TEXTO ÁUREO “E quem me vê a mim vê aquele que me enviou”, João 12.45 COMENTARIO EXTRA Comentário de Hubner Braz João 12 encerra o chamado ...
TEXTO ÁUREO
“E quem me vê a mim vê aquele que me enviou”, João 12.45
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
João 12 encerra o chamado “Livro dos Sinais” (Jo 1–12). Depois de narrar sinais e discursos que revelam Jesus, o evangelista registra a persistência da incredulidade (12.37–43) e, então, um sumário-pregação de Jesus (12.44–50). Dentro desse bloco, a frase “quem me vê, vê o que me enviou” condensa a cristologia revelacional joanina:
- Revelação do Pai no Filho: Jesus é a auto-explicação de Deus (cf. 1.18: “o Filho unigênito… o deu a conhecer”).
- Unidade e distinção: o Filho é distinto do Pai (“aquele que me enviou”) e, ao mesmo tempo, a presença visível do Pai (“quem me vê, vê o Pai”, cf. 14.9).
- Missão: ver Jesus corretamente é acolher o Enviador; rejeitá-lo é rejeitar Deus (12.48-50; 5.23).
O versículo, portanto, não afirma confusão de pessoas, mas representação perfeita: na pessoa e obra de Jesus, o Pai é conhecido com fidelidade irrepetível.
Análise lexical (grego) e pano de fundo hebraico
- καὶ ὁ θεωρῶν ἐμὲ θεωρεῖ τὸν πέμψαντά με
- θεωρῶν / θεωρεῖ (theōreō): “observar, contemplar, perceber”. Em João, vai além de “ver com os olhos”; é percepção penetrante que reconhece quem Jesus é (cf. 6.40; 12.45; 20.29).
- τὸν πέμψαντά με (pempō): “enviar”. João alterna pempō e apostellō para a comissão divina do Filho (5.23–24; 20.21).
- Pano de fundo judaico: shaliaḥ (שליח), “agente/enviado”. No direito rabínico, o enviado representa o enviador (“o enviado de alguém é como a própria pessoa”). João eleva essa categoria: Jesus não é meramente um representante; Ele é o Filho que revela perfeitamente o Pai (10.30; 14.9), de modo único e ontológico.
Linhas teológicas principais
- Revelação plena e pessoal: ver Jesus é conhecer o Pai — não só ideias sobre Deus, mas o caráter, vontade e glória do Pai (12.28; 14.9).
- Cristologia alta: somente alguém que compartilha a identidade divina pode dizer isso sem blasfêmia (cf. 1.1; 8.58; 10.30).
- Soteriologia e juízo: a visibilidade de Deus em Cristo torna a resposta humana decisiva (12.46–48).
- Eclesiologia derivada: a Igreja é enviada (20.21) para “mostrar” Cristo ao mundo; seu testemunho deve ser cristomórfico (13.34–35).
Conexões joaninas úteis
- Jo 1.18 — o Filho “exegesou” (ἐξηγήσατο) o Pai.
- Jo 5.19–23 — o Filho faz o que vê o Pai fazer.
- Jo 10.30 — unidade Pai-Filho.
- Jo 14.9–10 — ver o Filho é ver o Pai.
- Jo 20.21 — envio da Igreja conforme o envio do Filho.
Aplicações pessoais e comunitárias
- Devoção centrada em Cristo: conhecer a Deus passa por contemplar Jesus nos Evangelhos; práticas devocionais devem ser cristocêntricas.
- Ética da visibilidade: se o mundo “vê” o Pai no Filho, ele vê o Filho na Igreja (Jo 20.21; 13.35). Postura, palavra e serviço devem encarnar o caráter de Cristo.
- Discernimento: toda visão de Deus que não se conforma a Jesus (seu amor, santidade e cruz) é projeção/idolatria.
- Missão: evangelizar é apresentar Cristo com fidelidade bíblica, não apenas valores genéricos.
- Consolo e correção: Deus não é inacessível; Ele se deu a ver em Jesus. Reajuste sua imagem de Deus olhando para Cristo (Mt 11.28–29).
Referências acadêmicas (seleção)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — (θεωρέω; πέμπω), estudos sobre shaliaḥ em literatura rabínica clássica.
Tabela expositiva (resumo para ensino)
Elemento
Texto/Termo
Nuance
Implicação teológica
Uso prático
Ver (θεωρεῖν)
“quem me vê”
Ver que discerne/acolhe
Revelação pessoal do Pai no Filho
Ler os Evangelhos para “ver” Cristo; fé que percebe
Envio (πέμπω)
“aquele que me enviou”
Comissão divina do Filho
Missão trinitária; autoridade do Filho
Missão da Igreja deriva do envio de Jesus
Representação
shaliaḥ (eco)
Agente carrega a autoridade
Jesus supera a categoria: é o Filho
Evitar reduzir Jesus a profeta “apenas”
Unicidade
Jo 14.9; 1.18
Unidade Pai-Filho
Cristologia alta: ver Jesus = ver Deus
Cristo como critério de teologia e ética
Decisão
Jo 12.46–48
Luz/julgamento
Resposta a Jesus é decisiva
Chamado ao arrependimento e fé
Conclusão
João 12.45 declara que Deus se fez visível em Jesus. Quem deseja conhecer o Pai olha para o Filho — sua vida, palavras, cruz e ressurreição. A Igreja, enviada pelo Enviado, existe para tornar Cristo visível com fidelidade, amor e verdade.
João 12 encerra o chamado “Livro dos Sinais” (Jo 1–12). Depois de narrar sinais e discursos que revelam Jesus, o evangelista registra a persistência da incredulidade (12.37–43) e, então, um sumário-pregação de Jesus (12.44–50). Dentro desse bloco, a frase “quem me vê, vê o que me enviou” condensa a cristologia revelacional joanina:
- Revelação do Pai no Filho: Jesus é a auto-explicação de Deus (cf. 1.18: “o Filho unigênito… o deu a conhecer”).
- Unidade e distinção: o Filho é distinto do Pai (“aquele que me enviou”) e, ao mesmo tempo, a presença visível do Pai (“quem me vê, vê o Pai”, cf. 14.9).
- Missão: ver Jesus corretamente é acolher o Enviador; rejeitá-lo é rejeitar Deus (12.48-50; 5.23).
O versículo, portanto, não afirma confusão de pessoas, mas representação perfeita: na pessoa e obra de Jesus, o Pai é conhecido com fidelidade irrepetível.
Análise lexical (grego) e pano de fundo hebraico
- καὶ ὁ θεωρῶν ἐμὲ θεωρεῖ τὸν πέμψαντά με
- θεωρῶν / θεωρεῖ (theōreō): “observar, contemplar, perceber”. Em João, vai além de “ver com os olhos”; é percepção penetrante que reconhece quem Jesus é (cf. 6.40; 12.45; 20.29).
- τὸν πέμψαντά με (pempō): “enviar”. João alterna pempō e apostellō para a comissão divina do Filho (5.23–24; 20.21).
- Pano de fundo judaico: shaliaḥ (שליח), “agente/enviado”. No direito rabínico, o enviado representa o enviador (“o enviado de alguém é como a própria pessoa”). João eleva essa categoria: Jesus não é meramente um representante; Ele é o Filho que revela perfeitamente o Pai (10.30; 14.9), de modo único e ontológico.
Linhas teológicas principais
- Revelação plena e pessoal: ver Jesus é conhecer o Pai — não só ideias sobre Deus, mas o caráter, vontade e glória do Pai (12.28; 14.9).
- Cristologia alta: somente alguém que compartilha a identidade divina pode dizer isso sem blasfêmia (cf. 1.1; 8.58; 10.30).
- Soteriologia e juízo: a visibilidade de Deus em Cristo torna a resposta humana decisiva (12.46–48).
- Eclesiologia derivada: a Igreja é enviada (20.21) para “mostrar” Cristo ao mundo; seu testemunho deve ser cristomórfico (13.34–35).
Conexões joaninas úteis
- Jo 1.18 — o Filho “exegesou” (ἐξηγήσατο) o Pai.
- Jo 5.19–23 — o Filho faz o que vê o Pai fazer.
- Jo 10.30 — unidade Pai-Filho.
- Jo 14.9–10 — ver o Filho é ver o Pai.
- Jo 20.21 — envio da Igreja conforme o envio do Filho.
Aplicações pessoais e comunitárias
- Devoção centrada em Cristo: conhecer a Deus passa por contemplar Jesus nos Evangelhos; práticas devocionais devem ser cristocêntricas.
- Ética da visibilidade: se o mundo “vê” o Pai no Filho, ele vê o Filho na Igreja (Jo 20.21; 13.35). Postura, palavra e serviço devem encarnar o caráter de Cristo.
- Discernimento: toda visão de Deus que não se conforma a Jesus (seu amor, santidade e cruz) é projeção/idolatria.
- Missão: evangelizar é apresentar Cristo com fidelidade bíblica, não apenas valores genéricos.
- Consolo e correção: Deus não é inacessível; Ele se deu a ver em Jesus. Reajuste sua imagem de Deus olhando para Cristo (Mt 11.28–29).
Referências acadêmicas (seleção)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — (θεωρέω; πέμπω), estudos sobre shaliaḥ em literatura rabínica clássica.
Tabela expositiva (resumo para ensino)
Elemento | Texto/Termo | Nuance | Implicação teológica | Uso prático |
Ver (θεωρεῖν) | “quem me vê” | Ver que discerne/acolhe | Revelação pessoal do Pai no Filho | Ler os Evangelhos para “ver” Cristo; fé que percebe |
Envio (πέμπω) | “aquele que me enviou” | Comissão divina do Filho | Missão trinitária; autoridade do Filho | Missão da Igreja deriva do envio de Jesus |
Representação | shaliaḥ (eco) | Agente carrega a autoridade | Jesus supera a categoria: é o Filho | Evitar reduzir Jesus a profeta “apenas” |
Unicidade | Jo 14.9; 1.18 | Unidade Pai-Filho | Cristologia alta: ver Jesus = ver Deus | Cristo como critério de teologia e ética |
Decisão | Jo 12.46–48 | Luz/julgamento | Resposta a Jesus é decisiva | Chamado ao arrependimento e fé |
Conclusão
João 12.45 declara que Deus se fez visível em Jesus. Quem deseja conhecer o Pai olha para o Filho — sua vida, palavras, cruz e ressurreição. A Igreja, enviada pelo Enviado, existe para tornar Cristo visível com fidelidade, amor e verdade.
VERDADE APLICADA
Jesus Cristo é a plena e definitiva revelação do Pai.
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OBJETIVOS DA LIÇÃO
Compreender que, em Jesus, Deus manifestou o Seu amor.
Ressaltar que o Filho e o Pai são um
Identificar no Filho os atributos do Pai.
TEXTOS DE REFERENCIA
JOÃO 5
19 Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por
si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai, porque tudo quanto ele
faz, o Filho o faz igualmente.
20 Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.
22 E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo.
23 Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
26 Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo.
27 E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Após curar no sábado (5.1–18), Jesus é acusado de violar a Lei e “fazer-se igual a Deus”. A resposta de 5.19–47 é um discurso de defesa (apologia) que revela a relação Pai-Filho, a origem da autoridade de Jesus e as “maiores obras”: vivificar e julgar.
Exegese concentrada (termos-chave do grego)
v.19 — Dependência filial e perfeita imitação
“O Filho por si mesmo não pode (οὐ δύναται) fazer nada de si mesmo, se não vir (βλέπῃ/ὁρᾶν) o Pai fazer; pois tudo o que Ele faz, o Filho faz do mesmo modo (ὁμοίως).”
- οὐ δύναται… ἀφ’ ἑαυτοῦ: não fraqueza, mas inpossibilidade moral/ontológica de agir independente do Pai; expressa unidade de vontade.
- θεωρεῖν/ὁρᾶν: “ver/observar” no sentido de percepção íntima; o Filho “contempla” a ação do Pai.
- ὁμοίως: “igualmente”; as obras do Filho são coextensivas às do Pai.
Teologia: A obediência do Filho não nega sua divindade; antes, define a filiação como perfeita consonância com o Pai (cf. 5.30).
v.20 — Amor intratrinitário e revelação progressiva
“O Pai ama (φιλεῖ/ἀγαπᾷ) o Filho e mostra-lhe (δείκνυσιν) tudo o que faz; e lhe mostrará maiores obras…”
- φιλέω/ἀγαπάω: amor do Pai como fonte da revelação.
- δείκνυμι: “mostrar” como comunicar/partilhar a obra.
- μείζονα ἔργα: “maiores obras” = vivificação e juízo (vv.21–30).
Teologia: O ministério do Filho nasce do amor eterno do Pai e conduz o mundo ao assombro (θαυμάζετε).
v.22–23 — O juízo confiado ao Filho e a honra devida
“O Pai a ninguém julga, mas deu (ἔδωκεν) ao Filho todo o juízo (κρίσις), para que todos honrem (τιμῶσιν) o Filho como honram o Pai…”
- ἔδωκεν (didōmi): concessão de autoridade do Pai (não usurpada).
- κρίσις: avaliação decisiva de Deus na história e no fim.
- τιμάω: “honrar, atribuir valor”.
Teologia: Honrar o Filho como (καθώς) o Pai implica igualdade de honra. Negar honra ao Filho é desonrar o Pai (cf. 1Jo 2.23).
v.26 — Vida em si mesmo
“Como o Pai tem a vida em si mesmo (ζωὴν ἐν ἑαυτῷ), assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo.”
- ζωὴ ἐν ἑαυτῷ: autovitalidade; Deus como fonte de vida.
- καθὼς… οὕτως: paralelismo que indica paridade (o Filho participa, por doação eterna do Pai, da mesma capacidade de vivificar).
Teologia: Cristo não apenas recebe vida; Ele a possui e a comunica (cf. 1.4; 11.25).
v.27 — O Filho do Homem e o juízo
“E deu-lhe autoridade para executar o juízo (ποιεῖν κρίσιν), porque é o Filho do Homem (ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου).”
- ἐξουσία (subentendida): autoridade delegada.
- Filho do Homem: eco de Daniel 7.13-14 (aram. bar enash) — figura humana-celeste a quem é dado domínio, glória e reino.
Teologia: O Juiz é verdadeiramente humano e exaltado por Deus; une compaixão e justiça.
Síntese teológica (João 5)
- Cristologia alta e relacional: Jesus age não independentemente, mas inseparavelmente do Pai; sua obediência revela sua divindade filial, não a nega.
- Missão como amor revelado: o Pai ama o Filho e por amor lhe mostra as obras — a missão do Filho é transparência do coração do Pai.
- Dois atos “maiores”: vivificar e julgar (vv.21–30): já agora (ouvir e viver, v.24) e no futuro (ressurreição e juízo, vv.28–29).
- Honra trinitária: a igualdade de honra (v.23) exige confissão e culto cristocêntricos.
- “Vida em si mesmo” e nova criação: a autovitalidade do Filho fundamenta regeneração, ressurreição e eucaristia da vida (cf. 6.53–58).
- Juízo pelo Filho do Homem: esperança para os que creem; responsabilidade para todos. O Juiz é Aquele que assumiu nossa humanidade.
Pano de fundo hebraico
- Daniel 7.13–14: bar enash — autoridade universal concedida ao “Filho do Homem”.
- Honra (כָּבוֹד, kavod): glória/valor devido a Deus. João apresenta Jesus compartilhando essa honra.
- Vida (חַיִּים, ḥayyîm) como dom divino: em João, o Filho é a vida e a comunica.
Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração cristocêntrica: honrar o Filho como honramos o Pai (v.23) — culto, oração e vida centrados em Jesus.
- Discipulado de dependência: como o Filho faz só o que vê o Pai fazer (v.19), aprendemos obediência discernida: discernir a obra do Pai e imitá-la.
- Esperança viva: Aquele que tem “vida em si mesmo” segura nossa ressurreição e renovação diária (v.26).
- Responsabilidade moral: seremos julgados pelo Filho do Homem; portanto, fé que ouve e pratica (v.24) — justiça, misericórdia, verdade.
- Missão que maravilha: “maiores obras” (v.20) hoje: vidas vivificadas pelo Evangelho; busque ministérios que comuniquem vida e façam justiça.
Referências acadêmicas úteis
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — (θεωρέω; πέμπω), estudos sobre shaliaḥ em literatura rabínica clássica.
Tabela expositiva (para ensino)
Verso
Afirmação
Termo-chave (grego)
Enfoque teológico
Aplicação
5.19
Filho age só como o Pai age
οὐ δύναται… ἀφ’ ἑαυτοῦ; ὁμοίως
Unidade de vontade/obra Pai-Filho
Discernir e imitar a obra do Pai
5.20
Amor do Pai mostra “maiores obras”
φιλεῖ/ἀγαπᾷ; δείκνυμι; μείζονα ἔργα
Missão nasce do amor intratrinitário
Servir movido por amor, não prestígio
5.22–23
Todo juízo ao Filho; igual honra
κρίσις; ἔδωκεν; τιμάω
Igualdade de honra; cristologia alta
Culto cristocêntrico; confissão pública
5.26
Vida “em si mesmo” ao Filho
ζωὴ ἐν ἑαυτῷ; καθὼς… οὕτως
Autovitalidade; doador de vida
Esperança de ressurreição; vida nova
5.27
Autoridade de julgar: Filho do Homem
ποιεῖν κρίσιν; υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου
Juiz humano-celeste (Dn 7)
Santidade e consolo: o Juiz é Salvador
Conclusão
João 5 revela quem é Jesus: o Filho amado que, em perfeita unidade com o Pai, vivifica e julga, digno da mesma honra de Deus. Ver e honrar o Filho é entrar agora na vida que Ele dá e viver responsavelmente sob o seu senhorio.
Após curar no sábado (5.1–18), Jesus é acusado de violar a Lei e “fazer-se igual a Deus”. A resposta de 5.19–47 é um discurso de defesa (apologia) que revela a relação Pai-Filho, a origem da autoridade de Jesus e as “maiores obras”: vivificar e julgar.
Exegese concentrada (termos-chave do grego)
v.19 — Dependência filial e perfeita imitação
“O Filho por si mesmo não pode (οὐ δύναται) fazer nada de si mesmo, se não vir (βλέπῃ/ὁρᾶν) o Pai fazer; pois tudo o que Ele faz, o Filho faz do mesmo modo (ὁμοίως).”
- οὐ δύναται… ἀφ’ ἑαυτοῦ: não fraqueza, mas inpossibilidade moral/ontológica de agir independente do Pai; expressa unidade de vontade.
- θεωρεῖν/ὁρᾶν: “ver/observar” no sentido de percepção íntima; o Filho “contempla” a ação do Pai.
- ὁμοίως: “igualmente”; as obras do Filho são coextensivas às do Pai.
Teologia: A obediência do Filho não nega sua divindade; antes, define a filiação como perfeita consonância com o Pai (cf. 5.30).
v.20 — Amor intratrinitário e revelação progressiva
“O Pai ama (φιλεῖ/ἀγαπᾷ) o Filho e mostra-lhe (δείκνυσιν) tudo o que faz; e lhe mostrará maiores obras…”
- φιλέω/ἀγαπάω: amor do Pai como fonte da revelação.
- δείκνυμι: “mostrar” como comunicar/partilhar a obra.
- μείζονα ἔργα: “maiores obras” = vivificação e juízo (vv.21–30).
Teologia: O ministério do Filho nasce do amor eterno do Pai e conduz o mundo ao assombro (θαυμάζετε).
v.22–23 — O juízo confiado ao Filho e a honra devida
“O Pai a ninguém julga, mas deu (ἔδωκεν) ao Filho todo o juízo (κρίσις), para que todos honrem (τιμῶσιν) o Filho como honram o Pai…”
- ἔδωκεν (didōmi): concessão de autoridade do Pai (não usurpada).
- κρίσις: avaliação decisiva de Deus na história e no fim.
- τιμάω: “honrar, atribuir valor”.
Teologia: Honrar o Filho como (καθώς) o Pai implica igualdade de honra. Negar honra ao Filho é desonrar o Pai (cf. 1Jo 2.23).
v.26 — Vida em si mesmo
“Como o Pai tem a vida em si mesmo (ζωὴν ἐν ἑαυτῷ), assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo.”
- ζωὴ ἐν ἑαυτῷ: autovitalidade; Deus como fonte de vida.
- καθὼς… οὕτως: paralelismo que indica paridade (o Filho participa, por doação eterna do Pai, da mesma capacidade de vivificar).
Teologia: Cristo não apenas recebe vida; Ele a possui e a comunica (cf. 1.4; 11.25).
v.27 — O Filho do Homem e o juízo
“E deu-lhe autoridade para executar o juízo (ποιεῖν κρίσιν), porque é o Filho do Homem (ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου).”
- ἐξουσία (subentendida): autoridade delegada.
- Filho do Homem: eco de Daniel 7.13-14 (aram. bar enash) — figura humana-celeste a quem é dado domínio, glória e reino.
Teologia: O Juiz é verdadeiramente humano e exaltado por Deus; une compaixão e justiça.
Síntese teológica (João 5)
- Cristologia alta e relacional: Jesus age não independentemente, mas inseparavelmente do Pai; sua obediência revela sua divindade filial, não a nega.
- Missão como amor revelado: o Pai ama o Filho e por amor lhe mostra as obras — a missão do Filho é transparência do coração do Pai.
- Dois atos “maiores”: vivificar e julgar (vv.21–30): já agora (ouvir e viver, v.24) e no futuro (ressurreição e juízo, vv.28–29).
- Honra trinitária: a igualdade de honra (v.23) exige confissão e culto cristocêntricos.
- “Vida em si mesmo” e nova criação: a autovitalidade do Filho fundamenta regeneração, ressurreição e eucaristia da vida (cf. 6.53–58).
- Juízo pelo Filho do Homem: esperança para os que creem; responsabilidade para todos. O Juiz é Aquele que assumiu nossa humanidade.
Pano de fundo hebraico
- Daniel 7.13–14: bar enash — autoridade universal concedida ao “Filho do Homem”.
- Honra (כָּבוֹד, kavod): glória/valor devido a Deus. João apresenta Jesus compartilhando essa honra.
- Vida (חַיִּים, ḥayyîm) como dom divino: em João, o Filho é a vida e a comunica.
Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração cristocêntrica: honrar o Filho como honramos o Pai (v.23) — culto, oração e vida centrados em Jesus.
- Discipulado de dependência: como o Filho faz só o que vê o Pai fazer (v.19), aprendemos obediência discernida: discernir a obra do Pai e imitá-la.
- Esperança viva: Aquele que tem “vida em si mesmo” segura nossa ressurreição e renovação diária (v.26).
- Responsabilidade moral: seremos julgados pelo Filho do Homem; portanto, fé que ouve e pratica (v.24) — justiça, misericórdia, verdade.
