valorizar “Ebed-Melech” hoje: alguém de posição menor/externo pode agir com coragem. Incentivar e apoiar intervenções pró-vidas (socorro prático, advocacia) quando alguém é silenciado.
- Cuidado com a retórica: quando a “segurança” ou “patriotismo” trava a escuta da verdade de Deus, as igrejas e líderes precisam de mecanismos de responsabilidade e proteção para os profetas contemporâneos.
7) Observações finais
A prisão e o lançamento na cisterna revelam duas coisas em tensão: (1) a vulnerabilidade do mensageiro humano — Jeremias sofre a rejeição violenta; (2) a soberania de Deus que preserva sua palavra — a narrativa enfatiza que, mesmo na lama do desprezo humano, a vocação profética não é abortada (Deus providencia um resgate através de um servo estrangeiro e, mais tarde, manda escrever de novo o rolo). A cena nos impele a defender a integridade profética e a repensar onde a justiça humana falha. (Síntese em diálogo com Lundbom, Thompson e Brueggemann).
Jeremias preso (Jer 37:15; 38:6)
A seguir ofereço um comentário que combina leitura cuidadosa do texto hebraico (com referência à LXX), análise lexicográfica, nota exegética e teológica, referências acadêmicas e aplicações práticas. As passagens centrais: Jeremias 37:15 (a prisão/espancamento) e Jeremias 38:6 (o lançamento na cisterna cheia de lama). Texto hebraico e tradução usados como base: texto massorético (Mechon-Mamre) e LXX/Brenton onde útil.
1) Contexto sintético
Os episódios acontecem no cerco final a Jerusalém (reinado de Zedequias). Jeremias repete a palavra de que a cidade será entregue a Babilônia; isso é interpretado pelos líderes como deslealdade/“rendição” e, portanto, como crime político. A reação das autoridades expõe o conflito entre a palavra profética (autoridade divina) e o interesse/medo político da corte. Para estudos históricos e discussão da unidade/narrativa das seções (37–39) ver comentários críticos (Thompson, Lundbom) e estudos recentes sobre o cenário histórico.
2) Exegese focada em Jeremias 37:15 (prisão / espancamento)
Texto (MT, translit. abreviada)
וַיִּקְצְפוּ הַשָּׂרִים עַל־יִרְמְיָהוּ וְהִכּוּ אֹתוֹ וְנָֽתְנוּ אוֹתוֹ בֵּית הָאֵסוּר בֵּית יְהֽוֹנָתָן הַסּוֹפֵר כִּי־אֹתוֹ עָשׂוּ לְבֵית הַכֶּלֶא.
(“Os príncipes se irritaram contra Jeremias, espancaram-no e o puseram na prisão na casa de Jonathan, o escriba — porque tinham convertido essa casa em cárcere.”)
Palavras-chave e análise (hebraico → sentido)
- וַיִּקְצְפוּ (vayyiqṣəp̄û) — do verbo קָצַף (qāṣap̄): “iraram-se, enfureceram-se”. O verbo descreve um surto de cólera (ressalto afetivo que exige resposta), não apenas desaprovação formal. Lex. BDB/Strong’s nota a ideia de explosão de ira.
- וְהִכּוּ אֹתוֹ (vəhikkû otô) — forma perfeita/hiphil ou verbos perf. 3pl “eles o feriram/espancaram”. Raiz: נָכָה / היכה ‘bater, ferir’. A expressão comunica ação corporal violenta; em contexto judicial/político equivale a humilhação pública.
- בֵּית יְהוֹנָתָן הַסּוֹפֵר (beit Yehonatan ha-sōp̄ēr) — “a casa de Jonathan, o escriba/secretário”. Sōp̄ēr (סופר) designa um escriba/funcionário do palácio; a casa do escriba foi convertida em prisão de estado (não prisão pública normal). A nota “porque a tinham convertido em prisão” sugere uso ad hoc de instalações oficiais para prisão política.
Observações exegéticas & teológicas
- Espancamento como resposta política — o profeta não é tratado como interlocutor legítimo, mas como inimigo a ser suprimido. A cólera dos príncipes é reação à “traição” (acusação de que Jeremias ‘passaria’ para os caldeus) e também mecanismo de repressão — isso explica a violência física e a prisão improvisada. (Discussão em Thompson e Lundbom sobre motivações políticas e composição narrativa).
- Função do escriba/corte — transformar a casa do escriba em prisão indica a instrumentalização dos aparelhos administrativos contra dissidência religiosa: o escriba não é apenas copista, mas figura de poder na burocracia. Isso problematiza a relação entre autoridade religiosa e poder estatal. (Comentadores clássicos observam o caráter “carcerário” e vexatório do lugar).
- Teologia do profeta perseguido — Jeremias aqui encarna o padrão profético: fidelidade a palavra de YHWH implica sofrer rejeição. A cena prepara simbolicamente o conceito de testemunho que sofre por anunciar a verdade divina (motivo teológico recorrente em toda a tradição profética e reaparece na literatura cristã). (Brueggemann e outros tratam Jeremias como figura teológica de “sofrimento”/“custo do discípulo”).
3) Exegese focada em Jeremias 38:6 (a cisterna e a lama)
Texto (MT, translit. abreviada)
וַיִּקְחוּ אֶת־יִרְמְיָהוּ וַיִּשְׁלְכוּהוּ בְּבֹור מַלְכִּיָּהוּ בֶּן־הַמֶּלֶךְ אֲשֶׁר בְּחַצְרוֹת הַמִּשְׁמָר וַיַּרְדוּ אֶל־יְרֶמְיָהוּ בְּחֶבְלִים; וּבַבּוֹר אֵין־מָיִם כִּי־טִין בַּטִּין וַיִּתְעַכֵּל יִרְמְיָהוּ בַּטִּינָה.
(forma sintética; ESV/NASB: “They put Jeremiah into the cistern of Malchiah the king’s son… there was no water in the cistern but only mud, and Jeremiah sank into the mud.”)
Palavras-chave e análise (heb./LXX)
- בּוֹר / בֹּאר (bôr / bôr) — “cisterna, fossa, poço; também usado como prisão/dungeon”. Cisternas escavadas eram comuns; algumas, quando vazias, viravam “bocas” de morte. Lex. (Strong’s/BDB) explicam que bôr pode ser reservatório de água ou cavidade usada como prisão (Joseph, Jeremias etc.).
