TEXTO ÁUREO “Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dos mortos”. João 20.9. VERDADE APLICADA A ressurreiç...
“Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dos mortos”. João 20.9.
VERDADE APLICADA
A ressurreição de Jesus Cristo é a segurança daquele que crê no Evangelho e o fundamento da esperança cristã.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
TEXTO ÁUREO — João 20.9
“Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dos mortos.” (Jo 20.9)
Abaixo segue um comentário bíblico-teológico aprofundado, com análise lexical (grego/hebraico), enquadramento bíblico mais amplo, referências acadêmicas recomendadas, aplicações práticas e uma tabela expositiva para uso em aula ou pregação.
1. Contexto imediato e leitura sintética
João 20 descreve a manhã da ressurreição: Pedro e “o outro discípulo” vão ao sepulcro; vêem o túmulo vazio; o discípulo “viu e creu” (v.8). Logo em seguida João explica: οὐ γὰρ ἔτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν ὅτι δεῖ αὐτὸν ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι — “pois ainda não haviam compreendido as Escrituras, que convinha que ele ressuscitasse dos mortos” (v.9).
Duas observações narrativas importantes: (a) João registra uma tensão — ver/ crer vs. não compreender as Escrituras — que mostra como a fé precede frequentemente a plena compreensão teológica; (b) a afirmação sublinha que a ressurreição não é um acidente estranho, mas algo que se encaixa no desígnio divino e, segundo o evangelista, tem fundamento nas Escrituras (isto é, nas Escrituras do AT).
2. Análise lexical (grego) — termos chave do versículo
Original grego (NT Textus Receptus / Nestle-Aland):
οὐ γὰρ ἔτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν ὅτι δεῖ αὐτὸν ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι.
- ᾔδεισαν (ēideisan) — forma ligada a οἶδα (“saber, conhecer, compreender”). Aqui comunica: ainda não haviam apreendido/entendido plenamente. João usa um verbo de conhecimento para indicar que a dimensão escritural ainda não havia sido vista por eles.
- τὴν γραφήν (tēn graphēn) — “a Escritura” (singular), termo joanino para o cânon do AT; aponta para as Escrituras reconhecidas pela comunidade judaica/cristã.
- δεῖ (dei) — “é necessário/convém”; nota de necessidade teleológica: indica que a ressurreição é parte do plano salvífico (necessidade divina, não mero fatalismo). BDAG aponta que δεῖ frequentemente descreve aquilo que é “fitting”/“necessary” no âmbito do propósito de Deus.
- ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι (ek nekrōn egeiresthai) — “ser levantado dentre os mortos / ressuscitar.” A preposição ἐκ marca a origem (“de entre os mortos”) e o infinitivo passivo sublinha o evento do qual Jesus é o paciente que, no entanto, participa como agente na vitória final.
Comentário rápido sobre o aspecto verbal: João emprega uma fórmula informativa sucinta — eles não tinham ainda percebido que a Escritura apontava a necessidade da ressurreição — o que implica que, depois (após o dizer/mostrar do Ressuscitado), a leitura das Escrituras se esclareceu (cf. Lc 24:25–27,45).
3. A Escritura a que João alude — quais textos do AT?
João não cita um versículo único; o NT mostra que os primeiros cristãos leram diversas passagens do AT como prenúncios da ressurreição:
- Salmo 16:8–11 (LXX) — “Não permitirás que a tua santidade veja corrupção” (cit. por Pedro e Paulo em At 2:25–32; At 13:35–37).
- Isaías 53 — o Servo que sofre e é “exaltado” (vindicado); a vindicação pós-sofrimento é lida como parte do plano divino.
- Hosea 6:2 — “Depois de dois dias nos dará vida; ao terceiro dia nos ressuscitará” — citado por alguns intérpretes patrísticos; também a referência ao “terceiro dia” encontra eco em 1Co 15:4.
