TEXTO ÁUREO “(…) Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?” João 8.10. COMENTARIO EXTRA Comentário de Hubner Braz 1) ...
“(…) Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?” João 8.10.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1) Enquadramento literário e textual
Jo 7.53–8.11 (a “perícope da adúltera”) não aparece nos manuscritos gregos mais antigos e confiáveis (p.ex., 𝔓66, 𝔓75, Sinaiticus, Vaticanus) e, quando aparece, às vezes surge em outras posições (até em Lc). Por isso, edições críticas (NA28/UBS5) a marcam como passagem de autenticidade textual incerta. Ainda assim, a Igreja a recebeu liturgicamente muito cedo, e muitos intérpretes notam que seu retrato de Jesus é coerente com a teologia joanina e com a prática de misericórdia do Senhor. Em suma: convém ler com nota crítica, mas o texto comunica verdades plenamente consonantes com o NT. (Ver: Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the GNT; D. A. Carson, The Gospel according to John; Andreas J. Köstenberger, John; Craig S. Keener, The Gospel of John.)
2) Exegese de termos-chave (grego)
- γύναι (gýnai, “mulher”) — forma vocativa respeitosa, algo como “senhora” (cf. Jo 2.4; 19.26). Jesus devolve dignidade a alguém exposto publicamente.
- ποῦ εἰσιν; (poû eisin? “onde estão?”) — pergunta retórica que dramatiza o desaparecimento dos acusadores; a cena gira da multidão para o encontro “eu-tu”.
- οὐδείς σε κατέκρινεν; (oudeís se katékrinen? “ninguém te condenou?”) — katakrínō é verbo forense de condenação judicial (cf. Rm 8.34). A pergunta prepara o perdão gracioso (v.11) sem banalizar o pecado.
- (v.11) οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω· πορεύου· ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε.
— “Nem eu te condeno; vai; de agora em diante (apò tou nŷn) não peques mais (mēkéti hamártane)”. O presente imperativo negativo pressupõe interrupção de um padrão habitual. Graça que absolve e, simultaneamente, convoca à santidade.
3) Pano de fundo mosaico
- Testemunhas e execução: Dt 17.6–7; 19.15 exigem duas/ três testemunhas, e as testemunhas lançam as primeiras pedras. Jesus, ao dizer “quem dentre vós é sem pecado (ho anamártētos, v.7), seja o primeiro a atirar a pedra”, expõe a hipocrisia e possível irregularidade do procedimento.
- Ambos os culpados: Dt 22.22–24 prevê sanção para o homem e a mulher; a ausência do parceiro sugere armadilha, não zelo pela Torá.
- Possível alusão de Jesus escrevendo no chão a Jr 17.13 (“os que de ti se afastam… seus nomes estão escritos no pó”), insinuando o veredito de Deus sobre acusadores infiéis.
4) Teologia do texto
- Misericórdia e justiça se beijam (Sl 85.10): Jesus não relativiza o pecado (“não peques mais”), mas rechaça linchamento, parcialidade e ilegalidade.
- Cristologia: o “Juiz” (Jo 5.22) suspende a condenação e oferece tempo de graça antes do juízo final (cf. Jo 3.17–18; Rm 8.1).
- Eclesiologia e ética: restauração, não humilhação pública, é o caminho do Reino (Gl 6.1). A comunidade deve ser lugar de verdade e cura para pecadores arrependidos.
5) Aplicação pessoal e comunitária
- Contra a cultura do descarte: Jesus vê a pessoa antes do caso. Imitá-lo implica recusar espetacularização de pecados alheios (inclusive em redes sociais).
- Graça que transforma: perdão não é licença; é ponto de virada (“de agora em diante”). Estabeleça passos concretos de mudança (confissão, acompanhamento, limites).
- Procedimento justo: líderes devem unir disciplina bíblica, due process e cuidado pastoral. Sem favoritismo; sem execração.
- Dignidade feminina: Jesus confronta estruturas que usam mulheres como “provas” para agendas religiosas. A Igreja deve proteger vulneráveis e responsabilizar igualmente os envolvidos.
6) Referências acadêmicas (seleção)
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament (2ª ed.).
- D. A. Carson, The Gospel according to John (PNTC).
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Leon Morris, The Gospel according to John (NICNT).
- Raymond E. Brown, The Gospel according to John (AB).
Tabela expositiva – João 8.10–11
Elemento
Termo grego
Sentido/nuance
Ecos bíblicos
Implicação teológica
Aplicação prática
Vocativo
γύναι
Tratamento respeitoso
Jo 2.4; 19.26
Jesus devolve dignidade
Fale com verdade e honra, mesmo ao corrigir
Pergunta
ποῦ εἰσιν;
Enquadra ausência de acusadores
Is 50.8–9
Deus desfaz acusações injustas
Evite “tribunais” populares; ouça antes de julgar
Condenação
κατακρίνω
Verbo forense, veredito
Rm 8.1,34
Em Cristo, suspensão da pena e oferta de graça
Receba o perdão e viva sem auto-condenação
Santificação
μηκέτι ἁμάρτανε
Interromper padrão de pecado
Jo 5.14; Tt 2.11–12
Graça que educa para a vida nova
Estabeleça passos e acompanhamento para mudança
Testemunhas
ὁ ἀναμάρτητος (v.7)
Sem culpa/hipocrisia
Dt 17.7; 19.15
Lei cumprida com justiça e misericórdia
Corrija com humildade; examine-se primeiro
O fio de ouro do texto
Jesus não endossa o pecado, mas recusa justiça teatral e chama ao recomeço. Onde a multidão quer pedras, Ele oferece palavra, perdão e um caminho novo. Esse padrão — verdade + graça — é o método do Reino para pecadores como nós.
1) Enquadramento literário e textual
Jo 7.53–8.11 (a “perícope da adúltera”) não aparece nos manuscritos gregos mais antigos e confiáveis (p.ex., 𝔓66, 𝔓75, Sinaiticus, Vaticanus) e, quando aparece, às vezes surge em outras posições (até em Lc). Por isso, edições críticas (NA28/UBS5) a marcam como passagem de autenticidade textual incerta. Ainda assim, a Igreja a recebeu liturgicamente muito cedo, e muitos intérpretes notam que seu retrato de Jesus é coerente com a teologia joanina e com a prática de misericórdia do Senhor. Em suma: convém ler com nota crítica, mas o texto comunica verdades plenamente consonantes com o NT. (Ver: Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the GNT; D. A. Carson, The Gospel according to John; Andreas J. Köstenberger, John; Craig S. Keener, The Gospel of John.)
2) Exegese de termos-chave (grego)
- γύναι (gýnai, “mulher”) — forma vocativa respeitosa, algo como “senhora” (cf. Jo 2.4; 19.26). Jesus devolve dignidade a alguém exposto publicamente.
- ποῦ εἰσιν; (poû eisin? “onde estão?”) — pergunta retórica que dramatiza o desaparecimento dos acusadores; a cena gira da multidão para o encontro “eu-tu”.
- οὐδείς σε κατέκρινεν; (oudeís se katékrinen? “ninguém te condenou?”) — katakrínō é verbo forense de condenação judicial (cf. Rm 8.34). A pergunta prepara o perdão gracioso (v.11) sem banalizar o pecado.
- (v.11) οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω· πορεύου· ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε.
— “Nem eu te condeno; vai; de agora em diante (apò tou nŷn) não peques mais (mēkéti hamártane)”. O presente imperativo negativo pressupõe interrupção de um padrão habitual. Graça que absolve e, simultaneamente, convoca à santidade.
3) Pano de fundo mosaico
- Testemunhas e execução: Dt 17.6–7; 19.15 exigem duas/ três testemunhas, e as testemunhas lançam as primeiras pedras. Jesus, ao dizer “quem dentre vós é sem pecado (ho anamártētos, v.7), seja o primeiro a atirar a pedra”, expõe a hipocrisia e possível irregularidade do procedimento.
- Ambos os culpados: Dt 22.22–24 prevê sanção para o homem e a mulher; a ausência do parceiro sugere armadilha, não zelo pela Torá.
- Possível alusão de Jesus escrevendo no chão a Jr 17.13 (“os que de ti se afastam… seus nomes estão escritos no pó”), insinuando o veredito de Deus sobre acusadores infiéis.
4) Teologia do texto
- Misericórdia e justiça se beijam (Sl 85.10): Jesus não relativiza o pecado (“não peques mais”), mas rechaça linchamento, parcialidade e ilegalidade.
- Cristologia: o “Juiz” (Jo 5.22) suspende a condenação e oferece tempo de graça antes do juízo final (cf. Jo 3.17–18; Rm 8.1).
- Eclesiologia e ética: restauração, não humilhação pública, é o caminho do Reino (Gl 6.1). A comunidade deve ser lugar de verdade e cura para pecadores arrependidos.
5) Aplicação pessoal e comunitária
- Contra a cultura do descarte: Jesus vê a pessoa antes do caso. Imitá-lo implica recusar espetacularização de pecados alheios (inclusive em redes sociais).
- Graça que transforma: perdão não é licença; é ponto de virada (“de agora em diante”). Estabeleça passos concretos de mudança (confissão, acompanhamento, limites).
- Procedimento justo: líderes devem unir disciplina bíblica, due process e cuidado pastoral. Sem favoritismo; sem execração.
- Dignidade feminina: Jesus confronta estruturas que usam mulheres como “provas” para agendas religiosas. A Igreja deve proteger vulneráveis e responsabilizar igualmente os envolvidos.
6) Referências acadêmicas (seleção)
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament (2ª ed.).
- D. A. Carson, The Gospel according to John (PNTC).
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Leon Morris, The Gospel according to John (NICNT).
- Raymond E. Brown, The Gospel according to John (AB).
Tabela expositiva – João 8.10–11
Elemento | Termo grego | Sentido/nuance | Ecos bíblicos | Implicação teológica | Aplicação prática |
Vocativo | γύναι | Tratamento respeitoso | Jo 2.4; 19.26 | Jesus devolve dignidade | Fale com verdade e honra, mesmo ao corrigir |
Pergunta | ποῦ εἰσιν; | Enquadra ausência de acusadores | Is 50.8–9 | Deus desfaz acusações injustas | Evite “tribunais” populares; ouça antes de julgar |
Condenação | κατακρίνω | Verbo forense, veredito | Rm 8.1,34 | Em Cristo, suspensão da pena e oferta de graça | Receba o perdão e viva sem auto-condenação |
Santificação | μηκέτι ἁμάρτανε | Interromper padrão de pecado | Jo 5.14; Tt 2.11–12 | Graça que educa para a vida nova | Estabeleça passos e acompanhamento para mudança |
Testemunhas | ὁ ἀναμάρτητος (v.7) | Sem culpa/hipocrisia | Dt 17.7; 19.15 | Lei cumprida com justiça e misericórdia | Corrija com humildade; examine-se primeiro |
O fio de ouro do texto
Jesus não endossa o pecado, mas recusa justiça teatral e chama ao recomeço. Onde a multidão quer pedras, Ele oferece palavra, perdão e um caminho novo. Esse padrão — verdade + graça — é o método do Reino para pecadores como nós.
VERDADE APLICADA
Perdoar uns aos outros como fomos perdoados por Deus em Cristo é uma das marcas do verdadeiro cristão.
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OBJETIVOS DA LIÇÃO
Saber que culpa expõe e condena os próprios acusadores.
Ressaltar que Jesus advoga a nosso favor.
Reconhecer a gravidade de cometer adultério.
TEXTOS DE REFERÊNCIA
JOÃO 8
4 E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
5 E, na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
7 E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
10 E, endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1) Contexto e nota textual
Jo 7.53–8.11 (a “perícope da adúltera”) falta nos manuscritos gregos mais antigos (p.ex., 𝔓66, 𝔓75, Sinaiticus, Vaticanus) e às vezes aparece noutros lugares. As edições críticas (NA28/UBS5) a incluem com ressalvas. Ainda assim, seu retrato de Jesus (misericórdia sem conivência com o pecado) é coerente com a teologia joanina e com o NT. Leia com consciência crítica, mas receba a sua instrução pastoral.
Refs.: Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the GNT; D. A. Carson, The Gospel according to John; A. J. Köstenberger, John; C. S. Keener, The Gospel of John; Leon Morris, John; R. E. Brown, John.
2) Exegese concentrada (vv. 4–7, 10–11)
v.4–5 – “Apanhada no próprio ato”
- ἐπ’ αὐτοφώρῳ “em flagrante” (técnico jurídico). μοιχεία (adultério) e λιθάζειν (apedrejar) evocam Dt 22.22–24.
- Falta o homem (Dt 22 exige pena para ambos). A seleção da vítima e a cena pública (“puseram-na no meio”, ἐν μέσῳ) revelam armadilha (v.6: πειράζοντες, “tentando”).
- Armadilha dupla: se Jesus aprova a execução, colide com o ius gladii romano (cf. Jo 18.31); se reprova, parece desautorizar Moisés.
v.6 – “Escrevia com o dedo na terra”
- ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν. Possíveis ecos:
- Êx 31.18 – “dedo de Deus” (A Lei);
- Jr 17.13 – nomes dos infiéis “escritos no pó”;
- Dn 5 – escrita do juízo.
Jesus pausa o teatro acusatório e desloca o foco do “caso” para a consciência dos acusadores.
v.7 – “Quem não tem pecado…”
- ὁ ἀναμάρτητος = “sem pecado”. Não exige impecabilidade absoluta, mas a idoneidade moral/forense de quem acusa.
- πρῶτος… βαλέτω λίθον alude a Dt 17.7: as testemunhas lançam as primeiras pedras. Jesus não revoga a Lei; aplica-a corretamente, desmascarando um processo viciado (testemunho seletivo/hipócrita).
v.10–11 – Dignidade, absolvição e chamado à santidade
- γύναι (“mulher/senhora”): vocativo respeitoso (cf. Jo 2.4; 19.26).
- ποῦ εἰσιν; “onde estão?” – pergunta retórica que mostra o esvaziamento do tribunal.
- οὐδείς σε κατέκρινεν; … οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω· verbo κατακρίνω = condenar judicialmente (cf. Rm 8.34).
- ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε – “de agora em diante, não peques mais”: imperativo presente negativo = corte de um padrão. Graça que absolve e, simultaneamente, converte o caminhar (cf. Jo 5.14; Tt 2.11–12).
3) Teologia da passagem
- Justiça com misericórdia: a Lei exige procedimentos justos; Jesus frustra o linchamento e chama ao arrependimento. Sl 85.10 (graça e verdade) encontra forma concreta aqui.
- Cristologia: o Filho, a quem foi confiado o juízo (Jo 5.22), oferece um adiamento gracioso do veredito para possibilitar vida nova (Jo 3.17–18; Rm 8.1).
- Eclesiologia: a comunidade de Jesus corrige com espírito de brandura (Gl 6.1), sem espetáculo de vergonha, e visa restauração, não eliminação.
4) Aplicação pessoal e comunitária
- Exame próprio antes de acusar: lide com o seu “cisco e trave” (Mt 7.1–5) antes de qualquer disciplina.
- Procedimento e cuidado: quando houver pecado, siga passos bíblicos (Mt 18.15–17), proteja os vulneráveis e responsabilize todos os envolvidos (Dt 22).
- Evite a cultura do apedrejamento digital: nada de humilhação pública; pratique confidencialidade, verdade e graça.
- Viva o “de agora em diante”: estabeleça passos de mudança (confissão, acompanhamento, limites, novas rotinas), crendo que a graça educa para a santidade (Tt 2.12).
5) Referências acadêmicas (seleção)
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament.
- D. A. Carson, The Gospel according to John (PNTC).
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Leon Morris, The Gospel according to John (NICNT).
- Raymond E. Brown, The Gospel according to John (AB).
Tabela expositiva – João 8.4–7,10–11
Verso
Termo grego
Observação exegética
Fundo bíblico
Implicação teológica
Aplicação
8.4–5
ἐπ’ αὐτοφώρῳ, λιθάζειν
Flagrante e exigência de apedrejamento
Dt 22.22–24; Dt 19.15
A Lei requer justiça para ambos e testemunho válido
Não use a Lei para agendas; busque equidade
8.6
ἔγραφεν… τῷ δακτύλῳ
Gesto simbólico que suspende o “tribunal”
Êx 31.18; Jr 17.13 (possíveis ecos)
O Doador da Lei expõe corações e reordena o juízo
Antes de falar, ore, reflita, acalme o ambiente
8.7
ὁ ἀναμάρτητος, πρῶτος… βαλέτω
Remete às testemunhas iniciarem a execução
Dt 17.7
Jesus cumpre a Lei, barrando hipocrisia
Pratique disciplina com integridade e humildade
8.10
γύναι, ποῦ εἰσιν;
Dignidade e pergunta que dissolve a acusação
Jo 2.4; 19.26
O Pastor restaura a pessoa ferida pelo ritualismo
Trate pecadores com respeito e privacidade
8.11
οὐδὲ ἐγώ… κατακρίνω / μηκέτι ἁμάρτανε
Absolvição + chamado a romper o padrão
Jo 5.14; Rm 8.1
Graça não relativiza pecado; transforma vidas
Planeje mudanças concretas; busque acompanhamento
Em suma: Jesus não legitima o pecado nem a justiça teatral. Ele interrompe o ciclo de acusação, restaura a dignidade e inaugura um “de agora em diante” para quem recebe sua palavra.
1) Contexto e nota textual
Jo 7.53–8.11 (a “perícope da adúltera”) falta nos manuscritos gregos mais antigos (p.ex., 𝔓66, 𝔓75, Sinaiticus, Vaticanus) e às vezes aparece noutros lugares. As edições críticas (NA28/UBS5) a incluem com ressalvas. Ainda assim, seu retrato de Jesus (misericórdia sem conivência com o pecado) é coerente com a teologia joanina e com o NT. Leia com consciência crítica, mas receba a sua instrução pastoral.
Refs.: Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the GNT; D. A. Carson, The Gospel according to John; A. J. Köstenberger, John; C. S. Keener, The Gospel of John; Leon Morris, John; R. E. Brown, John.
2) Exegese concentrada (vv. 4–7, 10–11)
v.4–5 – “Apanhada no próprio ato”
- ἐπ’ αὐτοφώρῳ “em flagrante” (técnico jurídico). μοιχεία (adultério) e λιθάζειν (apedrejar) evocam Dt 22.22–24.
- Falta o homem (Dt 22 exige pena para ambos). A seleção da vítima e a cena pública (“puseram-na no meio”, ἐν μέσῳ) revelam armadilha (v.6: πειράζοντες, “tentando”).
- Armadilha dupla: se Jesus aprova a execução, colide com o ius gladii romano (cf. Jo 18.31); se reprova, parece desautorizar Moisés.
v.6 – “Escrevia com o dedo na terra”
- ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν. Possíveis ecos:
- Êx 31.18 – “dedo de Deus” (A Lei);
- Jr 17.13 – nomes dos infiéis “escritos no pó”;
- Dn 5 – escrita do juízo.
Jesus pausa o teatro acusatório e desloca o foco do “caso” para a consciência dos acusadores.
v.7 – “Quem não tem pecado…”
- ὁ ἀναμάρτητος = “sem pecado”. Não exige impecabilidade absoluta, mas a idoneidade moral/forense de quem acusa.
- πρῶτος… βαλέτω λίθον alude a Dt 17.7: as testemunhas lançam as primeiras pedras. Jesus não revoga a Lei; aplica-a corretamente, desmascarando um processo viciado (testemunho seletivo/hipócrita).
v.10–11 – Dignidade, absolvição e chamado à santidade
- γύναι (“mulher/senhora”): vocativo respeitoso (cf. Jo 2.4; 19.26).
- ποῦ εἰσιν; “onde estão?” – pergunta retórica que mostra o esvaziamento do tribunal.
- οὐδείς σε κατέκρινεν; … οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω· verbo κατακρίνω = condenar judicialmente (cf. Rm 8.34).
- ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε – “de agora em diante, não peques mais”: imperativo presente negativo = corte de um padrão. Graça que absolve e, simultaneamente, converte o caminhar (cf. Jo 5.14; Tt 2.11–12).
3) Teologia da passagem
- Justiça com misericórdia: a Lei exige procedimentos justos; Jesus frustra o linchamento e chama ao arrependimento. Sl 85.10 (graça e verdade) encontra forma concreta aqui.
- Cristologia: o Filho, a quem foi confiado o juízo (Jo 5.22), oferece um adiamento gracioso do veredito para possibilitar vida nova (Jo 3.17–18; Rm 8.1).
- Eclesiologia: a comunidade de Jesus corrige com espírito de brandura (Gl 6.1), sem espetáculo de vergonha, e visa restauração, não eliminação.
4) Aplicação pessoal e comunitária
- Exame próprio antes de acusar: lide com o seu “cisco e trave” (Mt 7.1–5) antes de qualquer disciplina.
- Procedimento e cuidado: quando houver pecado, siga passos bíblicos (Mt 18.15–17), proteja os vulneráveis e responsabilize todos os envolvidos (Dt 22).
- Evite a cultura do apedrejamento digital: nada de humilhação pública; pratique confidencialidade, verdade e graça.
- Viva o “de agora em diante”: estabeleça passos de mudança (confissão, acompanhamento, limites, novas rotinas), crendo que a graça educa para a santidade (Tt 2.12).
5) Referências acadêmicas (seleção)
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament.
- D. A. Carson, The Gospel according to John (PNTC).
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Leon Morris, The Gospel according to John (NICNT).
- Raymond E. Brown, The Gospel according to John (AB).