- טִין / טִינָה (ṭîn / ṭînâ / ‘tin’/‘tinah’) — “lama, barro, argila”. Em Jer 38:6 o texto enfatiza que não havia água, mas lama (imagem de atolamento/lenta morte). Lex. Strong’s explora o uso figurativo (misericórdia limitada, degradação).
- LXX (grego) — o LXX emprega λάκκον (lákkon)/λάκκος (lakkos) para “cisterna/poço” e βόρβορος / βορβόρος (borboros) para “lama/mire” — a imagem é a mesma: um poço mirrento onde o homem afunda. (ver LXX/Brenton).
Observações exegéticas & teológicas
- Tentativa de homicídio por “morrer naturalmente” — Colocar Jeremias numa cisterna seca cheia de lama indica que os príncipes queriam uma morte lenta (fome, doença, sufocamento na lama) sem responsabilizar-se abertamente por assassinar um profeta; técnica de eliminação social. Comentaristas modernos lêem esse ato como política de “liquidar o dissidente” mantendo aparência de legalidade.
- Imagética bíblica: o “poço” e o “lamaçal” — o “bor” (poço) tem tradição simbólica (Joseph, Sheol, “ir para o poço” = ser abandonado). O fundo lamacento sugere abandono extremo: Jeremias, o porta-voz da palavra, é jogado na “profundidade” da rejeição humana — contraste forte com a altura da missão profética. McClintock e outros tratam do simbolismo do poço em narrativas bíblicas.
- Intervenção divina através de um “estrangeiro” — a narrativa imediatamente segue com Ebed-Meleque (um etíope/cuxita, funcionário do palácio) que intercede e resgata Jeremias. A teologia narrativa quer marcar: Deus usa um “outsider” para preservar seu emissário; a justiça por vezes vem de onde não se espera (tema teológico de incompreensão dos justos pelos próprios compatriotas). Estudos sobre Ebed-Melech destacam sua coragem e importância moral.
4) Tabela expositiva (selecionada — versículos e termos essenciais)
Texto / vocábulo (Heb.) | Tradução literal | Nota exegética | Ponto teológico | Aplicação prática |
Jer 37:15 — וַיִּקְצְפוּ הַשָּׂרִים | “Os príncipes enfureceram-se” | קָצַף = explosão de ira; indica resposta emocional intensa, não julgamento frio. | Reação humana ao oráculo divino: hostilidade quando a palavra expõe interesses. | Cuidado com líderes que confundem resistência política com verdade espiritual; cultivar humildade diante da crítica crível. |
וְהִכּוּ אֹתוֹ | “e o espancaram” | הִכּוּ (hikkû) = golpearam/espancaram; violência corporal punitiva. | O mensageiro sofre—o evangelho/palavra pode trazer perseguição. | Apoiar e proteger portadores de verdades impopulares; reconhecer custo do testemunho. |
בֵּית יְהוֹנָתָן הַסּוֹפֵר | “casa de Jonathan, o escriba” | Casa convertida em prisão política; סופר = escriba/funcionário (poder burocrático). | O aparato administrativo pode reprimir a liberdade religiosa; a burocracia não é neutra. | Vigilância cristã sobre o uso do poder administrative; advocacia por justiça processual. |
Jer 38:6 — בּוֹר (bôr) | “cisterna / poço / dungeon” | Designa cisterna que serve como prisão (local físico: pátio da guarda). | O “poço” é local de abandono; imagem de julgamento e exclusão humana. | Reconhecer as estruturas de exclusão; trabalhar por resgatar os “no fundo” (vulneráveis). |
טִין / טִינָה (ṭîn / ṭînâ) | “lama, barro” | Atolamento — Jeremias “afunda” na lama; imagem de humilhação e perigo de morte. | A Palavra pode pôr o profeta “no lamaçal” — mas Deus ouve e age através de meios inusitados. | Conforto para quem sofre injustiça: Deus usa intervenientes inesperados; ação prática: socorro imediato (Ebed-Melech). |
LXX: λάκκος / βόρβορος | “lakkos / borboros” (pit / mire) | Confere paralela antiguidade do motivo (LXX reproduz simbolismo do MT). | A imagem é pan-bíblica: abismo/poço como lugar de perigo e também de prova. | Leitura intertestamental: solidariedade na tradição judaica/helênica contra violência do poder. |
5) Pequena bibliografia comentada (seleção acadêmica)
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary) — estudo exegético detalhado dos capítulos finais; útil para crítica textual e histórico-literária.
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — boa síntese histórica e teológica; discussão sobre o enquadramento dos episódios.
- Walter Brueggemann, A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming — leitura teológica e pastoral, enfatiza a voz profética e o sofrimento.
- Artigo: “The Imprisonment of Jeremiah in Its Historical Context” (RSC / BYU) — estudo acessível que situa politicamente o episódio; útil para história social do texto.
- Bible lexica / recursos online: Mechon-Mamre (Hebrew MT), Strong’s / BDB (verbos נכה, קצף, substantivos בּוֹר, טִין), LXX (Brenton / Blue Letter) para comparação.
6) Aplicação pastoral / pessoal (prática)
- Custo da fidelidade: Jeremias é modelo para líderes e cristãos: ser portador da palavra de Deus pode implicar rejeição e sofrimento. Preparar a comunidade para sustentar aqueles que denunciam pecado/injustiça em nome do Senhor.
- Denunciar o abuso de poder: a instrumentalização do aparelho do Estado/da burocracia contra a verdade exige profecia concreta — denunciar publicamente quando estruturas ferem a justiça.
- Valorizar “Ebed-Melech” hoje: alguém de posição menor/externo pode agir com coragem. Incentivar e apoiar intervenções pró-vidas (socorro prático, advocacia) quando alguém é silenciado.
- Cuidado com a retórica: quando a “segurança” ou “patriotismo” trava a escuta da verdade de Deus, as igrejas e líderes precisam de mecanismos de responsabilidade e proteção para os profetas contemporâneos.
7) Observações finais
A prisão e o lançamento na cisterna revelam duas coisas em tensão: (1) a vulnerabilidade do mensageiro humano — Jeremias sofre a rejeição violenta; (2) a soberania de Deus que preserva sua palavra — a narrativa enfatiza que, mesmo na lama do desprezo humano, a vocação profética não é abortada (Deus providencia um resgate através de um servo estrangeiro e, mais tarde, manda escrever de novo o rolo). A cena nos impele a defender a integridade profética e a repensar onde a justiça humana falha. (Síntese em diálogo com Lundbom, Thompson e Brueggemann).