- Salmo 22 — o salmo da angústia cuja tensão entre desespero e confiança aparece cumprida no ressuscitado.
O ponto teológico de João: os acontecimentos (Paixão e Ressurreição) “fazem sentido” quando interpretados como cumprimento das Escrituras; contudo, essa interpretação exige revelação/ensinamento (cf. Lc 24:27,45).
4. Ligação com todo o testemunho do NT — por que a ressurreição importa?
A ressurreição é central e fundacional para o cristianismo por vários motivos teológicos, amplamente ensinados no NT:
- Prova da identidade messiânica e filiação divina de Jesus — Paulo: “...e com poder foi constituído Filho de Deus mediante o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos” (Rm 1:4). A ressurreição atesta a aprovação divina do que Jesus realizou.
- Base da justificação e do perdão — em vários textos (Rm 4–8; 1 Co 15) a ressurreição está ligada à nossa nova vida: se Cristo não ressuscitou, nossa fé é vã (1Co 15:14,17).
- Primeirafruta/garantia escatológica — Cristo é as “primícias” (1Co 15:20–23); sua ressurreição garante a nossa futura ressurreição (Rm 8; 1Ts 4).
- Cumprimento das Escrituras — a ressurreição mostra que a história bíblica converge para a vitória de Deus sobre morte e pecado.
- Fundamento missionário — os apóstolos pregaram a ressurreição (Atos 2; 1 Cor 15) como núcleo do kerygma. Sem ela não há evangelho eficaz.
N. T. Wright, em The Resurrection of the Son of God, demonstra com grande volume de evidência histórica e teológica como a ressurreição era entendida pelos primeiros cristãos como ato decisivo de Deus que inaugura a nova criação.
5. João 20.9 — o paradoxo: ver, crer e ainda não entender
João quer que percebamos que a fé inicial dos discípulos (o outro discípulo “viu e creu”) não era o mesmo que a hermenêutica plena das Escrituras. A compreensão de que “era necessário que ele ressuscitasse” exigiu tempo e luz: o Ressuscitado depois abre as Escrituras aos discípulos (Lc 24:27,45) e o Espírito age como intérprete (Jo 16). Assim:
- A fé é encontro antes de explicação;
- A exegese bíblica verdadeira se realiza à luz do acontecimento pascal;
- A comunidade cristã vive interpretando o AT em Jesus (a cristologia molda a leitura do AT).
6. Referências acadêmicas essenciais (seleção para leitura aprofundada)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
7. Implicações teológicas práticas / aplicações pessoais
- Segurança e esperança pessoal — a ressurreição é a garantia de que a morte não tem a palavra final; quem crê tem promessa viva (1Pe 1:3–4).
- Confiança na eficácia da obra substitutiva de Cristo — se Cristo ressuscitou, seu sacrifício foi aceito e eficaz (Rm 4–5; Hb 9–10).
- Vida ética transformada — viver como pessoa ressuscitada: a novidade da vida (Rom 6), a prática do perdão e do amor (cf. João 13; Ef 4).
- Coragem missionária — pregar e viver o Evangelho: a ressurreição dá autoridade e esperança para a missão (Atos 2; 1 Cor 15).
- Consolo no luto e no sofrimento — a ressurreição transforma a morte em “sono” temporário e garante reencontro (1Ts 4; João 11).
- Leitura comunitária das Escrituras — buscar que a congregação leia o AT à luz de Cristo, mas com humildade: entender vem pelo encontro com o Ressuscitado e pelo Espírito.
Prática imediata: tornar a proclamação da ressurreição central no culto (sermões, hinos, creeds), nutrir catequese cristológica que mostre como o AT é cumprido em Cristo, e incentivar vidas de missão e de esperança nas comunidades.