Tabela expositiva – João 8.4–7,10–11
Verso | Termo grego | Observação exegética | Fundo bíblico | Implicação teológica | Aplicação |
8.4–5 | ἐπ’ αὐτοφώρῳ, λιθάζειν | Flagrante e exigência de apedrejamento | Dt 22.22–24; Dt 19.15 | A Lei requer justiça para ambos e testemunho válido | Não use a Lei para agendas; busque equidade |
8.6 | ἔγραφεν… τῷ δακτύλῳ | Gesto simbólico que suspende o “tribunal” | Êx 31.18; Jr 17.13 (possíveis ecos) | O Doador da Lei expõe corações e reordena o juízo | Antes de falar, ore, reflita, acalme o ambiente |
8.7 | ὁ ἀναμάρτητος, πρῶτος… βαλέτω | Remete às testemunhas iniciarem a execução | Dt 17.7 | Jesus cumpre a Lei, barrando hipocrisia | Pratique disciplina com integridade e humildade |
8.10 | γύναι, ποῦ εἰσιν; | Dignidade e pergunta que dissolve a acusação | Jo 2.4; 19.26 | O Pastor restaura a pessoa ferida pelo ritualismo | Trate pecadores com respeito e privacidade |
8.11 | οὐδὲ ἐγώ… κατακρίνω / μηκέτι ἁμάρτανε | Absolvição + chamado a romper o padrão | Jo 5.14; Rm 8.1 | Graça não relativiza pecado; transforma vidas | Planeje mudanças concretas; busque acompanhamento |
Em suma: Jesus não legitima o pecado nem a justiça teatral. Ele interrompe o ciclo de acusação, restaura a dignidade e inaugura um “de agora em diante” para quem recebe sua palavra.
LEITURAS COMPLEMENTARES
SEGUNDA | Jo 8.7 Que não tem pecado atire a primeira pedra.
TERÇA | 1Jo 2.1 Jesus, nosso Advogado junto ao Pai.
QUARTA | Ap 12.10 Satanás nos acusa.
QUINTA | 1Jo 1.7 O Sangue de Jesus nos purifica de todo pecado.
SEXTA | Êx 20.14 Não adulterarás.
SÁBADO | Pv 6.32,33 O adultério deixa cicatrizes profundas.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Os textos caminham do ímpeto de acusar (Jo 8.7) para a segurança de quem é acusado (1Jo 2.1; Ap 12.10), mostrando como Deus trata o pecado (1Jo 1.7) e por que o adultério é grave (Êx 20.14; Pv 6.32–33). A graça de Cristo não relativiza o mal; ela o vence e nos chama à santidade concreta.
Segunda | João 8.7 — “Quem não tem pecado…”
- Grego: ὁ ἀναμάρτητος (ho anamartētos) = “sem pecado”, termo raro (NT: hapax). “πρῶτος… βαλέτω λίθον” (prōtos… baletō lithon) ecoa Dt 17.7 LXX: as testemunhas deviam lançar as primeiras pedras.
- Teologia: Jesus não revoga a Lei; ele exige sua aplicação justa (sem hipocrisia, sem parcialidade — cadê o homem de Dt 22.22?).
- Aplicação: Disciplina bíblica requer idoneidade moral e procedimento correto (Mt 18.15–17), nunca linchamento público (inclusive digital).
Terça | 1 João 2.1 — “Temos um Advogado”
- Grego: παράκλητος (paráklētos) = “advogado/defensor”. Em João 14–16 é título do Espírito; aqui, de Jesus. O v.2 une o foro: ele é também o ἱλασμός (hilasmós), “propiciação/expiação”.
- Teologia: Cristo é ao mesmo tempo o Advogado que nos defende e o sacrifício que satisfaz a justiça.
- Aplicação: Quando cair, corra para (não fuja de) Jesus: confesse, receba perdão e retome práticas de santidade com acompanhamento.
Quarta | Apocalipse 12.10 — “O Acusador”
- Grego: ὁ κατήγωρ (ho katēgor) = “acusador” (daí “categoria”, “categórico”), enfatiza ataque forense “dia e noite”. A resposta vem no v.11: “venceram-no pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho”.
- Teologia: A batalha é jurídica e cósmica: Satanás acusa; o sangue de Cristo anula a acusação. O testemunho perseverante publica essa vitória.
- Aplicação: Combata culpas redivivas e mentiras de condenação com evangelho na boca e na agenda (memorização, oração, ceia).
Quinta | 1 João 1.7 — “O sangue… nos purifica”
- Grego: “καθαρίζει ἡμᾶς” (katharízei hēmas) no presente: ação contínua; “πᾶσης ἁμαρτίας” (toda espécie de pecado). “περιπατῶμεν ἐν τῷ φωτί” = estilo de vida à luz, não perfeccionismo.
- Teologia: Purificação objetiva (culpa removida) e relacional (andar na luz = transparência/confissão/obediência).
- Aplicação: Pratique confissão regular (a Deus e, quando cabível, a irmãos maduros), rompa segredos e estabeleça meios de graça (Palavra, oração, ceia, comunhão).
Sexta | Êxodo 20.14 — “Não adulterarás”
- Hebraico: לֹא תִּנְאָף (lōʾ tinʾāf) do verbo נָאַף (nāʾaf) = “adulterar”, violar a aliança matrimonial. O Decálogo protege pessoa, lar e tribo.
- Teologia: A fidelidade conjugal espelha a fidelidade de Deus (Os 2; Ef 5.31–33). Jesus aprofunda: cobiça já quebra a aliança (Mt 5.27–28).
- Aplicação: Santidade sexual proativa: limites (olhos/mídias/ambientes), acordo conjugal (1Co 7.5), mentoria/ prestação de contas.
Sábado | Provérbios 6.32–33 — As cicatrizes do adultério
- Hebraico: “חֲסַר־לֵב” (ḥasar-lēv) = “falto de juízo/coração”; “נֶגַע” (negaʿ) = “ferida”; “קָלוֹן” (qālōn) = “vergonha”; “חֶרְפָּה” (ḥerpāh) = “reproche” não se apagará.
- Teologia: Pecado perdoado não impede consequências temporais (2Sm 12). A sabedoria bíblica é preventiva.
- Aplicação: Se houve queda: (1) confesse sem minimizar, (2) repare o que for possível, (3) submeta-se a plano restaurativo, (4) aceite que algumas marcas permanecem, e deixe-as formar humildade e vigilância.
Referências acadêmicas (amostra)
- C. S. Keener, The Gospel of John; A. J. Köstenberger, John (BECNT); Leon Morris, John (NICNT).
- I. Howard Marshall, The Epistles of John; Karen H. Jobes, 1, 2, & 3 John.
- G. K. Beale, The Book of Revelation (NIGTC).
- Bruce K. Waltke, The Book of Proverbs; Christopher J. H. Wright, Old Testament Ethics for the People of God.
- D. A. Carson, For the Love of God (leituras devocionais com sólido pano de fundo).
Tabela expositiva — Leituras da semana
Dia
Texto
Palavra-chave (orig.)
Eixo teológico
Ponte com o restante da Bíblia
Aplicação prática
Seg
Jo 8.7
ἀναμάρτητος; βαλέτω λίθον
Justiça sem hipocrisia
Dt 17.7; Dt 22.22–24; Mt 7.1–5
Procedimento justo; nada de “apedrejamento” público
Ter
1Jo 2.1
παράκλητος; ἱλασμός
Cristo Advogado e Sacrifício
Jo 14–16; Rm 8.1,34
Confesse e confie; retome práticas de santidade
Qua
Ap 12.10–11
κατήγωρ
Batalha forense cósmica
Zc 3.1–5; Cl 2.14–15
Resista acusações com sangue e testemunho
Qui
1Jo 1.7
καθαρίζει (pres.); κοινωνία
Purificação contínua na luz
Sl 32; Tg 5.16
Cultive confissão e transparência
Sex
Êx 20.14
לֹא תִּנְאָף
Fidelidade de aliança
Os 2; Mt 5.27–28; Ef 5
Limites, acordos e prestação de contas
Sáb
Pv 6.32–33
חֲסַר־לֵב; נֶגַע; קָלוֹן
Consequências do pecado
2Sm 12; Gl 6.7–8
Plano restaurativo; aceite limites e aprenda
Em suma: O evangelho silencia o acusador sem silenciar a consciência. Em Cristo, temos defesa perfeita e poder para uma nova obediência. Caminhe na luz.
Os textos caminham do ímpeto de acusar (Jo 8.7) para a segurança de quem é acusado (1Jo 2.1; Ap 12.10), mostrando como Deus trata o pecado (1Jo 1.7) e por que o adultério é grave (Êx 20.14; Pv 6.32–33). A graça de Cristo não relativiza o mal; ela o vence e nos chama à santidade concreta.
Segunda | João 8.7 — “Quem não tem pecado…”
- Grego: ὁ ἀναμάρτητος (ho anamartētos) = “sem pecado”, termo raro (NT: hapax). “πρῶτος… βαλέτω λίθον” (prōtos… baletō lithon) ecoa Dt 17.7 LXX: as testemunhas deviam lançar as primeiras pedras.
- Teologia: Jesus não revoga a Lei; ele exige sua aplicação justa (sem hipocrisia, sem parcialidade — cadê o homem de Dt 22.22?).
- Aplicação: Disciplina bíblica requer idoneidade moral e procedimento correto (Mt 18.15–17), nunca linchamento público (inclusive digital).
Terça | 1 João 2.1 — “Temos um Advogado”
- Grego: παράκλητος (paráklētos) = “advogado/defensor”. Em João 14–16 é título do Espírito; aqui, de Jesus. O v.2 une o foro: ele é também o ἱλασμός (hilasmós), “propiciação/expiação”.
- Teologia: Cristo é ao mesmo tempo o Advogado que nos defende e o sacrifício que satisfaz a justiça.
- Aplicação: Quando cair, corra para (não fuja de) Jesus: confesse, receba perdão e retome práticas de santidade com acompanhamento.
Quarta | Apocalipse 12.10 — “O Acusador”
- Grego: ὁ κατήγωρ (ho katēgor) = “acusador” (daí “categoria”, “categórico”), enfatiza ataque forense “dia e noite”. A resposta vem no v.11: “venceram-no pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho”.
- Teologia: A batalha é jurídica e cósmica: Satanás acusa; o sangue de Cristo anula a acusação. O testemunho perseverante publica essa vitória.
- Aplicação: Combata culpas redivivas e mentiras de condenação com evangelho na boca e na agenda (memorização, oração, ceia).
Quinta | 1 João 1.7 — “O sangue… nos purifica”
- Grego: “καθαρίζει ἡμᾶς” (katharízei hēmas) no presente: ação contínua; “πᾶσης ἁμαρτίας” (toda espécie de pecado). “περιπατῶμεν ἐν τῷ φωτί” = estilo de vida à luz, não perfeccionismo.
- Teologia: Purificação objetiva (culpa removida) e relacional (andar na luz = transparência/confissão/obediência).
- Aplicação: Pratique confissão regular (a Deus e, quando cabível, a irmãos maduros), rompa segredos e estabeleça meios de graça (Palavra, oração, ceia, comunhão).
Sexta | Êxodo 20.14 — “Não adulterarás”
- Hebraico: לֹא תִּנְאָף (lōʾ tinʾāf) do verbo נָאַף (nāʾaf) = “adulterar”, violar a aliança matrimonial. O Decálogo protege pessoa, lar e tribo.
- Teologia: A fidelidade conjugal espelha a fidelidade de Deus (Os 2; Ef 5.31–33). Jesus aprofunda: cobiça já quebra a aliança (Mt 5.27–28).
- Aplicação: Santidade sexual proativa: limites (olhos/mídias/ambientes), acordo conjugal (1Co 7.5), mentoria/ prestação de contas.
Sábado | Provérbios 6.32–33 — As cicatrizes do adultério
- Hebraico: “חֲסַר־לֵב” (ḥasar-lēv) = “falto de juízo/coração”; “נֶגַע” (negaʿ) = “ferida”; “קָלוֹן” (qālōn) = “vergonha”; “חֶרְפָּה” (ḥerpāh) = “reproche” não se apagará.
- Teologia: Pecado perdoado não impede consequências temporais (2Sm 12). A sabedoria bíblica é preventiva.
- Aplicação: Se houve queda: (1) confesse sem minimizar, (2) repare o que for possível, (3) submeta-se a plano restaurativo, (4) aceite que algumas marcas permanecem, e deixe-as formar humildade e vigilância.
Referências acadêmicas (amostra)
- C. S. Keener, The Gospel of John; A. J. Köstenberger, John (BECNT); Leon Morris, John (NICNT).
- I. Howard Marshall, The Epistles of John; Karen H. Jobes, 1, 2, & 3 John.
- G. K. Beale, The Book of Revelation (NIGTC).
- Bruce K. Waltke, The Book of Proverbs; Christopher J. H. Wright, Old Testament Ethics for the People of God.
- D. A. Carson, For the Love of God (leituras devocionais com sólido pano de fundo).
Tabela expositiva — Leituras da semana
Dia | Texto | Palavra-chave (orig.) | Eixo teológico | Ponte com o restante da Bíblia | Aplicação prática |
Seg | Jo 8.7 | ἀναμάρτητος; βαλέτω λίθον | Justiça sem hipocrisia | Dt 17.7; Dt 22.22–24; Mt 7.1–5 | Procedimento justo; nada de “apedrejamento” público |
Ter | 1Jo 2.1 | παράκλητος; ἱλασμός | Cristo Advogado e Sacrifício | Jo 14–16; Rm 8.1,34 | Confesse e confie; retome práticas de santidade |
Qua | Ap 12.10–11 | κατήγωρ | Batalha forense cósmica | Zc 3.1–5; Cl 2.14–15 | Resista acusações com sangue e testemunho |
Qui | 1Jo 1.7 | καθαρίζει (pres.); κοινωνία | Purificação contínua na luz | Sl 32; Tg 5.16 | Cultive confissão e transparência |
Sex | Êx 20.14 | לֹא תִּנְאָף | Fidelidade de aliança | Os 2; Mt 5.27–28; Ef 5 | Limites, acordos e prestação de contas |
Sáb | Pv 6.32–33 | חֲסַר־לֵב; נֶגַע; קָלוֹן | Consequências do pecado | 2Sm 12; Gl 6.7–8 | Plano restaurativo; aceite limites e aprenda |
Em suma: O evangelho silencia o acusador sem silenciar a consciência. Em Cristo, temos defesa perfeita e poder para uma nova obediência. Caminhe na luz.
HINOS SUGERIDOS: 255, 311, 484
MOTIVO DE ORAÇÃO
Oremos para que nosso Pai, que está nos Céus, perdoe os nossos pecados.
ESBOÇO DA LIÇÃO
Introdução
1- O Adultério: Um Pecado com Consequências e Feridas Profundas
2- Perdoador ou acusador?
3- Jesus nos ensina a perdoar
Conclusão
DINAMICA EXTRA
Comentário de Hubner Braz
🎭 Dinâmica: “Pedras da Condenação x Graça que Liberta”
🎯 Objetivo
Levar os alunos a refletirem sobre como muitas vezes julgamos e condenamos as pessoas, enquanto Jesus oferece perdão, restauração e uma nova chance.
📍 Materiais
- Pedras pequenas (ou papéis amassados para simbolizar pedras).
- Uma caixa ou saco.
- Folhas e canetas.
⏳ Tempo: 10 a 15 minutos
👣 Passos da Atividade
- Introdução
O professor apresenta João 8.3-11 e pergunta: - “Se você estivesse naquela cena, estaria com as pedras na mão ou ao lado da mulher, esperando misericórdia?”
- Escrevendo nas pedras
- Cada aluno recebe uma pedra (ou um papel amassado).
- O professor pede que escrevam nela (ou simbolicamente pensem) um erro/fraqueza de outra pessoa que geralmente é alvo de julgamento na igreja ou na sociedade (ex.: aparência, passado, vícios, erros cometidos).
- Reflexão em grupo
- Em círculo, cada um segura sua “pedra”.
- O professor pergunta:
- “O que sentimos quando carregamos pedras de julgamento contra os outros?”
- “O que Jesus fez diante dos acusadores?”
- Ato simbólico
- Todos colocam suas pedras dentro de uma caixa, simbolizando abrir mão da condenação.
- Em seguida, cada aluno recebe uma folha em branco para escrever uma palavra que represente a graça de Deus (ex.: perdão, amor, recomeço, liberdade).
- Conclusão Bíblica
O professor lê João 8.11:
“Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.”
E reforça:
- Jesus não aprova o pecado, mas oferece graça para transformar o pecador.
- A igreja deve ser um lugar de acolhimento e restauração, não de apedrejamento.
🪞 Aplicação Pessoal
- Que pedras de julgamento ainda carrego contra os outros?
- Como posso ser instrumento da graça de Cristo na vida das pessoas ao meu redor?
🎭 Dinâmica: “Pedras da Condenação x Graça que Liberta”
🎯 Objetivo
Levar os alunos a refletirem sobre como muitas vezes julgamos e condenamos as pessoas, enquanto Jesus oferece perdão, restauração e uma nova chance.
📍 Materiais
- Pedras pequenas (ou papéis amassados para simbolizar pedras).
- Uma caixa ou saco.
- Folhas e canetas.
⏳ Tempo: 10 a 15 minutos
👣 Passos da Atividade
- Introdução
O professor apresenta João 8.3-11 e pergunta: - “Se você estivesse naquela cena, estaria com as pedras na mão ou ao lado da mulher, esperando misericórdia?”
- Escrevendo nas pedras
- Cada aluno recebe uma pedra (ou um papel amassado).
- O professor pede que escrevam nela (ou simbolicamente pensem) um erro/fraqueza de outra pessoa que geralmente é alvo de julgamento na igreja ou na sociedade (ex.: aparência, passado, vícios, erros cometidos).
- Reflexão em grupo
- Em círculo, cada um segura sua “pedra”.
- O professor pergunta:
- “O que sentimos quando carregamos pedras de julgamento contra os outros?”
- “O que Jesus fez diante dos acusadores?”
- Ato simbólico
- Todos colocam suas pedras dentro de uma caixa, simbolizando abrir mão da condenação.
- Em seguida, cada aluno recebe uma folha em branco para escrever uma palavra que represente a graça de Deus (ex.: perdão, amor, recomeço, liberdade).
- Conclusão Bíblica
O professor lê João 8.11:
“Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.”
E reforça: - Jesus não aprova o pecado, mas oferece graça para transformar o pecador.
- A igreja deve ser um lugar de acolhimento e restauração, não de apedrejamento.
🪞 Aplicação Pessoal
- Que pedras de julgamento ainda carrego contra os outros?
- Como posso ser instrumento da graça de Cristo na vida das pessoas ao meu redor?

INTRODUÇÃO
Hoje, veremos um exemplo prático da verdade de que Deus enviou Seu Filho ao mundo para Salvação, não para condenação (Jo 3.17). A Obra da Redenção não diminui nem ignora a gravidade do pecado e a necessidade de castigo. Jesus Cristo, porém, levou sobre Si a culpa dos nossos pecados e, assim, não há condenação para os que vivem unidos a Ele (Rm 8.1; 2 Co 5.21).
PONTO DE PARTIDA: Jesus advoga a nosso favor.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
“Jesus advoga a nosso favor”
(Tema: Jo 3.17; Rm 8.1; 2 Co 5.21; 1 Jo 2.1; Hb 7.25 — análise, léxico grego, referências e aplicação)
1. Enquadramento e afirmação central
O ponto de partida já foi dito por João: “Deus enviou o Filho ao mundo não para julgar (κρίνειν / krínein) o mundo, mas para que o mundo fosse salvo (σῶζεσθαι / sōzesthai) por meio dele” (Jo 3.17). Isso não minimiza a gravidade do pecado — ao contrário: a obra de Cristo confronta o pecado, assume sua penalidade e inaugura a justificação e a reconciliação. A implicação pastoral imediata é consoladora: para quem está em Cristo não há condenação (κατάκριμα / katákrima). Jesus não é um acusador diante do Pai; Ele é nosso Advogado / Intercessor / Sacrifício.
2. Panorama bíblico-teológico (síntese)
- Missão de Cristo: salvação, não condenação — Jo 3.17: missão salvífica que subtrai do jugo do juízo definitivo os que creem.
- Justificação e ausência de condenação — Rm 8.1: “οὐδὲν οὖν ἄρα νῦν κατάκριμα τοῖς ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ” — a declaração forense: a sentença punitiva foi removida para os que estão em Cristo.
- Substituição vicária — 2 Co 5.21: “Τὸν μὴ γνόντα ἁμαρτίαν ὑπὲρ ἡμῶν ὁ θεὸς ἁμαρτίαν ἐποίησεν, ἵνα ἡμεῖς γένωμεθα δικαιοσύνη θεοῦ ἐν αὐτῷ.” Paulo expressa o mistério: Cristo que não conheceu pecado foi constituído pecado por nós, para que sejamos declarados justos.
- Advocacia e intercessão — 1 Jo 2.1: “εἴ τις ἁμάρτῃ, παράκλητον ἔχομεν πρὸς τὸν πατέρα, Ἰησοῦν Χριστὸν δίκαιον.” Jesus é nosso paráklētos junto ao Pai; Hebreus enfatiza o sacerdócio perpétuo que intercede (Hb 7.25).
- Expiação / propiciação — Rm 3.25 (ἱλαστήριον / hilastḗrion): a obra de Cristo é o meio eficaz pelo qual Deus trata a culpa — linguagem tanto de propiciação (aplacamento da ira) quanto de expiação (remoção do pecado).
3. Análise lexical e teológica do grego (palavras-chave)
- κρίνω / κρίσις (krínō / krísis) — “julgar, decidir”. Em Jo 3.17 a ênfase é que o envio do Filho não tem por objetivo primário o ato condenatório sobre os homens, mas a oferta de salvação.
- κατάκριμα (katákrima) — “condenação, veredito condenatório”. Em Rm 8:1 é o termo técnico forense que marca a sentença punitiva; Paulo afirma que tal sentença já não se aplica aos que estão em Cristo.