III- JERUSALÉM É TOMADA PELA BABILÔNIA (39)
O capítulo 39 relata o cumprimento final e inevitável da palavra profética de Jeremias. Após anos de advertências e apelos ao arrependimento, Jerusalém é tomada pelo exército babilônico. A cidade santa é destruída, o rei é humilhado, mas o profeta fiel é poupado.
1- A queda de Jerusalém (39.1) Foi tomada Jerusalém, no ano nono de Zedequias, rei de Judá, no décimo mês, quando veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, com todo o seu exército contra Jerusalém, e a cercaram.
A narrativa da queda de Jerusalém é um marco na história do povo de Deus. Jeremias havia anunciado repetidamente esse juízo, mas os líderes de Judá, confiando em alianças com o Egito e em falsas promessas de segurança, recusaram-se a dar ouvidos. Finalmente, no nono ano do reinado de Zedequias, Nabucodonosor inicia o cerco à cidade. Esse cerco, que durou aproximadamente um ano e meio (cf. 2Rs 25.1-3), resultou em fome extrema, colapso social e desespero generalizado. destruição de Jerusalém foi completa, incluindo o tempo, que foi saqueado e queimado, o palácio real e as casas, conforme registrado em 2 Reis 25 e confirmado por Jeremias (52.12-13). A queda de Jerusalém representava não apenas a derrota militar, mas, sobretudo, o juízo de Deus contra o pecado do povo, por sua idolatria, injustiça social e desobediência à Palavra. O povo quebrou a aliança com o Senhor e o próprio templo, que deveria ser “casa de oração para todos os povos” (Is 56.7), foi reduzido a cinzas.
Esse momento histórico significou também o fim do reino de Judá como nação independente e o início do exílio babilônico. O povo que recusou ouvir a voz de Deus agora enfrentava as consequências de sua rebeldia. Deus cumpre o que diz, seja quando abençoa ou quando decreta juízo.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
III — Jerusalém é tomada pela Babilônia (Jeremias 39:1)
1. Leitura imediata do versículo
“Na nona ano de Zedequias, rei de Judá, no décimo mês, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, com todo o seu exército contra Jerusalém, e a cercaram.” (Jr 39:1, texto massorético).
Este verso abre o relato do cumprimento do oráculo de Jeremias: o cerco imposto por Nabucodonosor, a queda e a consequente destruição/exílio que encerram o período do reino davídico em Jerusalém (vide também 2Rs 25; Jr 52).
2. Contexto histórico e datação (breve)
- O versículo situa um evento histórico preciso: “ano nono de Zedequias, décimo mês” — ponto de partida do cerco que culmina na queda da cidade e na destruição do templo (relatado também em 2Rs 25 e Jr 52).
- A cronologia exata (se a queda ocorreu em 587 ou 586 a.C.) é debatida entre especialistas; fontes extra-bíblicas (como os “Babylonian Chronicles”) confirmam campanhas de Nabucodonosor e ajudam a fixar as datas, mas há controvérsias técnicas de contagem regnal. Em resumo: a narrativa bíblica situa o cerco na regência de Zedequias e o consenso geral coloca a destruição no final do século VII / início do VI a.C. (tradicionalmente c. 587/586 a.C.).
3. Análise léxica (palavras-chave em Jr 39:1)
- בַּשָּׁנָה הַתְּשִׁעִית — “no ano nono”: fórmula regencial comum na narrativa bíblica para situar o acontecimento no tempo do rei.
- בַּחֹדֶשׁ הָעֲשִׂרִי — “no décimo mês”: indicação do mês (calendário hebraico), que estabelece a sequência temporal do cerco.
- נְבוּכַדְרֶאצַּר מֶלֶךְ־בָּבֶל — nome e título do monarca babilônico (Nabucodonosor II), protagonista militar da campanha que submete Judá. Fontes assírio-babilônicas confirmam a atividade bélica do rei e de seus oficiais.
- וַיָּצֻרוּ עָלֶיהָ — “e cercaram-na / puseram cerco”: o verbo subjacente (relacionado a צוּר/צָרַר) é lexicalmente ligado à ideia de assédio / cerco / apertar (lay siege). Ver BDB/Strong’s para usos paralelos em narrativas militares bíblicas.
4. Exegese teológica (pontos centrais)
- Cumprimento profético. Jr 39.1 não é apenas um dado militar: é o ponto de chegada do livro de Jeremias, que havia anunciado repetidamente o juízo por infidelidade à aliança (cf. Dt 28; Jr 25; 32). A queda confirma que a Palavra profética não era predição vazia, mas julgamento legítimo anunciado por Deus.
- Responsabilidade coletiva e liderança. A narrativa ilumina o fracasso das lideranças (rei, príncipes, sacerdócio, falsos profetas) que buscaram soluções humanas (alianças, realpolitik) em vez de arrependimento. O julgamento é, portanto, também diagnóstico teológico: as escolhas políticas foram moralmente condicionadas e espiritualmente avaliadas.
- Realidade histórica e arqueologia. Camadas queimadas, destruições e evidências de queima em sítios como a Cidade de Davi corroboram o relato de um colapso violento — arqueologia e texto convergem para confirmar um evento traumático no fim do reino davídico. (Sobre os dados arqueológicos consulte resumos acessíveis e publicações especializadas).
- Soberania de YHWH e agência humana. A queda mostra a tensão bíblica clássica: Deus exerce juízo, mas o meio-termo inclui decisões humanas (rebeliões, alianças, pusilanimidade dos príncipes). A ação divina utiliza agentes humanos (Nabucodonosor) para concretizar um veredito moral.
- Memória e esperança messiânica (pós-queda). Embora o capítulo relate derrota e destruição, o livro de Jeremias não termina em silêncio absoluto: a sobrevivência de alguns (o remanescente), as promessas de restauração (cap. 30–33) e a figura do profeta que sofre mas é preservado apontam para desfechos de esperança e restauração.
5. Diferença textual / recepção antiga
- O texto de Jeremias existe em duas grandes tradições — a Masorética (MT) e a Septuaginta (LXX) — que diferem em extensão e ordem de perícopas (a LXX é substancialmente mais curta e organiza parte do material de modo diverso). Isso interessa à história do texto e à recepção antiga de Jeremias. Para questões textuais e crítica textual, ver Emanuel Tov e estudos sobre as variantes MT/LXX.