8. Tabela expositiva — resumo (para quadro/folheto)
Expressão grega / termo
Tradução/Significado
O que comunica
Implicação teológica / pastoral
ᾔδεισαν (ēideisan)
“ainda não haviam percebido / entendido”
Falta de apreensão escritural inicial
Fé precede plena compreensão; necessidade de revelação
τὴν γραφήν (tēn graphēn)
“a Escritura” (AT)
Texto de autoridade que aponta para Cristo
AT lido como preparação/indicativo da ressurreição
δεῖ (dei)
“é necessário/convém”
Necessidade teleológica – plano divino
Ressurreição integrada ao propósito salvífico de Deus
ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι
“ressuscitar dentre os mortos”
Evento central (vitalidade nova)
Fundamenta identidade messiânica, esperança e justificação
Salmos/Isaías/Hosea
(Salmo 16; Salmo 22; Isa 53; Hos 6:2)
Tipologias e promessas lidas em Cristo
O AT é cumprido e reinterpretado à luz da ressurreição
1 Cor 15 / Rm 4:25 / Rm 1:4
Testemunho apostólico sobre a ressurreição
A ressurreição rende o evangelho eficaz
Se Cristo não ressuscitou, nossa fé é vã; por isso é núcleo do kerygma
9. Conclusão
João 20.9 nos lembra que a ressurreição é tanto acontecimento histórico quanto chave interpretativa das Escrituras. Os discípulos precisaram ver e ouvir o Ressuscitado para que as Escrituras se iluminassem diante deles. Para nós, a ressurreição é a base da nossa fé, a confirmação do projeto salvífico de Deus e a garantia viva da nossa esperança — por isso é mensagem central da pregação, do culto e da vida cristã.
TEXTO ÁUREO — João 20.9
“Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dos mortos.” (Jo 20.9)
Abaixo segue um comentário bíblico-teológico aprofundado, com análise lexical (grego/hebraico), enquadramento bíblico mais amplo, referências acadêmicas recomendadas, aplicações práticas e uma tabela expositiva para uso em aula ou pregação.
1. Contexto imediato e leitura sintética
João 20 descreve a manhã da ressurreição: Pedro e “o outro discípulo” vão ao sepulcro; vêem o túmulo vazio; o discípulo “viu e creu” (v.8). Logo em seguida João explica: οὐ γὰρ ἔτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν ὅτι δεῖ αὐτὸν ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι — “pois ainda não haviam compreendido as Escrituras, que convinha que ele ressuscitasse dos mortos” (v.9).
Duas observações narrativas importantes: (a) João registra uma tensão — ver/ crer vs. não compreender as Escrituras — que mostra como a fé precede frequentemente a plena compreensão teológica; (b) a afirmação sublinha que a ressurreição não é um acidente estranho, mas algo que se encaixa no desígnio divino e, segundo o evangelista, tem fundamento nas Escrituras (isto é, nas Escrituras do AT).
2. Análise lexical (grego) — termos chave do versículo
Original grego (NT Textus Receptus / Nestle-Aland):
οὐ γὰρ ἔτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν ὅτι δεῖ αὐτὸν ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι.
- ᾔδεισαν (ēideisan) — forma ligada a οἶδα (“saber, conhecer, compreender”). Aqui comunica: ainda não haviam apreendido/entendido plenamente. João usa um verbo de conhecimento para indicar que a dimensão escritural ainda não havia sido vista por eles.
- τὴν γραφήν (tēn graphēn) — “a Escritura” (singular), termo joanino para o cânon do AT; aponta para as Escrituras reconhecidas pela comunidade judaica/cristã.
- δεῖ (dei) — “é necessário/convém”; nota de necessidade teleológica: indica que a ressurreição é parte do plano salvífico (necessidade divina, não mero fatalismo). BDAG aponta que δεῖ frequentemente descreve aquilo que é “fitting”/“necessary” no âmbito do propósito de Deus.
- ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι (ek nekrōn egeiresthai) — “ser levantado dentre os mortos / ressuscitar.” A preposição ἐκ marca a origem (“de entre os mortos”) e o infinitivo passivo sublinha o evento do qual Jesus é o paciente que, no entanto, participa como agente na vitória final.
Comentário rápido sobre o aspecto verbal: João emprega uma fórmula informativa sucinta — eles não tinham ainda percebido que a Escritura apontava a necessidade da ressurreição — o que implica que, depois (após o dizer/mostrar do Ressuscitado), a leitura das Escrituras se esclareceu (cf. Lc 24:25–27,45).
3. A Escritura a que João alude — quais textos do AT?
João não cita um versículo único; o NT mostra que os primeiros cristãos leram diversas passagens do AT como prenúncios da ressurreição:
- Salmo 16:8–11 (LXX) — “Não permitirás que a tua santidade veja corrupção” (cit. por Pedro e Paulo em At 2:25–32; At 13:35–37).
- Isaías 53 — o Servo que sofre e é “exaltado” (vindicado); a vindicação pós-sofrimento é lida como parte do plano divino.
- Hosea 6:2 — “Depois de dois dias nos dará vida; ao terceiro dia nos ressuscitará” — citado por alguns intérpretes patrísticos; também a referência ao “terceiro dia” encontra eco em 1Co 15:4.
- Salmo 22 — o salmo da angústia cuja tensão entre desespero e confiança aparece cumprida no ressuscitado.
O ponto teológico de João: os acontecimentos (Paixão e Ressurreição) “fazem sentido” quando interpretados como cumprimento das Escrituras; contudo, essa interpretação exige revelação/ensinamento (cf. Lc 24:27,45).
4. Ligação com todo o testemunho do NT — por que a ressurreição importa?
A ressurreição é central e fundacional para o cristianismo por vários motivos teológicos, amplamente ensinados no NT:
- Prova da identidade messiânica e filiação divina de Jesus — Paulo: “...e com poder foi constituído Filho de Deus mediante o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos” (Rm 1:4). A ressurreição atesta a aprovação divina do que Jesus realizou.
- Base da justificação e do perdão — em vários textos (Rm 4–8; 1 Co 15) a ressurreição está ligada à nossa nova vida: se Cristo não ressuscitou, nossa fé é vã (1Co 15:14,17).
- Primeirafruta/garantia escatológica — Cristo é as “primícias” (1Co 15:20–23); sua ressurreição garante a nossa futura ressurreição (Rm 8; 1Ts 4).
- Cumprimento das Escrituras — a ressurreição mostra que a história bíblica converge para a vitória de Deus sobre morte e pecado.
- Fundamento missionário — os apóstolos pregaram a ressurreição (Atos 2; 1 Cor 15) como núcleo do kerygma. Sem ela não há evangelho eficaz.
N. T. Wright, em The Resurrection of the Son of God, demonstra com grande volume de evidência histórica e teológica como a ressurreição era entendida pelos primeiros cristãos como ato decisivo de Deus que inaugura a nova criação.
5. João 20.9 — o paradoxo: ver, crer e ainda não entender
João quer que percebamos que a fé inicial dos discípulos (o outro discípulo “viu e creu”) não era o mesmo que a hermenêutica plena das Escrituras. A compreensão de que “era necessário que ele ressuscitasse” exigiu tempo e luz: o Ressuscitado depois abre as Escrituras aos discípulos (Lc 24:27,45) e o Espírito age como intérprete (Jo 16). Assim:
- A fé é encontro antes de explicação;
- A exegese bíblica verdadeira se realiza à luz do acontecimento pascal;
- A comunidade cristã vive interpretando o AT em Jesus (a cristologia molda a leitura do AT).
6. Referências acadêmicas essenciais (seleção para leitura aprofundada)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
7. Implicações teológicas práticas / aplicações pessoais
- Segurança e esperança pessoal — a ressurreição é a garantia de que a morte não tem a palavra final; quem crê tem promessa viva (1Pe 1:3–4).