- παράκλητος (paráklētos) — “aquele que é chamado para perto” — defesa, consolação, intercessão. Em 1 Jo 2:1 o termo descreve Jesus como Advogado junto ao Pai; no Evangelho de João o termo é usado para o Espírito, mas a função é semelhante: defesa, consolação e capacitação.
- ἱλαστήριον / ἱλασμός (hilastḗrion / hilasmós) — relacionado a “propiciação / expiação”. O vocábulo descreve o meio ou lugar onde a propiciação ocorre (Rm 3:25). A discussão exegética entre “propiciação” e “expiation” não invalida a conclusão prática: o sacrifício de Cristo é o veículo pelo qual Deus remove a culpa e reconcilia.
- δικαιοσύνη / δικαιόω (dikaiosýnē / dikaióō) — “justiça / justificar”. Em Paulo (Rm, 2Co) veredito forense e também qualidade de vida que procede da relação correta com Deus. A ação de Cristo produz que nós “sejamos” justiça de Deus (2 Co 5:21).
4. Conexões textuais e teológicas relevantes
- Jo 3.17 ↔ Jo 3.16: o amor do Pai é a causa do envio; o propósito é vida, não destruição.
- Rm 3:21–26 / Rm 5 / Rm 8: Paulo costura propiciação, justificação pela fé e a obra do Espírito (justificação = presente forense; ἐν Χριστῷ).
- 2 Co 5:21 complementa a lógica penal: Cristo tomou a nossa culpa (substituição) para nos imputar a justiça.
- Hebreus 4:14–16; 7:24–25: Cristo como Sumo-Sacerdote que vive para interceder — a intercessão contínua é parte do motivo pelo qual os que se achegam a Deus por Cristo são “salvos totalmente”.
- 1 Jo 2:1–2; 1 Jo 1:7: o socorro de Jesus é imediato ao pecado confessado — Ele é advogado e propiciação.
Referências clássicas (recomendadas para estudo):
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João
- Craig S. Keener, Comentário Histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento.
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Leon Morris, Introdução ao Novo Testamento.
- F. F. Bruce, Série Introdução e Comentário - João.
- J. MacArthur, Comentário bíblico MacArthur: Gênesis a Apocalipse (para aplicação pastoral/evangelística).
- Andreas J. Köstenberger, Pai, Filho e Espírito: a Trindade e o Evangelho de João— leitura muito útil para homilética.
5. Implicações práticas e aplicação pessoal
- Segurança da consciência — a certeza de que “não há condenação para os que estão em Cristo” (Rm 8:1) deve gerar tranquilidade diante do juízo final — não uma saída para a permissividade, mas base de confiança para a vida santa.
- Confiança na intercessão de Cristo — quando falhamos, corremos para o Advogado que já apresentou nossa causa e pagou a penalidade. Pratique confissão e reaqueça sua esperança em vez de sucumbir à culpa paralisante.
- Vida transformada (não impunidade) — o perdão recebido exige resposta: “vai-te, e não peques mais” (Jo 8.11). A graça capacita a abandonar padrões de pecado (Tt 2.11–12).
- Segurança pastoral — líderes devem anunciar tanto a justiça de Deus quanto a reconciliação em Cristo: proclamar perdão, instruir em arrependimento, assistir na restauração.
- Evangelismo corajoso — a boa notícia é dupla: somos perdoados e chamados à nova vida. Isso liberta para o testemunho público com humildade e ousadia.
Prática imediata: tenha um “roteiro pastoral” pessoal — (a) confissão concreta; (b) oração pedindo paz e reconciliação; (c) escolher uma disciplina que substitua o pecado (leituras, accountability, serviço); (d) participar da mesa do Senhor como memória e renovação da obra redentora.
6. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Texto-chave
Termo grego
Sentido teológico
O que isso garante
Aplicação prática
João 3.17
κρίνω / σῴζω (krínō / sōzō)
Envio para salvar, não para condenar
Missão de Cristo = oferta de vida
Anunciar o Evangelho com compaixão, sem medo
Romanos 8:1
κατάκριμα (katákrima)
“sentença condenatória” removida para os em Cristo
Segurança forense: sem condenação
Cultivar paz de consciência e coragem para obediência
2 Coríntios 5:21
ἁμαρτίαν ἐποίησεν (hamartían epoiēsen)
Substituição vicária: Ele foi feito pecado
Nossa imputação de justiça (δικαιοσύνη)
Descansar na troca: justiça imputada, vida transformada
1 João 2:1
παράκλητον (paráklēton)
Advogado/Intercessor junto ao Pai
Defesa contínua; acesso seguro ao trono
Ao cair, correr para Cristo; confissão e restauração
Romanos 3:25
ἱλαστήριον (hilastḗrion)
Lugar/meio de propiciação/expiation
Ira e culpa tratadas na cruz
Celebre e confesse a eficácia da expiação em Cristo
Hebreus 7:25
μεσιτεύει / ἀεὶ ζῶν (mesiéuein / aei zōn)
Cristo intercede continuamente
Salvação completa para os que se chegam
Vida cristã com segurança de intercessão contínua
7. Conclusão curta
A obra de Cristo une juízo e graça: em justiça Ele confronta o pecado; em misericórdia Ele assume a penalidade; em fidelidade Ele justifica e intercede. Jesus não veio para ser nosso acusador, mas nosso Advogado e Salvador. Quem se une a Ele passa do perigo de condenação à segurança da justificação e entra no processo de santificação — liberdade da culpa e compromisso com a vida nova.
“Jesus advoga a nosso favor”
(Tema: Jo 3.17; Rm 8.1; 2 Co 5.21; 1 Jo 2.1; Hb 7.25 — análise, léxico grego, referências e aplicação)
1. Enquadramento e afirmação central
O ponto de partida já foi dito por João: “Deus enviou o Filho ao mundo não para julgar (κρίνειν / krínein) o mundo, mas para que o mundo fosse salvo (σῶζεσθαι / sōzesthai) por meio dele” (Jo 3.17). Isso não minimiza a gravidade do pecado — ao contrário: a obra de Cristo confronta o pecado, assume sua penalidade e inaugura a justificação e a reconciliação. A implicação pastoral imediata é consoladora: para quem está em Cristo não há condenação (κατάκριμα / katákrima). Jesus não é um acusador diante do Pai; Ele é nosso Advogado / Intercessor / Sacrifício.
2. Panorama bíblico-teológico (síntese)
- Missão de Cristo: salvação, não condenação — Jo 3.17: missão salvífica que subtrai do jugo do juízo definitivo os que creem.
- Justificação e ausência de condenação — Rm 8.1: “οὐδὲν οὖν ἄρα νῦν κατάκριμα τοῖς ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ” — a declaração forense: a sentença punitiva foi removida para os que estão em Cristo.
- Substituição vicária — 2 Co 5.21: “Τὸν μὴ γνόντα ἁμαρτίαν ὑπὲρ ἡμῶν ὁ θεὸς ἁμαρτίαν ἐποίησεν, ἵνα ἡμεῖς γένωμεθα δικαιοσύνη θεοῦ ἐν αὐτῷ.” Paulo expressa o mistério: Cristo que não conheceu pecado foi constituído pecado por nós, para que sejamos declarados justos.
- Advocacia e intercessão — 1 Jo 2.1: “εἴ τις ἁμάρτῃ, παράκλητον ἔχομεν πρὸς τὸν πατέρα, Ἰησοῦν Χριστὸν δίκαιον.” Jesus é nosso paráklētos junto ao Pai; Hebreus enfatiza o sacerdócio perpétuo que intercede (Hb 7.25).
- Expiação / propiciação — Rm 3.25 (ἱλαστήριον / hilastḗrion): a obra de Cristo é o meio eficaz pelo qual Deus trata a culpa — linguagem tanto de propiciação (aplacamento da ira) quanto de expiação (remoção do pecado).
3. Análise lexical e teológica do grego (palavras-chave)
- κρίνω / κρίσις (krínō / krísis) — “julgar, decidir”. Em Jo 3.17 a ênfase é que o envio do Filho não tem por objetivo primário o ato condenatório sobre os homens, mas a oferta de salvação.
- κατάκριμα (katákrima) — “condenação, veredito condenatório”. Em Rm 8:1 é o termo técnico forense que marca a sentença punitiva; Paulo afirma que tal sentença já não se aplica aos que estão em Cristo.
- παράκλητος (paráklētos) — “aquele que é chamado para perto” — defesa, consolação, intercessão. Em 1 Jo 2:1 o termo descreve Jesus como Advogado junto ao Pai; no Evangelho de João o termo é usado para o Espírito, mas a função é semelhante: defesa, consolação e capacitação.
- ἱλαστήριον / ἱλασμός (hilastḗrion / hilasmós) — relacionado a “propiciação / expiação”. O vocábulo descreve o meio ou lugar onde a propiciação ocorre (Rm 3:25). A discussão exegética entre “propiciação” e “expiation” não invalida a conclusão prática: o sacrifício de Cristo é o veículo pelo qual Deus remove a culpa e reconcilia.
- δικαιοσύνη / δικαιόω (dikaiosýnē / dikaióō) — “justiça / justificar”. Em Paulo (Rm, 2Co) veredito forense e também qualidade de vida que procede da relação correta com Deus. A ação de Cristo produz que nós “sejamos” justiça de Deus (2 Co 5:21).
4. Conexões textuais e teológicas relevantes
- Jo 3.17 ↔ Jo 3.16: o amor do Pai é a causa do envio; o propósito é vida, não destruição.
- Rm 3:21–26 / Rm 5 / Rm 8: Paulo costura propiciação, justificação pela fé e a obra do Espírito (justificação = presente forense; ἐν Χριστῷ).
- 2 Co 5:21 complementa a lógica penal: Cristo tomou a nossa culpa (substituição) para nos imputar a justiça.
- Hebreus 4:14–16; 7:24–25: Cristo como Sumo-Sacerdote que vive para interceder — a intercessão contínua é parte do motivo pelo qual os que se achegam a Deus por Cristo são “salvos totalmente”.
- 1 Jo 2:1–2; 1 Jo 1:7: o socorro de Jesus é imediato ao pecado confessado — Ele é advogado e propiciação.
Referências clássicas (recomendadas para estudo):
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João
- Craig S. Keener, Comentário Histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento.
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Leon Morris, Introdução ao Novo Testamento.
- F. F. Bruce, Série Introdução e Comentário - João.
- J. MacArthur, Comentário bíblico MacArthur: Gênesis a Apocalipse (para aplicação pastoral/evangelística).
- Andreas J. Köstenberger, Pai, Filho e Espírito: a Trindade e o Evangelho de João— leitura muito útil para homilética.
5. Implicações práticas e aplicação pessoal
- Segurança da consciência — a certeza de que “não há condenação para os que estão em Cristo” (Rm 8:1) deve gerar tranquilidade diante do juízo final — não uma saída para a permissividade, mas base de confiança para a vida santa.
- Confiança na intercessão de Cristo — quando falhamos, corremos para o Advogado que já apresentou nossa causa e pagou a penalidade. Pratique confissão e reaqueça sua esperança em vez de sucumbir à culpa paralisante.
- Vida transformada (não impunidade) — o perdão recebido exige resposta: “vai-te, e não peques mais” (Jo 8.11). A graça capacita a abandonar padrões de pecado (Tt 2.11–12).
- Segurança pastoral — líderes devem anunciar tanto a justiça de Deus quanto a reconciliação em Cristo: proclamar perdão, instruir em arrependimento, assistir na restauração.
- Evangelismo corajoso — a boa notícia é dupla: somos perdoados e chamados à nova vida. Isso liberta para o testemunho público com humildade e ousadia.
Prática imediata: tenha um “roteiro pastoral” pessoal — (a) confissão concreta; (b) oração pedindo paz e reconciliação; (c) escolher uma disciplina que substitua o pecado (leituras, accountability, serviço); (d) participar da mesa do Senhor como memória e renovação da obra redentora.
6. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Texto-chave | Termo grego | Sentido teológico | O que isso garante | Aplicação prática |
João 3.17 | κρίνω / σῴζω (krínō / sōzō) | Envio para salvar, não para condenar | Missão de Cristo = oferta de vida | Anunciar o Evangelho com compaixão, sem medo |
Romanos 8:1 | κατάκριμα (katákrima) | “sentença condenatória” removida para os em Cristo | Segurança forense: sem condenação | Cultivar paz de consciência e coragem para obediência |
2 Coríntios 5:21 | ἁμαρτίαν ἐποίησεν (hamartían epoiēsen) | Substituição vicária: Ele foi feito pecado | Nossa imputação de justiça (δικαιοσύνη) | Descansar na troca: justiça imputada, vida transformada |
1 João 2:1 | παράκλητον (paráklēton) | Advogado/Intercessor junto ao Pai | Defesa contínua; acesso seguro ao trono | Ao cair, correr para Cristo; confissão e restauração |
Romanos 3:25 | ἱλαστήριον (hilastḗrion) | Lugar/meio de propiciação/expiation | Ira e culpa tratadas na cruz | Celebre e confesse a eficácia da expiação em Cristo |
Hebreus 7:25 | μεσιτεύει / ἀεὶ ζῶν (mesiéuein / aei zōn) | Cristo intercede continuamente | Salvação completa para os que se chegam | Vida cristã com segurança de intercessão contínua |
7. Conclusão curta
A obra de Cristo une juízo e graça: em justiça Ele confronta o pecado; em misericórdia Ele assume a penalidade; em fidelidade Ele justifica e intercede. Jesus não veio para ser nosso acusador, mas nosso Advogado e Salvador. Quem se une a Ele passa do perigo de condenação à segurança da justificação e entra no processo de santificação — liberdade da culpa e compromisso com a vida nova.
1- O Adultério: Um Pecado com Consequências e Feridas Profundas
O autor da Carta aos Hebreus nos diz que o adultério é pecado (Hb 13.4). Portanto, quem adultera se opõe à vontade de Deus (Pv 6.32). No AT, se um homem dormisse com a esposa de outro homem, ambos deveriam morrer para expurgar o mal de Israel (Dt 22.22). Ainda hoje, quem comete adultério peca diante dos homens e de Deus.
1.1. Reconhecendo o adultério. O adultério acontece quando um dos cônjuges se envolve em um relacionamento amoroso extraconjugal. Segundo a Bíblia de Estudo Plenitude (2009, p. 1184): “É uma relação sexual ilegal. É incompatível com as leis harmônicas da vida familiar no Reino de Deus; e, como viola o objetivo original de Deus no casamento, está sob o julgamento de Deus”. João nos diz que o Mestre estava ensinando no Templo quando foi abordado pelos escribas e fariseus, que lhe trouxeram uma mulher surpreendida em adultério (Jo 8.2,4).
José Elias Croce (2001. L. 07): “Tendo em mente a função do sexo no casamento, podemos compreender mais facilmente as proibições bíblicas acerca das relações extraconjugais. O adultério, a prostituição, a fornicação e a homossexualidade são práticas sexuais condenadas por Deus (1Co 6.10). O adultério e a prostituição, segundo a Bíblia, abrangem toda relação sexual extramatrimonial entre um homem e uma mulher, casada ou não, e vice-versa (Hb 13.4). No Antigo Testamento, o adultério era passível de morte (Lv 20.10).
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
I — O adultério: comentário bíblico-teológico, análise lexical, referências e aplicação prática
A. Leitura teológica sintética
O adultério é, biblicamente, infidelidade à aliança matrimonial (não apenas um ato físico). No AT ele era tratado como crime contra a família e a comunidade (Dt, Lv) porque quebra a aliança social e a expressão visível da aliança de Deus com Israel. No NT, Jesus e os apóstolos mantêm a gravidade do ato, ampliam o diagnóstico para o coração (a cobiça/olhar que lustra o desejo) e apontam para a solução da graça: perdão genuíno acompanhado de arrependimento e restauração (quando possível) — a graça não elimina consequências, mas oferece nova vida. A linguagem bíblica liga imediatamente a fidelidade conjugal à fidelidade de Deus (casamento como imagem sacramental / sinal da aliança e do amor de Cristo pela igreja — Ef 5).
B. Análise lexical (hebraico e grego)
Hebraico (AT)
- נָאַף — nāʾaph (root): “cometer adultério.” Uso técnico para designar relações sexuais ilícitas envolvendo pessoa casada com outro. Aparece em leis (Dt, Lv) e nos salmos/profedias para descrever infidelidade moral e religiosa (a linguagem sexual também é usada metaforicamente para descrever infidelidade a Deus).
- זָנָה — zanah: “prostituir-se”, “fornicar”, usado para prostituição literal e também para idolatria espiritual (Israel “se prostituiu” ao adorar ídolos). Mostra conexões entre sexualidade desordenada e apostasia espiritual.
- בְּרִית — berît: “aliança/pacto”. Importante para dizer que o adultério é violação de aliança; casamento é expressão humana do princípio do pacto divino.
Grego (NT)
- μοιχεία — moicheia: “adultério” (ato conjugal ilícito de quem é casado com outrem). Termo jurídico-moral.
- μοιχεύω — moicheuō: “cometer adultério” (verbo).
- πορνεία — porneia: “imoralidade sexual / fornicação” — termo mais abrangente, incluindo adultério, fornicação, prostituição e comportamento sexual ilícito.
- ἐπιθυμία / ἐπιθυμέω — epithumia / epithumeō: “desejo / cobiça / desejar” — Jesus liga o adultério à cobiça (Mt 5:27–28); o pecado começa no desejo desordenado.
- παράκλητος — paraklētos (em outro contexto): lembra a ênfase do NT na graça e no socorro de Cristo para restaurar o pecador arrependido (ver 1Jo 2:1 — Jesus como advogado).
Observação: a distinção entre μοιχεία (adultério) e πορνεία (sexualidade imoral em sentido amplo) é útil para a exegese: Jesus amplia a ética sexual para o campo do coração e da motivação; Paulo articula consequências corporais e comunitárias.
C. Referências bíblicas-chaves e leituras teológicas
Textos legais e narrativos (AT)
- Deuteronômio 22.22–24; Levítico 20.10 — legislação penal para adultério (rigor do código de santidade; ênfase na preservação da família e da pureza da aliança social).
- Provérbios 6.32–35 — mostra as consequências pessoais e sociais: vergonha, perda, ferida emocional; perversão do tecido familiar.
- Narrativas (p.ex. Davi e Bate-Seba, 2 Sm 11–12) — ilustram consequências morais e políticas do adultério: pecado gera queda, consequências duradouras e necessidade de arrependimento sincero.
Textos do NT que reformulam e aplicam
- Mateus 5:27–28 — Jesus amplia o conceito: o olhar/luxúria já configura o adultério no coração.
- Mateus 19:3–9 / Marcos 10:1–12 — Jesus reafirma o chamado à fidelidade; questão do divórcio e por que o adultério é uma exceção legítima (texto complexo, exige cuidado hermenêutico).
- João 8:2–11 — (perícope da adúltera): em Jesus vemos: (a) recusa ao linchamento hipócrita; (b) misericórdia que não anula a chamada ao arrependimento: “vai e não peques más” — restauração com perseverança.
- 1 Coríntios 6:9–20; 1 Cor 7 — Paulo vê a sexualidade como parte integrante do corpo e do chamado à santidade; a imoralidade sexual prejudica o corpo que é templo do Espírito.
- Hebreus 13:4 — “Seja honrado entre todos o matrimônio, e o leito sem mácula” — convocação à honra conjugal.
- Efésios 5:22–33 — casamento como figura do amor de Cristo pela igreja; fidelidade conjugal ecoa fidelidade do Messias.
Observação teológica
- O AT trata o adultério como crime social com pena severa porque a unidade familiar era fundamental para a sobrevivência comunitária e como sinal da fidelidade de Deus. O NT conserva o juízo moral, mas focaliza a cura e restauração (através de arrependimento, perdão, reconciliação quando possível), além de enfatizar responsabilidades recíprocas e prevenção.
Leitura acadêmica recomendada (seleção): Raymond E. Brown (The Gospel According to John), D. A. Carson (Matthew), Leon Morris (The Gospel According to John), N. T. Wright (sobre ética cristã), John Stott (sobre sexualidade e santidade), e comentários de 1 Coríntios (Gordon D. Fee). (Esses autores ajudam a articular fidelidade bíblica e pastoral.)
D. Aplicação pastoral e pessoal — passos, princípios e práticas
Princípios orientadores
- Gravidade e compaixão — o pecado é sério; as consequências reais; mas a igreja deve agir com verdade e graça.
- Proporcionalidade e justiça — disciplina com devida investigação e devido processo; evitar linchamento público (digital ou presencial).
- Proteção das vítimas — priorizar segurança, apoio e cuidados às pessoas traídas e vulneráveis (incluso em casos de violência sexual).
- Restauração com critérios — perdão é oferecido, mas a restauração exige arrependimento comprovável, mudança de vida e processo de reconstrução da confiança.
- Prevenção e formação — educação sexual bíblica, cultura de transparência, prestação de contas, limites e espiritualidade prática.
Passos práticos para quem foi atingido pelo adultério (conselho a pastor/esposo/esposa)
- Segurança imediata — se há risco físico ou abuso, medidas legais e proteção são prioritárias.
- Avaliação e informação — buscar aconselhamento pastoral/terapêutico; quando apropriado, informar família/igreja seguindo confidencialidade e proteção.
- Confissão e arrependimento — para o ofensor: confissão a Deus, confissão guiada (quando oportuno) à pessoa ofendida, e passos tangíveis de mudança (contatos zerados, filtros, terapia).
- Apoio emocional e psicológico — terapia individual e de casal; redes de apoio (igreja, família, aconselhamento profissional).
- Reparação e paciência — reconstrução da confiança demanda tempo e transparência radical; planos de restauração (acordos práticos, accountability, metas).
- Decisões sobre convivência — separação temporária pode ser necessária; o perdão não obriga a convivência se não há restauração; a reconciliação é um processo, não um evento.