6. Tabela expositiva (foco em Jr 39:1 e implicações)
Trecho
Hebraico (termo-chave)
Tradução/resumo
Exegese curta
Teologia
Aplicação prática
Jr 39:1
בַּשָּׁנָה הַתְּשִׁעִית / בַּחֹדֶשׁ הָעֲשִׂרִי
“No 9º ano, no 10º mês…”
Fórmula regencial que fixa o início do cerco.
A história é cronometrada: Deus fala na história.
Ensinar congregações a avaliar eventos históricos à luz da Palavra.
Jr 39:1
נְבוּכַדְרֶאצַּר
Nabucodonosor rei da Babilônia
Agente empírico do cerco; figura histórica confirmada por fontes babilônicas.
Deus usa potências pagãs para executar juízo.
Discernir entre agentes e propósitos (política vs. vocação).
Jr 39:1
וַיָּצֻרוּ עָלֶיהָ
“cercaram-na / puseram cerco”
Verbo de cerco (צוּר/צָרַר) com campo semântico de apertar/confinar.
A violação da aliança tem consequência pública e coletiva.
Liderança responsável: decisões públicas têm consequências espirituais.
Contexto narrativo
2 Rs 25; Jr 52
Queima do templo; exílio
Acontecimento político-militar e juízo teológico.
Cumprimento do anúncio profético → validade do profeta.
Ouvimos profecia que corrige: arrependimento antes da catástrofe.
Evidência material
Arqueologia (camadas queimadas)
Burn layers na Cidade de Davi e outros sítios
Corrobora destruição violenta no final do século VII/princípios VI a.C.
Texto e arqueologia dialogam; não são concorrentes per se.
Usar arqueologia para enriquecer a pregação histórica.
7. Bibliografia (seletiva, acadêmica e acessível)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary).
- Walter Brueggemann, comentário e estudos sobre Jeremias (teologia e leitura pastoral).
- Emanuel Tov, estudos sobre variantes MT/LXX e crítica textual do Antigo Testamento.
- Artigos de divulgação/arqueologia: Biblical Archaeology Review (resumos sobre o cerco e o papel de Nebuzaradan) e sumários sobre os Babylonian Chronicles (BM 21946) — úteis para correlacionar texto bíblico e fontes mesopotâmicas.
8. Aplicações pastorais e pessoais (sintéticas)
- A Palavra denunciadora tem consequências — ouvir a Palavra exige conversão; ignorá-la pode levar a rupturas institucionais e coletivas.
- Líderes serão responsabilizados — a liderança espiritual/política deve submeter decisões à Palavra e ao juízo moral.
- Fé em meio à catástrofe — Jeremias e o remanescente ensinam perseverança na fidelidade e confiança em promessas de restauração.
- Uso da História na pregação — levar a congregação a reconhecer que Deus atua na história e que a justiça divina tem dimensão comunitária (não meramente individual).
9. Síntese homilética (3 pontos)
- “A Palavra pronunciada” — Jeremias anuncia o juízo. (Textual: 39:1; aplicação: ouvir primeiro.)
- “A crise das escolhas” — lideranças escolhem alianças humanas e colhem ruína. (Aplicação: responsabilidade pública e moral.)
- “A promessa de restauração” — mesmo na queda, Deus preserva um remanescente e promete restauração futura. (Aplicação: esperança ativa.)
III — Jerusalém é tomada pela Babilônia (Jeremias 39:1)
1. Leitura imediata do versículo
“Na nona ano de Zedequias, rei de Judá, no décimo mês, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, com todo o seu exército contra Jerusalém, e a cercaram.” (Jr 39:1, texto massorético).
Este verso abre o relato do cumprimento do oráculo de Jeremias: o cerco imposto por Nabucodonosor, a queda e a consequente destruição/exílio que encerram o período do reino davídico em Jerusalém (vide também 2Rs 25; Jr 52).
2. Contexto histórico e datação (breve)
- O versículo situa um evento histórico preciso: “ano nono de Zedequias, décimo mês” — ponto de partida do cerco que culmina na queda da cidade e na destruição do templo (relatado também em 2Rs 25 e Jr 52).
- A cronologia exata (se a queda ocorreu em 587 ou 586 a.C.) é debatida entre especialistas; fontes extra-bíblicas (como os “Babylonian Chronicles”) confirmam campanhas de Nabucodonosor e ajudam a fixar as datas, mas há controvérsias técnicas de contagem regnal. Em resumo: a narrativa bíblica situa o cerco na regência de Zedequias e o consenso geral coloca a destruição no final do século VII / início do VI a.C. (tradicionalmente c. 587/586 a.C.).
3. Análise léxica (palavras-chave em Jr 39:1)
- בַּשָּׁנָה הַתְּשִׁעִית — “no ano nono”: fórmula regencial comum na narrativa bíblica para situar o acontecimento no tempo do rei.
- בַּחֹדֶשׁ הָעֲשִׂרִי — “no décimo mês”: indicação do mês (calendário hebraico), que estabelece a sequência temporal do cerco.
- נְבוּכַדְרֶאצַּר מֶלֶךְ־בָּבֶל — nome e título do monarca babilônico (Nabucodonosor II), protagonista militar da campanha que submete Judá. Fontes assírio-babilônicas confirmam a atividade bélica do rei e de seus oficiais.
- וַיָּצֻרוּ עָלֶיהָ — “e cercaram-na / puseram cerco”: o verbo subjacente (relacionado a צוּר/צָרַר) é lexicalmente ligado à ideia de assédio / cerco / apertar (lay siege). Ver BDB/Strong’s para usos paralelos em narrativas militares bíblicas.
4. Exegese teológica (pontos centrais)
- Cumprimento profético. Jr 39.1 não é apenas um dado militar: é o ponto de chegada do livro de Jeremias, que havia anunciado repetidamente o juízo por infidelidade à aliança (cf. Dt 28; Jr 25; 32). A queda confirma que a Palavra profética não era predição vazia, mas julgamento legítimo anunciado por Deus.
- Responsabilidade coletiva e liderança. A narrativa ilumina o fracasso das lideranças (rei, príncipes, sacerdócio, falsos profetas) que buscaram soluções humanas (alianças, realpolitik) em vez de arrependimento. O julgamento é, portanto, também diagnóstico teológico: as escolhas políticas foram moralmente condicionadas e espiritualmente avaliadas.