- Missão que maravilha: “maiores obras” (v.20) hoje: vidas vivificadas pelo Evangelho; busque ministérios que comuniquem vida e façam justiça.
Referências acadêmicas úteis
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — (θεωρέω; πέμπω), estudos sobre shaliaḥ em literatura rabínica clássica.
Tabela expositiva (para ensino)
Verso | Afirmação | Termo-chave (grego) | Enfoque teológico | Aplicação |
5.19 | Filho age só como o Pai age | οὐ δύναται… ἀφ’ ἑαυτοῦ; ὁμοίως | Unidade de vontade/obra Pai-Filho | Discernir e imitar a obra do Pai |
5.20 | Amor do Pai mostra “maiores obras” | φιλεῖ/ἀγαπᾷ; δείκνυμι; μείζονα ἔργα | Missão nasce do amor intratrinitário | Servir movido por amor, não prestígio |
5.22–23 | Todo juízo ao Filho; igual honra | κρίσις; ἔδωκεν; τιμάω | Igualdade de honra; cristologia alta | Culto cristocêntrico; confissão pública |
5.26 | Vida “em si mesmo” ao Filho | ζωὴ ἐν ἑαυτῷ; καθὼς… οὕτως | Autovitalidade; doador de vida | Esperança de ressurreição; vida nova |
5.27 | Autoridade de julgar: Filho do Homem | ποιεῖν κρίσιν; υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου | Juiz humano-celeste (Dn 7) | Santidade e consolo: o Juiz é Salvador |
Conclusão
João 5 revela quem é Jesus: o Filho amado que, em perfeita unidade com o Pai, vivifica e julga, digno da mesma honra de Deus. Ver e honrar o Filho é entrar agora na vida que Ele dá e viver responsavelmente sob o seu senhorio.
LEITURAS COMPLEMENTARES
SEGUNDA | Jo 1.18 Jesus Cristo, o Eterno.
TERÇA | Mt 3.17 Jesus é o Filho de Deus.
QUARTA | Jo 5.18 O Filho e o Pai são iguais.
QUINTA | Lc 22.70 Jesus se declara o Filho de Deus.
SEXTA | 1Jo 5.10 Negar o Filho é negar o Pai.
SÁBADO | Jo 5.30 O Pai enviou o Filho.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Os seis textos traçam uma linha cristológica coerente: o Filho eterno revela o Pai (Jo), recebe testemunho e aprovação (Mt), afirma sua união/equalidade com Deus (Jo), confessa sua identidade diante do Sinédrio (Lc), e a Igreja é chamada a crer no testemunho de Deus acerca do Filho (1Jo), vivendo em missão obediente como o próprio Cristo (Jo).
SEGUNDA — João 1.18 | Jesus Cristo, o Eterno
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”
- Análise lexical (grego):
- μονογενής (monogenēs): “único/único do seu gênero”; variante forte: μονογενὴς θεός (“Deus unigênito”).
- ἐξηγήσατο (exēgēsato): “explicar, tornar conhecido” → o Filho “exegeta” o Pai.
- εἰς τὸν κόλπον: “ao seio/colo” — intimidade eterna.
- Teologia: Cristo é a autorevelação do Pai (cf. Jo 14.9). Não há conhecimento verdadeiro de Deus à margem de Jesus.
- Plano hebraico: a invisibilidade de YHWH (Ex 33.20) encontra visibilidade no Filho.
- Aplicação: a teologia, a devoção e a ética cristãs são cristocêntricas: olhamos para Jesus para corrigir imagens distorcidas de Deus.
TERÇA — Mateus 3.17 | Jesus é o Filho de Deus
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
- Análise (grego/hebraico):
- ὁ υἱός μου ὁ ἀγαπητός: “meu Filho amado/dileto”.
- εὐδόκησα (eudokēsa): “agradar-se, deleitar-se”.
- Ecos de Sl 2.7 (בְּנִי אַתָּה, “Tu és meu Filho”) e Is 42.1 (עַבְדִּי, “meu Servo”) → Filho-Rei e Servo Sofredor.
- Teologia: Teofania trinitária (Pai fala, Espírito desce, Filho é batizado). A identidade filial antecede a missão.
- Aplicação: ministério flui de identidade recebida, não de desempenho. Servimos a partir do “prazer” do Pai.
QUARTA — João 5.18 | O Filho e o Pai são iguais
…“chamava Deus de seu próprio Pai, fazendo-se igual (ἴσον) a Deus.”
- Análise: ἴσος (isos) = igualdade de status/autoridade; ἴδιος πατήρ = “seu Pai próprio” (relação singular).
- Contexto: cura no sábado → discurso de 5.19–30: o Filho faz o que o Pai faz (vivificar e julgar).
- Teologia: igualdade funcional e ontológica; por isso, honrar o Filho é honrar o Pai (5.23).
- Aplicação: culto, fé e vida cristocêntricos; rejeitar o Filho é contrariar o próprio Deus.
QUINTA — Lucas 22.70 | Confissão: Filho de Deus
“És tu, pois, o Filho de Deus? Ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.”
- Análise (grego): Σὺ οὖν εἶ…; ὑμεῖς λέγετε ὅτι ἐγώ εἰμι. Fórmula afirmativa sob forma judicial (“como dizeis, sou”).
- Contexto imediato (22.69): “o Filho do Homem assentado à direita do Poder” (eco de Dn 7.13–14; Sl 110.1).
- Teologia: Jesus confessa ser Filho e Filho do Homem entronizado. A confissão conduz à cruz sem negar sua identidade.
- Aplicação: fidelidade sob pressão: confessar Cristo publicamente, com mansidão e coragem.
SEXTA — 1 João 5.10 | Negar o Filho é negar o Pai
“Quem crê no Filho de Deus tem em si o testemunho… quem não crê faz de Deus mentiroso…”
- Análise (grego):
- μαρτυρία (martyria): “testemunho, evidência” (cf. 5.6–9: Espírito, água e sangue).
- πεπίστευκεν (perfeito): crer contínuo com efeito presente.
- Teologia: a fé recebe o testemunho de Deus sobre o Filho; negá-lo é chamar Deus de ψεύστης (mentiroso). Pai e Filho são inseparáveis.
- Aplicação: doutrina de Cristo não é opcional; garante segurança e comunhão (2.23).
SÁBADO — João 5.30 | O Pai enviou o Filho
“Eu não posso (οὐ δύναμαι) fazer nada de mim mesmo… porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou (πέμψαντός με).”
- Análise: οὐ δύναμαι… ἀφ’ ἐμαυτοῦ = impossibilidade de agir à parte do Pai; πέμπω / ἀποστέλλω = envio com autoridade.
- Teologia: modelo de obediência filial e critério do juízo: “como ouço, julgo… e o meu juízo é justo”.
- Aplicação: discernir a vontade do Pai por escuta (Palavra/Espírito) e viver em missão obediente.
Referências acadêmicas (seleção)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
Tabela expositiva (resumo para ensino)
Dia
Texto
Termos-chave (grego/hebraico)
Ênfase teológica
Aplicação prática
Seg
Jo 1.18
monogenēs theos; exēgēsato; kolpos
O Filho revela o Pai
Conhecer Deus olhando para Jesus
Ter
Mt 3.17
huios agapētos; eudokēsa (Sl 2; Is 42)
Filho amado e Servo; teofania trinitária
Servir a partir da identidade
Qua
Jo 5.18
isos; idios patēr
Igualdade Pai-Filho; honra ao Filho
Culto e vida cristocêntricos
Qui
Lc 22.70
egō eimi; hyios tou theou (Dn 7; Sl 110)
Confissão messiânica sob julgamento
Coragem para confessar Cristo
Sex
1Jo 5.10
martyria; pseustēs
Crer no testemunho de Deus
Doutrina de Cristo sustenta a fé
Sáb
Jo 5.30
ou dynamai; krinō; pempō
Missão obediente do Enviado
Discernir e fazer a vontade do Pai
Conclusão
A Escritura apresenta Jesus como o Filho eterno, plenamente um com o Pai, confessado, aprovado e enviado. Crer nesse testemunho molda nosso culto, nossa coragem e nossa missão: ver o Filho é ver o Pai; seguir o Filho é fazer a vontade do Pai.
Os seis textos traçam uma linha cristológica coerente: o Filho eterno revela o Pai (Jo), recebe testemunho e aprovação (Mt), afirma sua união/equalidade com Deus (Jo), confessa sua identidade diante do Sinédrio (Lc), e a Igreja é chamada a crer no testemunho de Deus acerca do Filho (1Jo), vivendo em missão obediente como o próprio Cristo (Jo).
SEGUNDA — João 1.18 | Jesus Cristo, o Eterno
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”
- Análise lexical (grego):
- μονογενής (monogenēs): “único/único do seu gênero”; variante forte: μονογενὴς θεός (“Deus unigênito”).
- ἐξηγήσατο (exēgēsato): “explicar, tornar conhecido” → o Filho “exegeta” o Pai.
- εἰς τὸν κόλπον: “ao seio/colo” — intimidade eterna.
- Teologia: Cristo é a autorevelação do Pai (cf. Jo 14.9). Não há conhecimento verdadeiro de Deus à margem de Jesus.
- Plano hebraico: a invisibilidade de YHWH (Ex 33.20) encontra visibilidade no Filho.
- Aplicação: a teologia, a devoção e a ética cristãs são cristocêntricas: olhamos para Jesus para corrigir imagens distorcidas de Deus.
TERÇA — Mateus 3.17 | Jesus é o Filho de Deus
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
- Análise (grego/hebraico):
- ὁ υἱός μου ὁ ἀγαπητός: “meu Filho amado/dileto”.
- εὐδόκησα (eudokēsa): “agradar-se, deleitar-se”.
- Ecos de Sl 2.7 (בְּנִי אַתָּה, “Tu és meu Filho”) e Is 42.1 (עַבְדִּי, “meu Servo”) → Filho-Rei e Servo Sofredor.
- Teologia: Teofania trinitária (Pai fala, Espírito desce, Filho é batizado). A identidade filial antecede a missão.
- Aplicação: ministério flui de identidade recebida, não de desempenho. Servimos a partir do “prazer” do Pai.
QUARTA — João 5.18 | O Filho e o Pai são iguais
…“chamava Deus de seu próprio Pai, fazendo-se igual (ἴσον) a Deus.”
- Análise: ἴσος (isos) = igualdade de status/autoridade; ἴδιος πατήρ = “seu Pai próprio” (relação singular).
- Contexto: cura no sábado → discurso de 5.19–30: o Filho faz o que o Pai faz (vivificar e julgar).
- Teologia: igualdade funcional e ontológica; por isso, honrar o Filho é honrar o Pai (5.23).
- Aplicação: culto, fé e vida cristocêntricos; rejeitar o Filho é contrariar o próprio Deus.
QUINTA — Lucas 22.70 | Confissão: Filho de Deus
“És tu, pois, o Filho de Deus? Ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.”
- Análise (grego): Σὺ οὖν εἶ…; ὑμεῖς λέγετε ὅτι ἐγώ εἰμι. Fórmula afirmativa sob forma judicial (“como dizeis, sou”).
- Contexto imediato (22.69): “o Filho do Homem assentado à direita do Poder” (eco de Dn 7.13–14; Sl 110.1).
- Teologia: Jesus confessa ser Filho e Filho do Homem entronizado. A confissão conduz à cruz sem negar sua identidade.
- Aplicação: fidelidade sob pressão: confessar Cristo publicamente, com mansidão e coragem.
SEXTA — 1 João 5.10 | Negar o Filho é negar o Pai
“Quem crê no Filho de Deus tem em si o testemunho… quem não crê faz de Deus mentiroso…”
- Análise (grego):
- μαρτυρία (martyria): “testemunho, evidência” (cf. 5.6–9: Espírito, água e sangue).
- πεπίστευκεν (perfeito): crer contínuo com efeito presente.
- Teologia: a fé recebe o testemunho de Deus sobre o Filho; negá-lo é chamar Deus de ψεύστης (mentiroso). Pai e Filho são inseparáveis.
- Aplicação: doutrina de Cristo não é opcional; garante segurança e comunhão (2.23).
SÁBADO — João 5.30 | O Pai enviou o Filho
“Eu não posso (οὐ δύναμαι) fazer nada de mim mesmo… porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou (πέμψαντός με).”
- Análise: οὐ δύναμαι… ἀφ’ ἐμαυτοῦ = impossibilidade de agir à parte do Pai; πέμπω / ἀποστέλλω = envio com autoridade.
- Teologia: modelo de obediência filial e critério do juízo: “como ouço, julgo… e o meu juízo é justo”.
- Aplicação: discernir a vontade do Pai por escuta (Palavra/Espírito) e viver em missão obediente.
Referências acadêmicas (seleção)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
Tabela expositiva (resumo para ensino)
Dia | Texto | Termos-chave (grego/hebraico) | Ênfase teológica | Aplicação prática |
Seg | Jo 1.18 | monogenēs theos; exēgēsato; kolpos | O Filho revela o Pai | Conhecer Deus olhando para Jesus |
Ter | Mt 3.17 | huios agapētos; eudokēsa (Sl 2; Is 42) | Filho amado e Servo; teofania trinitária | Servir a partir da identidade |
Qua | Jo 5.18 | isos; idios patēr | Igualdade Pai-Filho; honra ao Filho | Culto e vida cristocêntricos |
Qui | Lc 22.70 | egō eimi; hyios tou theou (Dn 7; Sl 110) | Confissão messiânica sob julgamento | Coragem para confessar Cristo |
Sex | 1Jo 5.10 | martyria; pseustēs | Crer no testemunho de Deus | Doutrina de Cristo sustenta a fé |
Sáb | Jo 5.30 | ou dynamai; krinō; pempō | Missão obediente do Enviado | Discernir e fazer a vontade do Pai |
Conclusão
A Escritura apresenta Jesus como o Filho eterno, plenamente um com o Pai, confessado, aprovado e enviado. Crer nesse testemunho molda nosso culto, nossa coragem e nossa missão: ver o Filho é ver o Pai; seguir o Filho é fazer a vontade do Pai.
HINOS SUGERIDOS: 8, 205, 207
MOTIVO DE ORAÇÃO
Ore para que creiam que Jesus está no Pai e o Pai está em Jesus.
ESBOÇO DA LIÇÃO
Introdução
1- O Amor do Pai é visto no Filho
2- O Filho revela o Pai
3- Pai e Filho são iguais
Conclusão
DINAMICA EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Dinâmica: “Unidade em Ação”
Objetivo:
Demonstrar de forma prática a perfeita unidade e harmonia entre o Pai e o Filho e refletir sobre como essa unidade deve se refletir em nossas vidas e relacionamentos.
Material Necessário:
- Cartões ou papéis coloridos
- Canetas ou marcadores
- Quadro ou flipchart
Passo a Passo:
- Abertura (5 minutos):
- Leia João 10:30 e João 5:19-20.
- Explique brevemente que o Pai e o Filho possuem a mesma essência, glória e poder, mas são Pessoas distintas com funções distintas.
- Atividade em Grupo (10 minutos):
- Divida os participantes em grupos de 3 a 5 pessoas.
- Entregue cartões ou papéis para cada grupo.
- Peça que escrevam exemplos práticos de situações em que a unidade e a harmonia são importantes em um grupo ou família.
- Cada grupo deve mostrar como a harmonia gera resultados positivos, assim como a unidade do Pai e do Filho produz salvação e vida eterna.
- Reflexão Individual (5 minutos):
- Cada participante escreve em um cartão: “Como posso refletir a unidade e harmonia de Deus em minha vida hoje?”
- Incentive que pensem em relações pessoais, familiares ou comunitárias.
- Compartilhamento (10 minutos):
- Peça que voluntários compartilhem seus pensamentos e insights.
- Registre as ideias no quadro, destacando palavras-chave como amor, cooperação, obediência e serviço.
- Encerramento (5 minutos):
- Leia novamente João 12:45: “E quem me vê a mim vê aquele que me enviou.”
- Explique que assim como Jesus revela o Pai em perfeita unidade, devemos também refletir essa harmonia em nossas ações e atitudes.
- Ore pedindo que Deus nos ajude a viver em unidade com Ele e a refletir essa harmonia em nosso convívio diário.
Aplicação Prática:
- Unidade entre Pai e Filho nos ensina a obedecer a Deus em tudo e a refletir essa harmonia nos relacionamentos.
- Podemos praticar a cooperação, empatia e serviço no dia a dia como expressão da unidade divina.
Dinâmica: “Unidade em Ação”
Objetivo:
Demonstrar de forma prática a perfeita unidade e harmonia entre o Pai e o Filho e refletir sobre como essa unidade deve se refletir em nossas vidas e relacionamentos.
Material Necessário:
- Cartões ou papéis coloridos
- Canetas ou marcadores
- Quadro ou flipchart
Passo a Passo:
- Abertura (5 minutos):
- Leia João 10:30 e João 5:19-20.
- Explique brevemente que o Pai e o Filho possuem a mesma essência, glória e poder, mas são Pessoas distintas com funções distintas.
- Atividade em Grupo (10 minutos):
- Divida os participantes em grupos de 3 a 5 pessoas.
- Entregue cartões ou papéis para cada grupo.
- Peça que escrevam exemplos práticos de situações em que a unidade e a harmonia são importantes em um grupo ou família.
- Cada grupo deve mostrar como a harmonia gera resultados positivos, assim como a unidade do Pai e do Filho produz salvação e vida eterna.
- Reflexão Individual (5 minutos):
- Cada participante escreve em um cartão: “Como posso refletir a unidade e harmonia de Deus em minha vida hoje?”
- Incentive que pensem em relações pessoais, familiares ou comunitárias.
- Compartilhamento (10 minutos):
- Peça que voluntários compartilhem seus pensamentos e insights.
- Registre as ideias no quadro, destacando palavras-chave como amor, cooperação, obediência e serviço.
- Encerramento (5 minutos):
- Leia novamente João 12:45: “E quem me vê a mim vê aquele que me enviou.”
- Explique que assim como Jesus revela o Pai em perfeita unidade, devemos também refletir essa harmonia em nossas ações e atitudes.
- Ore pedindo que Deus nos ajude a viver em unidade com Ele e a refletir essa harmonia em nosso convívio diário.
Aplicação Prática:
- Unidade entre Pai e Filho nos ensina a obedecer a Deus em tudo e a refletir essa harmonia nos relacionamentos.
- Podemos praticar a cooperação, empatia e serviço no dia a dia como expressão da unidade divina.
INTRODUÇÃO
O Evangelho de João relata fatos que mostram o Deus Pai na vida do Deus Filho (Jo 5.19). O próprio Jesus descreve que ver o Filho era como ver o Pai (Jo 14.9). Paulo escreve que, através do Filho, o Pai visitou o Seu povo (G14.4,5). Nessa perspectiva, Jesus é a revelação plena e definitiva do Pai (Mt 11.27).
1- O Amor do Pai é visto no Filho
O Filho de Deus possui a mesma natureza e essência de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’; Jo 3.16. Este versículo admirável aponta para a dimensão do Amor de Deus por nossa vida. Somente por Jesus podemos receber a adoção como filhos de Deus (G1 3.26). João, em sua primeira carta, diz que o amor do Pai por nós é tão grande que somos chamados de filhos de Deus, e nós somos de fato Seus filhos (1 Jo 3.1).
1.1. O Filho Unigênito de Deus. Unigênito ou filho único. O Filho Unigênito de Deus provém de Deus Pai, de Quem tem a mesma natureza ( Jo 1.14). O termo aparece algumas vezes nos escritos de João, todas elas relacionadas a Jesus (Jo 1.14,18; 3.16,18; 1 Jo 4.9), e ressalta a Sua divindade. O apóstolo Paulo descreve Cristo como o primogênito de toda a criação (Cl 1.15). Sendo assim, o unigênito aqui não nos conduz à ideia de geração, mas de natureza e caráter. O
Unigênito de Deus tem familiaridade única com o Pai. Jesus, como o Filho de Deus, é Eterno (Cl 1.15-17), por isso Isaías O chama de Pai da Eternidade (Is 9.6).
Ralph Earle & Joseph Mayfield (2019, p.32): “Uma palavra precisa ser dita sobre a expressão o Unigênito do Pai: Comparada a Colossenses 1.15, onde Cristo é descrito como o primogênito de toda a criação; a frase apresenta a filiação de Cristo sob aspectos complementares. A primeira marca a sua relação com Deus como absolutamente sem paralelos; e a outra marca a sua relação com a criação como preexistente e soberana’. O significado é claro e poderoso: `A glória do
Verbo encarnado era como a glória que o Filho eterno derivaria dele, e assim a poderia exibir aos fiéis”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
O Amor do Pai é visto no Filho / O Filho Unigênito
1. O amor do Pai visível no Filho (Jo 3.16; 1 Jo 3.1; Gl 4.4–5)
Leitura teológica sintética
João 3.16 resume o evangelho: o amor do Pai se manifesta dando o Filho; a oferta da vida (ζωή / zōē) passa por Cristo. Em sentido paulino (Gl 4.4–5) essa dádiva implica adoção e restabelecimento de filiação: a missão do Filho torna possível que os homens deixem a tutela e se tornem filhos-herdeiros. 1 João 3.1 ecoa esse tema: a surpreendente graça do Pai que nos chama “filhos de Deus”.
A mensagem central: conhecer Deus (=o Pai) passa por ver e receber o Filho; o amor divino é antes de tudo «visível» e eficaz em Cristo.
Palavras-chave (grego)
- ἀγάπη (agápē) — amor divino ativo; em João e 1Jo, é o termo que descreve a iniciativa de Deus.
- δόω / ἔδωκεν (dō/edōken) — “dar”: verbo sacrificial em Jo 3.16 (Deus deu o seu Filho).
- ζωή (zōē) — “vida” (vida divina plena, não apenas existência biológica).
- υἱοθεσία (huiothesía) — “adoção”; em Paulo, mudança de estatuto que implica direitos e comunhão.
2. “Unigênito” — μονογενής (John) e πρωτότοκος (Colossenses)
A palavra grega e o seu alcance
- μονογενής (monogenēs) — transl. “unigênito, único-gerado, único de seu gênero”. Uso joânico (Jo 1.14; 1.18; 3.16; 1 Jo 4.9). Numa linguagem tradicional aparece traduzido como “unigênito” («o Filho unigênito»), mas a pesquisa lexical recente destaca o matiz “único/insubstituível” — «one-of-a-kind» — mais que um argumento cronológico de geração temporal. BDAG e estudos lexicográficos reforçam esse sentido de singularidade absoluta.
- Observação textual: Jo 1.18 apresenta variante manuscrita entre ὁ μονογενὴς θεός (“o Deus unigênito”) e ὁ μονογενὴς υἱός (“o unigênito Filho”); Raymond Brown e outros comentadores discutem as implicações textuais. Em qualquer leitura a ênfase é na exclusividade da relação com o Pai.