- Igreja como agente de cura — a comunidade oferece intercessão, discipulado, conselhos práticos; disciplina eclesiástica pode ser necessária em casos de desobediência pública ou recusa ao arrependimento.
Medidas preventivas para indivíduos e comunidades
- Cultivar vida devocional (oração, Palavra), proteger sentidos (mídia, redes), ter accountability partners, dialogar sobre limites no casamento, aconselhamento premarital com ênfase em fidelidade e sexualidade, formar líderes que sabem conduzir processos de cura.
E. Tabela expositiva (para pregações / aulas / estudos)
Texto
Termo Heb./Gr.
Sentido principal
Ponto teológico
Passo pastoral imediato
Dt 22.22 / Lv 20.10
nāʾaph (נָאַף)
Adultério = violação de aliança
Adultério = crime contra aliança (sinal da desordem social e espiritual)
Reconhecer gravidade; proteger a comunidade e investigar
Pv 6.32–35
—
Consequências: vergonha, perda, ferida
O adultério deixa cicatrizes profundas e duradouras
Acolher a vítima; atenção ao dano psicoemocional
Mt 5.27–28
epithumia (ἐπιθυμία)
O desejo já inclui a transgressão
O campo do pecado é o coração; prevenção é ética do olhar
Trabalhar o interior: confissão, limites, espiritualidade
Jo 8.2–11
moicheia (μοιχεία) — peric. da adúltera
Misericórdia + chamada ao arrependimento
Justiça sem hipocrisia; graça que restaura
Evitar humilhação pública; oferecer caminho de arrependimento e cuidado
1 Co 6:18; 1 Co 7
porneia (πορνεία)
Imoralidade sexual destrói corpo/espírito
Corpo é templo do Espírito; a ética sexual é integral
Arrependimento, terapia, limites corporais (fugir da fornicação)
Hb 13:4 / Ef 5:25–33
berît / casamento-corporificação
Casamento como imagem da aliança
Fidelidade conjugal = imagem do amor de Cristo pela Igreja
Ensino de preceitos matrimoniais; pastoral de casais; renovação de pacto
F. Considerações finais breves
- O adultério é mais que um ato: é sinal de infidelidade à aliança, tem efeitos espirituais, sociais e psicológicos profundos.
- A resposta bíblica é dupla: juízo moral (a ser reconhecido) e graça restauradora (oferecida por Cristo).
- A igreja tem papel central: proteger, julgar com justiça, oferecer cura e caminhos de restauração.
- Restauração exige evidência: perdão é possível, mas a confiança precisa ser gradualmente reconstruída através de arrependimento comprovado, transparência, terapia e acompanhamento comunitário.
I — O adultério: comentário bíblico-teológico, análise lexical, referências e aplicação prática
A. Leitura teológica sintética
O adultério é, biblicamente, infidelidade à aliança matrimonial (não apenas um ato físico). No AT ele era tratado como crime contra a família e a comunidade (Dt, Lv) porque quebra a aliança social e a expressão visível da aliança de Deus com Israel. No NT, Jesus e os apóstolos mantêm a gravidade do ato, ampliam o diagnóstico para o coração (a cobiça/olhar que lustra o desejo) e apontam para a solução da graça: perdão genuíno acompanhado de arrependimento e restauração (quando possível) — a graça não elimina consequências, mas oferece nova vida. A linguagem bíblica liga imediatamente a fidelidade conjugal à fidelidade de Deus (casamento como imagem sacramental / sinal da aliança e do amor de Cristo pela igreja — Ef 5).
B. Análise lexical (hebraico e grego)
Hebraico (AT)
- נָאַף — nāʾaph (root): “cometer adultério.” Uso técnico para designar relações sexuais ilícitas envolvendo pessoa casada com outro. Aparece em leis (Dt, Lv) e nos salmos/profedias para descrever infidelidade moral e religiosa (a linguagem sexual também é usada metaforicamente para descrever infidelidade a Deus).
- זָנָה — zanah: “prostituir-se”, “fornicar”, usado para prostituição literal e também para idolatria espiritual (Israel “se prostituiu” ao adorar ídolos). Mostra conexões entre sexualidade desordenada e apostasia espiritual.
- בְּרִית — berît: “aliança/pacto”. Importante para dizer que o adultério é violação de aliança; casamento é expressão humana do princípio do pacto divino.
Grego (NT)
- μοιχεία — moicheia: “adultério” (ato conjugal ilícito de quem é casado com outrem). Termo jurídico-moral.
- μοιχεύω — moicheuō: “cometer adultério” (verbo).
- πορνεία — porneia: “imoralidade sexual / fornicação” — termo mais abrangente, incluindo adultério, fornicação, prostituição e comportamento sexual ilícito.
- ἐπιθυμία / ἐπιθυμέω — epithumia / epithumeō: “desejo / cobiça / desejar” — Jesus liga o adultério à cobiça (Mt 5:27–28); o pecado começa no desejo desordenado.
- παράκλητος — paraklētos (em outro contexto): lembra a ênfase do NT na graça e no socorro de Cristo para restaurar o pecador arrependido (ver 1Jo 2:1 — Jesus como advogado).
Observação: a distinção entre μοιχεία (adultério) e πορνεία (sexualidade imoral em sentido amplo) é útil para a exegese: Jesus amplia a ética sexual para o campo do coração e da motivação; Paulo articula consequências corporais e comunitárias.
C. Referências bíblicas-chaves e leituras teológicas
Textos legais e narrativos (AT)
- Deuteronômio 22.22–24; Levítico 20.10 — legislação penal para adultério (rigor do código de santidade; ênfase na preservação da família e da pureza da aliança social).
- Provérbios 6.32–35 — mostra as consequências pessoais e sociais: vergonha, perda, ferida emocional; perversão do tecido familiar.
- Narrativas (p.ex. Davi e Bate-Seba, 2 Sm 11–12) — ilustram consequências morais e políticas do adultério: pecado gera queda, consequências duradouras e necessidade de arrependimento sincero.
Textos do NT que reformulam e aplicam
- Mateus 5:27–28 — Jesus amplia o conceito: o olhar/luxúria já configura o adultério no coração.
- Mateus 19:3–9 / Marcos 10:1–12 — Jesus reafirma o chamado à fidelidade; questão do divórcio e por que o adultério é uma exceção legítima (texto complexo, exige cuidado hermenêutico).
- João 8:2–11 — (perícope da adúltera): em Jesus vemos: (a) recusa ao linchamento hipócrita; (b) misericórdia que não anula a chamada ao arrependimento: “vai e não peques más” — restauração com perseverança.
- 1 Coríntios 6:9–20; 1 Cor 7 — Paulo vê a sexualidade como parte integrante do corpo e do chamado à santidade; a imoralidade sexual prejudica o corpo que é templo do Espírito.
- Hebreus 13:4 — “Seja honrado entre todos o matrimônio, e o leito sem mácula” — convocação à honra conjugal.
- Efésios 5:22–33 — casamento como figura do amor de Cristo pela igreja; fidelidade conjugal ecoa fidelidade do Messias.
Observação teológica
- O AT trata o adultério como crime social com pena severa porque a unidade familiar era fundamental para a sobrevivência comunitária e como sinal da fidelidade de Deus. O NT conserva o juízo moral, mas focaliza a cura e restauração (através de arrependimento, perdão, reconciliação quando possível), além de enfatizar responsabilidades recíprocas e prevenção.
Leitura acadêmica recomendada (seleção): Raymond E. Brown (The Gospel According to John), D. A. Carson (Matthew), Leon Morris (The Gospel According to John), N. T. Wright (sobre ética cristã), John Stott (sobre sexualidade e santidade), e comentários de 1 Coríntios (Gordon D. Fee). (Esses autores ajudam a articular fidelidade bíblica e pastoral.)
D. Aplicação pastoral e pessoal — passos, princípios e práticas
Princípios orientadores
- Gravidade e compaixão — o pecado é sério; as consequências reais; mas a igreja deve agir com verdade e graça.
- Proporcionalidade e justiça — disciplina com devida investigação e devido processo; evitar linchamento público (digital ou presencial).
- Proteção das vítimas — priorizar segurança, apoio e cuidados às pessoas traídas e vulneráveis (incluso em casos de violência sexual).
- Restauração com critérios — perdão é oferecido, mas a restauração exige arrependimento comprovável, mudança de vida e processo de reconstrução da confiança.
- Prevenção e formação — educação sexual bíblica, cultura de transparência, prestação de contas, limites e espiritualidade prática.
Passos práticos para quem foi atingido pelo adultério (conselho a pastor/esposo/esposa)
- Segurança imediata — se há risco físico ou abuso, medidas legais e proteção são prioritárias.
- Avaliação e informação — buscar aconselhamento pastoral/terapêutico; quando apropriado, informar família/igreja seguindo confidencialidade e proteção.
- Confissão e arrependimento — para o ofensor: confissão a Deus, confissão guiada (quando oportuno) à pessoa ofendida, e passos tangíveis de mudança (contatos zerados, filtros, terapia).
- Apoio emocional e psicológico — terapia individual e de casal; redes de apoio (igreja, família, aconselhamento profissional).
- Reparação e paciência — reconstrução da confiança demanda tempo e transparência radical; planos de restauração (acordos práticos, accountability, metas).
- Decisões sobre convivência — separação temporária pode ser necessária; o perdão não obriga a convivência se não há restauração; a reconciliação é um processo, não um evento.
- Igreja como agente de cura — a comunidade oferece intercessão, discipulado, conselhos práticos; disciplina eclesiástica pode ser necessária em casos de desobediência pública ou recusa ao arrependimento.
Medidas preventivas para indivíduos e comunidades
- Cultivar vida devocional (oração, Palavra), proteger sentidos (mídia, redes), ter accountability partners, dialogar sobre limites no casamento, aconselhamento premarital com ênfase em fidelidade e sexualidade, formar líderes que sabem conduzir processos de cura.
E. Tabela expositiva (para pregações / aulas / estudos)
Texto | Termo Heb./Gr. | Sentido principal | Ponto teológico | Passo pastoral imediato |
Dt 22.22 / Lv 20.10 | nāʾaph (נָאַף) | Adultério = violação de aliança | Adultério = crime contra aliança (sinal da desordem social e espiritual) | Reconhecer gravidade; proteger a comunidade e investigar |
Pv 6.32–35 | — | Consequências: vergonha, perda, ferida | O adultério deixa cicatrizes profundas e duradouras | Acolher a vítima; atenção ao dano psicoemocional |
Mt 5.27–28 | epithumia (ἐπιθυμία) | O desejo já inclui a transgressão | O campo do pecado é o coração; prevenção é ética do olhar | Trabalhar o interior: confissão, limites, espiritualidade |
Jo 8.2–11 | moicheia (μοιχεία) — peric. da adúltera | Misericórdia + chamada ao arrependimento | Justiça sem hipocrisia; graça que restaura | Evitar humilhação pública; oferecer caminho de arrependimento e cuidado |
1 Co 6:18; 1 Co 7 | porneia (πορνεία) | Imoralidade sexual destrói corpo/espírito | Corpo é templo do Espírito; a ética sexual é integral | Arrependimento, terapia, limites corporais (fugir da fornicação) |
Hb 13:4 / Ef 5:25–33 | berît / casamento-corporificação | Casamento como imagem da aliança | Fidelidade conjugal = imagem do amor de Cristo pela Igreja | Ensino de preceitos matrimoniais; pastoral de casais; renovação de pacto |
F. Considerações finais breves
- O adultério é mais que um ato: é sinal de infidelidade à aliança, tem efeitos espirituais, sociais e psicológicos profundos.
- A resposta bíblica é dupla: juízo moral (a ser reconhecido) e graça restauradora (oferecida por Cristo).
- A igreja tem papel central: proteger, julgar com justiça, oferecer cura e caminhos de restauração.
- Restauração exige evidência: perdão é possível, mas a confiança precisa ser gradualmente reconstruída através de arrependimento comprovado, transparência, terapia e acompanhamento comunitário.
1.2. O adultério afronta o Criador. O Apóstolo Paulo nos ensina que o corpo do cristão é o “Templo do Espírito Santo”; portanto, deve ser preservado para a glória de Deus (1Co 6.19). O apóstolo é claro e oferece um alerta sobre o assunto: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros (…) herdarão o Reino de Deus”, 1Co 6.10. Adulterar, portanto, é uma afronta grave a Deus, sendo um ato condenável tanto no AT quanto no NT (Êx 20.14; Dt 5.18; Rm 13.9; Gl 5.19). Para evitar o adultério, Jesus nos ensina a importância de guardarmos o coração, afirmando que: “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela”, Mt 5.28.
Revista Betel Dominical, 4° Trimestre de 2004, Lição 3: “A imoralidade desenfreada tem levado homens e mulheres à prática da perversão sexual: ‘E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro’ (Rm 1.27)”. O texto bíblico não detalha a “recompensa”. Outras versões usam o termo “castigo”, enfatizando, assim, o juízo divino contra a prática pecaminosa. A consequência pode alcançar não apenas a dimensão física, mas também a emocional ou espiritual.
1.3. O sexo foi criado por Deus. O plano de Deus para a sexualidade humana é proporcionar aos cônjuges estabilidade física e emocional (Ec 4.9-12). Quando os escribas e fariseus levaram a mulher pega em adultério a Jesus, eles justificaram aquela ação com um dos Mandamentos da Lei de Moisés: “Não adulterarás” (Ex 20.14; Dt 22.22). Quando Deus instituiu o casamento, ele assegura o relacionamento sexual entre o casal: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” Gn 2.24.
Arthur Holmes (2013, p.129): “Ο relacionamento sexual não está confinado a apenas duas pessoas. Envolve também Deus, Criador e Senhor de todos nós, que pelos propósitos que tinha em mente, fez-nos criaturas sexuais. (…) A união sexual e a reprodução fazem parte da criação e foram ordenadas por Deus desde o princípio, pela instituição do casamento. O sexo não pode ser retirado desse contexto e tratado de forma meramente biológica ou psicológica, como ocorre na sociedade contemporânea. Seu principal significado não deve ser encontrado em si mesmo, no ato, na experiência ou mesmo em suas consequências sociais. Como em qualquer coisa vista teisticamente, seu significado principal deve ser encontrado em relação a Deus e seus propósitos”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Adultério, corpo-templo e a ordem criacional do sexo
Breve síntese: o adultério é, biblicamente, uma violação da aliança — tanto conjugal quanto teológica — que fere o próximo, afronta o Criador e traz consequências pessoais e comunitárias profundas. A Escritura trata o ato em sua dimensão jurídica (AT), moral-ética (Jesus e os apóstolos) e pastoral (perdão + chamada ao arrependimento). Ao mesmo tempo, a Bíblia afirma que o sexo é dom bom e ordenado por Deus para o contexto conjugal (Gn 2.24; Ec 4.9–12; Ef 5), pelo que a real proteção da vida conjugal passa pela santidade do corpo (1Co 6.19) e pela vigilância do coração (Mt 5.27–28).
1. Análise lexical (hebraico e grego) — termos-chave
Hebraico (AT)
- נָאַף (nāʾaph) — “cometer adultério”. Uso jurídico e moral; descreve relação sexual ilícita envolvendo alguém casado com outrem (Dt 22.22; Lv 20.10).
- זָנָה (zanah) — “prostituir-se / fornicar”; também metáfora para apostasia religiosa (Israel “se prostitui” por idolatria). Mostra a ligação simbólica entre infidelidade sexual e espiritual.
- בְּרִית (berît) — “aliança/pacto”. Casamento é entendido como expressão humana/relacional do conceito de aliança.
Grego (NT)
- μοιχεία / μοιχεύω (moicheia, moicheuō) — “adultério / cometer adultério” (Mt 5:27–28; Jo 8). Termo que denota violação da fidelidade conjugal.
- πορνεία (porneia) — categoria mais ampla de imoralidade sexual (1Co 6:9; Mt 15:19). Paulo frequentemente usa este termo para abarcar condutas sexuais ilícitas.
- ἐπιθυμέω / ἐπιθυμία (epithumeō / epithumia) — “desejar, cobiçar”. Em Mt 5:28 Jesus conecta o ato externo ao desejo interno: a pornografia do olhar/coração já contamina.
- σῶμα / ναός (sōma / naos) — em 1Co 6:19: “o corpo (σῶμα) é o templo (ναός) do Espírito Santo.” Linguagem forense-sacramental que liga corpo, ética sexual e santidade.
2. Exegese e articulação bíblica
- Antigo Testamento (lei e narrativa): Leis como Dt 22.22 / Lv 20.10 apresentam sanções severas porque o adultério era visto como ameaça à ordem familiar e comunitária. Narrativas (Davi/Bate-Sebá) mostram consequências políticas e pessoais, reforçando que o ato rompe a vida social e moral.
- Jesus (evangelhos): Ele reafirma a gravidade do pecado, mas desloca o foco da mera conformidade ritual para a intenção do coração (Mt 5:27–28). No episódio da mulher adúltera (Jo 8) ele recusa a justiça hipocritamente seletiva e oferece perdão condicionado ao arrependimento — “vai e não peques mais”.
- Paulo e a igreja (NT): Paulo trata o corpo como santuário do Espírito (1Co 6:19–20): a sexualidade fora do casamento profana esse templo. O apóstolo liga a ética sexual à identidade cristã (1Co 6:9–11) e enfatiza a necessidade de disciplina, arrependimento e transformação comunitária.
- Cristologia e soteriologia: A graça de Cristo perdoa a adultério, mas o perdão não elimina consequências naturais; restauração exige arrependimento visível, processo de cura e mudança de padrões.
3. Reflexão teológica
- O adultério como afronta a Deus: não apenas uma ofensa pessoal, mas uma ruptura contra a ordem criada. O casamento é imagem (τύπος) do pacto divino (Ef 5:22–33): trair o cônjuge é ferir aquela imagem.
- Corporeidade e presença do Espírito: se o corpo é naos do Espírito, a sexualidade é esfera teologicamente qualificada — não apenas biológica. Assim, a ética sexual cristã é ad maiorem Dei gloriam: guarda do corpo para Deus.
- Coração e ação: Jesus desloca o tribunal para a mente/afeto: prevenção (treinar o olhar, limpar o imaginário) é tão teológica quanto remediação (confissão e restauração).
- Graça e disciplina conjuntamente: a comunidade cristã tem a vocação de oferecer perdão, mas também de preservar testemunho, proteger vítimas e instituir disciplina restaurativa.
4. Referências acadêmicas cristãs (seleção comentada)
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians — leitura precisa de 1Co 6; aplicação sobre corpo como templo.
- D. A. Carson, Matthew — exegese sólida de Mt 5:27–28 e ética do coração.
- Raymond E. Brown / Craig S. Keener, comentários sobre Jo 8 (perícope da adúltera): tratam historicidade textual e coerência teológica do episódio.
- John Stott, Christian Ethics — princípios para sexualidade cristã: santidade, amor e fidelidade.
- N. T. Wright, sobre aliança e missão — útil para entender casamento como sinal do Reino.
- Arthur Holmes, citado por você, sobre significado teísta do sexo na ordem criacional (boa referência pastoral-teórica).
(Use essas obras como ponto de aprofundamento; todas oferecem desenvolvimento exegético, teológico e pastoral do tema.)
5. Aplicação pastoral e pessoal (orientações práticas)
Para indivíduos e casais
- Prevenção: limites concretos (filtros de mídias, horários, transparência com o cônjuge, prestação de contas com amigo/mentor), formação de caráter (oração, disciplina), aconselhamento pré-marital que trate sexualidade como vocação.
- Coração treinado: confessar e trabalhar desejos desordenados — disciplina do olhar (Mt 5), cultivo de intimidade conjugal saudável (tempo, cuidado, comunicação).
- Se houve queda: imediato acolhimento, confissão honesta, suspensão de segredos, buscar aconselhamento pastoral e terapia, plano de restauração com transparência e accountability, proteção da parte ferida.
- Decisões sobre permanência/ruptura: o perdão não exige automaticamente convivência; reconstruir confiança é processo longo; separar temporariamente pode ser sábio para proteger a parte ferida e o processo de arrependimento.
Para igrejas e líderes
- Proteção das vítimas: prioridade pastoral, apoio psicológico, medidas práticas (abrigo, medidas legais, orientação).
- Disciplina eclesiástica: investigação justa, convite ao arrependimento, disciplina progressiva e, quando necessário, exclusão pública com caminho de restauração.
- Educação contínua: seminários, grupos de casais, aconselhamento pré/marital, rede de mentoria.
- Cultura de graça + santidade: proclamar perdão em Cristo sem reduzir o caráter objetivamente pecaminoso do adultério; modelar restauração que transforma.
6. Tabela expositiva (uso em aula/sermão)
Texto-base
Termos chave
Ponto exegético
Implicação teológica
Ação pastoral imediata
Gn 2.24
דָּבַק (dābaq), בָּשָׂר אֶחָד
Casamento = “uma carne” (união corporal e relacional)
Sexo foi criado para o contexto conjugal; imagem da aliança
Ensino sobre propósito criacional do sexo; preparação ao matrimônio
Ex/Deut/Lv (Dt 22; Lv 20)
נָאַף (nāʾaph)
Lei penal: adultério = quebra de ordem social
Gravidade do pecado; proteção comunitária
Proteção das vítimas; investigação imparcial
Mt 5:27–28
ἐπιθυμία (epithumia)
O desejo já constitui adultério no coração
Ética do interior (preventiva)
Trabalho espiritual sobre o imaginário; práticas de autocontrole
Jo 8:1–11
μοιχεία (moicheia)
Jesus recusa linchamento; oferece perdão e chamada ao arrependimento
Justiça + misericórdia; restauração como objetivo
Evitar humilhações públicas; plano de restauração pastoral
1Co 6:18–20
σῶμα / ναός (sōma / naos)
Corpo = templo do Espírito → sexualidade qualificada teologicamente
Santidade corporal e sexual são expressão de adoração
Aconselhamento, prestação de contas, limites práticos
Ef 5:25–33
ἀγάπη / ἔκπληξις (amor conjugal)
Casamento tipifica amor de Cristo pela Igreja
Fidelidade conjugal = eco do amor redentor
Discipulado matrimonial; modelos de sacrificial love
7. Palavra final (pastoral)
A Igreja não deve enterrar o adultério sob retóricas fáceis: trata-se de pecado real, com vítimas reais e consequências reais. Mas tampouco pode ser tribunal de espetáculo. Cristo nos mostra o caminho: verdade + graça — chama ao arrependimento e oferece restauração. A fé cristã honra o Criador preservando a dignidade humana, formando corações e criando comunidades onde a fidelidade sexual é cultivada, a queda é confrontada e a cura é possível.