- Realidade histórica e arqueologia. Camadas queimadas, destruições e evidências de queima em sítios como a Cidade de Davi corroboram o relato de um colapso violento — arqueologia e texto convergem para confirmar um evento traumático no fim do reino davídico. (Sobre os dados arqueológicos consulte resumos acessíveis e publicações especializadas).
- Soberania de YHWH e agência humana. A queda mostra a tensão bíblica clássica: Deus exerce juízo, mas o meio-termo inclui decisões humanas (rebeliões, alianças, pusilanimidade dos príncipes). A ação divina utiliza agentes humanos (Nabucodonosor) para concretizar um veredito moral.
- Memória e esperança messiânica (pós-queda). Embora o capítulo relate derrota e destruição, o livro de Jeremias não termina em silêncio absoluto: a sobrevivência de alguns (o remanescente), as promessas de restauração (cap. 30–33) e a figura do profeta que sofre mas é preservado apontam para desfechos de esperança e restauração.
5. Diferença textual / recepção antiga
- O texto de Jeremias existe em duas grandes tradições — a Masorética (MT) e a Septuaginta (LXX) — que diferem em extensão e ordem de perícopas (a LXX é substancialmente mais curta e organiza parte do material de modo diverso). Isso interessa à história do texto e à recepção antiga de Jeremias. Para questões textuais e crítica textual, ver Emanuel Tov e estudos sobre as variantes MT/LXX.
6. Tabela expositiva (foco em Jr 39:1 e implicações)
Trecho | Hebraico (termo-chave) | Tradução/resumo | Exegese curta | Teologia | Aplicação prática |
Jr 39:1 | בַּשָּׁנָה הַתְּשִׁעִית / בַּחֹדֶשׁ הָעֲשִׂרִי | “No 9º ano, no 10º mês…” | Fórmula regencial que fixa o início do cerco. | A história é cronometrada: Deus fala na história. | Ensinar congregações a avaliar eventos históricos à luz da Palavra. |
Jr 39:1 | נְבוּכַדְרֶאצַּר | Nabucodonosor rei da Babilônia | Agente empírico do cerco; figura histórica confirmada por fontes babilônicas. | Deus usa potências pagãs para executar juízo. | Discernir entre agentes e propósitos (política vs. vocação). |
Jr 39:1 | וַיָּצֻרוּ עָלֶיהָ | “cercaram-na / puseram cerco” | Verbo de cerco (צוּר/צָרַר) com campo semântico de apertar/confinar. | A violação da aliança tem consequência pública e coletiva. | Liderança responsável: decisões públicas têm consequências espirituais. |
Contexto narrativo | 2 Rs 25; Jr 52 | Queima do templo; exílio | Acontecimento político-militar e juízo teológico. | Cumprimento do anúncio profético → validade do profeta. | Ouvimos profecia que corrige: arrependimento antes da catástrofe. |
Evidência material | Arqueologia (camadas queimadas) | Burn layers na Cidade de Davi e outros sítios | Corrobora destruição violenta no final do século VII/princípios VI a.C. | Texto e arqueologia dialogam; não são concorrentes per se. | Usar arqueologia para enriquecer a pregação histórica. |
7. Bibliografia (seletiva, acadêmica e acessível)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT).
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible Commentary).
- Walter Brueggemann, comentário e estudos sobre Jeremias (teologia e leitura pastoral).
- Emanuel Tov, estudos sobre variantes MT/LXX e crítica textual do Antigo Testamento.
- Artigos de divulgação/arqueologia: Biblical Archaeology Review (resumos sobre o cerco e o papel de Nebuzaradan) e sumários sobre os Babylonian Chronicles (BM 21946) — úteis para correlacionar texto bíblico e fontes mesopotâmicas.
8. Aplicações pastorais e pessoais (sintéticas)
- A Palavra denunciadora tem consequências — ouvir a Palavra exige conversão; ignorá-la pode levar a rupturas institucionais e coletivas.
- Líderes serão responsabilizados — a liderança espiritual/política deve submeter decisões à Palavra e ao juízo moral.
- Fé em meio à catástrofe — Jeremias e o remanescente ensinam perseverança na fidelidade e confiança em promessas de restauração.
- Uso da História na pregação — levar a congregação a reconhecer que Deus atua na história e que a justiça divina tem dimensão comunitária (não meramente individual).
9. Síntese homilética (3 pontos)
- “A Palavra pronunciada” — Jeremias anuncia o juízo. (Textual: 39:1; aplicação: ouvir primeiro.)
- “A crise das escolhas” — lideranças escolhem alianças humanas e colhem ruína. (Aplicação: responsabilidade pública e moral.)
- “A promessa de restauração” — mesmo na queda, Deus preserva um remanescente e promete restauração futura. (Aplicação: esperança ativa.)
2- O destino do rei Zedequias (39.7) E vazaram os olhos de Zedequias, e o ataram com cadeias, para o levarem à Babilônia.
A humilhação de Zedequias foi o desfecho de sua obstinação. Assim, a última imagem que o rei levou em sua mente foi a morte de sua descendência. O texto mostra o cumprimento preciso da profecia de Jeremias (32.4-5) e de Ezequiel (12.13), que disse que o rei viria à Babilônia, mas não a enxergava, pois estaria cego. O fim trágico de Zedequias revela que a desobediência a Deus leva à destruição pessoal e nacional.
3- A libertação de Jeremias (39.14) Tiraram a Jeremias da casa da prisão e o entregaram a Gedalias, filho de Aicão, para que o levasse para o seu palácio; e assim ficou entre o povo.
Em meio à destruição, Jeremias, o profeta fiel, foi poupado. Nabucodonosor ordenou expressamente que Jeremias fosse protegido. Toma-o, cuida dele e não lhe faças nenhum mal; mas faz-lhe como ele te disser. (39.12). Gedalias foi escolhido como governador por Nabucodonosor, que ordena cuidar de Jeremias e levá-lo para seu palácio. É notável que um rei pagão demonstrasse mais reverência pelo profeta do que os próprios reis e príncipes de Judá. Embora tenha sofrido profundamente por sua missão, ao final, ele é preservado, pois Deus honra e cuida daqueles que permanecem leais à Sua vontade.