- πρωτότοκος (prōtotokos) — “primogênito” (Col 1.15). Em Paulo, o termo aponta tanto para preeminência quanto para prioridade de posse/status, não obrigatoriamente para “criação” no sentido vulgar. Paulinas e patrísticas tratam prōtotokos como expressão da primacia cósmica do Cristo (cf. Col 1 e Rm 8).
Relação entre os termos
- monogenēs (João) refere-se à singularidade filial e à relação intradivina; prōtotokos (Paulo/Cl) refere-se à preeminência cósmica do Senhor sobre a criação. Juntos, eles afirmam: Cristo é único em relação ao Pai e soberano sobre a criação — não contradizem, complementam.
3. Textos conexos e implicações históricas-dogmáticas
- Cristologia encarnacional (Jo 1.14; Gl 4.4): a afirmação “nascido de mulher, nascido sob a Lei” não diminui a divindade do Filho; ao contrário, demonstra sua identificação plena com o homem para operar redenção.
- “Filho unigênito” e eternidade: chamar Jesus de monogenēs não exige uma teoria de «geração no tempo»; a tradição ortodoxa e a exegese moderna entendem-no como expressão da unicidade e exclusividade da relação Pai-Filho — fundamento para a adoração.
- Controvérsias patristicas: termos como prōtotokos foram alvo de controvérsias (arianismo etc.) — tarefa da teologia é mostrar que a linguagem biblica visa afirmar unicidade, autoridade e comunhão, não hierarquias ontológicas diminutivas.
Referências clássicas sobre esses desdobramentos: Raymond E. Brown (John), D. A. Carson (John), N. T. Wright (Cristologia paulina), Andreas Köstenberger (João), além de estudos técnicos em BDAG/TDNT.
4. Análise lexical comparativa — grego ⟷ hebraico
- μονογενής ↔ heb. יָחִיד / בֶּן יָחִיד (yāḥîd / ben yāḥîd) — “único; filho único” (Ex 22:2; Gen 22:2 “o teu filho único” — sentido de singularidade). No pensamento hebraico a expressão carrega exclusividade e precioso valor.
- πρωτότοκος ↔ heb. בְּכוֹר (bĕkôr) — “primogênito” — associado a direito, liderança e herança (Ex 4:22; Num 3:13). Paulo usa o termo para marcar o primado do Messias sobre a criação.
- אֲבִי־עַד / אֵב לָעַד (Isa 9:6) — “Pai da eternidade / Pai para sempre” (expressão hebraica que, aplicada cristologicamente, aponta para a dimensão eterna do incumbido por Deus).
5. Leituras acadêmicas recomendadas (seu uso em preparo)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico (artigos sobre μονογενής / πρωτότοκος / υἱοθεσία).
(Earle & Mayfield também fazem essa distinção funcional entre μονογενής e πρωτότοκος.)
6. Aplicação pessoal e comunitária (prática)
- Cristocentrar a devoção — olhar para Cristo é olhar para o Pai; a leitura devocional deve priorizar os evangelhos joaninos e a contemplação cristológica (oração: “Abba” + meditação no Logos encarnado).
- Confiança na adoção — se o Pai deu o Filho por amor, nossa filiação é segura; isso muda autoconceito, chamado e missão.
- Cuidado pastoral com palavras — explicar monogenēs como singularidade e dignidade, não como “geração temporal”; ensinar a cristologia histórica (ortodoxia) para evitar confusões.
- Missão e ética — o Filho revela o Pai que ama e dá; nossa missão é testemunhar com gestos que encarnem esse amor (diaconia, justiça, anúncio).
- Adoração informada — igrejas devem articular liturgias e catequeses que mostrem que Cristo é digno de honra igual ao Pai (Jo 5:23; Jo 1.18).
Exemplos práticos: catequese sobre adoção em grupos pequenos; pregações sobre João 3.16 integradas com Col 1.15–20; cursos sobre vocabulário cristológico (monogenēs / prōtotokos) para líderes.
7. Tabela expositiva (resumo pedagógico)
Tema
Texto(s) chave
Termo (grego/hebraico)
Núcleo semântico
Implicação teológica / aplicação
Amor do Pai visível no Filho
Jo 3.16; 1 Jo 3.1; Gl 4.4–5
ἀγάπη; διδόναι; υἱοθεσία
Pai doa o Filho → adoção / vida (ζωή)
Segurança salvadora; missão que anuncia amor
Filho «Unigênito»
Jo 1.14,18; 3.16; 1 Jo 4.9
μονογενής (monogenēs) / יָחִיד (yāḥîd)
Singularidade / exclusividade filial
Cristo = único mediador; fundamento de adoração
Primogenitura cósmica
Cl 1.15
πρωτότοκος (prōtotokos) / בְּכוֹר
Preeminência sobre a criação
Cristo senhor cósmico; garantia da redenção universal
Encarnação e identificação
Gl 4.4; Jo 1.14
γενόμενος ἐκ γυναικός; ὁ λόγος
Plena humanidade do Filho
Redenção incarnacional: solidariedade humana
Termos de sustento lex.
Jo 1.18 textual var.
μονογενής θεός / μονογενής υἱός
textualidade e nuance
Importância exegética: afirmar a deidade e a filiação
Hebraísmo correlato
Isa 9.6
אֲבִי־עַד / אֵל־עוֹלָם
«Pai da eternidade» (título messiânico)
Cristo como figura de autoridade e permanência
8. Conclusão curta
Dizer que «o Filho é unigênito» e que «o Pai o deu por amor» não é abstrato: são declarações cristológicas decisivas. Elas afirmam que Deus se revelou plenamente no Filho (João), que a obra de Cristo é histórica e universal (Paulo), e que a nossa resposta deve ser adoração filial, confiança, e compromisso prático com a missão de levar esse amor ao mundo.
O Amor do Pai é visto no Filho / O Filho Unigênito
1. O amor do Pai visível no Filho (Jo 3.16; 1 Jo 3.1; Gl 4.4–5)
Leitura teológica sintética
João 3.16 resume o evangelho: o amor do Pai se manifesta dando o Filho; a oferta da vida (ζωή / zōē) passa por Cristo. Em sentido paulino (Gl 4.4–5) essa dádiva implica adoção e restabelecimento de filiação: a missão do Filho torna possível que os homens deixem a tutela e se tornem filhos-herdeiros. 1 João 3.1 ecoa esse tema: a surpreendente graça do Pai que nos chama “filhos de Deus”.
A mensagem central: conhecer Deus (=o Pai) passa por ver e receber o Filho; o amor divino é antes de tudo «visível» e eficaz em Cristo.
Palavras-chave (grego)
- ἀγάπη (agápē) — amor divino ativo; em João e 1Jo, é o termo que descreve a iniciativa de Deus.
- δόω / ἔδωκεν (dō/edōken) — “dar”: verbo sacrificial em Jo 3.16 (Deus deu o seu Filho).
- ζωή (zōē) — “vida” (vida divina plena, não apenas existência biológica).
- υἱοθεσία (huiothesía) — “adoção”; em Paulo, mudança de estatuto que implica direitos e comunhão.
2. “Unigênito” — μονογενής (John) e πρωτότοκος (Colossenses)
A palavra grega e o seu alcance
- μονογενής (monogenēs) — transl. “unigênito, único-gerado, único de seu gênero”. Uso joânico (Jo 1.14; 1.18; 3.16; 1 Jo 4.9). Numa linguagem tradicional aparece traduzido como “unigênito” («o Filho unigênito»), mas a pesquisa lexical recente destaca o matiz “único/insubstituível” — «one-of-a-kind» — mais que um argumento cronológico de geração temporal. BDAG e estudos lexicográficos reforçam esse sentido de singularidade absoluta.
- Observação textual: Jo 1.18 apresenta variante manuscrita entre ὁ μονογενὴς θεός (“o Deus unigênito”) e ὁ μονογενὴς υἱός (“o unigênito Filho”); Raymond Brown e outros comentadores discutem as implicações textuais. Em qualquer leitura a ênfase é na exclusividade da relação com o Pai.
- πρωτότοκος (prōtotokos) — “primogênito” (Col 1.15). Em Paulo, o termo aponta tanto para preeminência quanto para prioridade de posse/status, não obrigatoriamente para “criação” no sentido vulgar. Paulinas e patrísticas tratam prōtotokos como expressão da primacia cósmica do Cristo (cf. Col 1 e Rm 8).
Relação entre os termos
- monogenēs (João) refere-se à singularidade filial e à relação intradivina; prōtotokos (Paulo/Cl) refere-se à preeminência cósmica do Senhor sobre a criação. Juntos, eles afirmam: Cristo é único em relação ao Pai e soberano sobre a criação — não contradizem, complementam.
3. Textos conexos e implicações históricas-dogmáticas
- Cristologia encarnacional (Jo 1.14; Gl 4.4): a afirmação “nascido de mulher, nascido sob a Lei” não diminui a divindade do Filho; ao contrário, demonstra sua identificação plena com o homem para operar redenção.
- “Filho unigênito” e eternidade: chamar Jesus de monogenēs não exige uma teoria de «geração no tempo»; a tradição ortodoxa e a exegese moderna entendem-no como expressão da unicidade e exclusividade da relação Pai-Filho — fundamento para a adoração.
- Controvérsias patristicas: termos como prōtotokos foram alvo de controvérsias (arianismo etc.) — tarefa da teologia é mostrar que a linguagem biblica visa afirmar unicidade, autoridade e comunhão, não hierarquias ontológicas diminutivas.
Referências clássicas sobre esses desdobramentos: Raymond E. Brown (John), D. A. Carson (John), N. T. Wright (Cristologia paulina), Andreas Köstenberger (João), além de estudos técnicos em BDAG/TDNT.
4. Análise lexical comparativa — grego ⟷ hebraico
- μονογενής ↔ heb. יָחִיד / בֶּן יָחִיד (yāḥîd / ben yāḥîd) — “único; filho único” (Ex 22:2; Gen 22:2 “o teu filho único” — sentido de singularidade). No pensamento hebraico a expressão carrega exclusividade e precioso valor.
- πρωτότοκος ↔ heb. בְּכוֹר (bĕkôr) — “primogênito” — associado a direito, liderança e herança (Ex 4:22; Num 3:13). Paulo usa o termo para marcar o primado do Messias sobre a criação.
- אֲבִי־עַד / אֵב לָעַד (Isa 9:6) — “Pai da eternidade / Pai para sempre” (expressão hebraica que, aplicada cristologicamente, aponta para a dimensão eterna do incumbido por Deus).
5. Leituras acadêmicas recomendadas (seu uso em preparo)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico (artigos sobre μονογενής / πρωτότοκος / υἱοθεσία).
(Earle & Mayfield também fazem essa distinção funcional entre μονογενής e πρωτότοκος.)
6. Aplicação pessoal e comunitária (prática)
- Cristocentrar a devoção — olhar para Cristo é olhar para o Pai; a leitura devocional deve priorizar os evangelhos joaninos e a contemplação cristológica (oração: “Abba” + meditação no Logos encarnado).
- Confiança na adoção — se o Pai deu o Filho por amor, nossa filiação é segura; isso muda autoconceito, chamado e missão.
- Cuidado pastoral com palavras — explicar monogenēs como singularidade e dignidade, não como “geração temporal”; ensinar a cristologia histórica (ortodoxia) para evitar confusões.
- Missão e ética — o Filho revela o Pai que ama e dá; nossa missão é testemunhar com gestos que encarnem esse amor (diaconia, justiça, anúncio).
- Adoração informada — igrejas devem articular liturgias e catequeses que mostrem que Cristo é digno de honra igual ao Pai (Jo 5:23; Jo 1.18).
Exemplos práticos: catequese sobre adoção em grupos pequenos; pregações sobre João 3.16 integradas com Col 1.15–20; cursos sobre vocabulário cristológico (monogenēs / prōtotokos) para líderes.
7. Tabela expositiva (resumo pedagógico)
Tema | Texto(s) chave | Termo (grego/hebraico) | Núcleo semântico | Implicação teológica / aplicação |
Amor do Pai visível no Filho | Jo 3.16; 1 Jo 3.1; Gl 4.4–5 | ἀγάπη; διδόναι; υἱοθεσία | Pai doa o Filho → adoção / vida (ζωή) | Segurança salvadora; missão que anuncia amor |
Filho «Unigênito» | Jo 1.14,18; 3.16; 1 Jo 4.9 | μονογενής (monogenēs) / יָחִיד (yāḥîd) | Singularidade / exclusividade filial | Cristo = único mediador; fundamento de adoração |
Primogenitura cósmica | Cl 1.15 | πρωτότοκος (prōtotokos) / בְּכוֹר | Preeminência sobre a criação | Cristo senhor cósmico; garantia da redenção universal |
Encarnação e identificação | Gl 4.4; Jo 1.14 | γενόμενος ἐκ γυναικός; ὁ λόγος | Plena humanidade do Filho | Redenção incarnacional: solidariedade humana |
Termos de sustento lex. | Jo 1.18 textual var. | μονογενής θεός / μονογενής υἱός | textualidade e nuance | Importância exegética: afirmar a deidade e a filiação |
Hebraísmo correlato | Isa 9.6 | אֲבִי־עַד / אֵל־עוֹלָם | «Pai da eternidade» (título messiânico) | Cristo como figura de autoridade e permanência |
8. Conclusão curta
Dizer que «o Filho é unigênito» e que «o Pai o deu por amor» não é abstrato: são declarações cristológicas decisivas. Elas afirmam que Deus se revelou plenamente no Filho (João), que a obra de Cristo é histórica e universal (Paulo), e que a nossa resposta deve ser adoração filial, confiança, e compromisso prático com a missão de levar esse amor ao mundo.
1.2. A vontade do Filho é a mesma do Pai. Como implicação da importância da unidade entre o Pai e o Filho, observamos a integração de interesses e causas. Vejamos o que Jesus disse a esse respeito: “(…) o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai, porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente”, Jo 5.19. Jesus assim falou em razão da opinião que os judeus tinham a respeito dEle (Jo 5.16-18). O foco narrativo de Cristo nos faz ver que Ele não fazia nada contra a própria vontade porque a vontade do Filho é a mesma do Pai. O Filho, em certa ocasião, fez uma declaração que fortalece essa verdade: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; (…) porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou”; Jo 5.30.
Comentário MacArthur- Gênesis a Apocalipse (2019, p.1330): “Em resposta à hostilidade dos judeus quanto às implicações de suas afirmações de igualdade com Deus Jesus tornou-se ainda mais destemido, contundente e enfático. Jesus vinculou diretamente ao Pai suas ações de cura no sábado. O Filho nunca assumiu um ato independente que o colocasse contra o Pai, pois o Filho apenas fazia aquelas coisas, coincidiam e coexistiam com tudo o que o Pai faz. Assim Jesus deu a entender que o único que poderia fazer o que o Pai faz deve ser tão grande quanto o Pai”
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
A VONTADE DO FILHO É A MESMA DO PAI
Comentário bíblico-teológico aprofundado (João 5.19; 5.30)
1. Leitura central e ponto do texto
Em João 5 Jesus responde às acusações dos judeus explicando a relação íntima entre Pai e Filho: “ὁ υἱὸς οὐ δύναται ἀφʼ ἑαυτοῦ ποιεῖν οὐδέν, εἰ μὴ ἂν ἴδῃ τὸν πατέρα ποιoῦντα… καὶ ὃ ποιεῖ ὁ υἱὸς ὁμοίως ποιεῖ” (Jo 5.19). E em 5.30: “οὐ δύναμαι ἀφʼ ἐμαυτοῦ ποιεῖν οὐδέν… οὐ γὰρ τὴν ἐμὴν θέλησιν ζητῶ, ἀλλὰ τὸν θέλημα τοῦ πέμψαντός με.” A tese é clara: aquilo que o Filho faz é coincidente com a vontade do Pai — não por coerção externa, mas por perfeita comunhão de vontade e ação.
Isso não significa perda da pessoa distinta do Filho. Pelo contrário: João expressa união pessoal e funcional (economic/missional) sem dissolver as pessoas da Trindade (nem cair em modalismo). A obra do Filho é a obra do Pai manifestada em Cristo.
2. Análise lexical e sintática (grego) — palavras-chaves
- οὐ δύναται (ou dýnatai) — “não pode / é incapaz” (implica impossibilidade prática/ontológica de agir separado do Pai).
- ἀφʼ ἑαυτοῦ / ἀφʼ ἐμαυτοῦ — “por si mesmo / de mim mesmo” (ênfase em ação autônoma).
- ἴδῃ / θεωρεῖ / βλέπει (ídē / theōrei / blepei) — “ver / contemplar / perceber”: ver aqui é íntimo conhecimento, não apenas visão sensorial.
- ὁμοίως (homoíōs) — “igualmente / do mesmo modo”: o Filho age do mesmo modo que o Pai.
- θέλημα (thélēma) — “vontade”: termo recorrente para a vontade divina. Jesus “não busca” (οὐ ζητῶ) a sua vontade, mas a do Pai.
- πέμψας / πέμψαντός με (pempsas / pempsantos me) — “aquele que me enviou”: o envio legitima a missão; a obediência é resposta ao envio.
(Léxicos recomendados: BDAG, Louw–Nida — para nuances de δύναμαι / θεωρέω / θέλημα.)
3. O que o texto afirma teologicamente
a) Unidade econômica e distinção pessoal
João afirma unidade de ação (o Filho faz o que vê o Pai fazer) e distinção de pessoas (o Pai envia; o Filho é enviado). Esta é a estrutura clássica da economia trinitária: o Pai envia, o Filho obedece na missão, o Espírito comunica “o que é do Filho” ao crente (Jo 14–16).
b) Obediência e liberdade
A declaração “οὐ δύναται… ποιεῖν ἐὰν μὴ ἴδῃ τὸν Πατέρα” não revela impotência incapacitante, mas livre submissão: o Filho tem plena volition e escolhe obediência por amor — coerente com o “οὐ ζητῶ τὴν ἐμήν θέλησιν”. É submissão voluntária, não desigualdade ontológica.
c) Cristologia alta (divina e humana)
Ao dizer que faz “o mesmo” que o Pai, Jesus reivindica autoridade e prerrogativas divinas (Jesus vivifica, julga — Jo 5.21,22). Ainda assim, o discurso mostra como a encarnação envolve identificação redentora: o Filho age como humano obediente e como Deus que dá vida.
d) Justiça, revelação e juízo
A consonância de vontades explica por que o Filho pode ser o Juiz legítimo (Jo 5.22,27): o juízo não é usurpação, mas exercício de autoridade concedida pelo Pai — fruto da comunhão trinitária.
4. Fundamentos bíblicos e patrísticos contextualizando a afirmação
- Antigo Testamento e conceito de enviado (šāliaḥ / שָׁלַח): no pensamento judaico, o enviado representa o enviador. João aprofunda isso: o Enviado (ὁ πέμψας) é revelado no Enviado que o representa perfeitamente.
- Daniel 7.13–14 (ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου): autoridade humana-celeste delegada ao Filho do Homem — em Jo 5 a reivindicação de juízo e de dar vida implica cumprimento desta figura messiânica.
- Patrística: os concílios (Niceia/Calcedônia) afirmaram que o Filho não é subordinado ontologicamente ao Pai; as declarações joaninas informaram estas formulações: unidade de essência e distinção de pessoas.
Referências historiográficas: Raymond E. Brown, D. A. Carson, Leon Morris e Andreas Köstenberger tratam essa tensão entre submissão econômica e igualdade ontológica em seus comentários sobre João; Richard Bauckham analisa a representação divina em Jesus.
5. Conversas contemporâneas (breve nota crítica)
Na teologia moderna ocorrem duas leituras equivocadas:
- Subordinação ontológica (perigoso) — ver a afirmação como prova de que o Filho é ontologicamente inferior ao Pai; governo trinitário não autoriza concluir diferenciação de essência.
- Modalismo (negando distinção) — ver a unidade como fusão de pessoas. João mantém distinção: “o Pai enviou” / “o Filho faz” — pessoas distintas, ação unida.
A leitura clássica e equilibrada (Nicena/Calcedoniana) preserva igualdade de essência + distinção pessoal + economia da missão.
6. Aplicação pastoral e pessoal
- Imitar Cristo na obediência livre: a vontade do Filho como padrão — agir não por auto-exaltação, mas buscando a vontade do Pai (prática de oração: “Senhor, não a minha vontade…”).
- Unidade missionária: igrejas devem buscar ação conjunta (oração + missão) com clareza de papéis, não rivalidades; unidade em diversidade como imagem trinitária.
- Discernir a vontade de Deus: contemplar Cristo (os Evangelhos) é o método bíblico para conhecer a vontade do Pai — o Filho “mostra” o Pai.
- Consolo e confiança no juízo justo: o juízo em Cristo é legítimo e justo; a esperança cristã confia que o Juiz é também Aquele que dá vida (Jo 5.21,26).
Prática: modelos de decisão congregacional que imitam a submissão aproximativa ao discernimento coletivo e ao Espírito (oração, Escritura, conselho sábio).
7. Leituras acadêmicas recomendadas
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas δύναμαι, θεωρέω, θέλημα.
(Para leitura conservadora como a do MacArthur que você citou, ver John MacArthur, Gospel According to Jesus / comentário sobre João — útil para homilética.)
8. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Item
Texto (João)
Termo grego
Significado / Nuance
Implicação prática
Impossibilidade de agir isoladamente
Jo 5.19 — οὐ δύναται ἀφʼ ἑαυτοῦ
οὐ δύναται
Não capacidade de agir “autonomamente” — expressão de perfeita comunhão
Seguir o padrão da obediência amorosa
Contemplação do Pai
Jo 5.19 — ἴδῃ τὸν πατέρα ποιoῦντα
ἴδῃ / θεωρεῖν
“Ver” = conhecimento íntimo que precede a ação
Buscar conhecer a vontade do Pai em Cristo
Igual ação
Jo 5.19 — ὁμοίως ποιεῖ
ὁμοίως
“Do mesmo modo” — identidade funcional nas obras
Unidade missionária entre obras e doutrina
Não buscar a própria vontade
Jo 5.30 — οὐ ζητῶ τὴν ἐμὴν θέλησιν
θέλημα
Vontade: Jesus não procura seu interesse próprio
Exercer liderança servil; submissão livre
Envio e legitimação
Jo 5.30 — τοῦ πέμψαντός με
πέμπω
Encarrega e autoriza; missão legítima do Filho
Missão da igreja: continuar obra do Enviado
Juízo e vida
Jo 5.21,22,26–27
κρίσις; ζωὴ ἐν ἑαυτῷ
Filho dá vida e exerce juízo — autoridade plena
Esperança e responsabilidade ética
9. Breve conclusão
João 5.19–30 oferece uma visão condensada da consonância de vontade entre Pai e Filho: Jesus age como o Pai age porque conhece o Pai intimamente e voluntariamente submete sua vontade à vontade do Pai que o enviou. Isso funda a autoridade de sua missão (dar vida, julgar) e preserva a doutrina da Trindade: união econômica na missão + distinção pessoal na relação. Para a vida cristã, é chamado a imitar essa obediência livre, a buscar em Cristo o padrão da vontade divina e a viver em unidade missionária que manifeste o Pai ao mundo.