Adultério, corpo-templo e a ordem criacional do sexo
Breve síntese: o adultério é, biblicamente, uma violação da aliança — tanto conjugal quanto teológica — que fere o próximo, afronta o Criador e traz consequências pessoais e comunitárias profundas. A Escritura trata o ato em sua dimensão jurídica (AT), moral-ética (Jesus e os apóstolos) e pastoral (perdão + chamada ao arrependimento). Ao mesmo tempo, a Bíblia afirma que o sexo é dom bom e ordenado por Deus para o contexto conjugal (Gn 2.24; Ec 4.9–12; Ef 5), pelo que a real proteção da vida conjugal passa pela santidade do corpo (1Co 6.19) e pela vigilância do coração (Mt 5.27–28).
1. Análise lexical (hebraico e grego) — termos-chave
Hebraico (AT)
- נָאַף (nāʾaph) — “cometer adultério”. Uso jurídico e moral; descreve relação sexual ilícita envolvendo alguém casado com outrem (Dt 22.22; Lv 20.10).
- זָנָה (zanah) — “prostituir-se / fornicar”; também metáfora para apostasia religiosa (Israel “se prostitui” por idolatria). Mostra a ligação simbólica entre infidelidade sexual e espiritual.
- בְּרִית (berît) — “aliança/pacto”. Casamento é entendido como expressão humana/relacional do conceito de aliança.
Grego (NT)
- μοιχεία / μοιχεύω (moicheia, moicheuō) — “adultério / cometer adultério” (Mt 5:27–28; Jo 8). Termo que denota violação da fidelidade conjugal.
- πορνεία (porneia) — categoria mais ampla de imoralidade sexual (1Co 6:9; Mt 15:19). Paulo frequentemente usa este termo para abarcar condutas sexuais ilícitas.
- ἐπιθυμέω / ἐπιθυμία (epithumeō / epithumia) — “desejar, cobiçar”. Em Mt 5:28 Jesus conecta o ato externo ao desejo interno: a pornografia do olhar/coração já contamina.
- σῶμα / ναός (sōma / naos) — em 1Co 6:19: “o corpo (σῶμα) é o templo (ναός) do Espírito Santo.” Linguagem forense-sacramental que liga corpo, ética sexual e santidade.
2. Exegese e articulação bíblica
- Antigo Testamento (lei e narrativa): Leis como Dt 22.22 / Lv 20.10 apresentam sanções severas porque o adultério era visto como ameaça à ordem familiar e comunitária. Narrativas (Davi/Bate-Sebá) mostram consequências políticas e pessoais, reforçando que o ato rompe a vida social e moral.
- Jesus (evangelhos): Ele reafirma a gravidade do pecado, mas desloca o foco da mera conformidade ritual para a intenção do coração (Mt 5:27–28). No episódio da mulher adúltera (Jo 8) ele recusa a justiça hipocritamente seletiva e oferece perdão condicionado ao arrependimento — “vai e não peques mais”.
- Paulo e a igreja (NT): Paulo trata o corpo como santuário do Espírito (1Co 6:19–20): a sexualidade fora do casamento profana esse templo. O apóstolo liga a ética sexual à identidade cristã (1Co 6:9–11) e enfatiza a necessidade de disciplina, arrependimento e transformação comunitária.
- Cristologia e soteriologia: A graça de Cristo perdoa a adultério, mas o perdão não elimina consequências naturais; restauração exige arrependimento visível, processo de cura e mudança de padrões.
3. Reflexão teológica
- O adultério como afronta a Deus: não apenas uma ofensa pessoal, mas uma ruptura contra a ordem criada. O casamento é imagem (τύπος) do pacto divino (Ef 5:22–33): trair o cônjuge é ferir aquela imagem.
- Corporeidade e presença do Espírito: se o corpo é naos do Espírito, a sexualidade é esfera teologicamente qualificada — não apenas biológica. Assim, a ética sexual cristã é ad maiorem Dei gloriam: guarda do corpo para Deus.
- Coração e ação: Jesus desloca o tribunal para a mente/afeto: prevenção (treinar o olhar, limpar o imaginário) é tão teológica quanto remediação (confissão e restauração).
- Graça e disciplina conjuntamente: a comunidade cristã tem a vocação de oferecer perdão, mas também de preservar testemunho, proteger vítimas e instituir disciplina restaurativa.
4. Referências acadêmicas cristãs (seleção comentada)
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians — leitura precisa de 1Co 6; aplicação sobre corpo como templo.
- D. A. Carson, Matthew — exegese sólida de Mt 5:27–28 e ética do coração.
- Raymond E. Brown / Craig S. Keener, comentários sobre Jo 8 (perícope da adúltera): tratam historicidade textual e coerência teológica do episódio.
- John Stott, Christian Ethics — princípios para sexualidade cristã: santidade, amor e fidelidade.
- N. T. Wright, sobre aliança e missão — útil para entender casamento como sinal do Reino.
- Arthur Holmes, citado por você, sobre significado teísta do sexo na ordem criacional (boa referência pastoral-teórica).
(Use essas obras como ponto de aprofundamento; todas oferecem desenvolvimento exegético, teológico e pastoral do tema.)
5. Aplicação pastoral e pessoal (orientações práticas)
Para indivíduos e casais
- Prevenção: limites concretos (filtros de mídias, horários, transparência com o cônjuge, prestação de contas com amigo/mentor), formação de caráter (oração, disciplina), aconselhamento pré-marital que trate sexualidade como vocação.
- Coração treinado: confessar e trabalhar desejos desordenados — disciplina do olhar (Mt 5), cultivo de intimidade conjugal saudável (tempo, cuidado, comunicação).
- Se houve queda: imediato acolhimento, confissão honesta, suspensão de segredos, buscar aconselhamento pastoral e terapia, plano de restauração com transparência e accountability, proteção da parte ferida.
- Decisões sobre permanência/ruptura: o perdão não exige automaticamente convivência; reconstruir confiança é processo longo; separar temporariamente pode ser sábio para proteger a parte ferida e o processo de arrependimento.
Para igrejas e líderes
- Proteção das vítimas: prioridade pastoral, apoio psicológico, medidas práticas (abrigo, medidas legais, orientação).
- Disciplina eclesiástica: investigação justa, convite ao arrependimento, disciplina progressiva e, quando necessário, exclusão pública com caminho de restauração.
- Educação contínua: seminários, grupos de casais, aconselhamento pré/marital, rede de mentoria.
- Cultura de graça + santidade: proclamar perdão em Cristo sem reduzir o caráter objetivamente pecaminoso do adultério; modelar restauração que transforma.
6. Tabela expositiva (uso em aula/sermão)
Texto-base | Termos chave | Ponto exegético | Implicação teológica | Ação pastoral imediata |
Gn 2.24 | דָּבַק (dābaq), בָּשָׂר אֶחָד | Casamento = “uma carne” (união corporal e relacional) | Sexo foi criado para o contexto conjugal; imagem da aliança | Ensino sobre propósito criacional do sexo; preparação ao matrimônio |
Ex/Deut/Lv (Dt 22; Lv 20) | נָאַף (nāʾaph) | Lei penal: adultério = quebra de ordem social | Gravidade do pecado; proteção comunitária | Proteção das vítimas; investigação imparcial |
Mt 5:27–28 | ἐπιθυμία (epithumia) | O desejo já constitui adultério no coração | Ética do interior (preventiva) | Trabalho espiritual sobre o imaginário; práticas de autocontrole |
Jo 8:1–11 | μοιχεία (moicheia) | Jesus recusa linchamento; oferece perdão e chamada ao arrependimento | Justiça + misericórdia; restauração como objetivo | Evitar humilhações públicas; plano de restauração pastoral |
1Co 6:18–20 | σῶμα / ναός (sōma / naos) | Corpo = templo do Espírito → sexualidade qualificada teologicamente | Santidade corporal e sexual são expressão de adoração | Aconselhamento, prestação de contas, limites práticos |
Ef 5:25–33 | ἀγάπη / ἔκπληξις (amor conjugal) | Casamento tipifica amor de Cristo pela Igreja | Fidelidade conjugal = eco do amor redentor | Discipulado matrimonial; modelos de sacrificial love |
7. Palavra final (pastoral)
A Igreja não deve enterrar o adultério sob retóricas fáceis: trata-se de pecado real, com vítimas reais e consequências reais. Mas tampouco pode ser tribunal de espetáculo. Cristo nos mostra o caminho: verdade + graça — chama ao arrependimento e oferece restauração. A fé cristã honra o Criador preservando a dignidade humana, formando corações e criando comunidades onde a fidelidade sexual é cultivada, a queda é confrontada e a cura é possível.
EU ENSINEI QUE:
O plano de Deus para a sexualidade humana é proporcionar aos cônjuges estabilidade física e emocional.
2- Perdoador ou acusador?
O Filho de Deus foi questionado por escribas e fariseus sobre o destino de uma mulher flagrada em adultério (Jo 8.3). Infelizmente, Satanás continua usando esse mesmo artifício hoje, até dentro das igrejas, ocasionando divisões devido às suas acusações (Rm 16.17).
2.1. A malícia dos acusadores. Os escribas e fariseus, maldosamente, levaram a mulher flagrada em adultério ao Templo onde Jesus ensinava (Jo 8.2-4). Aqueles homens questionaram o Mestre sobre o que deveria ser feito com a adúltera, já que a Lei Mosaica previa a morte por apedrejamento nesses casos (Jo 8.5). Obviamente, existia maldade na pergunta. Pois a lei estabelecia que não apenas a mulher deveria ser morta mas, também, o homem (Lv 20.10). Queriam pressionar Jesus diante do povo que ali estava. Se Ele concordasse com o apedrejamento, poderia ser acusado de ir contra as autoridades romanas ao aplicar a punição com morte sem considerar o processo romano. Caso perdoasse a mulher, Jesus estaria indo contra a Lei de Moisés (Jo 8.5), isto é, a mesma Lei que afirmava ter vindo para cumprir, não para destruir (Mt 5.17).
Ralph Earle & Joseph Mayfield (2019, pp.81-82): “Jesus e muitas pessoas estavam sentadas enquanto Ele ensinava no Templo; no meio deles, estes pomposos personagens chegaram com uma criatura desprezível e a puseram no meio. A sua ação não tinha interesse de justiça, nem há fio de evidência de que tivesse nascido da compaixão. João deixa claro que o único objetivo dos escribas e fariseus que trouxeram a mulher era o de fazer Jesus cair em uma armadilha: ‘Isso diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar’ (Jo 8.6)”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1. Panorama rápido (o quadro da cena)
Em João 8:2–6 somos levados a uma cena programada: escribas e fariseus trazem a público uma mulher “pegada em flagrante” (ἐπʼ αὐτοφώρῳ) e colocam-na no meio da multidão onde Jesus ensinava. A pergunta deles é capciosa: querem que Jesus se coloque contra a lei mosaica (se ele perdoa) ou contra Roma (se ele autoriza a execução). João descreve o episódio como uma armadilha deliberada: não justiça, mas acusação programada. A cena é um excelente estudo sobre ética pública, religiosidade hipócrita, e o ministério de Jesus que reúne justiça e graça.
2. Análise léxica e exegética (grego e hebraico quando relevante)
2.1 Termos-chaves no grego (Jo 8.3–6)
- ἐπʼ αὐτοφώρῳ (ep’ autophōrō) — “em flagrante, com a mão no ato.” Termo técnico jurídico: indica ato testemunhado ou capturado, com valor probatório na lei. (Jo 8.4 uses: αὕτη γυνή ἐπ’ αὐτοφώρῳ ἔπιασθη μοιχευομένη.)
Importância: a expressão legitima a acusação na ótica popular — mas não resolve questões processuais (ex.: testemunhas, identificação do homem implicado). - μοιχευομένη / μοιχεία (moicheuomenē / moicheia) — “cometendo adultério / adultério.” Palavra técnica para infidelidade conjugal. No AT o termo hebraico correspondente é נָאַף (nāʾaph), que carrega tanto sentido sexual quanto implicação de quebra de aliança.
Importância: o pecado é grave; a comunidade histórica tinha sanções severas — mas a aplicação hoje precisa considerar justiça, proteção da vítima e processo justo. - πειράζοντες (peirazontes) — particípio presente de πειράζω (“tentar”, “provocar”, “armar um teste”); aqui traduzido corretamente por “tentando-o” (Jo 8.6: τοῦτο δὲ ἔλεγαν πειράζοντες αὐτόν, ἵνα ἔχωσιν κατηγορήσασθαι αὐτοῦ).
Nuance: o verbo indica ação maliciosa: não é busca honesta de justiça, mas teste com objetivo acusatório. - ἔχωσιν κατηγορήσασθαι αὐτοῦ — “que tivessem com que acusá-lo”. κατηγορέω / κατήγορος são termos forenses (veredito, acusador). O propósito é montar uma acusação contra Jesus, não proteger a mulher ou cumprir a lei.
2.2 Elo com o AT e o procedimento legal
- As leis citadas pelos acusadores (Dt 22.22; Lv 20.10) realmente falavam de pena severa; porém:
- (a) o homem também deveria ser responsabilizado — por que ele não foi trazido?
- (b) a lei requer testemunhas qualificadas (Dt 19.15) — o cenário público e a ausência de testemunhas masculinas confiáveis levantam suspeita de irregularidade processual.
Jesus expõe, portanto, a hipocrisia processual — mais preocupação em condenar do que em aplicar justiça.
3. Teologia do incidente: perdão, justiça e a acusação cósmica
- Jesus e a Lei: Ele não repele a Lei de Moisés (Mt 5.17), mas demonstra sua aplicação correta. Ao não se deixar enredar na armadilha, Jesus protege a integridade do procedimento legal e expõe o pecado oculto dos acusadores.
- Perdão condicionado ao arrependimento: a famosa linha “Nem eu te condeno; vai, e não peques mais” (Jo 8.11) combina perdão e chamada à conversão — graça que não relativiza o pecado, mas oferece restauração.
- A acusação como estratégia satânica: nas Escrituras o inimigo é chamado de “o acusador” (πρῶτος ὁ κατήγωρ — ver Ap 12.10). Paulo e os apóstolos também advertem contra divisões e difamações que vêm do mal-ajustamento humano (Rm 16.17 chama a atenção para aqueles que causam escândalo/divisões). O episódio mostra como a religiosidade formal pode ser instrumento de acusação em vez de instrumento de cura.
4. Referências acadêmicas cristãs (para estudo mais profundo)
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John — análise do episódio da adúltera (história textual e teológica).
- D. A. Carson, The Gospel According to John (PNTC) — comentário teológico e exegético.
- Craig S. Keener, The Gospel of John — contexto histórico e judaico-palestiniano.
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT) — atenção às implicações teológicas e à narrativa joanina.
- Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the Greek NT — para questões de autenticidade textual da perícopa (se for necessário abordar).
(essas obras ajudam a montar aulas/sermões com suporte crítico)
5. Aplicação pastoral e prática — linhas de ação (evitar transformar a igreja em tribunal)
Princípios para evitar a “cultura do acusador” nas igrejas
- Priorizar a proteção das vítimas (isto é, quem foi ferido pela falta de fidelidade). Segurança emocional e, se necessário, física, vem antes de qualquer processo interno.
- Recusar armadilhas e espetáculo: não expor pessoas publicamente sem procedimento cuidadoso; não viralizar “intervenções” nas redes sociais.
- Garantir processo justo: investigar com testemunhas idôneas, respeitar confidencialidade, envolver liderança plural e, quando necessário, auxílio profissional/ legal.
- Combinar justiça com misericórdia: disciplina eclesiástica quando necessária; oferta de restauração e acompanhamento para quem se arrepende.
- Treinar o povo: ensinar sobre a diferença entre responsabilidade e linchamento moral; orientar sobre o que fazer diante de rumores.
- Criar estruturas de accountability (mentoria, prestação de contas, casais que apoiem casais) para prevenção de quedas e exposição imprudente.
Recomendações práticas para líderes
- Ao receber uma acusação: ouvir devagar, documentar, proteger a parte vulnerável, suspender exposição pública, encaminhar para comitê de investigação seguro, envolver aconselhamento profissional quando houver crimes.
- Evitar julgamentos sumários; não publicar nomes ou detalhes antes da apuração.
- Proclamar simultaneamente que pecado existe e que perdão é oferecido — e que perdão requer arrependimento verificável.
6. Tabela expositiva (resumida) — para slides/ficha de estudo
Texto/Verso
Termo grego (translit.)
Nuance / sentido
Implicação teológica
Aplicação pastoral
Jo 8:4
ἐπʼ αὐτοφώρῳ (epʼ autophōrō)
‘em flagrante’ — termo jurídico
A acusação parece legítima aos olhos do povo, mas não resolve questões processuais
Exigir investigação completa; não julgar pelo clamor público
Jo 8:5
μοιχευομένη / μοιχεία (moicheuomenē / moicheia)
adultério (violação da aliança)
Pecado grave; quebra da aliança conjugal (imagem da aliança divina)
Repreensão do pecado + oferta de restauração
Jo 8:6
πειράζοντες (peirazontes)
tentando / armando teste com objetivo de acusar
Mostra a malícia e hipocrisia religiosa; exposição da motivação oculta
Cuidar de motivações ao agir; evitar espetáculos
Jo 8:6
ἔχωσιν κατηγορήσασθαι (echōsin katēgorēsasthai)
“que tenham de que acusá-lo” (acusar Jesus)
A acusação serve interesses políticos/religiosos mais que justiça
Resistir à instrumentalização do caso por grupos
Ap 12:10 (paralelo)
ὁ κατήγωρ τῶν ἀδελφῶν
o “acusador” cósmico
Há uma dimensão espiritual: acusações dividem, condenam
Combater acusações com testemunho comunitário, oração e verdade
Rm 16:17 (paralelo)
—
advertência contra causadores de divisão
Cuidado com quem cria dissensão sob capa de justiça
Proteção da unidade sem encobrir pecado; disciplina responsável
7. Breve conclusão prática
A pergunta “Perdoador ou acusador?” é uma questão que toda comunidade cristã deve enfrentar rotineiramente. Jesus nos mostra o caminho: desmascarar a hipocrisia, proteger os vulneráveis, aplicar a justiça com integridade processual e, ao mesmo tempo, oferecer a graça que chama ao arrependimento. Na prática: treine seu povo para não ser instrumento de Satanás (o acusador), tenha procedimentos claros para denúncias e acompanhe sempre com oração, aconselhamento e práticas restaurativas.
1. Panorama rápido (o quadro da cena)
Em João 8:2–6 somos levados a uma cena programada: escribas e fariseus trazem a público uma mulher “pegada em flagrante” (ἐπʼ αὐτοφώρῳ) e colocam-na no meio da multidão onde Jesus ensinava. A pergunta deles é capciosa: querem que Jesus se coloque contra a lei mosaica (se ele perdoa) ou contra Roma (se ele autoriza a execução). João descreve o episódio como uma armadilha deliberada: não justiça, mas acusação programada. A cena é um excelente estudo sobre ética pública, religiosidade hipócrita, e o ministério de Jesus que reúne justiça e graça.
2. Análise léxica e exegética (grego e hebraico quando relevante)
2.1 Termos-chaves no grego (Jo 8.3–6)
- ἐπʼ αὐτοφώρῳ (ep’ autophōrō) — “em flagrante, com a mão no ato.” Termo técnico jurídico: indica ato testemunhado ou capturado, com valor probatório na lei. (Jo 8.4 uses: αὕτη γυνή ἐπ’ αὐτοφώρῳ ἔπιασθη μοιχευομένη.)
Importância: a expressão legitima a acusação na ótica popular — mas não resolve questões processuais (ex.: testemunhas, identificação do homem implicado). - μοιχευομένη / μοιχεία (moicheuomenē / moicheia) — “cometendo adultério / adultério.” Palavra técnica para infidelidade conjugal. No AT o termo hebraico correspondente é נָאַף (nāʾaph), que carrega tanto sentido sexual quanto implicação de quebra de aliança.
Importância: o pecado é grave; a comunidade histórica tinha sanções severas — mas a aplicação hoje precisa considerar justiça, proteção da vítima e processo justo. - πειράζοντες (peirazontes) — particípio presente de πειράζω (“tentar”, “provocar”, “armar um teste”); aqui traduzido corretamente por “tentando-o” (Jo 8.6: τοῦτο δὲ ἔλεγαν πειράζοντες αὐτόν, ἵνα ἔχωσιν κατηγορήσασθαι αὐτοῦ).
Nuance: o verbo indica ação maliciosa: não é busca honesta de justiça, mas teste com objetivo acusatório. - ἔχωσιν κατηγορήσασθαι αὐτοῦ — “que tivessem com que acusá-lo”. κατηγορέω / κατήγορος são termos forenses (veredito, acusador). O propósito é montar uma acusação contra Jesus, não proteger a mulher ou cumprir a lei.