APLICAÇÃO PESSOAL
O valor eterno da Palavra de Deus não está sujeita à vontade humana, mas permanece para sempre e se cumpre sela com bênçãos para os que a obedecem ou com juízo aos que a rejeitam
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Jeremias 39:7; 39:14 — O destino de Zedequias e a libertação de Jeremias
1. Situação imediata (panorama)
No clímax do livro, Jerusalém cai diante de Nabucodonosor; o rei Zedequias é capturado, humilhado publicamente (filhos mortos diante dele; depois é cegado e levado a Babilônia), enquanto Jeremias — que sofreu prisão e sofrimento por denunciar o juízo — é preservado e libertado para viver entre o povo sob a proteção do governador designado pelos babilônios, Gedalias. A cena expressa simultaneamente juízo e misericórdia nos desígnios divinos.
2. Exegese focal — Jeremias 39:7 (o cegar de Zedequias)
Texto (tradução literal): “E [eles] puseram fora (tiraram) os olhos de Zedequias e o amarraram com correntes de bronze para o conduzirem a Babilônia.” (forma condensada do MT). A formulação hebraica registra literalmente “e puseram os olhos de Zedequias fora” — imagem dura e deliberada.
Análise léxica e prática penal:
- O hebraico apresenta a ação como um ato físico e definitivo: a expressão é normalmente traduzida “puseram fora / arrancaram os olhos” ou “cegaram-no”. A terminologia foi atestada por comentaristas como descrição de prática punitiva de senhores vitoriosos (membros da corte babilônica a Ribla aplicaram a sentença). Fontes antigas descrevem técnicas variadas (gouge, ferro incandescente, etc.), mas o sentido literal e judicial é claro: privação da visão como humilhação e limitação definitiva do rei.
Contexto profético/fulfillment:
- O episódio cumpre as palavras proféticas registradas em Jeremias 32:4–5 e em Ezequiel 12:13 — que Zedequias seria levado a Babilônia e não veria a terra para a qual era levado. A narrativa sublinha, portanto, a precisão profética e o caráter vinculante da palavra de Deus.
Teologia da ação:
- A cegueira imposta é ao mesmo tempo sanção simbólica (aquele que fechou os olhos diante da verdade agora é posto na escuridão) e sanção política (impedir qualquer futuro exercício de liderança). A narrativa também coloca a responsabilidade moral explicitamente sobre Zedequias: sua obstinação e alianças políticas (contrárias à advertência de Jeremias) trouxeram essa consequência.
3. Exegese focal — Jeremias 39:11–14 (a proteção de Jeremias e Gedalias)
O fato: Nabucodonosor ordena através de seu capitão Nebuzaradã que Jeremias seja tratado com cuidado — “toma-o, olha bem por ele, não lhe faças mal; faze-lhe segundo tudo o que ele te pedir” — e Jeremias é entregue a Gedalias, filho de Aicão (Ahikam/Safã) e permanece entre o povo.
Análise léxica/contextual:
- O verbo hebraico usado para “confiar/entregar” (הִשְׁאִיל/וְנָתְנוּ/וַיִּשָּׁלְחוּ — variantes funcionais no contexto) mostra ação administrativa do comandante babilônico: Jeremias não é executado; ao contrário, recebe ordem para ser tratado cuidadosamente e restituído à comunidade sob autoridade local. Isso é atípico em sitiações de conquista e revela uma atenção especial por parte do rei babilônico (ou de seus oficiais).
Significado histórico e teológico:
- A diferença é irônica e teologicamente marcante: um rei estrangeiro mostra mais respeito pelo profeta de YHWH do que os próprios dirigentes judeus que o haviam perseguido. Teologicamente sugere que Deus — mesmo por meio de agentes hostis — cumpre promessas de preservação para os fiéis (cf. Jeremias 15:11; a ideia de que Deus “faz com que inimigos tratem bem” o seu servo). Esse desdobramento também prepara o terreno para a administração babilônica (Gedalias como governador do remanescente, depois registrado em Jr 40–41; 2Rs 25:22).
4. Temas teológicos centrais
- Cumprimento profético e soberania divina: profecias se cumprem com precisão histórica; Deus usa agentes humanos (até pagãos) para executar desígnios justos.
- Justiça e humilhação: o juízo recai sobre o rei responsável; a cegueira é tanto pena quanto símbolo (o que rejeita a visão divina fica na escuridão).
- Preservação e graça: Deus preserva o fiel — Jeremias é libertado e protegido — mostrando que julgamento e misericórdia não são mutuamente exclusivas no plano divino.
- A ironia moral da história: o estrangeiro mais atento ao justo do que os próprios compatriotas; sublinha o chamado à responsabilidade moral dos líderes locais.
5. Aplicação pessoal e eclesial
- Líderes: antes de tomar decisões políticas/estratégicas, submitam-nas ao discernimento profético/escritural; evitar a arrogância de Zedequias (preferir conselhos que confirmam interesses pessoais).
- Pastores e profetas contemporâneos: a fidelidade pode gerar rejeição e sofrimento; confiar na fidelidade de Deus que, por vezes, preserva pelo meio de instrumentos inesperados.
- Comunidade: reconhecer e proteger portadores da Palavra, mesmo quando sua mensagem é desconfortável; promover mecanismos de proteção para quem denuncia injustiça em nome de Deus.
- Esperança prática: o fato de Jeremias ser preservado lembra que, mesmo em tempos de juízo, Deus mantém remanescentes e prepara caminhos de restauração.
6. Tabela expositiva (síntese)
Texto (MT)
Palavra/termo (heb.)
Tradução/observação
Exegese/implicação
Aplicação
Jr 39:5–7
וַיִּשְׁחֲטוּ / וַיַּפְקִחוּ / עִוֵּר
“mataram os filhos… e puseram fora os olhos”
Execução dos filhos diante do pai; depois cegura do rei — juízo público e simbólico.
A gravidade do pecado nacional culmina em humilhação régia; líderes são responsabilizados.
Jr 32:4–5 / Ez 12:13
(profecias)
“ele irá à Babilônia, mas não verá a terra”
Cumprimento literal em 39:7 (Zedequias é levado cego).
A profecia é confiável; precisamos ouvir a Palavra.
Jr 39:11–12
צַו־מֶלֶךְ (ordem real)
“Toma-o e olha por ele; não lhe faças mal”
Ordem de Nabucodonosor para proteger Jeremias.
Deus pode prover proteção mesmo por agentes inesperados.
Jr 39:14
וַיִּקְחוּ אֶת־יִרְמְיָהוּ… לְגְדַלְיָה
“Deram Jeremias a Gedalias”
Gedalias (filho de Aicão/Ahikam, linhagem de Shafã) guarda Jeremias entre o povo.