A VONTADE DO FILHO É A MESMA DO PAI
Comentário bíblico-teológico aprofundado (João 5.19; 5.30)
1. Leitura central e ponto do texto
Em João 5 Jesus responde às acusações dos judeus explicando a relação íntima entre Pai e Filho: “ὁ υἱὸς οὐ δύναται ἀφʼ ἑαυτοῦ ποιεῖν οὐδέν, εἰ μὴ ἂν ἴδῃ τὸν πατέρα ποιoῦντα… καὶ ὃ ποιεῖ ὁ υἱὸς ὁμοίως ποιεῖ” (Jo 5.19). E em 5.30: “οὐ δύναμαι ἀφʼ ἐμαυτοῦ ποιεῖν οὐδέν… οὐ γὰρ τὴν ἐμὴν θέλησιν ζητῶ, ἀλλὰ τὸν θέλημα τοῦ πέμψαντός με.” A tese é clara: aquilo que o Filho faz é coincidente com a vontade do Pai — não por coerção externa, mas por perfeita comunhão de vontade e ação.
Isso não significa perda da pessoa distinta do Filho. Pelo contrário: João expressa união pessoal e funcional (economic/missional) sem dissolver as pessoas da Trindade (nem cair em modalismo). A obra do Filho é a obra do Pai manifestada em Cristo.
2. Análise lexical e sintática (grego) — palavras-chaves
- οὐ δύναται (ou dýnatai) — “não pode / é incapaz” (implica impossibilidade prática/ontológica de agir separado do Pai).
- ἀφʼ ἑαυτοῦ / ἀφʼ ἐμαυτοῦ — “por si mesmo / de mim mesmo” (ênfase em ação autônoma).
- ἴδῃ / θεωρεῖ / βλέπει (ídē / theōrei / blepei) — “ver / contemplar / perceber”: ver aqui é íntimo conhecimento, não apenas visão sensorial.
- ὁμοίως (homoíōs) — “igualmente / do mesmo modo”: o Filho age do mesmo modo que o Pai.
- θέλημα (thélēma) — “vontade”: termo recorrente para a vontade divina. Jesus “não busca” (οὐ ζητῶ) a sua vontade, mas a do Pai.
- πέμψας / πέμψαντός με (pempsas / pempsantos me) — “aquele que me enviou”: o envio legitima a missão; a obediência é resposta ao envio.
(Léxicos recomendados: BDAG, Louw–Nida — para nuances de δύναμαι / θεωρέω / θέλημα.)
3. O que o texto afirma teologicamente
a) Unidade econômica e distinção pessoal
João afirma unidade de ação (o Filho faz o que vê o Pai fazer) e distinção de pessoas (o Pai envia; o Filho é enviado). Esta é a estrutura clássica da economia trinitária: o Pai envia, o Filho obedece na missão, o Espírito comunica “o que é do Filho” ao crente (Jo 14–16).
b) Obediência e liberdade
A declaração “οὐ δύναται… ποιεῖν ἐὰν μὴ ἴδῃ τὸν Πατέρα” não revela impotência incapacitante, mas livre submissão: o Filho tem plena volition e escolhe obediência por amor — coerente com o “οὐ ζητῶ τὴν ἐμήν θέλησιν”. É submissão voluntária, não desigualdade ontológica.
c) Cristologia alta (divina e humana)
Ao dizer que faz “o mesmo” que o Pai, Jesus reivindica autoridade e prerrogativas divinas (Jesus vivifica, julga — Jo 5.21,22). Ainda assim, o discurso mostra como a encarnação envolve identificação redentora: o Filho age como humano obediente e como Deus que dá vida.
d) Justiça, revelação e juízo
A consonância de vontades explica por que o Filho pode ser o Juiz legítimo (Jo 5.22,27): o juízo não é usurpação, mas exercício de autoridade concedida pelo Pai — fruto da comunhão trinitária.
4. Fundamentos bíblicos e patrísticos contextualizando a afirmação
- Antigo Testamento e conceito de enviado (šāliaḥ / שָׁלַח): no pensamento judaico, o enviado representa o enviador. João aprofunda isso: o Enviado (ὁ πέμψας) é revelado no Enviado que o representa perfeitamente.
- Daniel 7.13–14 (ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου): autoridade humana-celeste delegada ao Filho do Homem — em Jo 5 a reivindicação de juízo e de dar vida implica cumprimento desta figura messiânica.
- Patrística: os concílios (Niceia/Calcedônia) afirmaram que o Filho não é subordinado ontologicamente ao Pai; as declarações joaninas informaram estas formulações: unidade de essência e distinção de pessoas.
Referências historiográficas: Raymond E. Brown, D. A. Carson, Leon Morris e Andreas Köstenberger tratam essa tensão entre submissão econômica e igualdade ontológica em seus comentários sobre João; Richard Bauckham analisa a representação divina em Jesus.
5. Conversas contemporâneas (breve nota crítica)
Na teologia moderna ocorrem duas leituras equivocadas:
- Subordinação ontológica (perigoso) — ver a afirmação como prova de que o Filho é ontologicamente inferior ao Pai; governo trinitário não autoriza concluir diferenciação de essência.
- Modalismo (negando distinção) — ver a unidade como fusão de pessoas. João mantém distinção: “o Pai enviou” / “o Filho faz” — pessoas distintas, ação unida.
A leitura clássica e equilibrada (Nicena/Calcedoniana) preserva igualdade de essência + distinção pessoal + economia da missão.
6. Aplicação pastoral e pessoal
- Imitar Cristo na obediência livre: a vontade do Filho como padrão — agir não por auto-exaltação, mas buscando a vontade do Pai (prática de oração: “Senhor, não a minha vontade…”).
- Unidade missionária: igrejas devem buscar ação conjunta (oração + missão) com clareza de papéis, não rivalidades; unidade em diversidade como imagem trinitária.
- Discernir a vontade de Deus: contemplar Cristo (os Evangelhos) é o método bíblico para conhecer a vontade do Pai — o Filho “mostra” o Pai.
- Consolo e confiança no juízo justo: o juízo em Cristo é legítimo e justo; a esperança cristã confia que o Juiz é também Aquele que dá vida (Jo 5.21,26).
Prática: modelos de decisão congregacional que imitam a submissão aproximativa ao discernimento coletivo e ao Espírito (oração, Escritura, conselho sábio).
7. Leituras acadêmicas recomendadas
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas δύναμαι, θεωρέω, θέλημα.
(Para leitura conservadora como a do MacArthur que você citou, ver John MacArthur, Gospel According to Jesus / comentário sobre João — útil para homilética.)
8. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Item | Texto (João) | Termo grego | Significado / Nuance | Implicação prática |
Impossibilidade de agir isoladamente | Jo 5.19 — οὐ δύναται ἀφʼ ἑαυτοῦ | οὐ δύναται | Não capacidade de agir “autonomamente” — expressão de perfeita comunhão | Seguir o padrão da obediência amorosa |
Contemplação do Pai | Jo 5.19 — ἴδῃ τὸν πατέρα ποιoῦντα | ἴδῃ / θεωρεῖν | “Ver” = conhecimento íntimo que precede a ação | Buscar conhecer a vontade do Pai em Cristo |
Igual ação | Jo 5.19 — ὁμοίως ποιεῖ | ὁμοίως | “Do mesmo modo” — identidade funcional nas obras | Unidade missionária entre obras e doutrina |
Não buscar a própria vontade | Jo 5.30 — οὐ ζητῶ τὴν ἐμὴν θέλησιν | θέλημα | Vontade: Jesus não procura seu interesse próprio | Exercer liderança servil; submissão livre |
Envio e legitimação | Jo 5.30 — τοῦ πέμψαντός με | πέμπω | Encarrega e autoriza; missão legítima do Filho | Missão da igreja: continuar obra do Enviado |
Juízo e vida | Jo 5.21,22,26–27 | κρίσις; ζωὴ ἐν ἑαυτῷ | Filho dá vida e exerce juízo — autoridade plena | Esperança e responsabilidade ética |
9. Breve conclusão
João 5.19–30 oferece uma visão condensada da consonância de vontade entre Pai e Filho: Jesus age como o Pai age porque conhece o Pai intimamente e voluntariamente submete sua vontade à vontade do Pai que o enviou. Isso funda a autoridade de sua missão (dar vida, julgar) e preserva a doutrina da Trindade: união econômica na missão + distinção pessoal na relação. Para a vida cristã, é chamado a imitar essa obediência livre, a buscar em Cristo o padrão da vontade divina e a viver em unidade missionária que manifeste o Pai ao mundo.
1.3. O Filho foi enviado para fazer as Obras do Pai. O Filho foi enviado para nos revelar a vontade do Pai: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar”; Jo 9.4v. Jesus jamais teve vaidade em Seu coração; Ele tinha o entendimento de que as Suas obras eram as obras do Pai (Fp 2.5,6). O Filho de Deus nos ensina a nos empenhar em promover os interesses do Pai e, assim como Ele, ter a convicção de que não podemos fazer nada de nós mesmo (Jo 5.30). Devemos nos sujeitar ao Pai, buscando reconhecer a vontade dEle para nossa vida.
Bíblia de Estudo NAA (2021, p.1925): “Enquanto é dia se refere ao tempo em que Jesus está aqui, em seu ministério terreno, pois ele é a luz do mundo (8.12; 9.5), cuja presença torna dia' a tudo,
noite’ então seria o tempo da crucificação e morte de Jesus. Ele mostra uma intensa convicção da necessidade de cumprir tudo aquilo que o Pai o enviou para realizar durante o Seu ministério terreno; façamos (nós) indica que ele está envolvendo também seus discípulos nessa Obra”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Jo 9.4; Jo 5.30; Flp 2.5–7 “O Filho foi enviado para fazer as obras do Pai — trabalhar enquanto é dia”
1. Leitura do texto e ponto central
João 9.4: «Εἶπεν ὁ Ἰησοῦς· Ἐμοὶ δεῖ ἔργα τοῦ πέμψαντός με ποιεῖν ἕως ἡμέρας· ἔρχεται νὺξ ὅταν οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι.» — “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.”
O que João comunica é triplo: (a) missio — Jesus foi enviado pelo Pai; (b) identidade-obra — as obras que Jesus realiza são as obras do Pai (não ação autônoma); (c) urgência temporal — há um “tempo” (ἡμέρα) para a ação humana do Filho que deve ser aproveitado antes que venha a “noite” (νὺξ). Em conjunto com Jo 5.30 e Flp 2.5–7, o versículo funda uma ética do serviço: obra missionária nascida da obediência kenótica do Filho que revela o Pai.
2. Análise lexical e sintética (grego)
- Ἐμοὶ δεῖ (Emoi dei) — “Convém/é necessário a mim”
- δεῖ (dei) = necessidade objetiva/ministerial; em João indica imposição da missão recebida do Pai (BDAG: “it is necessary, it is fitting”). Não é mero fatalismo, mas obrigação ministerial resultante do envio.
- ἔργα (erga) — “obras/ações”
- Em João, ἔργα remete tanto a sinais (σημεῖα) quanto a ações salvificas que revelam o Pai (cf. Jo 5.36; 10.25). Não são “atividades neutras” mas expressão reveladora da vontade paterna.
- τοῦ πέμψαντός με (tou pempsantos me) — “do que me enviou”
- O envio (πέμπω) é fundamental na economia joânica: o Pai envia o Filho; o Filho age em correspondência ao enviado; legitima a obra de Jesus.
- ἕως ἡμέρας / ἔρχεται νὺξ — “enquanto é dia / vem a noite”
- ἡμέρα (hēmera) e νὺξ (nyx) são termos tanto cronológicos quanto simbólicos. João frequentemente associa dia/luz a tempo de revelação e noite/treva a cegueira/juízo (Jo 8:12; 9:5). Aqui há urgência missionária: o tempo favorável vai terminar.
- οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι — “ninguém pode trabalhar”
- A impossibilidade no tempo escuro sublinha que o trabalho humano tem janela de oportunidade, ação cooperativa com a graça; sinalética para diligência missionária.
- Flp 2.5–7 — ἐκένωσεν (ekenōsen) — “esvaziou-se/kenosis”
- O contexto de Filipenses fornece a base cristológica: a obediência e o “esvaziamento” voluntário do Filho tornam possível que Ele realize as obras do Pai em solidariedade humana.
3. Leitura teológica e implicações
a) Missão economicamente trinitária
A obra do Filho é obra do Pai porque a missão é inter-pessoal dentro da Trindade: o Pai envia; o Filho executa; o Espírito certifica/efetiva. João 9.4 apresenta a missão do Filho como cumprimento da vontade do Pai — unidade de intenção sem dissolução das pessoas.
b) Kenosis e responsabilidade humana
Philippians 2 explica o movente: o Filho, por amor, “esvaziou-se”, tomou a forma de servo e assim tornou possível que a vontade do Pai fosse realizada em termos humanos. O “convém que eu faça” nasce da identidade servil do Filho (não de auto-exaltação). Isso fornece o paradigma para o discípulo: missionar em humildade.
c) Urgência escatológica e ética missionária
A imagem “enquanto é dia… vem a noite” tem sentido escatológico (o tempo favorável → a obra redentora inaugura um período de revelação; a “noite” aponta a crise: crucificação, oposição, o limite da presença pública de Jesus). Para a comunidade, traduz-se em urgência evangelística e de serviço: a oportunidade de trabalhar pela vinha do Senhor é finita e exige prontidão.
d) Obras como revelação do Pai
Em João, ἔργα não é mero serviço social: são sinais que hospedam revelação (o Pai se mostra nas obras do Filho). Assim, ação prática e proclamação estão unidas — diaconia que não proclama Jesus como Filho perde dimensão reveladora; proclamação sem obras perde autenticidade (Jo 6:29; Mt 25).
4. Questões exegéticas e pastorais importantes
- A “noite” significa que Deus deixa de agir? Não. João usa “noite” sobretudo como metáfora do fim do tempo da presença pública de Jesus; não dá a entender que Deus fique inativo — mas que a ocasião específica de trabalho humano do Filho (e dos discípulos) terminaria. Pastoralmente: não confundir a limitação humana (janela de oportunidade) com incapacidade divina.
- É determinismo? O uso de δεῖ pode soar determinista; no entanto, no contexto Johannino trata-se de necessidade moral-missionária derivada do envio — uma obrigação fiel, não fatalismo teológico.
5. Referências acadêmicas recomendadas
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas para δεῖ, ἔργον, ἡμέρα, νὺξ, ἐκενώθη.
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Urgência missionária: aproveite as “oportunidades do dia” para anunciar e praticar o Evangelho (evangelismo, serviço social, discipulado). Não postergar ações de amor e justiça.
- Imitação de Cristo na humildade: trabalhar as obras do Pai não é busca de glória própria; é serviço kenótico, motivado por amor. Cultive atitudes de serviço humilde (diaconia, sacrificialidade).
- Obras que revelam: integre anúncio e ação — ministérios sociais devem ser catequéticos: explicar e apontar para Cristo, não apenas executar tarefas técnicas.
- Discernimento de “noites”: reconheça limites humanos (fadiga, perseguição, janelas históricas). Trabalhe com sabedoria e estratégia: plantar, regar, colher conforme sazonalidade.
- Vida em missão com ritmo: “trabalhar enquanto é dia” também implica não negligenciar descanso e sustentabilidade missionária (para não perder o doador de vida).
7. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Texto
Termo grego
Sentido literal
Significado teológico
Aplicação prática
Jo 9.4
Ἐμοὶ δεῖ (Emoi dei)
“Convém/é necessário a mim”
Obrigação ministerial resultante do envio
Reconhecer a urgência da missão pessoal e da igreja
Jo 9.4
ἔργα (erga)
“obras”
Obras = sinais e ações que revelam o Pai
Integrar ação social e proclamação cristológica
Jo 9.4
τοῦ πέμψαντός με
“do que me enviou”
Missio trinitária: o Pai envia, o Filho executa
Pastoral: agir em consonância com a vontade do Pai
Jo 9.4
ἕως ἡμέρας / ἔρχεται νὺξ
“enquanto é dia / vem a noite”
Urgência escatológica/histórica; janela de oportunidade
Evangelizar e servir com diligência, mas com sustentabilidade
Jo 5.30
οὐ ζητῶ τὴν ἐμήν θέλησιν
“não busco a minha vontade”
Submissão livre do Filho à vontade do Pai
Liderança servil; decisão orientada pelo discernimento trinitário
Flp 2.5–7
ἐκένωσεν (ekenōsen)
“esvaziou-se” (kenosis)
Kenosis: obediência humilde que capacita serviço redentor
Modelo de humildade no ministério prático
8. Conclusão
João 9.4 apresenta a missão de Jesus como obrigação amorosa (δεῖ) nascida do envio do Pai: as obras do Filho são as obras do Pai e devem ser feitas com urgência enquanto “é dia”. Ligado à kenosis de Filipenses 2 e à negação da vontade própria em João 5.30, o texto convoca discípulos a uma missão humilde, eficiente e integrada — ação que revela o Pai, atende aos necessitados e anuncia o sinal definitivo do Reino. Trabalhar “enquanto é dia” é tanto dever quanto honra: é cooperar com a obra que o Pai confiou ao Filho.
Jo 9.4; Jo 5.30; Flp 2.5–7 “O Filho foi enviado para fazer as obras do Pai — trabalhar enquanto é dia”
1. Leitura do texto e ponto central
João 9.4: «Εἶπεν ὁ Ἰησοῦς· Ἐμοὶ δεῖ ἔργα τοῦ πέμψαντός με ποιεῖν ἕως ἡμέρας· ἔρχεται νὺξ ὅταν οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι.» — “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.”
O que João comunica é triplo: (a) missio — Jesus foi enviado pelo Pai; (b) identidade-obra — as obras que Jesus realiza são as obras do Pai (não ação autônoma); (c) urgência temporal — há um “tempo” (ἡμέρα) para a ação humana do Filho que deve ser aproveitado antes que venha a “noite” (νὺξ). Em conjunto com Jo 5.30 e Flp 2.5–7, o versículo funda uma ética do serviço: obra missionária nascida da obediência kenótica do Filho que revela o Pai.
2. Análise lexical e sintética (grego)
- Ἐμοὶ δεῖ (Emoi dei) — “Convém/é necessário a mim”
- δεῖ (dei) = necessidade objetiva/ministerial; em João indica imposição da missão recebida do Pai (BDAG: “it is necessary, it is fitting”). Não é mero fatalismo, mas obrigação ministerial resultante do envio.
- ἔργα (erga) — “obras/ações”
- Em João, ἔργα remete tanto a sinais (σημεῖα) quanto a ações salvificas que revelam o Pai (cf. Jo 5.36; 10.25). Não são “atividades neutras” mas expressão reveladora da vontade paterna.
- τοῦ πέμψαντός με (tou pempsantos me) — “do que me enviou”
- O envio (πέμπω) é fundamental na economia joânica: o Pai envia o Filho; o Filho age em correspondência ao enviado; legitima a obra de Jesus.
- ἕως ἡμέρας / ἔρχεται νὺξ — “enquanto é dia / vem a noite”
- ἡμέρα (hēmera) e νὺξ (nyx) são termos tanto cronológicos quanto simbólicos. João frequentemente associa dia/luz a tempo de revelação e noite/treva a cegueira/juízo (Jo 8:12; 9:5). Aqui há urgência missionária: o tempo favorável vai terminar.
- οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι — “ninguém pode trabalhar”
- A impossibilidade no tempo escuro sublinha que o trabalho humano tem janela de oportunidade, ação cooperativa com a graça; sinalética para diligência missionária.
- Flp 2.5–7 — ἐκένωσεν (ekenōsen) — “esvaziou-se/kenosis”
- O contexto de Filipenses fornece a base cristológica: a obediência e o “esvaziamento” voluntário do Filho tornam possível que Ele realize as obras do Pai em solidariedade humana.
3. Leitura teológica e implicações
a) Missão economicamente trinitária
A obra do Filho é obra do Pai porque a missão é inter-pessoal dentro da Trindade: o Pai envia; o Filho executa; o Espírito certifica/efetiva. João 9.4 apresenta a missão do Filho como cumprimento da vontade do Pai — unidade de intenção sem dissolução das pessoas.
b) Kenosis e responsabilidade humana
Philippians 2 explica o movente: o Filho, por amor, “esvaziou-se”, tomou a forma de servo e assim tornou possível que a vontade do Pai fosse realizada em termos humanos. O “convém que eu faça” nasce da identidade servil do Filho (não de auto-exaltação). Isso fornece o paradigma para o discípulo: missionar em humildade.
c) Urgência escatológica e ética missionária
A imagem “enquanto é dia… vem a noite” tem sentido escatológico (o tempo favorável → a obra redentora inaugura um período de revelação; a “noite” aponta a crise: crucificação, oposição, o limite da presença pública de Jesus). Para a comunidade, traduz-se em urgência evangelística e de serviço: a oportunidade de trabalhar pela vinha do Senhor é finita e exige prontidão.
d) Obras como revelação do Pai
Em João, ἔργα não é mero serviço social: são sinais que hospedam revelação (o Pai se mostra nas obras do Filho). Assim, ação prática e proclamação estão unidas — diaconia que não proclama Jesus como Filho perde dimensão reveladora; proclamação sem obras perde autenticidade (Jo 6:29; Mt 25).
4. Questões exegéticas e pastorais importantes
- A “noite” significa que Deus deixa de agir? Não. João usa “noite” sobretudo como metáfora do fim do tempo da presença pública de Jesus; não dá a entender que Deus fique inativo — mas que a ocasião específica de trabalho humano do Filho (e dos discípulos) terminaria. Pastoralmente: não confundir a limitação humana (janela de oportunidade) com incapacidade divina.
- É determinismo? O uso de δεῖ pode soar determinista; no entanto, no contexto Johannino trata-se de necessidade moral-missionária derivada do envio — uma obrigação fiel, não fatalismo teológico.
5. Referências acadêmicas recomendadas
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas para δεῖ, ἔργον, ἡμέρα, νὺξ, ἐκενώθη.
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Urgência missionária: aproveite as “oportunidades do dia” para anunciar e praticar o Evangelho (evangelismo, serviço social, discipulado). Não postergar ações de amor e justiça.
- Imitação de Cristo na humildade: trabalhar as obras do Pai não é busca de glória própria; é serviço kenótico, motivado por amor. Cultive atitudes de serviço humilde (diaconia, sacrificialidade).