2.2 Elo com o AT e o procedimento legal
- As leis citadas pelos acusadores (Dt 22.22; Lv 20.10) realmente falavam de pena severa; porém:
- (a) o homem também deveria ser responsabilizado — por que ele não foi trazido?
- (b) a lei requer testemunhas qualificadas (Dt 19.15) — o cenário público e a ausência de testemunhas masculinas confiáveis levantam suspeita de irregularidade processual.
Jesus expõe, portanto, a hipocrisia processual — mais preocupação em condenar do que em aplicar justiça.
3. Teologia do incidente: perdão, justiça e a acusação cósmica
- Jesus e a Lei: Ele não repele a Lei de Moisés (Mt 5.17), mas demonstra sua aplicação correta. Ao não se deixar enredar na armadilha, Jesus protege a integridade do procedimento legal e expõe o pecado oculto dos acusadores.
- Perdão condicionado ao arrependimento: a famosa linha “Nem eu te condeno; vai, e não peques mais” (Jo 8.11) combina perdão e chamada à conversão — graça que não relativiza o pecado, mas oferece restauração.
- A acusação como estratégia satânica: nas Escrituras o inimigo é chamado de “o acusador” (πρῶτος ὁ κατήγωρ — ver Ap 12.10). Paulo e os apóstolos também advertem contra divisões e difamações que vêm do mal-ajustamento humano (Rm 16.17 chama a atenção para aqueles que causam escândalo/divisões). O episódio mostra como a religiosidade formal pode ser instrumento de acusação em vez de instrumento de cura.
4. Referências acadêmicas cristãs (para estudo mais profundo)
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John — análise do episódio da adúltera (história textual e teológica).
- D. A. Carson, The Gospel According to John (PNTC) — comentário teológico e exegético.
- Craig S. Keener, The Gospel of John — contexto histórico e judaico-palestiniano.
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT) — atenção às implicações teológicas e à narrativa joanina.
- Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the Greek NT — para questões de autenticidade textual da perícopa (se for necessário abordar).
(essas obras ajudam a montar aulas/sermões com suporte crítico)
5. Aplicação pastoral e prática — linhas de ação (evitar transformar a igreja em tribunal)
Princípios para evitar a “cultura do acusador” nas igrejas
- Priorizar a proteção das vítimas (isto é, quem foi ferido pela falta de fidelidade). Segurança emocional e, se necessário, física, vem antes de qualquer processo interno.
- Recusar armadilhas e espetáculo: não expor pessoas publicamente sem procedimento cuidadoso; não viralizar “intervenções” nas redes sociais.
- Garantir processo justo: investigar com testemunhas idôneas, respeitar confidencialidade, envolver liderança plural e, quando necessário, auxílio profissional/ legal.
- Combinar justiça com misericórdia: disciplina eclesiástica quando necessária; oferta de restauração e acompanhamento para quem se arrepende.
- Treinar o povo: ensinar sobre a diferença entre responsabilidade e linchamento moral; orientar sobre o que fazer diante de rumores.
- Criar estruturas de accountability (mentoria, prestação de contas, casais que apoiem casais) para prevenção de quedas e exposição imprudente.
Recomendações práticas para líderes
- Ao receber uma acusação: ouvir devagar, documentar, proteger a parte vulnerável, suspender exposição pública, encaminhar para comitê de investigação seguro, envolver aconselhamento profissional quando houver crimes.
- Evitar julgamentos sumários; não publicar nomes ou detalhes antes da apuração.
- Proclamar simultaneamente que pecado existe e que perdão é oferecido — e que perdão requer arrependimento verificável.
6. Tabela expositiva (resumida) — para slides/ficha de estudo
Texto/Verso | Termo grego (translit.) | Nuance / sentido | Implicação teológica | Aplicação pastoral |
Jo 8:4 | ἐπʼ αὐτοφώρῳ (epʼ autophōrō) | ‘em flagrante’ — termo jurídico | A acusação parece legítima aos olhos do povo, mas não resolve questões processuais | Exigir investigação completa; não julgar pelo clamor público |
Jo 8:5 | μοιχευομένη / μοιχεία (moicheuomenē / moicheia) | adultério (violação da aliança) | Pecado grave; quebra da aliança conjugal (imagem da aliança divina) | Repreensão do pecado + oferta de restauração |
Jo 8:6 | πειράζοντες (peirazontes) | tentando / armando teste com objetivo de acusar | Mostra a malícia e hipocrisia religiosa; exposição da motivação oculta | Cuidar de motivações ao agir; evitar espetáculos |
Jo 8:6 | ἔχωσιν κατηγορήσασθαι (echōsin katēgorēsasthai) | “que tenham de que acusá-lo” (acusar Jesus) | A acusação serve interesses políticos/religiosos mais que justiça | Resistir à instrumentalização do caso por grupos |
Ap 12:10 (paralelo) | ὁ κατήγωρ τῶν ἀδελφῶν | o “acusador” cósmico | Há uma dimensão espiritual: acusações dividem, condenam | Combater acusações com testemunho comunitário, oração e verdade |
Rm 16:17 (paralelo) | — | advertência contra causadores de divisão | Cuidado com quem cria dissensão sob capa de justiça | Proteção da unidade sem encobrir pecado; disciplina responsável |
7. Breve conclusão prática
A pergunta “Perdoador ou acusador?” é uma questão que toda comunidade cristã deve enfrentar rotineiramente. Jesus nos mostra o caminho: desmascarar a hipocrisia, proteger os vulneráveis, aplicar a justiça com integridade processual e, ao mesmo tempo, oferecer a graça que chama ao arrependimento. Na prática: treine seu povo para não ser instrumento de Satanás (o acusador), tenha procedimentos claros para denúncias e acompanhe sempre com oração, aconselhamento e práticas restaurativas.
2.2. Jesus ignora os acusadores. Jesus sabia que, se tomasse alguma posição, isso poderia prejudicar Seu Ministério terreno. Então, de maneira inteligente, para que nem fosse acusado por seus inimigos perante Roma nem perante os sacerdotes, Ele disse: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”, Jo 8.7. No Livro do Apocalipse, João mostra que Satanás se ocupa com a prática de acusar os discípulos de Cristo: “(…) porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite”, Ap 12.10.
Bíblia de Estudo de Genebra (2009, p.1387): “O desafio de Jesus desqualificou os acusadores da posição de juízes, uma vez que eles não queriam cumprir a lei de Moisés, mas apenas procuravam apanhar Jesus numa cilada. Nesse processo, eles usaram essa mulher desonrada como um ardil para realizar o seu projeto maligno”.
2.3. O Advogado Fiel. Quando os acusadores chegaram com um problema a ser resolvido, Jesus os ignorou: Ele se inclinou e escrevia com o dedo na terra (Jo 8.6). Segundo João, eles interrogaram o Mestre com insistência sobre o que fazer com aquela adúltera. Podemos imaginar o pânico daquela mulher diante de seus acusadores, mas ela encontrou um excelente Advogado de defesa (Jo 8.7). Isso nos faz ver que, embora tenhamos um acusador (Ap 12.10), o nosso Advogado de defesa não perde nenhuma causa (1Jo 2.1).
O crente que se arrepende de seus pecados tem um Advogado junto a Deus (1 Jo 1.9; 2.2). João apresenta Jesus Cristo como nosso Advogado (1 Jo 2.1). O Filho de Deus exerceu esse ofício ao livrar a mulher adúltera da morte por apedrejamento (Jo.8.5). Somos justificados pela fé em Cristo e, livres da condenação, desfrutamos da paz com Deus como resultado da reconciliação operada por meio de Jesus (Rm 5.1; 8.33; 2Co 5.18).
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
“Jesus ignora os acusadores / o Advogado fiel”
(Texto-base: Jo 8.2–11; conexões: Ap 12.10; 1 Jo 2.1; Rm 8.33–34; Hb 7.25)
1. Pano de fundo e ideia central
A cena da mulher pega em adultério é um caso-modelo de como a religiosidade hipócrita pode transformar justiça em armadilha. Os escribas e fariseus queriam acusar Jesus; Ele, no entanto, desarma a cilada, protege a vítima e oferece perdão com um chamado ao arrependimento. Teologicamente, o episódio contrapõe duas figuras: o acusador (a ação satânica e religiosa que destrói) e o Advogado / Intercessor (Cristo, que defende, absolve e reorienta para a vida). O ponto teológico: onde Satanás procura dividir e condenar, Cristo sustenta, restaura e encaminha à santidade.
2. Exegese lexical (grego) — palavras-chave e nuances
- ἐπ’ αὐτοφώρῳ (ep’ autophōrō) — “em flagrante” (Jo 8.4). Termo jurídico: indica aparência de prova imediata. Mas prova aparente ≠ procedimento legal correto (faltam testemunhas, o homem, etc.).
- μοιχεύεσθαι / μοιχεία (moicheuesthai / moicheia) — “cometer adultério / adultério”. Denota o ato que viola a aliança conjugal; em hebraico correlato נָאַף (nāʾaph).
- πειράζοντες (peirazontes) — particípio de πειράζω (“tentar, pôr à prova”); aqui tem claro sentido de provocar com má intenção (Jo 8.6). A ação é deliberada, maliciosa.
- ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν (egraphen tō daktulō ei s tēn gēn) — “escrevia com o dedo na terra” (Jo 8.6). Gesto enigmático que retira o ímpeto acusatório e desloca o foco para a consciência dos homens; sugere ponderação, autoridade e rejeição da pressa inquisitorial.
- ὁ ἀναμάρτητος (ho anamartētos) — “aquele que não tem pecado” (Jo 8.7). Jesus não exige impecabilidade absoluta (teologicamente impossível), mas confronta a idoneidade moral dos acusadores: quem tem legitimidade para julgar?
- οὐδείς σε κατέκρινεν / οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω (oudeis se katekrinen / oude d’ egō se katakrínō) — “ninguém te condenou / nem eu te condeno” (Jo 8.10–11). κατακρίνω (katakrínō) é verbo forense (“condenar”). Jesus suspende o veredito e, ao mesmo tempo, exige mudança: μὴκέτι ἁμάρτανε (mēketi hamártane) — “de agora em diante não peques mais” (imperativo negativo: vida transformada).
- παράκλητος (paráklētos) em 1 Jo 2.1 — “Advogado / Consolador”. João aplica a Jesus o papel de defensor junto ao Pai; paralelo funcional com o gesto de defesa pública no episódio da mulher.
- κατήγωρ (katēgoros) em Ap 12.10 — “o acusador”. Carta-apocalíptica identifica Satanás como o acusador que nos processa perante Deus “dia e noite”; Jesus, porém, é o que remove a acusação através do seu oficio de propiciação/intercessão (ἱλαστήριον / μεσιτεία).
(Fontes críticas sobre léxico e textos: comentários de Brown, Carson, Keener e Köstenberger; notas textuais em Metzger; para aplicação paulina e hebraica ver Fee, Moo e comentários sobre Hebreus.)
3. Interpretação teológica integrada
- Jesus e a Lei — Ele não revoga a Lei; antes, demonstra sua aplicação correta. A armadilha dos acusadores revela inconsistência prática (por que o homem não foi trazido? onde estão as testemunhas?), e Jesus expõe essa hipocrisia.
- O contraste acusador × advogado — A Escritura usa uma imagem forense: Satanás é o katēgoros (acusador); Cristo é paráklētos (advogado/intercessor) e hilastḗrion (propiciação — Rm 3.25); em suas oficinas legais Deus aplica a misericórdia por meio do sacrifício e da intercessão de Cristo (2 Co 5:18–21; Rm 8:33–34; Hb 7:25).
- Graça não é anistia moral — Jesus perdoa a mulher, mas também lhe impõe uma obrigação ética: “não peques mais.” A absolvição cristã tem um lado restaurador e formativo: a graça liberta para a santidade.
- A igreja como lugar de justiça restaurativa — o padrão evangélico não é nem o linchamento público nem a permissividade, mas processo justo, cuidado com feridos e convite ao arrependimento com caminhos de restauração.
4. Aplicação pessoal e comunitária (prática pastoral)
Para o crente diante de acusações
- Não reagir com violência verbal; como Jesus, permitir que a situação seja examinada com calma.
- Buscar a verdade com mansidão (1 Pe 3.15; Mt 5.39).
- Confiar no Advogado: correr para Cristo em confissão (1 Jo 1.9) em vez de afundar na culpa ou no orgulho.
Para a comunidade/igreja
- Proteger os vulneráveis — a prioridade é o cuidado da pessoa ferida, não a satisfação da curiosidade pública.
- Processo justo — investigue com testemunhas, confidencialidade e colegialidade; evite julgamentos sumários e “tribunais públicos”.
- Combinar disciplina e restauração — disciplina progressiva pode ser necessária; sempre com objetivo de trazer o irmão de volta, quando possível.
- Prevenção — cultura de prestação de contas, mentores, limites práticos (mídia, horários, viagens a sós) e formação afetiva/sexual.
- Cuidado com o discurso — evitar viralização de escândalos; a exposição pública destrói, rebaixa e frequentemente se alinha ao “espírito do acusador”.
Passos práticos após uma acusação na igreja
- Isolar e proteger a pessoa em risco.
- Reunir liderança com procedimento escrito para apuração.
- Garantir acompanhamento pastoral e psicológico.
- Dar espaço para confissão, arrependimento e plano concreto de restauração (quando pertinente).
- Comunicar com prudência à comunidade (sem expor detalhes) e implementar medidas de prevenção.
5. Tabela expositiva
Passagem
Termo grego / hebraico
Nuance teológica
Implicação pastoral
Jo 8.4
ἐπ’ αὐτοφώρῳ (em flagrante)
Aparência de prova; pode mascarar irregularidade
Investigar com critério; não julgar pelo clamor público
Jo 8.6
πειράζοντες (testando/armando)
A motivação dos acusadores: cilada
Desconfiar de motivações; proteger a vítima
Jo 8.6
ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν
Gesto deliberativo de Jesus (silêncio criativo)
Pausar para pensar; desarmar conflitos com sabedoria
Jo 8.7
ὁ ἀναμάρτητος (sem pecado)
Exige idoneidade moral do julgador
Autocritério antes de acusar; humildade exigida
Jo 8.10–11
οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω / μὴκέτι ἁμάρτανε
Perdoa + convoca à mudança (graça formativa)
Perda de pena pública; exigência de arrependimento e mudança
1 Jo 2.1
παράκλητος (Advogado)
Jesus é defensor junto ao Pai
Buscar defesa em Cristo; intercessão e perdão disponíveis
Ap 12.10
ὁ κατήγωρ (acusador)
Satanás como acusador incansável
Resistir à acusação com testemunho/oração; conhecer o evangelho
6. Leituras recomendadas (breve lista)
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John.
- D. A. Carson, The Gospel According to John (PNTC).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the GNT (nota sobre a perícopa).
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (para 1 Co 6 / corpo-templo).
- N. T. Wright, ensaios sobre justiça, acusação e perdão (vários textos).
7. Conclusão curta
Jesus nos ensina uma tríade prática: saber calar com sabedoria, desarmar a acusação com a exposição da própria consciência, e oferecer o perdão que exige transformação. Na tensão entre acusador e advogado, Cristo é nosso advogado fiel: Ele confronta o pecado, sustenta o culpado arrependido e reconstrói vidas — mas não sem chamar a abandonar o pecado. A igreja, chamada a seguir esse padrão, deve combinar justiça correta, proteção das vítimas e a graça que restaura.
“Jesus ignora os acusadores / o Advogado fiel”
(Texto-base: Jo 8.2–11; conexões: Ap 12.10; 1 Jo 2.1; Rm 8.33–34; Hb 7.25)
1. Pano de fundo e ideia central
A cena da mulher pega em adultério é um caso-modelo de como a religiosidade hipócrita pode transformar justiça em armadilha. Os escribas e fariseus queriam acusar Jesus; Ele, no entanto, desarma a cilada, protege a vítima e oferece perdão com um chamado ao arrependimento. Teologicamente, o episódio contrapõe duas figuras: o acusador (a ação satânica e religiosa que destrói) e o Advogado / Intercessor (Cristo, que defende, absolve e reorienta para a vida). O ponto teológico: onde Satanás procura dividir e condenar, Cristo sustenta, restaura e encaminha à santidade.
2. Exegese lexical (grego) — palavras-chave e nuances
- ἐπ’ αὐτοφώρῳ (ep’ autophōrō) — “em flagrante” (Jo 8.4). Termo jurídico: indica aparência de prova imediata. Mas prova aparente ≠ procedimento legal correto (faltam testemunhas, o homem, etc.).
- μοιχεύεσθαι / μοιχεία (moicheuesthai / moicheia) — “cometer adultério / adultério”. Denota o ato que viola a aliança conjugal; em hebraico correlato נָאַף (nāʾaph).
- πειράζοντες (peirazontes) — particípio de πειράζω (“tentar, pôr à prova”); aqui tem claro sentido de provocar com má intenção (Jo 8.6). A ação é deliberada, maliciosa.
- ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν (egraphen tō daktulō ei s tēn gēn) — “escrevia com o dedo na terra” (Jo 8.6). Gesto enigmático que retira o ímpeto acusatório e desloca o foco para a consciência dos homens; sugere ponderação, autoridade e rejeição da pressa inquisitorial.
- ὁ ἀναμάρτητος (ho anamartētos) — “aquele que não tem pecado” (Jo 8.7). Jesus não exige impecabilidade absoluta (teologicamente impossível), mas confronta a idoneidade moral dos acusadores: quem tem legitimidade para julgar?
- οὐδείς σε κατέκρινεν / οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω (oudeis se katekrinen / oude d’ egō se katakrínō) — “ninguém te condenou / nem eu te condeno” (Jo 8.10–11). κατακρίνω (katakrínō) é verbo forense (“condenar”). Jesus suspende o veredito e, ao mesmo tempo, exige mudança: μὴκέτι ἁμάρτανε (mēketi hamártane) — “de agora em diante não peques mais” (imperativo negativo: vida transformada).
- παράκλητος (paráklētos) em 1 Jo 2.1 — “Advogado / Consolador”. João aplica a Jesus o papel de defensor junto ao Pai; paralelo funcional com o gesto de defesa pública no episódio da mulher.
- κατήγωρ (katēgoros) em Ap 12.10 — “o acusador”. Carta-apocalíptica identifica Satanás como o acusador que nos processa perante Deus “dia e noite”; Jesus, porém, é o que remove a acusação através do seu oficio de propiciação/intercessão (ἱλαστήριον / μεσιτεία).
(Fontes críticas sobre léxico e textos: comentários de Brown, Carson, Keener e Köstenberger; notas textuais em Metzger; para aplicação paulina e hebraica ver Fee, Moo e comentários sobre Hebreus.)
3. Interpretação teológica integrada
- Jesus e a Lei — Ele não revoga a Lei; antes, demonstra sua aplicação correta. A armadilha dos acusadores revela inconsistência prática (por que o homem não foi trazido? onde estão as testemunhas?), e Jesus expõe essa hipocrisia.
- O contraste acusador × advogado — A Escritura usa uma imagem forense: Satanás é o katēgoros (acusador); Cristo é paráklētos (advogado/intercessor) e hilastḗrion (propiciação — Rm 3.25); em suas oficinas legais Deus aplica a misericórdia por meio do sacrifício e da intercessão de Cristo (2 Co 5:18–21; Rm 8:33–34; Hb 7:25).
- Graça não é anistia moral — Jesus perdoa a mulher, mas também lhe impõe uma obrigação ética: “não peques mais.” A absolvição cristã tem um lado restaurador e formativo: a graça liberta para a santidade.
- A igreja como lugar de justiça restaurativa — o padrão evangélico não é nem o linchamento público nem a permissividade, mas processo justo, cuidado com feridos e convite ao arrependimento com caminhos de restauração.
4. Aplicação pessoal e comunitária (prática pastoral)
Para o crente diante de acusações
- Não reagir com violência verbal; como Jesus, permitir que a situação seja examinada com calma.
- Buscar a verdade com mansidão (1 Pe 3.15; Mt 5.39).
- Confiar no Advogado: correr para Cristo em confissão (1 Jo 1.9) em vez de afundar na culpa ou no orgulho.
Para a comunidade/igreja
- Proteger os vulneráveis — a prioridade é o cuidado da pessoa ferida, não a satisfação da curiosidade pública.
- Processo justo — investigue com testemunhas, confidencialidade e colegialidade; evite julgamentos sumários e “tribunais públicos”.
- Combinar disciplina e restauração — disciplina progressiva pode ser necessária; sempre com objetivo de trazer o irmão de volta, quando possível.
- Prevenção — cultura de prestação de contas, mentores, limites práticos (mídia, horários, viagens a sós) e formação afetiva/sexual.
- Cuidado com o discurso — evitar viralização de escândalos; a exposição pública destrói, rebaixa e frequentemente se alinha ao “espírito do acusador”.
Passos práticos após uma acusação na igreja
- Isolar e proteger a pessoa em risco.
- Reunir liderança com procedimento escrito para apuração.
- Garantir acompanhamento pastoral e psicológico.
- Dar espaço para confissão, arrependimento e plano concreto de restauração (quando pertinente).
- Comunicar com prudência à comunidade (sem expor detalhes) e implementar medidas de prevenção.
5. Tabela expositiva
Passagem | Termo grego / hebraico | Nuance teológica | Implicação pastoral |
Jo 8.4 | ἐπ’ αὐτοφώρῳ (em flagrante) | Aparência de prova; pode mascarar irregularidade | Investigar com critério; não julgar pelo clamor público |
Jo 8.6 | πειράζοντες (testando/armando) | A motivação dos acusadores: cilada | Desconfiar de motivações; proteger a vítima |
Jo 8.6 | ἔγραφεν τῷ δακτύλῳ εἰς τὴν γῆν | Gesto deliberativo de Jesus (silêncio criativo) | Pausar para pensar; desarmar conflitos com sabedoria |
Jo 8.7 | ὁ ἀναμάρτητος (sem pecado) | Exige idoneidade moral do julgador | Autocritério antes de acusar; humildade exigida |
Jo 8.10–11 | οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω / μὴκέτι ἁμάρτανε | Perdoa + convoca à mudança (graça formativa) | Perda de pena pública; exigência de arrependimento e mudança |
1 Jo 2.1 | παράκλητος (Advogado) | Jesus é defensor junto ao Pai | Buscar defesa em Cristo; intercessão e perdão disponíveis |
Ap 12.10 | ὁ κατήγωρ (acusador) | Satanás como acusador incansável | Resistir à acusação com testemunho/oração; conhecer o evangelho |
6. Leituras recomendadas (breve lista)
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John.