Valor da rede de apoio e proteção entre fiéis (Ahikam/Aicão já apoiara Jeremias).
Contexto histórico
—
queda de Jerusalém (587/586 a.C.)
Evento histórico e arqueológico traumático; termina o reino davídico independente.
Ler acontecimentos históricos à luz teológica e extrair responsabilidade comunitária.
7. Bibliografia acadêmica (seletiva — para aprofundar)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — comentário exegético e histórico.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible) — análise filológica e crítica.
- Walter Brueggemann, comentário/estudos sobre Jeremias — ênfase teológica e pastoral.
- Estudos sobre cronologia e arqueologia: artigos e sumários sobre o cerco/queda de Jerusalém; ver resumos em Britannica / estudos arqueológicos recentes.
8. Síntese final
A cena de Zedequias cegado e Jeremias poupado retrata a dupla faceta do agir divino: juízo contra a obstinação e a corrupção dos líderes, e preservação do justo. Deus não é tolo nem passivo diante da injustiça; Ele cumpre sua palavra e, por caminhos inesperados (até através de reis estrangeiros), sustenta aqueles que lhe serão fiéis. Que a comunidade aprenda a ouvir, proteger e honrar a Palavra antes que a história cobre o preço da desobediência.
Jeremias 39:7; 39:14 — O destino de Zedequias e a libertação de Jeremias
1. Situação imediata (panorama)
No clímax do livro, Jerusalém cai diante de Nabucodonosor; o rei Zedequias é capturado, humilhado publicamente (filhos mortos diante dele; depois é cegado e levado a Babilônia), enquanto Jeremias — que sofreu prisão e sofrimento por denunciar o juízo — é preservado e libertado para viver entre o povo sob a proteção do governador designado pelos babilônios, Gedalias. A cena expressa simultaneamente juízo e misericórdia nos desígnios divinos.
2. Exegese focal — Jeremias 39:7 (o cegar de Zedequias)
Texto (tradução literal): “E [eles] puseram fora (tiraram) os olhos de Zedequias e o amarraram com correntes de bronze para o conduzirem a Babilônia.” (forma condensada do MT). A formulação hebraica registra literalmente “e puseram os olhos de Zedequias fora” — imagem dura e deliberada.
Análise léxica e prática penal:
- O hebraico apresenta a ação como um ato físico e definitivo: a expressão é normalmente traduzida “puseram fora / arrancaram os olhos” ou “cegaram-no”. A terminologia foi atestada por comentaristas como descrição de prática punitiva de senhores vitoriosos (membros da corte babilônica a Ribla aplicaram a sentença). Fontes antigas descrevem técnicas variadas (gouge, ferro incandescente, etc.), mas o sentido literal e judicial é claro: privação da visão como humilhação e limitação definitiva do rei.
Contexto profético/fulfillment:
- O episódio cumpre as palavras proféticas registradas em Jeremias 32:4–5 e em Ezequiel 12:13 — que Zedequias seria levado a Babilônia e não veria a terra para a qual era levado. A narrativa sublinha, portanto, a precisão profética e o caráter vinculante da palavra de Deus.
Teologia da ação:
- A cegueira imposta é ao mesmo tempo sanção simbólica (aquele que fechou os olhos diante da verdade agora é posto na escuridão) e sanção política (impedir qualquer futuro exercício de liderança). A narrativa também coloca a responsabilidade moral explicitamente sobre Zedequias: sua obstinação e alianças políticas (contrárias à advertência de Jeremias) trouxeram essa consequência.
3. Exegese focal — Jeremias 39:11–14 (a proteção de Jeremias e Gedalias)
O fato: Nabucodonosor ordena através de seu capitão Nebuzaradã que Jeremias seja tratado com cuidado — “toma-o, olha bem por ele, não lhe faças mal; faze-lhe segundo tudo o que ele te pedir” — e Jeremias é entregue a Gedalias, filho de Aicão (Ahikam/Safã) e permanece entre o povo.
Análise léxica/contextual:
- O verbo hebraico usado para “confiar/entregar” (הִשְׁאִיל/וְנָתְנוּ/וַיִּשָּׁלְחוּ — variantes funcionais no contexto) mostra ação administrativa do comandante babilônico: Jeremias não é executado; ao contrário, recebe ordem para ser tratado cuidadosamente e restituído à comunidade sob autoridade local. Isso é atípico em sitiações de conquista e revela uma atenção especial por parte do rei babilônico (ou de seus oficiais).
Significado histórico e teológico:
- A diferença é irônica e teologicamente marcante: um rei estrangeiro mostra mais respeito pelo profeta de YHWH do que os próprios dirigentes judeus que o haviam perseguido. Teologicamente sugere que Deus — mesmo por meio de agentes hostis — cumpre promessas de preservação para os fiéis (cf. Jeremias 15:11; a ideia de que Deus “faz com que inimigos tratem bem” o seu servo). Esse desdobramento também prepara o terreno para a administração babilônica (Gedalias como governador do remanescente, depois registrado em Jr 40–41; 2Rs 25:22).
4. Temas teológicos centrais
- Cumprimento profético e soberania divina: profecias se cumprem com precisão histórica; Deus usa agentes humanos (até pagãos) para executar desígnios justos.
- Justiça e humilhação: o juízo recai sobre o rei responsável; a cegueira é tanto pena quanto símbolo (o que rejeita a visão divina fica na escuridão).
- Preservação e graça: Deus preserva o fiel — Jeremias é libertado e protegido — mostrando que julgamento e misericórdia não são mutuamente exclusivas no plano divino.
- A ironia moral da história: o estrangeiro mais atento ao justo do que os próprios compatriotas; sublinha o chamado à responsabilidade moral dos líderes locais.
5. Aplicação pessoal e eclesial
- Líderes: antes de tomar decisões políticas/estratégicas, submitam-nas ao discernimento profético/escritural; evitar a arrogância de Zedequias (preferir conselhos que confirmam interesses pessoais).
- Pastores e profetas contemporâneos: a fidelidade pode gerar rejeição e sofrimento; confiar na fidelidade de Deus que, por vezes, preserva pelo meio de instrumentos inesperados.
- Comunidade: reconhecer e proteger portadores da Palavra, mesmo quando sua mensagem é desconfortável; promover mecanismos de proteção para quem denuncia injustiça em nome de Deus.