- Obras que revelam: integre anúncio e ação — ministérios sociais devem ser catequéticos: explicar e apontar para Cristo, não apenas executar tarefas técnicas.
- Discernimento de “noites”: reconheça limites humanos (fadiga, perseguição, janelas históricas). Trabalhe com sabedoria e estratégia: plantar, regar, colher conforme sazonalidade.
- Vida em missão com ritmo: “trabalhar enquanto é dia” também implica não negligenciar descanso e sustentabilidade missionária (para não perder o doador de vida).
7. Tabela expositiva (resumo para ensino)
Texto | Termo grego | Sentido literal | Significado teológico | Aplicação prática |
Jo 9.4 | Ἐμοὶ δεῖ (Emoi dei) | “Convém/é necessário a mim” | Obrigação ministerial resultante do envio | Reconhecer a urgência da missão pessoal e da igreja |
Jo 9.4 | ἔργα (erga) | “obras” | Obras = sinais e ações que revelam o Pai | Integrar ação social e proclamação cristológica |
Jo 9.4 | τοῦ πέμψαντός με | “do que me enviou” | Missio trinitária: o Pai envia, o Filho executa | Pastoral: agir em consonância com a vontade do Pai |
Jo 9.4 | ἕως ἡμέρας / ἔρχεται νὺξ | “enquanto é dia / vem a noite” | Urgência escatológica/histórica; janela de oportunidade | Evangelizar e servir com diligência, mas com sustentabilidade |
Jo 5.30 | οὐ ζητῶ τὴν ἐμήν θέλησιν | “não busco a minha vontade” | Submissão livre do Filho à vontade do Pai | Liderança servil; decisão orientada pelo discernimento trinitário |
Flp 2.5–7 | ἐκένωσεν (ekenōsen) | “esvaziou-se” (kenosis) | Kenosis: obediência humilde que capacita serviço redentor | Modelo de humildade no ministério prático |
8. Conclusão
João 9.4 apresenta a missão de Jesus como obrigação amorosa (δεῖ) nascida do envio do Pai: as obras do Filho são as obras do Pai e devem ser feitas com urgência enquanto “é dia”. Ligado à kenosis de Filipenses 2 e à negação da vontade própria em João 5.30, o texto convoca discípulos a uma missão humilde, eficiente e integrada — ação que revela o Pai, atende aos necessitados e anuncia o sinal definitivo do Reino. Trabalhar “enquanto é dia” é tanto dever quanto honra: é cooperar com a obra que o Pai confiou ao Filho.
EU ENSINEI QUE:
0 Filho Unigênito de Deus provém de Deus Pai, de Quem tem a mesma natureza.
2- O Filho revela o Pai
João revela que o Verbo tornou Deus conhecido (Jo 1.18). Jesus disse que ninguém sabe quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém sabe quem é o Pai, a não ser o Filho e aqueles a quem Ele quiser mostrar o Pai (Mt 11.27).
2.1. O Filho de Deus na Criação. Logo no início do Evangelho de João, lemos que todas as coisas foram feitas pelo Verbo e, sem Ele, nada do que foi feito se fez (Jo 1.3). O autor da Carta aos Hebreus corrobora com esse pensamento ao dizer que foi mediante Cristo, a Quem constituiu herdeiro de tudo, que Deus criou o Universo e fez o mundo (Hb 1.2). João Batista afirmou que Jesus já existia antes dele, mesmo ele tendo nascido antes de Jesus (Jo 1.15), dando a entender que Jesus já existia eternamente como Deus. Sob esta perspectiva, Jesus é o próprio Deus Criador, que habitou entre nós (Jo 1.14).
César Roza de Melo (2021, L.13): “Um dos pontos-chave a ser destacado é a preexistência de Jesus, ou seja, Jesus era um com Deus na eternidade. Estava na criação do homem, a palavra usada em Gênesis 1.26 é clara ao dizer “façamos”. Paulo deixa relatado que, na plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher (Gl 4.4). Em Lucas 10.18, encontramos Jesus dizendo que viu Satanás como um raio caindo do céu. Como diz Paulo, a revelação de Jesus como Filho de Deus veio no tempo certo, porém, Jesus já existia antes da fundação do mundo, sendo assim, Ele é eterno”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
“O Filho de Deus na Criação / O Verbo que habitou entre nós”
(Textos-chave: Jo 1.1-3,14; Hb 1.2; Cl 1.15; Gn 1.26; Jo 1.15)
1. Centro do argumento
O prólogo joanino (Jo 1.1-3,14) e a teologia paulina e hebraica (Colossenses 1; Hebreus 1) apresentam Jesus não apenas como agente histórico da salvação, mas como agente criador e realidade preexistente: o Logos (ὁ λόγος) “estava com Deus, era Deus” e “tudo foi feito por meio dele” (πάντα δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο). Assim, ao afirmar que o Filho participou da criação, a Bíblia indica que a pessoa do Filho é ontologicamente divina e que a revelação do Pai tem rosto humano em Jesus. A encarnação (ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο) é o ponto em que o Criador assume criatura para a reconciliação do universo.
2. Análise lexical e textual (grego e hebraico)
João (grego)
- ὁ λόγος (ho lógos) — “o Verbo/Palavra/Ratio”: termo carregado de significados (filosófico, judaico-sapiencial, teológico). Em João designa o Agente eterno da auto-revelação divina.
- ἦν (ēn) — “estava/era”: verbo de existência passada contínua — aponta para preexistência (não “começou a existir”). Jo 1.1: Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος… ecoa “No princípio” de Gênesis e afirma que o Logos existia já no princípio.
- πάντα δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο (pánta di’ autoû egeneto) — “todas as coisas por meio dele vieram a ser”: o vocábulo γίγνομαι / γίγνεσθαι (gignomai/genomen) indica “tornar-se / vir a ser”; aqui sublinha agente causal do criador. BDAG registra esse uso como indicativo de agente eficiente.
- σὰρξ ἐγένετο (sarx egeneto) / ἐσκήνωσεν (eskēnōsen) — “tornou-se carne / armou sua tenda”: linguagem teológica forte para a encarnação e a presença habitante (σκηνή = tenda/tabernáculo).
Hebraico (Gênesis)
- נַעֲשֶׂה (na‘ăśeh, “façamos”) — plural deliberativo em Gn 1.26: “Façamos o homem à nossa imagem…” A forma plural tem sido interpretada à luz da pluralidade intradivina (a Trindade) ou do “conselho divino” (anjologia). A teologia cristã clássica lê este plural com referência à comunhão trinitária e, portanto, casa bem com a afirmação joanina de um Verbo que participa da ação criadora.
- בָּרָא (bārāʼ) — “criar”: verbo divino que frequentemente indica ação exclusiva de Deus (criacao ex nihilo). O NT atribui a “por meio do Filho” o ato de criação, sem reduzir o Pai à mera figura.
Colossenses / Hebreus (grego paulino/sermão)
- πρωτότοκος πάσης κτίσεως (prōtotokos pásēs ktíseōs) — Col 1.15: “primogênito de toda a criação”. O termo πρωτότοκος fala de prioridade e preeminência; teologia cuidadosa evita entender isto como “creado primeiro” e prefere: Cristo é préeminente sobre a criação.
- διʼ οὗ ἐποίησεν (di’ hou epoiēsen) — Heb 1:2: “por meio de quem fez o universo” — formula clara que atribui a autoria criadora ao Filho.
3. Explorações teológicas principais
a) Preexistência e eternidade do Filho
João 1:1–3 usa tempo e ação verbal para afirmar que o Logos não é produto da criação, mas antes de tudo participou da criação. “Estava” (ἦν) e “foi” (ἐγένετο) colocam o Logos fora da categoria do criado. Essa preexistência funda a confiança cristã na autoridade e poder de Cristo.
b) Cristo como agente criador — unidade de criação e redenção
Se o Filho é o agente da criação (“tudo foi feito por ele”), então o mesmo agente reconstrói e redime tudo na sua obra (Col 1:19-20: reconciliação cósmica). A interação criação–redenção é uma unidade teológica: a encarnação do Criador inaugura a restauração do mundo.
c) Logos e sabedoria judaica
A linguagem de João convoca tradições judaicas de sabedoria (Prov 8), em que a Sabedoria (חָכְמָה) é agente presente na criação. João, porém, personifica a Sabedoria em Jesus, elevando-a à realidade trinitária do Logos.
d) Implicações christológicas contra duas tentações
- Contra o docetismo/gnosticismo: João insiste que o Logos se fez carne (σὰρξ ἐγένετο) — Jesus é verdadeiro homem.
- Contra o modanismo ou subordinação ontológica: o texto afirma tanto a distinção (o Logos está “com” Deus) quanto a identidade (ὁ λόγος Θεὸς ἦν — “o Logos era Deus”) — mantendo unidade de essência sem confusão de pessoas.
4. Evidências bíblicas adicionais e conexões
- João Batista (Jo 1:15): testemunho da preexistência: “ele existia antes de mim” (ὅτι πρότεροί μoν ἦν).
- Colossenses 1:16–17: “todas as coisas foram criadas por ele e para ele; ele é anterior a todas as coisas e tudo subsiste em him.” (θεολογicamente: Cristo como cabeça e fim da criação).
- Hebreus 1:2–3: o Filho é o “retrato da sua glória” (χαρακτήρ τῆς δόξης) e sustenta o universo pela sua palavra poderosa.
- Provérbios 8 (Sabedoria): personificação próxima ao Logos; importantes paralelos literários.
5. Bibliografia acadêmica (seleção por temas)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas sobre λόγος, γίγνομαι, πρῶτότοκος, μονογενής.
(essas obras são referência padrão entre estudiosos cristãos e úteis para aprofundamento.)
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração e Cristologia: saber que o Criador se fez carne muda radicalmente a adoração: adora-se ao Senhor que criou o universo e que veio habitar conosco. Cultos e pregações devem manter a centralidade do Cristo criador-redentor.
- Missão cósmica: a salvação em Cristo é cósmica, não apenas individual; nossa missão inclui cuidado com a criação (ecologia teológica) e engajamento com estruturas sociais porque Cristo redime a totalidade da realidade.
- Confiança em tribulações: o Senhor que sustenta o universo (Hb 1) sustenta também nossas vidas — razão para confiança e coragem.
- Evangelho encarnacional: a fé cristã não é só proposição, é proclamação encarnada: serviço, compaixão e presença concreta — porque o Criador escolheu tornar-se vulnerável.
- Formação teológica para o povo: catequese que explique termos como Logos, preexistência e primogenitura evita reducionismos (ex.: tratar Jesus apenas como “profeta humano”) e fortalece resistência a heresias.
Práticas concretas: integrar séries de ensino sobre João e Colossenses em classes; promover ministérios de cuidado ambiental; moldar liturgias que cantem o Criador encarnado; usar textos do prólogo em batismos e Celebrações da Criação.
7. Tabela expositiva (uso em aula)
Texto bíblico
Termo (grego / hebraico)
Núcleo semântico
Implicação teológica
Aplicação prática
Jo 1.1–3; 1.14
ὁ λόγος (lógos); σὰρξ ἐγένετο
O Verbo preexistente que se fez carne
O Criador é o Redentor; identidade divina do Filho
Adoração cristocêntrica; proclamação encarnada
Gn 1.26
נַעֲשֶׂה (na‘ăśeh) “façamos”
Plural deliberativo/consílio divino
Indício bíblico da comunhão intra-divina
Ler criação à luz da Trindade (catequese)
Cl 1.15–17
πρωτότοκος (prōtotokos)
Preeminência sobre a criada
Cristo é cabeça e fim da criação
Missão cósmica; restauração de tudo
Hb 1.2–3
χαρακτήρ τῆς δόξης; διακόπτει τὰ πάντα
Filho que sustenta o cosmos
Revelação plena e autoridade do Filho
Confiança pastoral; teologia trinitária prática
Jo 1.15
ἦν πρότερος μου
“existia antes de mim” (testemunho)
Testemunho da preexistência do Filho
Pregação histórica e cristocêntrica
8. Conclusão
A afirmação cristã de que “todas as coisas foram feitas por meio do Filho” (Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.2) articula duas verdades inseparáveis: a eternidade e divindade do Filho e a graça encarnacional pela qual o Criador entra na história humana para restaurá-la. Isso exige de nós culto reverente, missão ampla (que inclui cuidado com a criação e a sociedade), e uma vida cristã marcada pela presença prática do Deus que veio habitar entre nós.
“O Filho de Deus na Criação / O Verbo que habitou entre nós”
(Textos-chave: Jo 1.1-3,14; Hb 1.2; Cl 1.15; Gn 1.26; Jo 1.15)
1. Centro do argumento
O prólogo joanino (Jo 1.1-3,14) e a teologia paulina e hebraica (Colossenses 1; Hebreus 1) apresentam Jesus não apenas como agente histórico da salvação, mas como agente criador e realidade preexistente: o Logos (ὁ λόγος) “estava com Deus, era Deus” e “tudo foi feito por meio dele” (πάντα δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο). Assim, ao afirmar que o Filho participou da criação, a Bíblia indica que a pessoa do Filho é ontologicamente divina e que a revelação do Pai tem rosto humano em Jesus. A encarnação (ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο) é o ponto em que o Criador assume criatura para a reconciliação do universo.
2. Análise lexical e textual (grego e hebraico)
João (grego)
- ὁ λόγος (ho lógos) — “o Verbo/Palavra/Ratio”: termo carregado de significados (filosófico, judaico-sapiencial, teológico). Em João designa o Agente eterno da auto-revelação divina.
- ἦν (ēn) — “estava/era”: verbo de existência passada contínua — aponta para preexistência (não “começou a existir”). Jo 1.1: Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος… ecoa “No princípio” de Gênesis e afirma que o Logos existia já no princípio.
- πάντα δι᾽ αὐτοῦ ἐγένετο (pánta di’ autoû egeneto) — “todas as coisas por meio dele vieram a ser”: o vocábulo γίγνομαι / γίγνεσθαι (gignomai/genomen) indica “tornar-se / vir a ser”; aqui sublinha agente causal do criador. BDAG registra esse uso como indicativo de agente eficiente.
- σὰρξ ἐγένετο (sarx egeneto) / ἐσκήνωσεν (eskēnōsen) — “tornou-se carne / armou sua tenda”: linguagem teológica forte para a encarnação e a presença habitante (σκηνή = tenda/tabernáculo).
Hebraico (Gênesis)
- נַעֲשֶׂה (na‘ăśeh, “façamos”) — plural deliberativo em Gn 1.26: “Façamos o homem à nossa imagem…” A forma plural tem sido interpretada à luz da pluralidade intradivina (a Trindade) ou do “conselho divino” (anjologia). A teologia cristã clássica lê este plural com referência à comunhão trinitária e, portanto, casa bem com a afirmação joanina de um Verbo que participa da ação criadora.
- בָּרָא (bārāʼ) — “criar”: verbo divino que frequentemente indica ação exclusiva de Deus (criacao ex nihilo). O NT atribui a “por meio do Filho” o ato de criação, sem reduzir o Pai à mera figura.
Colossenses / Hebreus (grego paulino/sermão)
- πρωτότοκος πάσης κτίσεως (prōtotokos pásēs ktíseōs) — Col 1.15: “primogênito de toda a criação”. O termo πρωτότοκος fala de prioridade e preeminência; teologia cuidadosa evita entender isto como “creado primeiro” e prefere: Cristo é préeminente sobre a criação.
- διʼ οὗ ἐποίησεν (di’ hou epoiēsen) — Heb 1:2: “por meio de quem fez o universo” — formula clara que atribui a autoria criadora ao Filho.
3. Explorações teológicas principais
a) Preexistência e eternidade do Filho
João 1:1–3 usa tempo e ação verbal para afirmar que o Logos não é produto da criação, mas antes de tudo participou da criação. “Estava” (ἦν) e “foi” (ἐγένετο) colocam o Logos fora da categoria do criado. Essa preexistência funda a confiança cristã na autoridade e poder de Cristo.
b) Cristo como agente criador — unidade de criação e redenção
Se o Filho é o agente da criação (“tudo foi feito por ele”), então o mesmo agente reconstrói e redime tudo na sua obra (Col 1:19-20: reconciliação cósmica). A interação criação–redenção é uma unidade teológica: a encarnação do Criador inaugura a restauração do mundo.
c) Logos e sabedoria judaica
A linguagem de João convoca tradições judaicas de sabedoria (Prov 8), em que a Sabedoria (חָכְמָה) é agente presente na criação. João, porém, personifica a Sabedoria em Jesus, elevando-a à realidade trinitária do Logos.
d) Implicações christológicas contra duas tentações
- Contra o docetismo/gnosticismo: João insiste que o Logos se fez carne (σὰρξ ἐγένετο) — Jesus é verdadeiro homem.
- Contra o modanismo ou subordinação ontológica: o texto afirma tanto a distinção (o Logos está “com” Deus) quanto a identidade (ὁ λόγος Θεὸς ἦν — “o Logos era Deus”) — mantendo unidade de essência sem confusão de pessoas.
4. Evidências bíblicas adicionais e conexões
- João Batista (Jo 1:15): testemunho da preexistência: “ele existia antes de mim” (ὅτι πρότεροί μoν ἦν).
- Colossenses 1:16–17: “todas as coisas foram criadas por ele e para ele; ele é anterior a todas as coisas e tudo subsiste em him.” (θεολογicamente: Cristo como cabeça e fim da criação).
- Hebreus 1:2–3: o Filho é o “retrato da sua glória” (χαρακτήρ τῆς δόξης) e sustenta o universo pela sua palavra poderosa.
- Provérbios 8 (Sabedoria): personificação próxima ao Logos; importantes paralelos literários.
5. Bibliografia acadêmica (seleção por temas)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico — entradas sobre λόγος, γίγνομαι, πρῶτότοκος, μονογενής.
(essas obras são referência padrão entre estudiosos cristãos e úteis para aprofundamento.)
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração e Cristologia: saber que o Criador se fez carne muda radicalmente a adoração: adora-se ao Senhor que criou o universo e que veio habitar conosco. Cultos e pregações devem manter a centralidade do Cristo criador-redentor.
- Missão cósmica: a salvação em Cristo é cósmica, não apenas individual; nossa missão inclui cuidado com a criação (ecologia teológica) e engajamento com estruturas sociais porque Cristo redime a totalidade da realidade.
- Confiança em tribulações: o Senhor que sustenta o universo (Hb 1) sustenta também nossas vidas — razão para confiança e coragem.
- Evangelho encarnacional: a fé cristã não é só proposição, é proclamação encarnada: serviço, compaixão e presença concreta — porque o Criador escolheu tornar-se vulnerável.
- Formação teológica para o povo: catequese que explique termos como Logos, preexistência e primogenitura evita reducionismos (ex.: tratar Jesus apenas como “profeta humano”) e fortalece resistência a heresias.
Práticas concretas: integrar séries de ensino sobre João e Colossenses em classes; promover ministérios de cuidado ambiental; moldar liturgias que cantem o Criador encarnado; usar textos do prólogo em batismos e Celebrações da Criação.
7. Tabela expositiva (uso em aula)
Texto bíblico | Termo (grego / hebraico) | Núcleo semântico | Implicação teológica | Aplicação prática |
Jo 1.1–3; 1.14 | ὁ λόγος (lógos); σὰρξ ἐγένετο | O Verbo preexistente que se fez carne | O Criador é o Redentor; identidade divina do Filho | Adoração cristocêntrica; proclamação encarnada |
Gn 1.26 | נַעֲשֶׂה (na‘ăśeh) “façamos” | Plural deliberativo/consílio divino | Indício bíblico da comunhão intra-divina | Ler criação à luz da Trindade (catequese) |
Cl 1.15–17 | πρωτότοκος (prōtotokos) | Preeminência sobre a criada | Cristo é cabeça e fim da criação | Missão cósmica; restauração de tudo |
Hb 1.2–3 | χαρακτήρ τῆς δόξης; διακόπτει τὰ πάντα | Filho que sustenta o cosmos | Revelação plena e autoridade do Filho | Confiança pastoral; teologia trinitária prática |
Jo 1.15 | ἦν πρότερος μου | “existia antes de mim” (testemunho) | Testemunho da preexistência do Filho | Pregação histórica e cristocêntrica |
8. Conclusão
A afirmação cristã de que “todas as coisas foram feitas por meio do Filho” (Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.2) articula duas verdades inseparáveis: a eternidade e divindade do Filho e a graça encarnacional pela qual o Criador entra na história humana para restaurá-la. Isso exige de nós culto reverente, missão ampla (que inclui cuidado com a criação e a sociedade), e uma vida cristã marcada pela presença prática do Deus que veio habitar entre nós.
2.2. O Filho de Deus é Divino. A mente limitada e mortal do ser humano não é capaz de compreender o grande segredo da cristologia quando João diz que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14). O Pai e o Filho aparecem na Bíblia no mesmo grau de divindade (Gl 1.1; 1Tm 6.13; 2Tm 4.1). Essas revelações evidenciam que o Pai e o Filho são o mesmo Deus e têm a mesma autoridade; todavia, são distintos como Pessoas e nas manifestações, não em poder e esplendor.
Dilmo dos Santos (2012, L.01): “João define que `o verbo era Deus: Tal pensamento vai permear todo o seu Evangelho, em que o próprio Jesus faz várias declarações, utilizando-se da expressão “Eu sou”: Coisa que um judeu em sã consciência não faria jamais. Pois essa expressão apenas se aplica a Deus. (…) João apresenta Jesus como o próprio Deus, uma revelação que mais tarde os apóstolos também vão confirmar, porque não houve como negar que Cristo é a representação visível do Deus invisível (Cl 1.15).
2.3. O Filho de Deus é eterno. A expressão “Filho de Deus’; nas Escrituras, indica claramente a natureza divina de Jesus, que sempre existiu, sendo reconhecidamente o Pai da Eternidade (Is 9.6). Deus Pai identifica Jesus como Seu Filho (Mc 1.11). Como João registra em seu Evangelho: o Verbo Eterno, o Filho Unigênito de Deus, participou da natureza humana, mas sem pecado (Jo 1.14). O próprio Senhor Jesus, na oração registrada em João 17, menciona Sua comunhão com o Pai “antes que o mundo existisse” (Jo 17.5,24).
Dilmo dos Santos (2012, L.01): “João 1.1 começa de modo semelhante ao primeiro livro do AT Gênesis 1.1: No princípio’: É uma indicação de que o Verbo’ já existia na eternidade. Para comprovar sua tese, com ousadia e a criatividade, João escreveu apelando para os textos do AT contrastando os judeus que pensavam serem os verdadeiros herdeiros do Reino de Deus. João faz alusão a Gênesis 1.1, `no princípio, período que iniciava a história da primeira criação, mas, em João 1.1, inicia-se a história da nova criação, o agente é a Palavra de Deus’.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
O Filho é divino e eterno
As declarações bíblicas que afirmam que o Verbo se fez carne (Jo 1.14) convergem com a tradição apostólica: o Filho não é apenas um agente humano ou um ser inferior, mas participa plenamente da divindade do Pai e existe eternamente. Essa dupla afirmação — divindade e eternidade do Filho — tem consequências doutrinárias, litúrgicas e éticas: ela garante que a adoração do Filho é legítima, que sua obra redentora é eficaz e que nossa confiança nele é colocada sobre o próprio Deus.