- D. A. Carson, The Gospel According to John (PNTC).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Andreas J. Köstenberger, John (BECNT).
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the GNT (nota sobre a perícopa).
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (para 1 Co 6 / corpo-templo).
- N. T. Wright, ensaios sobre justiça, acusação e perdão (vários textos).
7. Conclusão curta
Jesus nos ensina uma tríade prática: saber calar com sabedoria, desarmar a acusação com a exposição da própria consciência, e oferecer o perdão que exige transformação. Na tensão entre acusador e advogado, Cristo é nosso advogado fiel: Ele confronta o pecado, sustenta o culpado arrependido e reconstrói vidas — mas não sem chamar a abandonar o pecado. A igreja, chamada a seguir esse padrão, deve combinar justiça correta, proteção das vítimas e a graça que restaura.
EU ENSINEI QUE:
Podemos imaginar o pânico da mulher diante de seus acusadores, mas ela encontrou um excelente Advogado de defesa.
3- Jesus nos ensina a perdoar
Na passagem da mulher adúltera, Jesus não somente salvou a vida dela, mas também ensinou aos Seus discípulos sobre o perdão. Além disso, Ele orientou a mulher a não mais pecar (Jo 8.11). Isso nos mostra a relevância do perdão no processo do discipulado (Mt 6.14,15).
3.1. Perdão, uma expressão de amor. A Palavra de Deus nos convida a refletir sobre o valor do perdão do Filho de Deus (Jo 8.11). Quando os acusadores foram embora, Jesus perguntou: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?”, Jo 8.11. A mulher, ainda insegura pelo risco de morte, respondeu: “Ninguém, Senhor!”, Jo 8.12. Essa passagem mostra o perdão do Senhor aos aflitos, e sem descumprir a Lei. Jesus deixa claro que perdoar não é uma atitude de fraqueza, mas uma demonstração de amor pelo próximo.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal (2021, p.536): “Ficaram só Jesus e a mulher, que estava no meio. Aparentemente ninguém pôde afirmar não ter pecado para apedrejar a mulher. Jesus tinha exposto a hipocrisia deles e os constrangido, e não houve nada que eles pudessem fazer a não ser voltar e pensar em alguma outra maneira astuta de surpreender Jesus. Ninguém tinha acusado a mulher, e Jesus gentilmente disse que Ele também não iria condená-la. Mas havia mais ela não estava simplesmente livre para seguir o seu caminho. Jesus não só a libertou dos fariseus, Ele queria libertá-la do pecado; portanto, o Senhor acrescentou: Vai-te e não pequeis mais”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
3. Jesus nos ensina a perdoar (Jo 8.11)
Comentário bíblico-teológico
Contexto e legalidade. A perícope (Jo 7.53–8.11) situa Jesus no pátio do Templo diante de escribas e fariseus que trazem “uma mulher surpreendida em adultério” (cf. Dt 22.22-24). A cena é uma armadilha jurídica: a Lei exigia testemunhas para condenação (Dt 17.6; 19.15). Quando os acusadores se retiram, o caso legal colapsa: não há testemunhas remanescentes, logo não há base para execução. Assim, quando Jesus diz: “Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω” — “Eu também não te condeno” — (Jo 8.11), Ele não “passa por cima” da Lei; Ele a cumpre e expõe a hipocrisia (cf. Jo 7.24; Tg 2.13).
“Não te condeno” e “não peques mais”. O diálogo final sustenta dois polos inseparáveis do Evangelho:
- “Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω” (oude egō se katakrinō, “eu também não te condeno”): katakrínō = “condenar, pronunciar sentença” (forense). É linguagem de tribunal (cf. Rm 8.1: “nenhuma condenação”). Jesus suspende a condenação não por relativismo, mas porque graça e verdade (ἔλεος/חֶסֶד e ἀλήθεια; cf. Jo 1.14; Êx 34.6) se encontram n’Ele.
- “Πορεύου· ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε” (Póreou; apò tou nyn mēkéti hamártane, “vai-te; de agora em diante não peques mais”): o imperativo presente negativo (mēkéti hamártane) carrega nuance de cessar um curso contínuo — “não continues a pecar”. Perdão não é licença, é chamado à transformação (cf. Jo 5.14; Tt 2.11-12).
Perdão no discipulado. O ensino converge com Mt 6.14-15; 18.21-35; Lc 7.36-50; Ef 4.32; Cl 3.13: quem recebe misericórdia torna-se agente de misericórdia. O discipulado cristão amadurece na tensão entre acolhimento (não condenar precipitadamente) e santidade (chamado ao arrependimento real, μετανοία).
Nota textual breve. Muitos manuscritos antigos não contêm Jo 7.53–8.11. A maioria dos estudiosos reconhece ser tradição antiga e verossímil do ministério de Jesus, preservada pela Igreja e teologicamente coerente com os Evangelhos (Metzger; Carson; Köstenberger; Keener). A igreja a tem recebido e pregado pastoralmente com proveito.
Análise de palavras-chave (grego)
- κατακρίνω (katakrínō, “condenar”, Jo 8.11): veredicto judicial. Em Jesus, a condenação dá lugar à oferta de vida (Jo 3.17; Rm 8.1).
- ἁμαρτάνω (hamartánō, “pecar”, Jo 8.11): errar o alvo. O imperativo presente negativo (μηκέτι ἁμάρτανε) = “não persistas em pecar”.
- ἀπὸ τοῦ νῦν (apò tou nyn, “de agora em diante”): inaugura novo começo — graça que redefine o futuro.
- ἔλεος (éleos, “misericórdia”) / חֶסֶד (ḥéṣed, fidelidade amorosa): pano de fundo bíblico do agir de Deus (Êx 34.6; Os 6.6; Mt 9.13) que Jesus corporifica.
Referências acadêmicas cristãs (sugestões)
- D. A. Carson, The Gospel According to John (Eerdmans/Shedd).
- Craig S. Keener, The Gospel of John (2 vols., Hendrickson).
- Andreas J. Köstenberger, John (Baker Exegetical).
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament (UBS).
- F. F. Bruce, The Hard Sayings of Jesus; The Gospel of John (Eerdmans).
- John Stott, O Cristão Contemporâneo (cap. sobre graça e verdade).
Aplicação pessoal
- Largue as pedras: antes de condenar, examine-se (Mt 7.1-5). Graça desarma a mão e cura o coração.
- Acolha e acompanhe: perdão abre porta para caminhada de restauração (Gl 6.1). Não é “tudo bem”, é “vamos caminhar para a luz”.
- Viva o “de agora em diante”: receba de Cristo a possibilidade real de novo começo — hábitos mudam quando a graça reina (Rm 6.14).
Tabela expositiva — Jo 8.9-11
Elemento do texto
Termo/expressão (grego)
Sentido
Doutrina/Teologia
Aplicação
Saída dos acusadores
—
Colapso do caso legal (sem testemunhas)
Justiça sem parcialidade
Evite juízos apressados e parciais
“Ninguém te condenou?”
Οὐδεὶς σε κατέκρινεν;
Verificar base de condenação
Deus julga com verdade
Antes de julgar, busque fatos e coração
“Eu também não te condeno”
Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω
Suspensão de veredicto
Graça antecipa juízo final (Jo 3.17)
Estenda misericórdia a quem caiu
“Vai”
Πορεύου
Liberação para novo caminho
Conversão como jornada
Caminhe em comunidade e prestação de contas
“De agora em diante não peques mais”
ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε
Romper com prática contínua
Santificação prática
Estabeleça passos concretos de mudança
Síntese
Jesus une misericórdia que absolve e verdade que transforma. O perdão cristão jamais banaliza o pecado; ele vence o pecado ao abrir um novo futuro em santidade.
3. Jesus nos ensina a perdoar (Jo 8.11)
Comentário bíblico-teológico
Contexto e legalidade. A perícope (Jo 7.53–8.11) situa Jesus no pátio do Templo diante de escribas e fariseus que trazem “uma mulher surpreendida em adultério” (cf. Dt 22.22-24). A cena é uma armadilha jurídica: a Lei exigia testemunhas para condenação (Dt 17.6; 19.15). Quando os acusadores se retiram, o caso legal colapsa: não há testemunhas remanescentes, logo não há base para execução. Assim, quando Jesus diz: “Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω” — “Eu também não te condeno” — (Jo 8.11), Ele não “passa por cima” da Lei; Ele a cumpre e expõe a hipocrisia (cf. Jo 7.24; Tg 2.13).
“Não te condeno” e “não peques mais”. O diálogo final sustenta dois polos inseparáveis do Evangelho:
- “Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω” (oude egō se katakrinō, “eu também não te condeno”): katakrínō = “condenar, pronunciar sentença” (forense). É linguagem de tribunal (cf. Rm 8.1: “nenhuma condenação”). Jesus suspende a condenação não por relativismo, mas porque graça e verdade (ἔλεος/חֶסֶד e ἀλήθεια; cf. Jo 1.14; Êx 34.6) se encontram n’Ele.
- “Πορεύου· ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε” (Póreou; apò tou nyn mēkéti hamártane, “vai-te; de agora em diante não peques mais”): o imperativo presente negativo (mēkéti hamártane) carrega nuance de cessar um curso contínuo — “não continues a pecar”. Perdão não é licença, é chamado à transformação (cf. Jo 5.14; Tt 2.11-12).
Perdão no discipulado. O ensino converge com Mt 6.14-15; 18.21-35; Lc 7.36-50; Ef 4.32; Cl 3.13: quem recebe misericórdia torna-se agente de misericórdia. O discipulado cristão amadurece na tensão entre acolhimento (não condenar precipitadamente) e santidade (chamado ao arrependimento real, μετανοία).
Nota textual breve. Muitos manuscritos antigos não contêm Jo 7.53–8.11. A maioria dos estudiosos reconhece ser tradição antiga e verossímil do ministério de Jesus, preservada pela Igreja e teologicamente coerente com os Evangelhos (Metzger; Carson; Köstenberger; Keener). A igreja a tem recebido e pregado pastoralmente com proveito.
Análise de palavras-chave (grego)
- κατακρίνω (katakrínō, “condenar”, Jo 8.11): veredicto judicial. Em Jesus, a condenação dá lugar à oferta de vida (Jo 3.17; Rm 8.1).
- ἁμαρτάνω (hamartánō, “pecar”, Jo 8.11): errar o alvo. O imperativo presente negativo (μηκέτι ἁμάρτανε) = “não persistas em pecar”.
- ἀπὸ τοῦ νῦν (apò tou nyn, “de agora em diante”): inaugura novo começo — graça que redefine o futuro.
- ἔλεος (éleos, “misericórdia”) / חֶסֶד (ḥéṣed, fidelidade amorosa): pano de fundo bíblico do agir de Deus (Êx 34.6; Os 6.6; Mt 9.13) que Jesus corporifica.
Referências acadêmicas cristãs (sugestões)
- D. A. Carson, The Gospel According to John (Eerdmans/Shedd).
- Craig S. Keener, The Gospel of John (2 vols., Hendrickson).
- Andreas J. Köstenberger, John (Baker Exegetical).
- Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament (UBS).
- F. F. Bruce, The Hard Sayings of Jesus; The Gospel of John (Eerdmans).
- John Stott, O Cristão Contemporâneo (cap. sobre graça e verdade).
Aplicação pessoal
- Largue as pedras: antes de condenar, examine-se (Mt 7.1-5). Graça desarma a mão e cura o coração.
- Acolha e acompanhe: perdão abre porta para caminhada de restauração (Gl 6.1). Não é “tudo bem”, é “vamos caminhar para a luz”.
- Viva o “de agora em diante”: receba de Cristo a possibilidade real de novo começo — hábitos mudam quando a graça reina (Rm 6.14).
Tabela expositiva — Jo 8.9-11
Elemento do texto | Termo/expressão (grego) | Sentido | Doutrina/Teologia | Aplicação |
Saída dos acusadores | — | Colapso do caso legal (sem testemunhas) | Justiça sem parcialidade | Evite juízos apressados e parciais |
“Ninguém te condenou?” | Οὐδεὶς σε κατέκρινεν; | Verificar base de condenação | Deus julga com verdade | Antes de julgar, busque fatos e coração |
“Eu também não te condeno” | Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω | Suspensão de veredicto | Graça antecipa juízo final (Jo 3.17) | Estenda misericórdia a quem caiu |
“Vai” | Πορεύου | Liberação para novo caminho | Conversão como jornada | Caminhe em comunidade e prestação de contas |
“De agora em diante não peques mais” | ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε | Romper com prática contínua | Santificação prática | Estabeleça passos concretos de mudança |
Síntese
Jesus une misericórdia que absolve e verdade que transforma. O perdão cristão jamais banaliza o pecado; ele vence o pecado ao abrir um novo futuro em santidade.
3.2. Perdoados e perdoando. Na passagem descrita no Evangelho de João, Jesus exemplifica a prática do perdão (Jo 8.11). Ali, Jesus estava rodeado de escribas e fariseus sem nenhuma compaixão por aquela mulher. O Mestre, porém, mostra a medida com que devemos perdoar: segundo a medida do amor misericordioso do Pai (Ef 4.32).
Steve Sandage; Leon Schulz (2011, pp.137-138): “Jesus de Nazaré, argumenta Hannah Arendt, foi o descobridor do papel do perdão no reino dos assuntos humanos. Pode-se muito afirmar que Jesus descobriu o papel do perdão social, visto que os profetas e sábios antes dEle também estavam cientes deste fenômeno, mas Ele claramente transformou o seu significado e significação de um modo que causou um efeito profundo na história humana. Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, claramente liga a chegada de Jesus com a previsão dos profetas hebreus referente à promessa de perdão e à vinda do Messias”.
3.3. Compreendendo o perdão. O perdão é um ato de misericórdia e compaixão. Jesus não veio condenar e sim salvar os pecadores (Jo 3.17). Na Bíblia, vemos que os mais culpados são também os maiores acusadores (1Rs 3.22-26). Não é justo julgar os outros estando em pecado (Jo 8.7), como na história da mulher adúltera. O Filho de Deus tirou a máscara de falsidade dos escribas e fariseus (Jo 8.9). Com isso, aprendemos que devemos dar aos nossos semelhantes o mesmo perdão que recebemos do Pai.
Revista Betel Dominical, 4° Trimestre de 2004, Lição 8: “O perdão é o óleo que lubrifica as engrenagens dos nossos relacionamentos. A nossa situação passou pelo perdão de Deus (Cl 3.13). Não existe cristianismo sem perdão. Quem não sabe perdoar está na contramão do Evangelho. Olhando pelo lado divino, não há como negar o perdão. Ser cristão sem exercer o perdão é uma grande incoerência. Nossas atitudes em relação ao próximo refletem o nosso relacionamento com Deus (1 Jo 4.20-21)”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Perdoados e perdoando
(Textos centrais: Jo 8.11; Ef 4.32; Jo 3.17; 1 Jo 1.9; 1 Jo 2.1)
Breve síntese: no episódio da mulher adúltera Jesus é ao mesmo tempo Advogado e chamador ao arrependimento. O perdão cristão não é “tolerância moral” nem “anistia sem consequência”: é o gesto gratuito de misericórdia do Pai que remove a condenação e, simultaneamente, convoca à vida nova. Esse duplo movimento (perdão + santificação) é o padrão que a Igreja deve imitar.
1. Leitura bíblica e teológica (visão geral)
- João 8:11: Jesus diz “Nem eu te condeno; vai, e não peques mais” (εἶπεν δὲ αὐτῇ ὁ Ἰησοῦς· οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω· πορεύου, καὶ μὴκέτι ἁμάρτανε). Aqui temos perdão público (suspensão do veredito) + chamada ética (mudança de vida).
- Efésios 4:32: Paulo manda “sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (χαριζόμενοι / ἐχαρίσατο — linguagem da graça). O critério do nosso perdão é o perdão de Deus em Cristo.
- 1 João 1:9 e 2:1: confissão + promessa de perdão (ἀφίημι) e Jesus como παράκλητος — “Advogado” que defende os que se aproximam por confissão.
- Jo 3:17 / Rm 8:1: a obra de Cristo elimina a condenação dos que estão n’Ele. Perdão, portanto, é consequência da obra redentora — não de permissividade humana.
Teologicamente: perdão é ato divino (ה׳ סָלַח / כֻּפֶּר no AT — salaḥ/kāphar) que a igreja imita. É também meio de restauração social (Hannah Arendt; Sandage/Schulz citado) — perdão “lubrifica” relações quebradas, mas requer processo de reparação e transformação.
2. Análise das palavras (grego e hebraico) — nuances essenciais
Grego (NT)
- ἀφίημι (aphíēmi) — “perdoar, deixar, remitir”; palavra central para remissão de pecados (p.ex. 1Jo 1:9 uses ἀφῇ). Implica “enviar embora” a dívida/culpa.
- χαρίζομαι / ἐχαρίσατο (charízomai / echarísato) — “conceder gratuitamente, dar como graça”. Em Ef 4:32 a forma aorista refere o perdão divino como dádiva graciosa que deve inspirar o perdão humano.
- κατακρίνω (katakrínō) — “condenar” (forense). João registra Jesus suspender o veredito: “οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω.”
- ἁμαρτάνω (hamartánō) — “pecar”; em Jo 8:11 o imperativo negativo μὴκέτι ἁμάρτανε (“não peques mais”) chama a uma conversão prática e contínua.
- παράκλητος (paráklētos) — “aquele que é chamado para perto”: advogado, consolador, intercessor (1 Jo 2:1; João 14–16 para o Espírito). Jesus é o nosso paráklētos junto ao Pai.
Hebraico (AT)
- סָלַח (salaḥ) — “perdoar, deixar passar”; termo comum para perdão divino e humano.
- כָּפַר (kāphar) — “cobrir / expiar / propiciar”; no sistema sacrificial significa aquilo que remove a culpa (Yom Kippur/ dia da expiação).
- חָסֶד (ḥesed) / רַחֲמִים (rachamim) — “misericórdia, amor leal, compaixão” — a base relacional do perdão divino que o crente deve imitar.
Nuance prática: no AT o perdão está frequentemente ligado a um processo cultual/penitencial; no NT a obra de Cristo realiza o “kaphar” definitivo e instituí a ética do perdão comunitário (com evidência de arrependimento).
3. Interpretação teológica aprofundada
- Perdão como iniciativa de Deus: primeiro Deus perdoa (πρῶτον) — em Cristo a dívida é paga; o crente responde em gratidão, não em cálculo meramente moral. Ef 4:32 liga explicitamente o perdão humano à experiência do perdão divino.
- Perdão não é impunidade: Jesus perdoa a mulher, mas lhe exige renúncia ao padrão de vida que gerou o pecado (μὴκέτι ἁμάρτανε). A misericórdia restaura a pessoa, porém a restauração costuma implicar consequências e processos de cura.
- Perdão como prática comunitária: o perdão é social — liberta vítimas e ofensores —, mas requer estrutura: confissão, reparação, accountability, reconciliação; sem esses elementos o perdão pode virar “feiura religiosa”.
- Perdão contra a lógica do acusador: Ap 12.10 descreve Satanás como “acusador” que procura dividir; o perdão é, em grande medida, a resposta cristã que desfaz a estratégia acusatória (Rm 8:33–34 sobre Cristo que intercede).
- Dimensão política/ética: perdoar em público (Jo 8) implica risco e reconstrução pública; Igreja deve evitar soluções fáceis (linchamento público ou encobrimento), mas promover caminhos públicos de arrependimento e restauração.
4. Referências acadêmicas cristãs (seleção para estudar mais)
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (sobre santidade e corpo-templo).
- D. A. Carson, The Gospel According to John (exegese de João 8).
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John (sobre contexto e recepção da perícopa).
- John Stott, The Cross of Christ (reflexões sobre graça e perdão).
- N. T. Wright, Paul and the Faithfulness of God (justificação, graça e ética comunitária).
- Steve L. Sandage & Leon R. Schulz, trabalhos sobre perdão e reconciliação (citados por você; leia também literatura psicológica-pastoral sobre reconciliação).
- Obras portuguesas/latinas de prática pastoral (Stott, Packer, Bonhoeffer) úteis para aplicação.
5. Aplicação pessoal e prática — como viver o perdão cristão hoje
- Para quem foi ferido: permita-se processar a dor (aconselhamento), receba o apoio da comunidade, espere e avalie arrependimento genuíno; perdoar é “decisão” que pode vir antes de sentir restauração; não confundir perdão com restauração imediata de confiança.
- Para quem errou: confesse claramente (1 Jo 1.9), repare quando possível, sujeite-se a accountability, aceite consequências, busque transformação (terapia, acompanhamento espiritual).
- Na igreja: estabelecer rotinas sacramentais e litúrgicas que reiterem o perdão (confissão pública/privada, ceia, ensino sobre arrependimento), definir processos claros de investigação e restauração (proteção de vulneráveis, disciplina quando necessário).
- Praxis espiritual diária: usar orações que peçam “coração perdoante”, meditar na cruz (para lembrar perdão recebido), praticar pequenos atos de perdão (desfazer ressentimentos cotidianos).