- Confiança na eficácia da obra substitutiva de Cristo — se Cristo ressuscitou, seu sacrifício foi aceito e eficaz (Rm 4–5; Hb 9–10).
- Vida ética transformada — viver como pessoa ressuscitada: a novidade da vida (Rom 6), a prática do perdão e do amor (cf. João 13; Ef 4).
- Coragem missionária — pregar e viver o Evangelho: a ressurreição dá autoridade e esperança para a missão (Atos 2; 1 Cor 15).
- Consolo no luto e no sofrimento — a ressurreição transforma a morte em “sono” temporário e garante reencontro (1Ts 4; João 11).
- Leitura comunitária das Escrituras — buscar que a congregação leia o AT à luz de Cristo, mas com humildade: entender vem pelo encontro com o Ressuscitado e pelo Espírito.
Prática imediata: tornar a proclamação da ressurreição central no culto (sermões, hinos, creeds), nutrir catequese cristológica que mostre como o AT é cumprido em Cristo, e incentivar vidas de missão e de esperança nas comunidades.
8. Tabela expositiva — resumo (para quadro/folheto)
Expressão grega / termo | Tradução/Significado | O que comunica | Implicação teológica / pastoral |
ᾔδεισαν (ēideisan) | “ainda não haviam percebido / entendido” | Falta de apreensão escritural inicial | Fé precede plena compreensão; necessidade de revelação |
τὴν γραφήν (tēn graphēn) | “a Escritura” (AT) | Texto de autoridade que aponta para Cristo | AT lido como preparação/indicativo da ressurreição |
δεῖ (dei) | “é necessário/convém” | Necessidade teleológica – plano divino | Ressurreição integrada ao propósito salvífico de Deus |
ἐκ νεκρῶν ἐγείρεσθαι | “ressuscitar dentre os mortos” | Evento central (vitalidade nova) | Fundamenta identidade messiânica, esperança e justificação |
Salmos/Isaías/Hosea | (Salmo 16; Salmo 22; Isa 53; Hos 6:2) | Tipologias e promessas lidas em Cristo | O AT é cumprido e reinterpretado à luz da ressurreição |
1 Cor 15 / Rm 4:25 / Rm 1:4 | Testemunho apostólico sobre a ressurreição | A ressurreição rende o evangelho eficaz | Se Cristo não ressuscitou, nossa fé é vã; por isso é núcleo do kerygma |
9. Conclusão
João 20.9 nos lembra que a ressurreição é tanto acontecimento histórico quanto chave interpretativa das Escrituras. Os discípulos precisaram ver e ouvir o Ressuscitado para que as Escrituras se iluminassem diante deles. Para nós, a ressurreição é a base da nossa fé, a confirmação do projeto salvífico de Deus e a garantia viva da nossa esperança — por isso é mensagem central da pregação, do culto e da vida cristã.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
Compreender que a crucificação e a morte não venceram o Filho de Deus.
Identificar as evidências da Ressurreição do Filho de Deus.
Ressaltar que houve testemunhas da Ressurreição do Filho de Deus.
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TEXTOS DE REFERÊNCIA
JOÃO 20
1 E, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.
3 Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro.
4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.
5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou.
6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis.
8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
João 20:1-8
1. Introdução e contexto literário
Este capítulo apresenta o clímax do Evangelho: a revelação definitiva de Jesus ressuscitado. O evangelista descreve pequenos detalhes com precisão de testemunha ocular e intenção teológica. O tema central gira em torno de luz/escuridão, ver/entender e crer, já introduzido no prólogo e ao longo do evangelho. O relato leva o leitor do luto para a fé.
2. Observações textuais e lexicais principais (grego)
- Jo 20:1 — A expressão τῇ μιᾷ τῶν σαββάτων designa o primeiro dia da semana (domingo). A cena ocorre πρωῒ, σκοτίας ἔτι οὔσης (“de madrugada, estando ainda escuro”), acentuando o contraste entre escuridão espiritual e revelação divina.