- Esperança prática: o fato de Jeremias ser preservado lembra que, mesmo em tempos de juízo, Deus mantém remanescentes e prepara caminhos de restauração.
6. Tabela expositiva (síntese)
Texto (MT) | Palavra/termo (heb.) | Tradução/observação | Exegese/implicação | Aplicação |
Jr 39:5–7 | וַיִּשְׁחֲטוּ / וַיַּפְקִחוּ / עִוֵּר | “mataram os filhos… e puseram fora os olhos” | Execução dos filhos diante do pai; depois cegura do rei — juízo público e simbólico. | A gravidade do pecado nacional culmina em humilhação régia; líderes são responsabilizados. |
Jr 32:4–5 / Ez 12:13 | (profecias) | “ele irá à Babilônia, mas não verá a terra” | Cumprimento literal em 39:7 (Zedequias é levado cego). | A profecia é confiável; precisamos ouvir a Palavra. |
Jr 39:11–12 | צַו־מֶלֶךְ (ordem real) | “Toma-o e olha por ele; não lhe faças mal” | Ordem de Nabucodonosor para proteger Jeremias. | Deus pode prover proteção mesmo por agentes inesperados. |
Jr 39:14 | וַיִּקְחוּ אֶת־יִרְמְיָהוּ… לְגְדַלְיָה | “Deram Jeremias a Gedalias” | Gedalias (filho de Aicão/Ahikam, linhagem de Shafã) guarda Jeremias entre o povo. | Valor da rede de apoio e proteção entre fiéis (Ahikam/Aicão já apoiara Jeremias). |
Contexto histórico | — | queda de Jerusalém (587/586 a.C.) | Evento histórico e arqueológico traumático; termina o reino davídico independente. | Ler acontecimentos históricos à luz teológica e extrair responsabilidade comunitária. |
7. Bibliografia acadêmica (seletiva — para aprofundar)
- J. A. Thompson, The Book of Jeremiah (NICOT) — comentário exegético e histórico.
- Jack R. Lundbom, Jeremiah 37–52 (Anchor Yale Bible) — análise filológica e crítica.
- Walter Brueggemann, comentário/estudos sobre Jeremias — ênfase teológica e pastoral.
- Estudos sobre cronologia e arqueologia: artigos e sumários sobre o cerco/queda de Jerusalém; ver resumos em Britannica / estudos arqueológicos recentes.
8. Síntese final
A cena de Zedequias cegado e Jeremias poupado retrata a dupla faceta do agir divino: juízo contra a obstinação e a corrupção dos líderes, e preservação do justo. Deus não é tolo nem passivo diante da injustiça; Ele cumpre sua palavra e, por caminhos inesperados (até através de reis estrangeiros), sustenta aqueles que lhe serão fiéis. Que a comunidade aprenda a ouvir, proteger e honrar a Palavra antes que a história cobre o preço da desobediência.
RESPONDA
1) Qual foi o objetivo de Deus ao mandar Jeremias escrever o rolo?
R. Preservar Sua palavra e chamar o povo ao arrependimento.
2) Como Jeremias demonstrou fidelidade mesmo diante da prisão e perseguição?
R. Permaneceu firme, anunciando a Palavra de Deus.
3) Qual foi o desfecho de Jeremias e de Jerusalém após o cerco babilônico?
R. Jerusalém caiu, mas Jeremias foi poupado por Deus.
Gostou do site? Ajude-nos a manter e melhorar ainda mais este Site.
Nos abençoe com Uma Oferta pelo PIX:TEL(11)97828-5171 – Seja Um Parceiro Desta Obra. “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos dará; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. (Lucas 6:38)
SAIBA TUDO SOBRE A ESCOLA DOMINICAL:
SAIBA TUDO SOBRE A ESCOLA DOMINICAL
EBD 3° Trimestre De 2025 | PECC Adultos – TEMA: Jeremias e Lamentações – Nas mãos do Oleiro | Escola Biblica Dominical | Lição 08 - Jeremias 36 a 39 – O Rolo do Livro, Jeremias Preso e a Queda de Jerusalém | 3° Trimestre de 2025 | PECC
Quem compromete-se com a EBD não inventa histórias, mas fala o que está escrito na Bíblia!
EBD 3° Trimestre De 2025 | PECC Adultos – TEMA: Jeremias e Lamentações – Nas mãos do Oleiro | Escola Biblica Dominical | Lição 08 - Jeremias 36 a 39 – O Rolo do Livro, Jeremias Preso e a Queda de Jerusalém | 3° Trimestre de 2025 | PECC
Quem compromete-se com a EBD não inventa histórias, mas fala o que está escrito na Bíblia!
📩 Adquira UM DOS PACOTES do acesso Vip ou arquivo avulso de qualquer ano | Saiba mais pelo Zap.
- O acesso vip foi pensado para facilitar o superintende e professores de EBD, dá a possibilidade de ter em mãos, Slides, Subsídios de todas as classes e faixas etárias. Saiba qual as opções, e adquira! Entre em contato.
- O acesso vip foi pensado para facilitar o superintende e professores de EBD, dá a possibilidade de ter em mãos, Slides, Subsídios de todas as classes e faixas etárias. Saiba qual as opções, e adquira! Entre em contato.
ADQUIRA O ACESSO VIP ou os conteúdos em pdf 👆👆👆👆👆👆 Entre em contato.
Os conteúdos tem lhe abençoado? Nos abençoe também com Uma Oferta Voluntária de qualquer valor pelo PIX: E-MAIL pecadorconfesso@hotmail.com – ou, PIX:TEL (15)99798-4063 Seja Um Parceiro Desta Obra. “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos dará; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. Lucas 6:38
- ////////----------/////////--------------///////////
- ////////----------/////////--------------///////////
SUBSÍDIOS DAS REVISTAS CPAD
SUBSÍDIOS DAS REVISTAS BETEL
Adultos (sem limites de idade).
CONECTAR+ Jovens (A partir de 18 anos);
VIVER+ adolescentes (15 e 17 anos);
SABER+ Pré-Teen (9 e 11 anos)em pdf;
APRENDER+ Primários (6 e 8 anos)em pdf;
CRESCER+ Maternal (2 e 3 anos);
SUBSÍDIOS DAS REVISTAS PECC
SUBSÍDIOS DAS REVISTAS CENTRAL GOSPEL
---------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------
- ////////----------/////////--------------///////////
COMMENTS