1. Fundamentos bíblicos principais (síntese)
- João 1.1–3,14 — o Logos “estava com Deus” e “era Deus”; tudo foi feito por meio dele; o Logos se tornou carne.
- Hebreus 1.1–3 — o Filho é o χαρακτήρ τῆς δόξης (retrato/exacta expressão da glória divina) e sustenta o universo; é quem revela plenamente Deus.
- Colossenses 1.15–17 — Cristo é o πρωτότοκος πάσης κτίσεως (preeminente sobre a criação); por ele todas as coisas foram criadas.
- Filipenses 2.5–7 — a kenosis: o Filho, na condição divina, assumiu forma humana para redimir; evidência da divindade que se humilha para salvar.
- João 8; 9; 17 — o uso de ἐγώ εἰμι e a linguagem de comunhão pré-mundana (Jo 17) ligam o Filho ao Deus revelado no AT (YHWH).
2. Análise lexical e cultural (grego / hebraico)
Termos-chave no grego
- ὁ λόγος (ho Logos) — “o Verbo/Palavra/Princípio racional”. Em João, o Logos é o agente eterno da revelação e criação.
- μονογενής (monogenēs) — “unigênito/único-do-seu-tipo”: realça a singularidade filial do Filho (Jo 1.14,18; 3.16; 1Jo 4.9). Não significa “criado” — indica exclusividade da relação com o Pai.
- πρωτότοκος (prōtotokos) — “primogênito”: em Colossenses indica preeminência e direito de primazia, não necessariamente “primeiro ser criado”.
- θεός (theós) / ὁ λόγος θεός ἦν — afirmação direta da divindade do Logos (Jo 1.1c).
- ἐγώ εἰμι (egō eimi) — “Eu sou”: expressão joanina que ecoa o Ἐγώ εἰμι do AT (Septuaginta: Ex 3.14) e que aponta para uma autorreferência divina.
- αἰώνιος (aiōnios) / ἀρχή (archē) — “eterno / princípio”: João começa με “Ἐν ἀρχῇ” (no princípio), ligando Logos ao “princípio” de Gn 1.1.
Correlatos hebraicos
- יָחִיד (yāḥîd) — “único” (sentido de precioso/único), paralelo plausível a μονογενής.
- בְּכוֹר (bekôr) — “primogênito” (direitos, preeminência).
- יהוה (YHWH) e o ἐγώ εἰμι: conexão literária e teológica entre as auto-designações divinas no AT e a linguagem de Jesus no Evangelho de João.
3. Leitura teológica (síntese interpretativa)
- Ontologia do Filho — os textos afirmam que o Filho participa da mesma divindade do Pai (Jo 1.1; Hb 1). Isso não é mero título poético; é declaração ontológica que fundamenta a adoração cristã.
- Economia da redenção — o fato de o Filho ser divino não o retira da humanidade assumida: a encarnação (σὰρξ ἐγένετο) expressa que o Criador se solidariza com a criatura para restaurá-la.
- Eternidade — afirmar que o Filho “estava em princípio” (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος) é afirmar sua preexistência eterna; João e Hebreus reforçam que a obra salvífica do Filho brota da eternidade, não de um ser criado em momento histórico.
- Distinção-união trinitária — as Escrituras mantêm simultaneamente: (a) distinção de Pessoas (o Pai envia, o Filho é enviado) e (b) unidade de essência e honra (o Filho é honrado como o Pai — Jo 5.23). A tradição teológica (Nicéia/Calcedônia) sistematizou essa tensão sem dissolvê-la.
4. Objeções históricas e respostas bíblico-teológicas
- Arianismo (Filho criado): os textos de João, Colossenses e Hebreus negam um “filho criado” ao atribuírem ao Filho a obra criadora e a existência “no princípio”.
- Docetismo (Jesus não humano): João contra-ataca declarando: ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο — verdadeira humanidade assumida.
- Modalismo (uma só pessoa com modos): as narrativas de envio, intercessão (Jo 17) e distinção de papéis preservam a distinção pessoal contra qualquer confusão modalista.
5. Referências acadêmicas (selecção essencial)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Obras patrísticas: Atanásio, Sobre a Encarnação, para perspectiva histórica da doutrina.
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração informada: se o Filho é verdadeiramente Deus, nossa adoração cristã deve reconhecer sua divindade — não apenas Jesus “como exemplo” mas Jesus digno de louvor e obediência.
- Confiança na obra de Cristo: a eficácia da redenção depende do fato de que quem redime é o próprio Deus que sustenta o cosmos; por isso a salvação em Cristo é segura e cósmica.
- Catequese e resiliência doutrinária: ensinar claramente a dupla verdade (divindade + humanidade) fortalece a comunidade contra confusões (docetismo, ebionismo, arianismos modernos).
- Missão e encarnação: o Criador-encarnado nos chama a uma missão encarnacional — presença concreta, serviço e testemunho em contextos culturais (porque o Deus que age fez-se vulnerável).
- Vida espiritual equilibrada: entender a preexistência e divindade do Filho nutre reverência e confiança; entender a kenosis (Filipenses 2) inspira humildade e serviço.
Práticas: séries de ensino sobre João e Colossenses; liturgias que expressem a louvação trinitária; materiais de formação para líderes sobre cristologia básica; pregações que unam adoração e ética encarnada.
7. Tabela expositiva (síntese para ensino)
Afirmação
Texto(s) chave
Termo (grego/hebraico)
O que afirma
Aplicação prática
O Filho é divino
Jo 1.1; Hb 1.3
ὁ λόγος Θεός ἦν; χαρακτήρ τῆς δόξης
O Logos/Filho participa plenamente da divindade
Adoração cristocêntrica; confiança redentora
O Filho é eterno / preexistente
Jo 1.1; Jo 17.5; Col 1.17
Ἐν ἀρχῇ; πρότερον
O Filho existe “no princípio”, anterior à criação
Segurança escatológica; fundamenta missão cósmica
Unicidade filial
μονογενής
μονογενής; יָחִיד
Singularity/exclusivity of filial relation
Enfatizar singularidade salvadora de Cristo
Preeminência sobre a criação
Col 1.15–17
πρωτότοκος πάσης κτίσεως
Cristo é cabeça/preeminente sobre a criação
Missão cósmica: restauração de todas as coisas
Encarnação
Jo 1.14
σὰρξ ἐγένετο
O Verbo tornou-se carne — plena humanidade
Vida cristã encarnacional: serviço, presença, compaixão
Kenosis / humildade
Flp 2.5–8
ἐκένωσεν
Submissão voluntária do Filho
Modelo de liderança servil e ética cristã
8. Conclusão breve
A cristologia bíblica une firmemente duas verdades: o Filho é verdadeiramente Deus e verdadeiramente humano; ele preexistiu e foi enviado; ele reina sobre a criação e, por amor, assumiu a condição humana para reconciliá-la. Essas verdades não são teologia abstrata: moldam nossa adoração, sustentam nossa esperança e orientam nossa missão. Conhecer bem quem é o Filho (João, Colossenses, Hebreus) é condição para conhecer o Pai e viver como Igreja fiel.
O Filho é divino e eterno
As declarações bíblicas que afirmam que o Verbo se fez carne (Jo 1.14) convergem com a tradição apostólica: o Filho não é apenas um agente humano ou um ser inferior, mas participa plenamente da divindade do Pai e existe eternamente. Essa dupla afirmação — divindade e eternidade do Filho — tem consequências doutrinárias, litúrgicas e éticas: ela garante que a adoração do Filho é legítima, que sua obra redentora é eficaz e que nossa confiança nele é colocada sobre o próprio Deus.
1. Fundamentos bíblicos principais (síntese)
- João 1.1–3,14 — o Logos “estava com Deus” e “era Deus”; tudo foi feito por meio dele; o Logos se tornou carne.
- Hebreus 1.1–3 — o Filho é o χαρακτήρ τῆς δόξης (retrato/exacta expressão da glória divina) e sustenta o universo; é quem revela plenamente Deus.
- Colossenses 1.15–17 — Cristo é o πρωτότοκος πάσης κτίσεως (preeminente sobre a criação); por ele todas as coisas foram criadas.
- Filipenses 2.5–7 — a kenosis: o Filho, na condição divina, assumiu forma humana para redimir; evidência da divindade que se humilha para salvar.
- João 8; 9; 17 — o uso de ἐγώ εἰμι e a linguagem de comunhão pré-mundana (Jo 17) ligam o Filho ao Deus revelado no AT (YHWH).
2. Análise lexical e cultural (grego / hebraico)
Termos-chave no grego
- ὁ λόγος (ho Logos) — “o Verbo/Palavra/Princípio racional”. Em João, o Logos é o agente eterno da revelação e criação.
- μονογενής (monogenēs) — “unigênito/único-do-seu-tipo”: realça a singularidade filial do Filho (Jo 1.14,18; 3.16; 1Jo 4.9). Não significa “criado” — indica exclusividade da relação com o Pai.
- πρωτότοκος (prōtotokos) — “primogênito”: em Colossenses indica preeminência e direito de primazia, não necessariamente “primeiro ser criado”.
- θεός (theós) / ὁ λόγος θεός ἦν — afirmação direta da divindade do Logos (Jo 1.1c).
- ἐγώ εἰμι (egō eimi) — “Eu sou”: expressão joanina que ecoa o Ἐγώ εἰμι do AT (Septuaginta: Ex 3.14) e que aponta para uma autorreferência divina.
- αἰώνιος (aiōnios) / ἀρχή (archē) — “eterno / princípio”: João começa με “Ἐν ἀρχῇ” (no princípio), ligando Logos ao “princípio” de Gn 1.1.
Correlatos hebraicos
- יָחִיד (yāḥîd) — “único” (sentido de precioso/único), paralelo plausível a μονογενής.
- בְּכוֹר (bekôr) — “primogênito” (direitos, preeminência).
- יהוה (YHWH) e o ἐγώ εἰμι: conexão literária e teológica entre as auto-designações divinas no AT e a linguagem de Jesus no Evangelho de João.
3. Leitura teológica (síntese interpretativa)
- Ontologia do Filho — os textos afirmam que o Filho participa da mesma divindade do Pai (Jo 1.1; Hb 1). Isso não é mero título poético; é declaração ontológica que fundamenta a adoração cristã.
- Economia da redenção — o fato de o Filho ser divino não o retira da humanidade assumida: a encarnação (σὰρξ ἐγένετο) expressa que o Criador se solidariza com a criatura para restaurá-la.
- Eternidade — afirmar que o Filho “estava em princípio” (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος) é afirmar sua preexistência eterna; João e Hebreus reforçam que a obra salvífica do Filho brota da eternidade, não de um ser criado em momento histórico.
- Distinção-união trinitária — as Escrituras mantêm simultaneamente: (a) distinção de Pessoas (o Pai envia, o Filho é enviado) e (b) unidade de essência e honra (o Filho é honrado como o Pai — Jo 5.23). A tradição teológica (Nicéia/Calcedônia) sistematizou essa tensão sem dissolvê-la.
4. Objeções históricas e respostas bíblico-teológicas
- Arianismo (Filho criado): os textos de João, Colossenses e Hebreus negam um “filho criado” ao atribuírem ao Filho a obra criadora e a existência “no princípio”.
- Docetismo (Jesus não humano): João contra-ataca declarando: ὁ λόγος σὰρξ ἐγένετο — verdadeira humanidade assumida.
- Modalismo (uma só pessoa com modos): as narrativas de envio, intercessão (Jo 17) e distinção de papéis preservam a distinção pessoal contra qualquer confusão modalista.
5. Referências acadêmicas (selecção essencial)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Obras patrísticas: Atanásio, Sobre a Encarnação, para perspectiva histórica da doutrina.
6. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração informada: se o Filho é verdadeiramente Deus, nossa adoração cristã deve reconhecer sua divindade — não apenas Jesus “como exemplo” mas Jesus digno de louvor e obediência.
- Confiança na obra de Cristo: a eficácia da redenção depende do fato de que quem redime é o próprio Deus que sustenta o cosmos; por isso a salvação em Cristo é segura e cósmica.
- Catequese e resiliência doutrinária: ensinar claramente a dupla verdade (divindade + humanidade) fortalece a comunidade contra confusões (docetismo, ebionismo, arianismos modernos).
- Missão e encarnação: o Criador-encarnado nos chama a uma missão encarnacional — presença concreta, serviço e testemunho em contextos culturais (porque o Deus que age fez-se vulnerável).
- Vida espiritual equilibrada: entender a preexistência e divindade do Filho nutre reverência e confiança; entender a kenosis (Filipenses 2) inspira humildade e serviço.
Práticas: séries de ensino sobre João e Colossenses; liturgias que expressem a louvação trinitária; materiais de formação para líderes sobre cristologia básica; pregações que unam adoração e ética encarnada.
7. Tabela expositiva (síntese para ensino)
Afirmação | Texto(s) chave | Termo (grego/hebraico) | O que afirma | Aplicação prática |
O Filho é divino | Jo 1.1; Hb 1.3 | ὁ λόγος Θεός ἦν; χαρακτήρ τῆς δόξης | O Logos/Filho participa plenamente da divindade | Adoração cristocêntrica; confiança redentora |
O Filho é eterno / preexistente | Jo 1.1; Jo 17.5; Col 1.17 | Ἐν ἀρχῇ; πρότερον | O Filho existe “no princípio”, anterior à criação | Segurança escatológica; fundamenta missão cósmica |
Unicidade filial | μονογενής | μονογενής; יָחִיד | Singularity/exclusivity of filial relation | Enfatizar singularidade salvadora de Cristo |
Preeminência sobre a criação | Col 1.15–17 | πρωτότοκος πάσης κτίσεως | Cristo é cabeça/preeminente sobre a criação | Missão cósmica: restauração de todas as coisas |
Encarnação | Jo 1.14 | σὰρξ ἐγένετο | O Verbo tornou-se carne — plena humanidade | Vida cristã encarnacional: serviço, presença, compaixão |
Kenosis / humildade | Flp 2.5–8 | ἐκένωσεν | Submissão voluntária do Filho | Modelo de liderança servil e ética cristã |
8. Conclusão breve
A cristologia bíblica une firmemente duas verdades: o Filho é verdadeiramente Deus e verdadeiramente humano; ele preexistiu e foi enviado; ele reina sobre a criação e, por amor, assumiu a condição humana para reconciliá-la. Essas verdades não são teologia abstrata: moldam nossa adoração, sustentam nossa esperança e orientam nossa missão. Conhecer bem quem é o Filho (João, Colossenses, Hebreus) é condição para conhecer o Pai e viver como Igreja fiel.
EU ENSINEI QUE:
Antes do mundo existir, Jesus já existia, pois Ele é eterno.
3- Pai e Filho são iguais
Quando o Senhor Jesus declarou “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30), os judeus queriam apedrejá-LO. Foi uma declaração impactante. O versículo 33 diz que os judeus estavam revoltados, pois Jesus estava se apresentando como Deus. Jesus já tinha feito outras declarações (Jo 5.18,23). As Escrituras revelam que o Pai e o Filho possuem os mesmos atributos.
3.1. O Filho de Deus é Onipotente. O Filho veio ao mundo em forma humana para revelar o Pai (Jo 1.14-18). Jesus pode todas as coisas, de maneira completa e plena (Jo 1.51). Assim como o Pai, o Filho tem todo o poder em Suas mãos (Jo 1.14). o Filho tem o mesmo poder do Pai, já que Ele é Deus. No Livro do Apocalipse, João escreveu: “(…) e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno”, Ap 1.18. A relação harmoniosa e amorosa entre o Pai e o Filho fez com que o Pai entregasse todas as coisas nas mãos do Filho (Jo 3.35). Jesus tem poder para libertar da ignorância espiritual (Jo 8.32, 36), oferecer perdão aos pecadores (Jo 4.25-30; 8.3-11) e curar os doentes (Jo 4.50-51; 5.6-8; 9.6-7).
F.F Bruce (1990, p.94): “Duas vezes neste Evangelho lemos que o Pai ama o Filho, aqui (v.35) e em (5.20). O verbo aqui é agapaõ; na outra passagem é phileõ. A alternância destes dois verbos em afirmações idênticas ilustra a propensão do evangelista em diversificar sua escolha de sinônimos. O versículo 35 é uma contrapartida para a frase de Jesus no relato sinótico: “Tudo me foi entregue por meu Pai” (Mt 11.27; Lc 10.22). O Filho é o enviado plenipotenciário do Pai, seu porta voz e revelador perfeito.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
PAI E FILHO SÃO IGUAIS (Jo 10.30; Jo 5.18; Ap 1.18 etc.).
1. Leitura e questão central
Quando Jesus diz «Eu e o Pai somos um» (Ἐγὼ καὶ ὁ πατήρ ἕν ἐσμέν — Jo 10.30), ele afirma uma unidade tão íntima entre Pai e Filho que seus ouvintes entendem-na como reivindicação de divindade — por isso a reação violenta em Jo 10.31–33. A tradição joanina já havia preparado terreno para essa afirmação: veja Jo 5.18 (“por isso procuravam matá-lo; porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Πατήρ, fazendo-se ἴσος τῷ θεῷ” — equiparado a Deus), e Jo 5.23 (honrar o Filho como se honra o Pai). A afirmação central é teológica: Pai e Filho partilham a mesma dignidade divina e atributos — vida, juízo, autoridade — ainda que permaneçam pessoais e distintamente relacionados.
2. Análise lexical e teológica (grego)
2.1 “Eu e o Pai somos um” — ἕν (hén)
- ἕν (hén) = “um, unidade”. No contexto joanino, a palavra expressa unidade de essência/propósito mais do que fusão numérica. João já usa paralelos que mostram identidade de ação: o Filho faz o que vê o Pai fazer (Jo 5.19); o Filho dá vida (ζωὴ) como o Pai (Jo 5.21, 26).
- Teologicamente: a unidade é múltipla — pessoal (duas Pessoas), essencial (uma divindade), e econômica (uma missão). A Igreja patrística resumiu isso em termos como homoousios (mesma substância), para evitar tanto subordinação quanto modalismo.
2.2 “Fazendo-se igual a Deus” — ἴσος (ísos)
- ἴσος = “igual, equivalente”. João 5.18 acusa Jesus de se fazer ἴσος τῷ θεῷ. Isso não descreve “igualdade de função apenas”, mas indica que Jesus reivindicava título que, em contexto judaico, pertencia somente a YHWH — razão para serem interpretadas como declarações de divindade.
2.3 Atributos compartilhados — termos relevantes
- ζωή (zōē) — “vida”: João atribui ao Filho a vida em si (ζωὴ ἐν ἑαυτῷ — Jo 5.26) — atributo divino (autoexistência).
- κρίσις / κρίνειν (krisis / krinein) — “juízo/julgar”: o Pai entregou ao Filho o juízo (Jo 5.22,27) — autoridade escatológica.
- κλεῖς (kleis) — “chaves” (Ap 1.18): símbolo de autoridade sobre morte e Hades.
- δύναμαι / ἔχω ἐξουσίαν (dýnamai / échō exousían) — “poder / possuir autoridade”: João e Apocalipse mostram o Filho exercendo autoridade plena (cura, perdão, vida e juízo).
3. O Filho é onipotente? — como entender
A Bíblia atribui ao Filho poder e autoridade plenos (o Pai “deu todas as coisas” ao Filho; o Filho tem as chaves, dá vida, julga). Chamá-lo de onipotente é coerente na perspectiva trinitária: o que pertence à divindade pertence ao Filho. Mas João configura esse poder sobretudo na missão do Filho — vida, juízo, autoridade salvadora — e mostra que Jesus o exerce em obediência/união com o Pai (economia trinitária), não como autonomia competitiva.
Ex.: Ap 1.18 — “eu sou o que vive; fui morto, e eis que vivo para sempre, e tenho as chaves da morte e do Hades” → afirma autoridade soberana sobre vida/morte. Em João, curas, perdões e libertações (Jo 4; 5; 8; 9) são manifestações dessa autoridade do Filho, que reflete a igualdade com o Pai.
4. Passagens que sustentam a igualdade funcional/ontológica
- Jo 5.18; 5.22–27 — Filho exerce juízo e se identifica com o Pai.
- Jo 10.30 — unidade afirmada diretamente; reação judaica confirma que a audiência compreendeu como afirmação divina.
- Jo 14–17 — testemunho do envio e da unidade; oração sacerdotal (Jo 17) expressa comunhão eterna.
- Ap 1.17–18 — autoridade escatológica do Ressuscitado.
- Col 1; Heb 1 — preeminência do Filho sobre criação, sustento do universo e exibição da glória do Pai.
5. Problemas e tensões teológicas (breve)
- Subordinação ontológica: algumas leituras modernas tratam as palavras do Filho como sinal de inferioridade ontológica; a leitura bílica/judicada pela tradição conciliar diferencia subordinação funcional/econômica (na missão) de qualquer subordinação essencial.
- Modalismo: confundir a unidade com identidade pessoal (Pai e Filho serem a mesma pessoa) é negar as distinções pessoais claras no Evangelho (o Pai envia, o Filho ora ao Pai, o Espírito procede). João preserva distinção sem hierarquizar a essência.
6. Referências acadêmicas (para aprofundamento)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- (entradas: ἴσος, ἕν, ζωή, κρίσις, κλεῖς), (artigos sobre θεός/υἱός/ἐνέργεια).
7. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração cristã: reconhecer que Jesus é digno de honra igual ao Pai orienta liturgia, oração e cristologia pastoral — não reduzir Jesus a mero mestre moral.
- Confiança no Senhor crucificado e ressuscitado: a autoridade sobre morte e Hades (Ap 1.18) dá esperança diante da finitude e aponta para poder transformador sobre o pecado.
- Missão e autoridade: como o Filho exerce poder para libertar e perdoar, a igreja participa dessa obra por testemunho e compaixão; a ação da comunidade deve refletir o poder do Filho — cura integral (espiritual, física e social).
- Ética da submissão filial: a unidade Pai-Filho mostra que poder divino se manifesta em amor obedientíssimo (Jo 5.30; Flp 2) — líderes cristãos praticam autoridade como serviço e humildade.
- Proteção contra heresias: ensinar cristologia clássica evita oscilações entre negar a divindade do Filho (subordinação) e confundir as pessoas divinas (modalismo).