- Jo 20:5-6 — O termo ὀθόνια refere-se aos panos funerários. O detalhe de João em distingui-los prepara a interpretação: não houve roubo, mas uma ação divina.
- Jo 20:8 — A fórmula εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν (“viu e creu”) é tipicamente joanina, ressaltando que a fé surge em resposta aos sinais, mesmo antes da plena compreensão das Escrituras.
3. Comentário teológico por versículo
Jo 20:1
O início na escuridão marca a tensão entre morte e vida. João simboliza o estado espiritual da humanidade que precisa da revelação. A ressurreição inaugura uma nova criação.
Jo 20:2
A reação de Maria com a suposição de roubo reflete a percepção limitada inicial. A presença de uma mulher como primeira testemunha realça a autenticidade histórica e a inversão de valores sociais que o evangelho propõe.
Jo 20:3-4
A corrida dos discípulos sugere diferentes ritmos na busca por Cristo: Pedro representa liderança, mas o discípulo amado representa intimidade e percepção espiritual. A cena mostra que há múltiplos caminhos de encontro com a fé.
Jo 20:5-6
O olhar cuidadoso seguido da entrada impulsiva revela diferentes atitudes diante do mistério. O detalhe dos panos sugere ordem e intencionalidade, servindo como evidência da ressurreição corpórea.
Jo 20:8
O discípulo amado crê ao ver, mesmo sem compreender plenamente as Escrituras. Este momento revela que a fé pode anteceder o entendimento teológico. A experiência de fé é o primeiro passo, seguido da iluminação da Palavra.
4. Questões interpretativas
- A fé de João em 20:8 pode ser entendida como um primeiro ato de confiança, mesmo sem interpretação bíblica plena.
- O estado ordenado dos lençóis contrasta com a hipótese de roubo, servindo de argumento apologético.
- A expressão “primeiro dia da semana” reforça a importância do domingo como dia de culto cristão.
5. Aplicação pastoral e pessoal
- A fé pode nascer em meio à escuridão da vida; Deus se revela em momentos de incerteza.
- O testemunho feminino ressalta que o evangelho valoriza vozes muitas vezes marginalizadas.
- A ressurreição transforma luto em esperança e deve ser a base da vida cristã.
6. Tabela expositiva
Referência
Palavra-chave (grego)
Observação exegética
Aplicação
Jo 20:1
μιᾷ τῶν σαββάτων; σκοτίας
Início na escuridão; tema da nova criação
Deus age na escuridão da vida
Jo 20:2
Μαρία Μαγδαληνή
Primeira testemunha anuncia o túmulo vazio
O evangelho valoriza o improvável
Jo 20:3-4
τρέχειν; ἦλθεν πρῶτος
Corrida dos discípulos mostra diferentes ritmos
Cada crente tem sua forma de buscar Cristo
Jo 20:5
παρακύψας; ὀθόνια
Olhar cuidadoso, mas sem entrar
Sinais exigem compromisso profundo
Jo 20:6
εἰσῆλθεν; ἔβλεπεν
Pedro investiga o túmulo
Liderança envolve coragem para enfrentar o luto
Jo 20:8
εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν
Ver e crer antes de entender plenamente
Fé precede entendimento, mas leva a ele
Conclusão
O relato do túmulo vazio não é apenas histórico, mas teológico: mostra que a fé surge diante de sinais e cresce na medida em que a revelação é compreendida. A experiência do discípulo amado é paradigmática: ver e crer é o início da caminhada cristã, que será aprofundada pelo testemunho das Escrituras e pela experiência comunitária.