- Educação preventiva: discipulado sexual/afetivo, formação emocional, cuidado com mídias que alimentam desejos não saudáveis — o perdão é mais necessário quando houve quebra, mas prevenção evita feridas.
6. Tabela expositiva (para aula / sermão / estudo)
Texto
Palavra chave (gr./heb.)
Ponto teológico
Aplicação prática
Jo 8:11
οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω / μὴκέτι ἁμάρτανε
Perdão público + chamada à santidade
Perdoar, mas exigir mudança concreta (arrependimento e limites)
Ef 4:32
χαριζόμενοι / ἐχαρίσατο
Nosso perdoar imita o perdão gracioso de Deus
Perdoar como resposta à graça recebida; praticar reconciliação com processo
1 Jo 1:9
ἀφῇ (ἀφίημι)
Confissão → remissão contínua
Cultivar confissão regular; buscar restauração comunitária
Ap 12:10
ὁ κατήγωρ
Há um acusador; perdão quebra sua estratégia
Rejeitar a cultura da acusação; promover reconciliação que neutraliza divisão
Dt / Lv (AT)
סָלַח / כָּפַר
Perdão/expiação no AT ligado a processo sacrificial
Entender dimensão sacramental do perdão; ver cumprimento em Cristo
7. Conclusão curta e pastoral
Jesus nos dá o modelo: perdoar como fomos perdoados — mas esse perdoar é eficaz quando acompanhado de verdade (confissão), justiça (proteção e, se necessário, disciplina) e transformação (abandono do pecado). A Igreja pratica perdão que não encobre danos, nem aplaude o erro, mas reabilita pessoas à vida que glorifica a Deus. Em suma: perdoar como Deus perdoa, exigir mudança como Deus transforma.
Perdoados e perdoando
(Textos centrais: Jo 8.11; Ef 4.32; Jo 3.17; 1 Jo 1.9; 1 Jo 2.1)
Breve síntese: no episódio da mulher adúltera Jesus é ao mesmo tempo Advogado e chamador ao arrependimento. O perdão cristão não é “tolerância moral” nem “anistia sem consequência”: é o gesto gratuito de misericórdia do Pai que remove a condenação e, simultaneamente, convoca à vida nova. Esse duplo movimento (perdão + santificação) é o padrão que a Igreja deve imitar.
1. Leitura bíblica e teológica (visão geral)
- João 8:11: Jesus diz “Nem eu te condeno; vai, e não peques mais” (εἶπεν δὲ αὐτῇ ὁ Ἰησοῦς· οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω· πορεύου, καὶ μὴκέτι ἁμάρτανε). Aqui temos perdão público (suspensão do veredito) + chamada ética (mudança de vida).
- Efésios 4:32: Paulo manda “sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (χαριζόμενοι / ἐχαρίσατο — linguagem da graça). O critério do nosso perdão é o perdão de Deus em Cristo.
- 1 João 1:9 e 2:1: confissão + promessa de perdão (ἀφίημι) e Jesus como παράκλητος — “Advogado” que defende os que se aproximam por confissão.
- Jo 3:17 / Rm 8:1: a obra de Cristo elimina a condenação dos que estão n’Ele. Perdão, portanto, é consequência da obra redentora — não de permissividade humana.
Teologicamente: perdão é ato divino (ה׳ סָלַח / כֻּפֶּר no AT — salaḥ/kāphar) que a igreja imita. É também meio de restauração social (Hannah Arendt; Sandage/Schulz citado) — perdão “lubrifica” relações quebradas, mas requer processo de reparação e transformação.
2. Análise das palavras (grego e hebraico) — nuances essenciais
Grego (NT)
- ἀφίημι (aphíēmi) — “perdoar, deixar, remitir”; palavra central para remissão de pecados (p.ex. 1Jo 1:9 uses ἀφῇ). Implica “enviar embora” a dívida/culpa.
- χαρίζομαι / ἐχαρίσατο (charízomai / echarísato) — “conceder gratuitamente, dar como graça”. Em Ef 4:32 a forma aorista refere o perdão divino como dádiva graciosa que deve inspirar o perdão humano.
- κατακρίνω (katakrínō) — “condenar” (forense). João registra Jesus suspender o veredito: “οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω.”
- ἁμαρτάνω (hamartánō) — “pecar”; em Jo 8:11 o imperativo negativo μὴκέτι ἁμάρτανε (“não peques mais”) chama a uma conversão prática e contínua.
- παράκλητος (paráklētos) — “aquele que é chamado para perto”: advogado, consolador, intercessor (1 Jo 2:1; João 14–16 para o Espírito). Jesus é o nosso paráklētos junto ao Pai.
Hebraico (AT)
- סָלַח (salaḥ) — “perdoar, deixar passar”; termo comum para perdão divino e humano.
- כָּפַר (kāphar) — “cobrir / expiar / propiciar”; no sistema sacrificial significa aquilo que remove a culpa (Yom Kippur/ dia da expiação).
- חָסֶד (ḥesed) / רַחֲמִים (rachamim) — “misericórdia, amor leal, compaixão” — a base relacional do perdão divino que o crente deve imitar.
Nuance prática: no AT o perdão está frequentemente ligado a um processo cultual/penitencial; no NT a obra de Cristo realiza o “kaphar” definitivo e instituí a ética do perdão comunitário (com evidência de arrependimento).
3. Interpretação teológica aprofundada
- Perdão como iniciativa de Deus: primeiro Deus perdoa (πρῶτον) — em Cristo a dívida é paga; o crente responde em gratidão, não em cálculo meramente moral. Ef 4:32 liga explicitamente o perdão humano à experiência do perdão divino.
- Perdão não é impunidade: Jesus perdoa a mulher, mas lhe exige renúncia ao padrão de vida que gerou o pecado (μὴκέτι ἁμάρτανε). A misericórdia restaura a pessoa, porém a restauração costuma implicar consequências e processos de cura.
- Perdão como prática comunitária: o perdão é social — liberta vítimas e ofensores —, mas requer estrutura: confissão, reparação, accountability, reconciliação; sem esses elementos o perdão pode virar “feiura religiosa”.
- Perdão contra a lógica do acusador: Ap 12.10 descreve Satanás como “acusador” que procura dividir; o perdão é, em grande medida, a resposta cristã que desfaz a estratégia acusatória (Rm 8:33–34 sobre Cristo que intercede).
- Dimensão política/ética: perdoar em público (Jo 8) implica risco e reconstrução pública; Igreja deve evitar soluções fáceis (linchamento público ou encobrimento), mas promover caminhos públicos de arrependimento e restauração.
4. Referências acadêmicas cristãs (seleção para estudar mais)
- Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians (sobre santidade e corpo-templo).
- D. A. Carson, The Gospel According to John (exegese de João 8).
- Raymond E. Brown, The Gospel According to John (sobre contexto e recepção da perícopa).
- John Stott, The Cross of Christ (reflexões sobre graça e perdão).
- N. T. Wright, Paul and the Faithfulness of God (justificação, graça e ética comunitária).
- Steve L. Sandage & Leon R. Schulz, trabalhos sobre perdão e reconciliação (citados por você; leia também literatura psicológica-pastoral sobre reconciliação).
- Obras portuguesas/latinas de prática pastoral (Stott, Packer, Bonhoeffer) úteis para aplicação.
5. Aplicação pessoal e prática — como viver o perdão cristão hoje
- Para quem foi ferido: permita-se processar a dor (aconselhamento), receba o apoio da comunidade, espere e avalie arrependimento genuíno; perdoar é “decisão” que pode vir antes de sentir restauração; não confundir perdão com restauração imediata de confiança.
- Para quem errou: confesse claramente (1 Jo 1.9), repare quando possível, sujeite-se a accountability, aceite consequências, busque transformação (terapia, acompanhamento espiritual).
- Na igreja: estabelecer rotinas sacramentais e litúrgicas que reiterem o perdão (confissão pública/privada, ceia, ensino sobre arrependimento), definir processos claros de investigação e restauração (proteção de vulneráveis, disciplina quando necessário).
- Praxis espiritual diária: usar orações que peçam “coração perdoante”, meditar na cruz (para lembrar perdão recebido), praticar pequenos atos de perdão (desfazer ressentimentos cotidianos).
- Educação preventiva: discipulado sexual/afetivo, formação emocional, cuidado com mídias que alimentam desejos não saudáveis — o perdão é mais necessário quando houve quebra, mas prevenção evita feridas.
6. Tabela expositiva (para aula / sermão / estudo)
Texto | Palavra chave (gr./heb.) | Ponto teológico | Aplicação prática |
Jo 8:11 | οὐδὲ ἐγὼ σε κατακρίνω / μὴκέτι ἁμάρτανε | Perdão público + chamada à santidade | Perdoar, mas exigir mudança concreta (arrependimento e limites) |
Ef 4:32 | χαριζόμενοι / ἐχαρίσατο | Nosso perdoar imita o perdão gracioso de Deus | Perdoar como resposta à graça recebida; praticar reconciliação com processo |
1 Jo 1:9 | ἀφῇ (ἀφίημι) | Confissão → remissão contínua | Cultivar confissão regular; buscar restauração comunitária |
Ap 12:10 | ὁ κατήγωρ | Há um acusador; perdão quebra sua estratégia | Rejeitar a cultura da acusação; promover reconciliação que neutraliza divisão |
Dt / Lv (AT) | סָלַח / כָּפַר | Perdão/expiação no AT ligado a processo sacrificial | Entender dimensão sacramental do perdão; ver cumprimento em Cristo |
7. Conclusão curta e pastoral
Jesus nos dá o modelo: perdoar como fomos perdoados — mas esse perdoar é eficaz quando acompanhado de verdade (confissão), justiça (proteção e, se necessário, disciplina) e transformação (abandono do pecado). A Igreja pratica perdão que não encobre danos, nem aplaude o erro, mas reabilita pessoas à vida que glorifica a Deus. Em suma: perdoar como Deus perdoa, exigir mudança como Deus transforma.
EU ENSINEI QUE:
O perdão é um ato de misericórdia e compaixão e sua prática traz benefícios.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos sobre a gravidade do pecado e as riquezas da Benignidade, da Paciência e da Longanimidade de Deus, que nos conduzem ao arrependimento (Rm 2.4); mas também sobre viver segundo a vontade de Deus em todas as dimensões da vida, expressando, no dia a dia, o Amor e a Misericórdia do Senhor, com os quais fomos abençoados.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Conclusão — Graça que Conduz ao Arrependimento, Verdade que Forma um Novo Viver
A cena da pecadora perdoada e o ensino paulino (Rm 2.4) convergem para a mesma lógica do Reino: Deus leva a sério o pecado e, exatamente por isso, derrama benignidade que conduz (ἄγει, agei) ao arrependimento (μετάνοια, metánoia). A graça não é indulgência; é a força salvadora e pedagógica que nos arranca do ciclo da culpa, nos reconcilia e nos reorienta para a vontade de Deus em cada esfera da vida (Tt 2.11–12).
Comentário bíblico-teológico
1) A tríade de Rm 2.4.
Paulo empilha três termos para descrever o coração de Deus:
- χρηστότης (chrēstótēs) — benignidade/bondade útil: a generosidade ativa de Deus (cf. Rm 11.22) que não “passa pano”, mas opera nossa restauração (BDAG; Moo, Romans).
- ἀνοχή (anochē) — tolerância/paciência suspensiva: a “moratória” do juízo (cf. Rm 3.25-26), tempo concedido para voltarmo-nos a Ele (Dunn, WBC Romans).
- μακροθυμία (makrothymía) — longanimidade: eco de Êx 34.6 (LXX: πολύελεος, μακρόθυμος), o “longo fôlego” do Deus que aguarda para perdoar (Cranfield, ICC Romans).
Essas riquezas não autorizam a inércia moral, mas “conduzem” (εἰς μετάνοιαν ἄγει) ao arrependimento: mudança real de mente, afeições e prática (Jo 8.11; 2Co 7.10).
2) Graça e verdade sem dicotomia.
No Crucificado, misericórdia (ἔλεος / חֶסֶד, ḥéṣed) e justiça (δικαιοσύνη) se beijam (Rm 3.24-26; Jo 1.14). O perdão não relativiza a Lei; cumpre-a (Mt 5.17) e inaugura vida nova (“de agora em diante”; Jo 8.11). Por isso, a mesma voz que absolve manda: “não continues a pecar” (μὴκέτι ἁμάρτανε — imperativo presente negativo).
3) Vontade de Deus como nova orientação do viver.
O θέλημα τοῦ Θεοῦ (vontade de Deus) é concreto: santificação (1Ts 4.3), misericórdia acima do ritual (Mt 9.13; Mq 6.8), e um andar (περιπατεῖν) coerente com o Evangelho (Ef 4.1; Cl 1.10). O mesmo Espírito que derrama o amor de Deus em nós (Rm 5.5) nos capacita a praticar essa vontade no cotidiano.
Palavras-chave (grego/hebraico)
- χρηστότης (chrēstótēs): benignidade eficaz que beneficia o outro.
- ἀνοχή (anochē): suspensão do veredicto para dar espaço ao retorno.
- μακροθυμία (makrothymía): longanimidade, “demora em irar-se” (Êx 34.6).
- μετάνοια (metánoia): mudança de mente/direção que se evidencia em frutos (Lc 3.8).
- ἔλεος (éleos) / חֶסֶד (ḥéṣed): misericórdia/fidelidade pactual.
- δικαιοσύνη (dikaiosýnē): justiça de Deus que justifica e transforma.
Referências acadêmicas cristãs (sugestivas)
- C. E. B. Cranfield, Romans (ICC).
- Douglas J. Moo, The Letter to the Romans (NICNT).
- James D. G. Dunn, Romans (WBC).
- Thomas R. Schreiner, Romans (BECNT).
- Leon Morris, The Epistle to the Romans (PNTC).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the Greek NT (para Jo 7.53–8.11).
Aplicação pessoal
- Receba o tempo de Deus como chamado: a “moratória” da paciência divina é convite à mudança, não à acomodação.
- Pratique perdão responsável: absolver e acompanhar (Gl 6.1) — graça que restaura, verdade que estrutura novos hábitos.
- Concretize misericórdia: traduza ἔλεος em gestos (reconciliação, reparação, socorro ao vulnerável).
- Disciplinas que mantêm o coração maleável: exame diário, confissão, escuta comunitária, serviço deliberado.
Tabela expositiva — Graça que conduz a um novo viver
Tema
Termo bíblico
Núcleo semântico
Textos-chave
Implicações práticas
Benignidade
χρηστότης
Bondade útil, benéfica
Rm 2.4; 11.22
Trate o outro de modo que o beneficie objetivamente
Paciência (suspensiva)
ἀνοχή
Moratória do juízo
Rm 2.4; 3.25
Use o “intervalo” para ajustar rota, não para adiar obediência
Longanimidade
μακροθυμία
Lento para irar-se
Rm 2.4; Êx 34.6 (LXX)
Espelhe o ritmo de Deus: paciência firme com o pecador
Arrependimento
μετάνοια
Mudança de mente/vida
Rm 2.4; 2Co 7.10
Produza frutos dignos (Lc 3.8): decisões, renúncias, reparo
Misericórdia
ἔλεος / חֶסֶד
Fidelidade compassiva
Mt 9.13; Tg 2.13
Priorize pessoas sobre ritos; restaure, não descarte
Justiça salvadora
δικαιοσύνη
Deus justifica e reforma
Rm 3.24-26
Viva reconciliado e engajado em retidão prática
Novo caminhar
περιπατεῖν
Andar conforme a vontade
Ef 4.1; Cl 1.10; Jo 8.11
Estabeleça hábitos que sustentem a nova vida
Amor derramado
ἀγάπη / ἐκκέχυται
Amor infundido pelo Espírito
Rm 5.5; 1Co 13
Sirva com caridade concreta e perseverante
Síntese: A benignidade, a paciência e a longanimidade de Deus não banalizam o pecado; elas quebram o seu domínio ao nos conduzir à metánoia e nos habilitar a viver, diariamente, a vontade do Pai — em amor e misericórdia, como quem foi amado e alvo de misericórdia.
Conclusão — Graça que Conduz ao Arrependimento, Verdade que Forma um Novo Viver
A cena da pecadora perdoada e o ensino paulino (Rm 2.4) convergem para a mesma lógica do Reino: Deus leva a sério o pecado e, exatamente por isso, derrama benignidade que conduz (ἄγει, agei) ao arrependimento (μετάνοια, metánoia). A graça não é indulgência; é a força salvadora e pedagógica que nos arranca do ciclo da culpa, nos reconcilia e nos reorienta para a vontade de Deus em cada esfera da vida (Tt 2.11–12).
Comentário bíblico-teológico
1) A tríade de Rm 2.4.
Paulo empilha três termos para descrever o coração de Deus:
- χρηστότης (chrēstótēs) — benignidade/bondade útil: a generosidade ativa de Deus (cf. Rm 11.22) que não “passa pano”, mas opera nossa restauração (BDAG; Moo, Romans).
- ἀνοχή (anochē) — tolerância/paciência suspensiva: a “moratória” do juízo (cf. Rm 3.25-26), tempo concedido para voltarmo-nos a Ele (Dunn, WBC Romans).
- μακροθυμία (makrothymía) — longanimidade: eco de Êx 34.6 (LXX: πολύελεος, μακρόθυμος), o “longo fôlego” do Deus que aguarda para perdoar (Cranfield, ICC Romans).
Essas riquezas não autorizam a inércia moral, mas “conduzem” (εἰς μετάνοιαν ἄγει) ao arrependimento: mudança real de mente, afeições e prática (Jo 8.11; 2Co 7.10).
2) Graça e verdade sem dicotomia.
No Crucificado, misericórdia (ἔλεος / חֶסֶד, ḥéṣed) e justiça (δικαιοσύνη) se beijam (Rm 3.24-26; Jo 1.14). O perdão não relativiza a Lei; cumpre-a (Mt 5.17) e inaugura vida nova (“de agora em diante”; Jo 8.11). Por isso, a mesma voz que absolve manda: “não continues a pecar” (μὴκέτι ἁμάρτανε — imperativo presente negativo).
3) Vontade de Deus como nova orientação do viver.
O θέλημα τοῦ Θεοῦ (vontade de Deus) é concreto: santificação (1Ts 4.3), misericórdia acima do ritual (Mt 9.13; Mq 6.8), e um andar (περιπατεῖν) coerente com o Evangelho (Ef 4.1; Cl 1.10). O mesmo Espírito que derrama o amor de Deus em nós (Rm 5.5) nos capacita a praticar essa vontade no cotidiano.
Palavras-chave (grego/hebraico)
- χρηστότης (chrēstótēs): benignidade eficaz que beneficia o outro.
- ἀνοχή (anochē): suspensão do veredicto para dar espaço ao retorno.
- μακροθυμία (makrothymía): longanimidade, “demora em irar-se” (Êx 34.6).
- μετάνοια (metánoia): mudança de mente/direção que se evidencia em frutos (Lc 3.8).
- ἔλεος (éleos) / חֶסֶד (ḥéṣed): misericórdia/fidelidade pactual.
- δικαιοσύνη (dikaiosýnē): justiça de Deus que justifica e transforma.
Referências acadêmicas cristãs (sugestivas)
- C. E. B. Cranfield, Romans (ICC).
- Douglas J. Moo, The Letter to the Romans (NICNT).
- James D. G. Dunn, Romans (WBC).
- Thomas R. Schreiner, Romans (BECNT).
- Leon Morris, The Epistle to the Romans (PNTC).
- Craig S. Keener, The Gospel of John.
- Bruce M. Metzger, Textual Commentary on the Greek NT (para Jo 7.53–8.11).
Aplicação pessoal
- Receba o tempo de Deus como chamado: a “moratória” da paciência divina é convite à mudança, não à acomodação.
- Pratique perdão responsável: absolver e acompanhar (Gl 6.1) — graça que restaura, verdade que estrutura novos hábitos.
- Concretize misericórdia: traduza ἔλεος em gestos (reconciliação, reparação, socorro ao vulnerável).
- Disciplinas que mantêm o coração maleável: exame diário, confissão, escuta comunitária, serviço deliberado.
Tabela expositiva — Graça que conduz a um novo viver
Tema | Termo bíblico | Núcleo semântico | Textos-chave | Implicações práticas |
Benignidade | χρηστότης | Bondade útil, benéfica | Rm 2.4; 11.22 | Trate o outro de modo que o beneficie objetivamente |
Paciência (suspensiva) | ἀνοχή | Moratória do juízo | Rm 2.4; 3.25 | Use o “intervalo” para ajustar rota, não para adiar obediência |
Longanimidade | μακροθυμία | Lento para irar-se | Rm 2.4; Êx 34.6 (LXX) | Espelhe o ritmo de Deus: paciência firme com o pecador |
Arrependimento | μετάνοια | Mudança de mente/vida | Rm 2.4; 2Co 7.10 | Produza frutos dignos (Lc 3.8): decisões, renúncias, reparo |
Misericórdia | ἔλεος / חֶסֶד | Fidelidade compassiva | Mt 9.13; Tg 2.13 | Priorize pessoas sobre ritos; restaure, não descarte |
Justiça salvadora | δικαιοσύνη | Deus justifica e reforma | Rm 3.24-26 | Viva reconciliado e engajado em retidão prática |
Novo caminhar | περιπατεῖν | Andar conforme a vontade | Ef 4.1; Cl 1.10; Jo 8.11 | Estabeleça hábitos que sustentem a nova vida |
Amor derramado | ἀγάπη / ἐκκέχυται | Amor infundido pelo Espírito | Rm 5.5; 1Co 13 | Sirva com caridade concreta e perseverante |
Síntese: A benignidade, a paciência e a longanimidade de Deus não banalizam o pecado; elas quebram o seu domínio ao nos conduzir à metánoia e nos habilitar a viver, diariamente, a vontade do Pai — em amor e misericórdia, como quem foi amado e alvo de misericórdia.
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