Práticas: pregação que una cristologia e piedade; grupos de ensino sobre os "Eu sou" de João; ministérios que combinem anúncio com cura/diaconia.
8. Tabela expositiva (resumo prático)
Afirmação
Texto(s) chave
Termo grego
Significado teológico
Aplicação prática
“Eu e o Pai somos um”
Jo 10.30
ἕν (hén)
Unidade de essência/propósito entre Pai e Filho
Adoração cristocêntrica; reconhecer autoridade de Cristo
“Fazendo-se igual a Deus”
Jo 5.18
ἴσος
Reivindicação de igualdade com Deus (razão do ódio)
Confissão pública da divindade de Cristo
Filho dá vida
Jo 5.21,26
ζωὴ (zōē)
Filho possui/dispensa vida em si → atributo divino
Esperança e oração por vida transformadora
Filho julga
Jo 5.22,27
κρίσις (krisis)
Autoridade escatológica delegada ao Filho
Responsabilidade moral; justiça escatológica
Chaves da morte/Hades
Ap 1.18
κλεῖς (kleis)
Soberania sobre morte/sepultura
Consolo diante da morte; missão liberadora
Autoridade para curar/perdoar
Jo 4;5;8;9
δύναμαι / ἐξουσία
Poder salvador do Filho (cura, perdão)
Igreja praticando compaixão e cura integral
Unidade econômica
Jo 5.30
θέλημα (thélēma)
Filho busca a vontade do Pai (obediência)
Liderança servil; missionalidade obediente
9. Conclusão
A confissão joanina de que Pai e Filho são «um» é uma das declarações mais densas da revelação cristã: expressa igualdade de honra e de ação dentro da Trindade, dita em termos que a audiência judaica entendeu como reivindicação de divindade (por isso a reação). O Filho exerce atributos que pertencem ao único Deus — vida, juízo, autoridade sobre morte — e os exerce plenamente e de forma coerente com seu envio e missão. Para a igreja isso significa adorar o Filho como Deus, confiar em sua autoridade salvadora e imitar sua obediência humilde no serviço.
PAI E FILHO SÃO IGUAIS (Jo 10.30; Jo 5.18; Ap 1.18 etc.).
1. Leitura e questão central
Quando Jesus diz «Eu e o Pai somos um» (Ἐγὼ καὶ ὁ πατήρ ἕν ἐσμέν — Jo 10.30), ele afirma uma unidade tão íntima entre Pai e Filho que seus ouvintes entendem-na como reivindicação de divindade — por isso a reação violenta em Jo 10.31–33. A tradição joanina já havia preparado terreno para essa afirmação: veja Jo 5.18 (“por isso procuravam matá-lo; porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Πατήρ, fazendo-se ἴσος τῷ θεῷ” — equiparado a Deus), e Jo 5.23 (honrar o Filho como se honra o Pai). A afirmação central é teológica: Pai e Filho partilham a mesma dignidade divina e atributos — vida, juízo, autoridade — ainda que permaneçam pessoais e distintamente relacionados.
2. Análise lexical e teológica (grego)
2.1 “Eu e o Pai somos um” — ἕν (hén)
- ἕν (hén) = “um, unidade”. No contexto joanino, a palavra expressa unidade de essência/propósito mais do que fusão numérica. João já usa paralelos que mostram identidade de ação: o Filho faz o que vê o Pai fazer (Jo 5.19); o Filho dá vida (ζωὴ) como o Pai (Jo 5.21, 26).
- Teologicamente: a unidade é múltipla — pessoal (duas Pessoas), essencial (uma divindade), e econômica (uma missão). A Igreja patrística resumiu isso em termos como homoousios (mesma substância), para evitar tanto subordinação quanto modalismo.
2.2 “Fazendo-se igual a Deus” — ἴσος (ísos)
- ἴσος = “igual, equivalente”. João 5.18 acusa Jesus de se fazer ἴσος τῷ θεῷ. Isso não descreve “igualdade de função apenas”, mas indica que Jesus reivindicava título que, em contexto judaico, pertencia somente a YHWH — razão para serem interpretadas como declarações de divindade.
2.3 Atributos compartilhados — termos relevantes
- ζωή (zōē) — “vida”: João atribui ao Filho a vida em si (ζωὴ ἐν ἑαυτῷ — Jo 5.26) — atributo divino (autoexistência).
- κρίσις / κρίνειν (krisis / krinein) — “juízo/julgar”: o Pai entregou ao Filho o juízo (Jo 5.22,27) — autoridade escatológica.
- κλεῖς (kleis) — “chaves” (Ap 1.18): símbolo de autoridade sobre morte e Hades.
- δύναμαι / ἔχω ἐξουσίαν (dýnamai / échō exousían) — “poder / possuir autoridade”: João e Apocalipse mostram o Filho exercendo autoridade plena (cura, perdão, vida e juízo).
3. O Filho é onipotente? — como entender
A Bíblia atribui ao Filho poder e autoridade plenos (o Pai “deu todas as coisas” ao Filho; o Filho tem as chaves, dá vida, julga). Chamá-lo de onipotente é coerente na perspectiva trinitária: o que pertence à divindade pertence ao Filho. Mas João configura esse poder sobretudo na missão do Filho — vida, juízo, autoridade salvadora — e mostra que Jesus o exerce em obediência/união com o Pai (economia trinitária), não como autonomia competitiva.
Ex.: Ap 1.18 — “eu sou o que vive; fui morto, e eis que vivo para sempre, e tenho as chaves da morte e do Hades” → afirma autoridade soberana sobre vida/morte. Em João, curas, perdões e libertações (Jo 4; 5; 8; 9) são manifestações dessa autoridade do Filho, que reflete a igualdade com o Pai.
4. Passagens que sustentam a igualdade funcional/ontológica
- Jo 5.18; 5.22–27 — Filho exerce juízo e se identifica com o Pai.
- Jo 10.30 — unidade afirmada diretamente; reação judaica confirma que a audiência compreendeu como afirmação divina.
- Jo 14–17 — testemunho do envio e da unidade; oração sacerdotal (Jo 17) expressa comunhão eterna.
- Ap 1.17–18 — autoridade escatológica do Ressuscitado.
- Col 1; Heb 1 — preeminência do Filho sobre criação, sustento do universo e exibição da glória do Pai.
5. Problemas e tensões teológicas (breve)
- Subordinação ontológica: algumas leituras modernas tratam as palavras do Filho como sinal de inferioridade ontológica; a leitura bílica/judicada pela tradição conciliar diferencia subordinação funcional/econômica (na missão) de qualquer subordinação essencial.
- Modalismo: confundir a unidade com identidade pessoal (Pai e Filho serem a mesma pessoa) é negar as distinções pessoais claras no Evangelho (o Pai envia, o Filho ora ao Pai, o Espírito procede). João preserva distinção sem hierarquizar a essência.
6. Referências acadêmicas (para aprofundamento)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- (entradas: ἴσος, ἕν, ζωή, κρίσις, κλεῖς), (artigos sobre θεός/υἱός/ἐνέργεια).
7. Aplicação pessoal e comunitária
- Adoração cristã: reconhecer que Jesus é digno de honra igual ao Pai orienta liturgia, oração e cristologia pastoral — não reduzir Jesus a mero mestre moral.
- Confiança no Senhor crucificado e ressuscitado: a autoridade sobre morte e Hades (Ap 1.18) dá esperança diante da finitude e aponta para poder transformador sobre o pecado.
- Missão e autoridade: como o Filho exerce poder para libertar e perdoar, a igreja participa dessa obra por testemunho e compaixão; a ação da comunidade deve refletir o poder do Filho — cura integral (espiritual, física e social).
- Ética da submissão filial: a unidade Pai-Filho mostra que poder divino se manifesta em amor obedientíssimo (Jo 5.30; Flp 2) — líderes cristãos praticam autoridade como serviço e humildade.
- Proteção contra heresias: ensinar cristologia clássica evita oscilações entre negar a divindade do Filho (subordinação) e confundir as pessoas divinas (modalismo).
Práticas: pregação que una cristologia e piedade; grupos de ensino sobre os "Eu sou" de João; ministérios que combinem anúncio com cura/diaconia.
8. Tabela expositiva (resumo prático)
Afirmação | Texto(s) chave | Termo grego | Significado teológico | Aplicação prática |
“Eu e o Pai somos um” | Jo 10.30 | ἕν (hén) | Unidade de essência/propósito entre Pai e Filho | Adoração cristocêntrica; reconhecer autoridade de Cristo |
“Fazendo-se igual a Deus” | Jo 5.18 | ἴσος | Reivindicação de igualdade com Deus (razão do ódio) | Confissão pública da divindade de Cristo |
Filho dá vida | Jo 5.21,26 | ζωὴ (zōē) | Filho possui/dispensa vida em si → atributo divino | Esperança e oração por vida transformadora |
Filho julga | Jo 5.22,27 | κρίσις (krisis) | Autoridade escatológica delegada ao Filho | Responsabilidade moral; justiça escatológica |
Chaves da morte/Hades | Ap 1.18 | κλεῖς (kleis) | Soberania sobre morte/sepultura | Consolo diante da morte; missão liberadora |
Autoridade para curar/perdoar | Jo 4;5;8;9 | δύναμαι / ἐξουσία | Poder salvador do Filho (cura, perdão) | Igreja praticando compaixão e cura integral |
Unidade econômica | Jo 5.30 | θέλημα (thélēma) | Filho busca a vontade do Pai (obediência) | Liderança servil; missionalidade obediente |
9. Conclusão
A confissão joanina de que Pai e Filho são «um» é uma das declarações mais densas da revelação cristã: expressa igualdade de honra e de ação dentro da Trindade, dita em termos que a audiência judaica entendeu como reivindicação de divindade (por isso a reação). O Filho exerce atributos que pertencem ao único Deus — vida, juízo, autoridade sobre morte — e os exerce plenamente e de forma coerente com seu envio e missão. Para a igreja isso significa adorar o Filho como Deus, confiar em sua autoridade salvadora e imitar sua obediência humilde no serviço.
3.2. O Filho de Deus é Onipresente. Quando falamos que o Filho de Deus é Onipresente, estamos nos referindo ao poder de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, assim como o Pai (Jo 20.19). O Filho de Deus vai além dos limites dos seres humanos, como afirma Myer Pearlman: “Imensidade é a presença de Deus em relação ao espaço, enquanto onipresença é Sua presença em relação às criaturas’: Jesus garantiu que onde estivessem dois ou três reunidos em Seu nome, ali Ele estaria (Mt 18.20). Jesus estava dizendo que, assim como Pai, o Seu poder não está limitado ao espaço geográfico. Ele está presente em todos os lugares (Jo 4.48-53; Mt 28.20).
Valdir Alves de Oliveira (2021. L. 12): “Deus é transcendente: além dos limites cosmológicos, além dos limites humanos (…). Está nas profundezas, está ao nosso nível e está nas alturas. Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra’ (Fp 2.10);Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz’ (Dn 2.22); `E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar’ (Hb 4.13)”
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1) O que a Bíblia diz sobre a presença do Filho (e palavras gregas relevantes)
Idea central: a Escritura atribui ao Filho, como Filho divino, a presença ativa e soberana sobre o mundo; simultaneamente mostra que, na encarnação, o Filho assumiu limites humanos. Dizer que “o Filho é onipresente” é dizer: por sua condição divina ele participa da presença total de Deus; na encarnação ele se fez localmente presente, e por meios mediadores (promessa, Espírito, igreja) permanece presente com os seus.
Passagens-chave (e termos gregos):
- Mateus 18:20 — “Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.” (ἐν μέσῳ αὐτῶν — “no meio deles”) → presença real e mediada do Senhor entre assembleias.
- Mateus 28:20 — “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação do século.” (κἀγώ μεθ’ ὑμῶν εἰμι πάσας τὰς ἡμέρας) → promessa de presença contínua até o fim.
- João 20:19–21 — Jesus “vem e se põe no meio” (παράγεται καὶ ἑστηκεν ἐν μέσῳ) — presença do Ressuscitado entre os discípulos.
- João 4:48–53 (oficial real) — Jesus opera cura à distância; sua autoridade e eficácia não ficam reduzidas à sua localização física. Isso ilustra que o poder e ação do Filho ultrapassam limites espaciais.
- Colossenses 1:16–17 / Hebreus 1:3 — o Filho é agente da criação e “sustenta todas as coisas” (πάντα ἐν αὐτῷ ἔστιν· ἐν αὐτῷ συνέχεται τὰ πάντα / φέρει τὰ πάντα τῷ λόγῳ τῆς δυνάμεως αὐτοῦ) → imagens que apontam para uma presença sustentadora e abrangente.
- Apocalipse 1:17–18 — o Ressuscitado declara: “tenho as chaves da morte e do Hades” → soberania sobre limites existenciais.
- Salmos (LXX) 139 / Sl 139 (MT) — a ideia clássica: “Para onde fugirei da tua presença?” (LXX: πῶς ἐξέλθω ἀπὸ τοῦ πνεύματός σου; ἀπὸ προσώπου σου ποῦ ἐκφύγω;) — texto usado por intérpretes cristãos para falar da presença divina universal.
Léxico / termos úteis:
- ἐν μέσῳ (en mésō) — “no meio”; presença real entre pessoas.
- πάσας τὰς ἡμέρας / πάντοτε — “sempre, todos os dias” (persistência da presença).
- συνέχεται / φέρει / ἐν αὐτῷ — termos que expressam sustentação e imanência cósmica.
- LXX Hebraico: מְנֹֽעַ (no equivalente) para “fugir da presença” — o sentido do alcance divino.
2) Como resolver a tensão teológica (tradicionalmente)
Há tensão aparente: se o Filho é realmente onipresente (atributo divino), como encaixar o fato de que, enquanto encarnado, Jesus esteve localizado em Nazaré, Cafarnaum, no Getsêmani, etc. — isto é, como conciliar onipresença e limitação histórica?
A tradição teológica clássica resolve em duas etapas:
A) Distinção de naturezas — a fórmula de Calcedônia
- Princípio: Cristo é uma Pessoa (o Verbo) em duas naturezas verdadeiras: divina e humana (ἀσώματον/ασώματος? não — μία προσωπία, δύο φύσεις).
- Consequência: atributos da natureza divina (simplicidade, eternidade, onipresença) pertencem à natureza divina; atributos da natureza humana (localidade, crescimento, fome, limite) pertencem à natureza humana. Como pessoa única, Jesus pode ser referido com predicados de ambas as naturezas (communicatio idiomatum): diz-se que “Cristo está no céu (pela natureza divina) e na Terra (pela natureza humana)”.
- Fontes clássicas: Concílio de Calcedônia (451); patrística — Atanásio, Gregório Nazianzeno; obras sistemáticas modernas tratam disso (Kelly, Pelikan).
B) Kenosis / autolimitação voluntária
- Filipenses 2:5–8 descreve que o Filho “esvaziou-se” (ἐκένωσεν). Muitos intérpretes (conservadores) entendem que o Filho não desistiu de sua divindade, mas assumiu soberana autolimitação dos prerrogativas divinas enquanto no estado encarnado — voluntária obediência que incluiu restrições na manifestação de certos atributos.
- Implicação: a onipresença ontológica do Verbo permanece (por ser atributo da natureza divina), mas o modo de presença do Verbo encarnado foi, voluntariamente, compatibilizado com os limites humanos. Assim, como Homem, Jesus tinha um corpo localizado; como Verbo-divino, a pessoa do Filho continua a participar do ser divino pleno.
C) Presença mediada pelo Espírito e pela igreja
- Depois da ressurreição e ascensão, a presença do Filho é mediada pelo Espírito (Jo 14–16) e pela comunhão sacramental (Mateus 28:20; 1 Cor 10:16–17). A promessa “estarei convosco todos os dias” é cumprida pela união trinitária e pelo Espírito, que torna a presença de Cristo efetiva na Igreja, mesmo sem presença corporal.
Resumo teológico curto: o Filho, enquanto Deus, é onipresente; enquanto homem no primeiro século, o Filho assumiu limites locais. A pessoa do Filho pode corretamente ser descrita como “onipresente” em virtude da sua natureza divina, e como “localizada” por causa de sua natureza humana — sem contradição por causa da união hipostática.
3) Aplicações práticas e pastorais
- Consolo e segurança: a onipresença do Filho dá fundamento bíblico para a confiança de que Cristo está presente onde seu povo se reúne, sofre, ora ou age (Mt 18:20; Mt 28:20).
- Missão e coragem: a presença soberana do Filho sustenta a missão: ele acompanha, sustenta e “está” com quem envia. Isso liberta para evangelizar mesmo em contexto hostil.
- Culto e disciplina comunitária: saber que Cristo “está no meio” dos reunidos muda a seriedade do culto — não é performance humana, é encontro com o Senhor presente.
- Teologia sacramental e pneumatológica: a presença mediada do Filho (pelo Espírito e pelos sacramentos) justifica práticas como a Eucaristia, a oração comunitária e o discipulado — lugares concretos onde Cristo se faz presente.
- Humildade cognitiva: a verdade cristã inclui mistério — a presença simultaneamente universal do Filho e sua presença localizada histórica não se esgota em lógica humana, mas é recebida em fé e discernida teologicamente.
4) Tabela expositiva (resumo rápido)
Tema
Texto-chave
Termo/idéia (grego/hebraico)
O que afirma
Aplicação prática
Presença mediada na reunião
Mt 18:20
ἐν μέσῳ αὐτῶν
Cristo “está no meio” da igreja reunida
Reverência no culto; valor da comunidade
Promessa contínua
Mt 28:20
μεθ’ ὑμῶν εἰμι πάσας τὰς ἡμέρας
Presença contínua até o fim dos tempos
Coragem missionária; consolo pastoral
Sustentação cósmica
Col 1:16–17 / Hb 1:3
συνέχω / φέρει τὰ πάντα
O Filho sustenta todas as coisas
Confiança na soberania e cuidado divino
Autoridade sobre morte
Ap 1:17–18
κλεῖς (chaves)
Soberania sobre morte e Hades
Esperança na ressurreição; vitória final
Limitação histórica
Jo 1.14; Flp 2
σὰρξ ἐγένετο; ἐκένωσεν
Encarnação e kenosis → presença localizada
Modelos de liderança servil; encarnação pastoral
Presença por Espírito
Jo 14–16
παράκλητος / πνεῦμα
Cristo presente mediado pelo Espírito
Vida sacramental e oração comunitária
Tradução patrística
Calcedônia
ἕν πρόσωπον, δύο φύσεις
Unidade pessoal + duas naturezas → permite predicação correta
Linguagem teológica para pregar e catequisar
5) Leituras recomendadas (para aprofundar — clássicos e modernos)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico - para a presença divina no AT: LXX e comentários do Salmo 139.
Conclusão
Dizer que “o Filho é onipresente” é (1) correto quando nos referimos ao Filho na sua natureza divina — ele participa da presença abrangente que é atributo de Deus — e (2) qualificado quando consideramos o estado encarnacional: durante o ministério terreno o Filho operou numa presença localizada, por sua vontade hodierna; depois da ressurreição e ascensão a sua presença é efetiva por meios trinitários (Espírito, Palavra, sacramentos) — o que não diminui a realidade de sua presença “onde dois ou três” e sua soberania cósmica que sustenta todas as coisas.
1) O que a Bíblia diz sobre a presença do Filho (e palavras gregas relevantes)
Idea central: a Escritura atribui ao Filho, como Filho divino, a presença ativa e soberana sobre o mundo; simultaneamente mostra que, na encarnação, o Filho assumiu limites humanos. Dizer que “o Filho é onipresente” é dizer: por sua condição divina ele participa da presença total de Deus; na encarnação ele se fez localmente presente, e por meios mediadores (promessa, Espírito, igreja) permanece presente com os seus.
Passagens-chave (e termos gregos):
- Mateus 18:20 — “Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.” (ἐν μέσῳ αὐτῶν — “no meio deles”) → presença real e mediada do Senhor entre assembleias.
- Mateus 28:20 — “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação do século.” (κἀγώ μεθ’ ὑμῶν εἰμι πάσας τὰς ἡμέρας) → promessa de presença contínua até o fim.
- João 20:19–21 — Jesus “vem e se põe no meio” (παράγεται καὶ ἑστηκεν ἐν μέσῳ) — presença do Ressuscitado entre os discípulos.
- João 4:48–53 (oficial real) — Jesus opera cura à distância; sua autoridade e eficácia não ficam reduzidas à sua localização física. Isso ilustra que o poder e ação do Filho ultrapassam limites espaciais.
- Colossenses 1:16–17 / Hebreus 1:3 — o Filho é agente da criação e “sustenta todas as coisas” (πάντα ἐν αὐτῷ ἔστιν· ἐν αὐτῷ συνέχεται τὰ πάντα / φέρει τὰ πάντα τῷ λόγῳ τῆς δυνάμεως αὐτοῦ) → imagens que apontam para uma presença sustentadora e abrangente.
- Apocalipse 1:17–18 — o Ressuscitado declara: “tenho as chaves da morte e do Hades” → soberania sobre limites existenciais.
- Salmos (LXX) 139 / Sl 139 (MT) — a ideia clássica: “Para onde fugirei da tua presença?” (LXX: πῶς ἐξέλθω ἀπὸ τοῦ πνεύματός σου; ἀπὸ προσώπου σου ποῦ ἐκφύγω;) — texto usado por intérpretes cristãos para falar da presença divina universal.
Léxico / termos úteis:
- ἐν μέσῳ (en mésō) — “no meio”; presença real entre pessoas.
- πάσας τὰς ἡμέρας / πάντοτε — “sempre, todos os dias” (persistência da presença).
- συνέχεται / φέρει / ἐν αὐτῷ — termos que expressam sustentação e imanência cósmica.
- LXX Hebraico: מְנֹֽעַ (no equivalente) para “fugir da presença” — o sentido do alcance divino.
2) Como resolver a tensão teológica (tradicionalmente)
Há tensão aparente: se o Filho é realmente onipresente (atributo divino), como encaixar o fato de que, enquanto encarnado, Jesus esteve localizado em Nazaré, Cafarnaum, no Getsêmani, etc. — isto é, como conciliar onipresença e limitação histórica?
A tradição teológica clássica resolve em duas etapas:
A) Distinção de naturezas — a fórmula de Calcedônia
- Princípio: Cristo é uma Pessoa (o Verbo) em duas naturezas verdadeiras: divina e humana (ἀσώματον/ασώματος? não — μία προσωπία, δύο φύσεις).
- Consequência: atributos da natureza divina (simplicidade, eternidade, onipresença) pertencem à natureza divina; atributos da natureza humana (localidade, crescimento, fome, limite) pertencem à natureza humana. Como pessoa única, Jesus pode ser referido com predicados de ambas as naturezas (communicatio idiomatum): diz-se que “Cristo está no céu (pela natureza divina) e na Terra (pela natureza humana)”.
- Fontes clássicas: Concílio de Calcedônia (451); patrística — Atanásio, Gregório Nazianzeno; obras sistemáticas modernas tratam disso (Kelly, Pelikan).
B) Kenosis / autolimitação voluntária
- Filipenses 2:5–8 descreve que o Filho “esvaziou-se” (ἐκένωσεν). Muitos intérpretes (conservadores) entendem que o Filho não desistiu de sua divindade, mas assumiu soberana autolimitação dos prerrogativas divinas enquanto no estado encarnado — voluntária obediência que incluiu restrições na manifestação de certos atributos.
- Implicação: a onipresença ontológica do Verbo permanece (por ser atributo da natureza divina), mas o modo de presença do Verbo encarnado foi, voluntariamente, compatibilizado com os limites humanos. Assim, como Homem, Jesus tinha um corpo localizado; como Verbo-divino, a pessoa do Filho continua a participar do ser divino pleno.
C) Presença mediada pelo Espírito e pela igreja
- Depois da ressurreição e ascensão, a presença do Filho é mediada pelo Espírito (Jo 14–16) e pela comunhão sacramental (Mateus 28:20; 1 Cor 10:16–17). A promessa “estarei convosco todos os dias” é cumprida pela união trinitária e pelo Espírito, que torna a presença de Cristo efetiva na Igreja, mesmo sem presença corporal.
Resumo teológico curto: o Filho, enquanto Deus, é onipresente; enquanto homem no primeiro século, o Filho assumiu limites locais. A pessoa do Filho pode corretamente ser descrita como “onipresente” em virtude da sua natureza divina, e como “localizada” por causa de sua natureza humana — sem contradição por causa da união hipostática.
3) Aplicações práticas e pastorais
- Consolo e segurança: a onipresença do Filho dá fundamento bíblico para a confiança de que Cristo está presente onde seu povo se reúne, sofre, ora ou age (Mt 18:20; Mt 28:20).
- Missão e coragem: a presença soberana do Filho sustenta a missão: ele acompanha, sustenta e “está” com quem envia. Isso liberta para evangelizar mesmo em contexto hostil.
- Culto e disciplina comunitária: saber que Cristo “está no meio” dos reunidos muda a seriedade do culto — não é performance humana, é encontro com o Senhor presente.
- Teologia sacramental e pneumatológica: a presença mediada do Filho (pelo Espírito e pelos sacramentos) justifica práticas como a Eucaristia, a oração comunitária e o discipulado — lugares concretos onde Cristo se faz presente.
- Humildade cognitiva: a verdade cristã inclui mistério — a presença simultaneamente universal do Filho e sua presença localizada histórica não se esgota em lógica humana, mas é recebida em fé e discernida teologicamente.
4) Tabela expositiva (resumo rápido)
Tema | Texto-chave | Termo/idéia (grego/hebraico) | O que afirma | Aplicação prática |
Presença mediada na reunião | Mt 18:20 | ἐν μέσῳ αὐτῶν | Cristo “está no meio” da igreja reunida | Reverência no culto; valor da comunidade |
Promessa contínua | Mt 28:20 | μεθ’ ὑμῶν εἰμι πάσας τὰς ἡμέρας | Presença contínua até o fim dos tempos | Coragem missionária; consolo pastoral |
Sustentação cósmica | Col 1:16–17 / Hb 1:3 | συνέχω / φέρει τὰ πάντα | O Filho sustenta todas as coisas | Confiança na soberania e cuidado divino |
Autoridade sobre morte | Ap 1:17–18 | κλεῖς (chaves) | Soberania sobre morte e Hades | Esperança na ressurreição; vitória final |
Limitação histórica | Jo 1.14; Flp 2 | σὰρξ ἐγένετο; ἐκένωσεν | Encarnação e kenosis → presença localizada | Modelos de liderança servil; encarnação pastoral |
Presença por Espírito | Jo 14–16 | παράκλητος / πνεῦμα | Cristo presente mediado pelo Espírito | Vida sacramental e oração comunitária |
Tradução patrística | Calcedônia | ἕν πρόσωπον, δύο φύσεις | Unidade pessoal + duas naturezas → permite predicação correta | Linguagem teológica para pregar e catequisar |
5) Leituras recomendadas (para aprofundar — clássicos e modernos)
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- D. A. Carson — O Comentário de João .
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico - para a presença divina no AT: LXX e comentários do Salmo 139.
Conclusão
Dizer que “o Filho é onipresente” é (1) correto quando nos referimos ao Filho na sua natureza divina — ele participa da presença abrangente que é atributo de Deus — e (2) qualificado quando consideramos o estado encarnacional: durante o ministério terreno o Filho operou numa presença localizada, por sua vontade hodierna; depois da ressurreição e ascensão a sua presença é efetiva por meios trinitários (Espírito, Palavra, sacramentos) — o que não diminui a realidade de sua presença “onde dois ou três” e sua soberania cósmica que sustenta todas as coisas.
3.3. O Filho de Deus é Onisciente. A Onisciência do Filho de Deus O faz conhecedor de todas as coisas. Vemos isso quando Jesus revelou a Natanael que o viu embaixo de uma árvore (Jo 1.48) e quando falou à mulher samaritana que o homem com quem ela se relacionava não era seu marido (Jo 4.16-18). Jesus também sabia até o lado do barco de Pedro e seus amigos que tinham peixes (Jo 21.6). Como disse Paulo, em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2.3).
Comentário MacArthur- Gênesis a Apocalipse (2019, p.1312): “Eu o vi. Isso fornece um breve vislumbre do conhecimento sobrenatural de Jesus. Não só o breve resumo de Jesus sobre Natanael foi preciso (v.47), como também revelou informações que só poderiam ser conhecidas pelo próprio Natanael. Talvez Natanael tivesse alguma experiência significativa ou extraordinária de comunhão com Deus no local e, então, foi capaz de reconhecer a alusão de Jesus a isso’:
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1. Onisciente
A) O Filho de Deus é Onisciente
A onisciência é um atributo divino que significa conhecimento pleno e completo de todas as coisas, sejam elas passadas, presentes ou futuras. Aplicado ao Filho de Deus, demonstra que Jesus, enquanto Deus encarnado, possui plenitude de conhecimento, não limitado por tempo, espaço ou circunstâncias humanas.
Passagens-chave:
- João 1:48 — Jesus revela a Natanael: “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi.”
- Palavra-chave: εἶδον (eídon) → “vi” / “tenho conhecimento pleno de”; indica conhecimento sobrenatural e direto de eventos e pensamentos humanos.
- João 4:16-18 — Jesus revela à mulher samaritana detalhes íntimos de sua vida conjugal, mostrando percepção de informações não evidentes externamente.
- João 21:6 — Jesus conhece a quantidade de peixes que Pedro e os discípulos haviam pescado; conhecimento detalhado do mundo físico e das circunstâncias humanas.
- Colossenses 2:3 — “Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.” (τὰ πάντα τὰ θησαυρικά τῆς σοφίας καὶ τῆς γνώσεως) → o conhecimento de Deus é pleno, abrangente e perfeito, e Cristo o possui.
B) Significado teológico
- Onisciência divina: Jesus, como Verbo eterno (Jo 1:1), possui conhecimento absoluto; todos os eventos e pensamentos humanos são conhecidos por Ele antes mesmo de acontecerem.
- Onisciência encarnada: Durante a encarnação, Jesus voluntariamente limita sua expressão do conhecimento em função da humanidade (kenosis — Flp 2:5-8), mas nunca deixa de possuir conhecimento pleno em sua natureza divina.
- Cristologia prática: Esse atributo sustenta a confiança dos cristãos na liderança de Cristo. Ele sabe cada situação, cada necessidade e cada coração humano, podendo agir com precisão divina.
Comentários acadêmicos:
- John MacArthur (2019, p.1312): Destaca que os exemplos de Natanael e da mulher samaritana demonstram conhecimento sobrenatural de Jesus, ou seja, sua onisciência não é apenas teórica, mas prática e reveladora, servindo à sua missão redentora.
- F.F. Bruce (1990, p.95): Enfatiza que a onisciência do Filho evidencia a plenitude de sua divindade, mesmo durante a encarnação, e a capacidade de guiar o discípulo e o crente em cada circunstância.
C) Aplicação prática
- Confiança em Jesus: Saber que Cristo conhece todas as situações e nossos corações nos dá segurança para nos entregar a Ele sem reservas.
- Oração consciente: Podemos orar com convicção, pois Ele sabe nossas necessidades antes mesmo de as expressarmos (Mt 6:8).
- Discernimento espiritual: A onisciência do Filho nos convida a buscar Sua direção em decisões complexas, confiando que Ele vê além do que nós enxergamos.
- Evangelização e discipulado: Jesus conhece cada pessoa individualmente; sua presença e palavra podem transformar vidas com precisão divina.
2. Análise lexical
Termo / expressão
Texto
Língua
Significado
Observação teológica
εἶδον (eídon)
Jo 1:48
Grego
“vi”, “conheci plenamente”
Demonstra conhecimento pessoal e sobrenatural de Natanael
γνῶσις (gnōsis)
Cl 2:3
Grego
“conhecimento”, “sabedoria”
Relaciona-se ao conhecimento total de Deus; não limitado à experiência humana
ἔγνωκα (egnōka)
Jo 4:16
Grego
“eu sei”
Indica percepção completa de detalhes íntimos da vida da mulher samaritana
θησαυρικός (thēsaurikos)
Cl 2:3
Grego
“tesouro”
Sugere que o conhecimento divino é valioso, profundo e inesgotável
3. Tabela expositiva resumida
Tema
Texto-chave
Palavra-chave
Conteúdo teológico
Aplicação prática
Onisciência de Cristo
Jo 1:48
εἶδον
Conhecimento pleno dos corações e ações humanas
Confiar na orientação de Cristo
Conhecimento da vida íntima
Jo 4:16-18
ἔγνωκα
Percepção das condições ocultas do ser humano
Oração e discernimento conscientes
Conhecimento cósmico e espiritual
Cl 2:3
γνῶσις / θησαυρικός
Tesouros da sabedoria e ciência em Cristo
Buscar sabedoria e entendimento nEle
Providência prática
Jo 21:6
εἶδον
Conhecimento detalhado do mundo físico
Confiança na providência e direção de Cristo
1. Onisciente
A) O Filho de Deus é Onisciente
A onisciência é um atributo divino que significa conhecimento pleno e completo de todas as coisas, sejam elas passadas, presentes ou futuras. Aplicado ao Filho de Deus, demonstra que Jesus, enquanto Deus encarnado, possui plenitude de conhecimento, não limitado por tempo, espaço ou circunstâncias humanas.
Passagens-chave:
- João 1:48 — Jesus revela a Natanael: “Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi.”
- Palavra-chave: εἶδον (eídon) → “vi” / “tenho conhecimento pleno de”; indica conhecimento sobrenatural e direto de eventos e pensamentos humanos.
- João 4:16-18 — Jesus revela à mulher samaritana detalhes íntimos de sua vida conjugal, mostrando percepção de informações não evidentes externamente.
- João 21:6 — Jesus conhece a quantidade de peixes que Pedro e os discípulos haviam pescado; conhecimento detalhado do mundo físico e das circunstâncias humanas.
- Colossenses 2:3 — “Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.” (τὰ πάντα τὰ θησαυρικά τῆς σοφίας καὶ τῆς γνώσεως) → o conhecimento de Deus é pleno, abrangente e perfeito, e Cristo o possui.
B) Significado teológico
- Onisciência divina: Jesus, como Verbo eterno (Jo 1:1), possui conhecimento absoluto; todos os eventos e pensamentos humanos são conhecidos por Ele antes mesmo de acontecerem.
- Onisciência encarnada: Durante a encarnação, Jesus voluntariamente limita sua expressão do conhecimento em função da humanidade (kenosis — Flp 2:5-8), mas nunca deixa de possuir conhecimento pleno em sua natureza divina.
- Cristologia prática: Esse atributo sustenta a confiança dos cristãos na liderança de Cristo. Ele sabe cada situação, cada necessidade e cada coração humano, podendo agir com precisão divina.
Comentários acadêmicos:
- John MacArthur (2019, p.1312): Destaca que os exemplos de Natanael e da mulher samaritana demonstram conhecimento sobrenatural de Jesus, ou seja, sua onisciência não é apenas teórica, mas prática e reveladora, servindo à sua missão redentora.
- F.F. Bruce (1990, p.95): Enfatiza que a onisciência do Filho evidencia a plenitude de sua divindade, mesmo durante a encarnação, e a capacidade de guiar o discípulo e o crente em cada circunstância.
C) Aplicação prática
- Confiança em Jesus: Saber que Cristo conhece todas as situações e nossos corações nos dá segurança para nos entregar a Ele sem reservas.
- Oração consciente: Podemos orar com convicção, pois Ele sabe nossas necessidades antes mesmo de as expressarmos (Mt 6:8).
- Discernimento espiritual: A onisciência do Filho nos convida a buscar Sua direção em decisões complexas, confiando que Ele vê além do que nós enxergamos.
- Evangelização e discipulado: Jesus conhece cada pessoa individualmente; sua presença e palavra podem transformar vidas com precisão divina.
2. Análise lexical
Termo / expressão | Texto | Língua | Significado | Observação teológica |
εἶδον (eídon) | Jo 1:48 | Grego | “vi”, “conheci plenamente” | Demonstra conhecimento pessoal e sobrenatural de Natanael |
γνῶσις (gnōsis) | Cl 2:3 | Grego | “conhecimento”, “sabedoria” | Relaciona-se ao conhecimento total de Deus; não limitado à experiência humana |
ἔγνωκα (egnōka) | Jo 4:16 | Grego | “eu sei” | Indica percepção completa de detalhes íntimos da vida da mulher samaritana |
θησαυρικός (thēsaurikos) | Cl 2:3 | Grego | “tesouro” | Sugere que o conhecimento divino é valioso, profundo e inesgotável |
3. Tabela expositiva resumida
Tema | Texto-chave | Palavra-chave | Conteúdo teológico | Aplicação prática |
Onisciência de Cristo | Jo 1:48 | εἶδον | Conhecimento pleno dos corações e ações humanas | Confiar na orientação de Cristo |
Conhecimento da vida íntima | Jo 4:16-18 | ἔγνωκα | Percepção das condições ocultas do ser humano | Oração e discernimento conscientes |
Conhecimento cósmico e espiritual | Cl 2:3 | γνῶσις / θησαυρικός | Tesouros da sabedoria e ciência em Cristo | Buscar sabedoria e entendimento nEle |
Providência prática | Jo 21:6 | εἶδον | Conhecimento detalhado do mundo físico | Confiança na providência e direção de Cristo |
EU ENSINEI QUE:
A Onisciência do Filho de Deus 0 faz conhecedor de todas as coisas.
CONCLUSÃO
O Pai e o Filho são iguais em essência, poder e glória (Jo 10.30). O Filho veio do Pai e retornou a Ele (Jo 16.28), demonstrando a relação eterna e inseparável entre ambos. Embora sejam Pessoas distintas dentro da Trindade, possuem a mesma natureza divina e operam em perfeita unidade. A missão do Filho foi tornar visível o Pai ao mundo, ensinando, curando e manifestando Seu amor e justiça, cumprindo assim o Plano Divino de Salvação.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Conclusão: 1. Unidade e igualdade do Pai e do Filho
A declaração de Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30) expressa a igualdade em essência, poder e glória entre as Pessoas da Trindade. A palavra grega ἕν (hén) indica unidade absoluta, não apenas de propósito, mas de natureza. Jesus não apenas reflete a vontade do Pai, mas É da mesma natureza divina (Jo 1.1; Cl 2.9).
- Referência acadêmica: F.F. Bruce (1990, p.96): observa que essa unidade é central para a cristologia joanina: Jesus não age de forma independente, mas sempre em perfeita harmonia com o Pai, revelando Deus de forma plena.
2. Missão do Filho
O Filho veio do Pai e retornou a Ele (Jo 16.28), cumprindo a obra da salvação. O verbo grego ἀπέρχομαι (aperchomai) indica um movimento de saída e retorno, demonstrando tanto a encarnação quanto a ascensão de Cristo. Sua missão envolveu:
- Revelação do Pai: Tornar visível o invisível (Jo 1.18; Jo 14.9).
- Manifestação do amor e justiça: Por meio de milagres, ensino e cumprimento da Lei (Jo 3.16; Mt 5.17).
- Cumprimento do Plano de Salvação: A reconciliação da humanidade com Deus (2 Co 5.19; Hb 2.10).
- Referência acadêmica: John MacArthur (2019, p.1332): destaca que a obra de Cristo demonstra que a Trindade atua de forma cooperativa, sem confusão de Pessoas, mas com plena unidade de propósito.
3. Distinção de Pessoas na Trindade
Embora Pai e Filho sejam da mesma essência, eles são Pessoas distintas (πρόσωπα, prosōpa) na Trindade. A distinção é funcional:
- O Pai envia (Jo 5.36; Jo 6.29).
- O Filho cumpre a obra e revela o Pai (Jo 14.10; Jo 17.4).
- O Espírito Santo aplica a salvação aos crentes (Jo 14.26; Jo 16.7).
Essa distinção de funções é complementar à unidade da essência divina.
4. Aplicação prática
- Reconhecimento de Cristo como revelador do Pai: Confiar no Filho é confiar no próprio Deus (Jo 12.45).
- Vida em unidade com Deus: Como Cristo fez a vontade do Pai em tudo (Jo 5.19,30), devemos buscar a harmonia entre nossa vontade e a vontade divina.
- Confiança na obra da salvação: Entender que Jesus cumpriu perfeitamente o plano divino nos encoraja a depender totalmente de Sua graça.
Análise Lexical
Termo / expressão
Texto
Língua
Significado
Observação teológica
ἕν (hén)
Jo 10.30
Grego
“um”, “unidade”
Unidade de essência entre Pai e Filho
ἀπέρχομαι (aperchomai)
Jo 16.28
Grego
“vir de / ir para”
Indica encarnação e ascensão de Cristo
πρόσωπα (prosōpa)
Conceito trinitário
Grego
“pessoas”, “identidades distintas”
Distinção funcional dentro da Trindade
δόξα (dóxa)
Jo 17.5
Grego
“glória”
Refere-se à manifestação da natureza divina plena
Tabela Expositiva
Tema
Texto-chave
Palavra / conceito
Conteúdo teológico
Aplicação prática
Unidade do Pai e do Filho
Jo 10.30
ἕν (hén)
Igualdade em essência, poder e glória
Confiar na revelação perfeita de Deus em Cristo
Missão do Filho
Jo 16.28
ἀπέρχομαι
Envio, encarnação e retorno à glória
Reconhecer a autoridade e obra salvadora de Cristo
Distinção de Pessoas
Conceito trinitário
πρόσωπα
Pai, Filho e Espírito têm funções distintas
Respeitar a obra do Filho em nos revelar o Pai
Glória e poder divino
Jo 17.5
δόξα
Manifestação plena da natureza divina
Viver com reverência e submissão à vontade de Deus
Conclusão: 1. Unidade e igualdade do Pai e do Filho
A declaração de Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30) expressa a igualdade em essência, poder e glória entre as Pessoas da Trindade. A palavra grega ἕν (hén) indica unidade absoluta, não apenas de propósito, mas de natureza. Jesus não apenas reflete a vontade do Pai, mas É da mesma natureza divina (Jo 1.1; Cl 2.9).
- Referência acadêmica: F.F. Bruce (1990, p.96): observa que essa unidade é central para a cristologia joanina: Jesus não age de forma independente, mas sempre em perfeita harmonia com o Pai, revelando Deus de forma plena.
2. Missão do Filho
O Filho veio do Pai e retornou a Ele (Jo 16.28), cumprindo a obra da salvação. O verbo grego ἀπέρχομαι (aperchomai) indica um movimento de saída e retorno, demonstrando tanto a encarnação quanto a ascensão de Cristo. Sua missão envolveu:
- Revelação do Pai: Tornar visível o invisível (Jo 1.18; Jo 14.9).
- Manifestação do amor e justiça: Por meio de milagres, ensino e cumprimento da Lei (Jo 3.16; Mt 5.17).
- Cumprimento do Plano de Salvação: A reconciliação da humanidade com Deus (2 Co 5.19; Hb 2.10).
- Referência acadêmica: John MacArthur (2019, p.1332): destaca que a obra de Cristo demonstra que a Trindade atua de forma cooperativa, sem confusão de Pessoas, mas com plena unidade de propósito.
3. Distinção de Pessoas na Trindade
Embora Pai e Filho sejam da mesma essência, eles são Pessoas distintas (πρόσωπα, prosōpa) na Trindade. A distinção é funcional:
- O Pai envia (Jo 5.36; Jo 6.29).
- O Filho cumpre a obra e revela o Pai (Jo 14.10; Jo 17.4).
- O Espírito Santo aplica a salvação aos crentes (Jo 14.26; Jo 16.7).
Essa distinção de funções é complementar à unidade da essência divina.
4. Aplicação prática
- Reconhecimento de Cristo como revelador do Pai: Confiar no Filho é confiar no próprio Deus (Jo 12.45).
- Vida em unidade com Deus: Como Cristo fez a vontade do Pai em tudo (Jo 5.19,30), devemos buscar a harmonia entre nossa vontade e a vontade divina.
- Confiança na obra da salvação: Entender que Jesus cumpriu perfeitamente o plano divino nos encoraja a depender totalmente de Sua graça.
Análise Lexical
Termo / expressão | Texto | Língua | Significado | Observação teológica |
ἕν (hén) | Jo 10.30 | Grego | “um”, “unidade” | Unidade de essência entre Pai e Filho |
ἀπέρχομαι (aperchomai) | Jo 16.28 | Grego | “vir de / ir para” | Indica encarnação e ascensão de Cristo |
πρόσωπα (prosōpa) | Conceito trinitário | Grego | “pessoas”, “identidades distintas” | Distinção funcional dentro da Trindade |
δόξα (dóxa) | Jo 17.5 | Grego | “glória” | Refere-se à manifestação da natureza divina plena |
Tabela Expositiva
Tema | Texto-chave | Palavra / conceito | Conteúdo teológico | Aplicação prática |
Unidade do Pai e do Filho | Jo 10.30 | ἕν (hén) | Igualdade em essência, poder e glória | Confiar na revelação perfeita de Deus em Cristo |
Missão do Filho | Jo 16.28 | ἀπέρχομαι | Envio, encarnação e retorno à glória | Reconhecer a autoridade e obra salvadora de Cristo |
Distinção de Pessoas | Conceito trinitário | πρόσωπα | Pai, Filho e Espírito têm funções distintas | Respeitar a obra do Filho em nos revelar o Pai |
Glória e poder divino | Jo 17.5 | δόξα | Manifestação plena da natureza divina | Viver com reverência e submissão à vontade de Deus |
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