João 20:1-8
1. Introdução e contexto literário
Este capítulo apresenta o clímax do Evangelho: a revelação definitiva de Jesus ressuscitado. O evangelista descreve pequenos detalhes com precisão de testemunha ocular e intenção teológica. O tema central gira em torno de luz/escuridão, ver/entender e crer, já introduzido no prólogo e ao longo do evangelho. O relato leva o leitor do luto para a fé.
2. Observações textuais e lexicais principais (grego)
- Jo 20:1 — A expressão τῇ μιᾷ τῶν σαββάτων designa o primeiro dia da semana (domingo). A cena ocorre πρωῒ, σκοτίας ἔτι οὔσης (“de madrugada, estando ainda escuro”), acentuando o contraste entre escuridão espiritual e revelação divina.
- Jo 20:5-6 — O termo ὀθόνια refere-se aos panos funerários. O detalhe de João em distingui-los prepara a interpretação: não houve roubo, mas uma ação divina.
- Jo 20:8 — A fórmula εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν (“viu e creu”) é tipicamente joanina, ressaltando que a fé surge em resposta aos sinais, mesmo antes da plena compreensão das Escrituras.
3. Comentário teológico por versículo
Jo 20:1
O início na escuridão marca a tensão entre morte e vida. João simboliza o estado espiritual da humanidade que precisa da revelação. A ressurreição inaugura uma nova criação.
Jo 20:2
A reação de Maria com a suposição de roubo reflete a percepção limitada inicial. A presença de uma mulher como primeira testemunha realça a autenticidade histórica e a inversão de valores sociais que o evangelho propõe.
Jo 20:3-4
A corrida dos discípulos sugere diferentes ritmos na busca por Cristo: Pedro representa liderança, mas o discípulo amado representa intimidade e percepção espiritual. A cena mostra que há múltiplos caminhos de encontro com a fé.
Jo 20:5-6
O olhar cuidadoso seguido da entrada impulsiva revela diferentes atitudes diante do mistério. O detalhe dos panos sugere ordem e intencionalidade, servindo como evidência da ressurreição corpórea.
Jo 20:8
O discípulo amado crê ao ver, mesmo sem compreender plenamente as Escrituras. Este momento revela que a fé pode anteceder o entendimento teológico. A experiência de fé é o primeiro passo, seguido da iluminação da Palavra.
4. Questões interpretativas
- A fé de João em 20:8 pode ser entendida como um primeiro ato de confiança, mesmo sem interpretação bíblica plena.
- O estado ordenado dos lençóis contrasta com a hipótese de roubo, servindo de argumento apologético.
- A expressão “primeiro dia da semana” reforça a importância do domingo como dia de culto cristão.
5. Aplicação pastoral e pessoal
- A fé pode nascer em meio à escuridão da vida; Deus se revela em momentos de incerteza.
- O testemunho feminino ressalta que o evangelho valoriza vozes muitas vezes marginalizadas.
- A ressurreição transforma luto em esperança e deve ser a base da vida cristã.
6. Tabela expositiva
Referência | Palavra-chave (grego) | Observação exegética | Aplicação |
Jo 20:1 | μιᾷ τῶν σαββάτων; σκοτίας | Início na escuridão; tema da nova criação | Deus age na escuridão da vida |
Jo 20:2 | Μαρία Μαγδαληνή | Primeira testemunha anuncia o túmulo vazio | O evangelho valoriza o improvável |
Jo 20:3-4 | τρέχειν; ἦλθεν πρῶτος | Corrida dos discípulos mostra diferentes ritmos | Cada crente tem sua forma de buscar Cristo |
Jo 20:5 | παρακύψας; ὀθόνια | Olhar cuidadoso, mas sem entrar | Sinais exigem compromisso profundo |
Jo 20:6 | εἰσῆλθεν; ἔβλεπεν | Pedro investiga o túmulo | Liderança envolve coragem para enfrentar o luto |
Jo 20:8 | εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν | Ver e crer antes de entender plenamente | Fé precede entendimento, mas leva a ele |
Conclusão
O relato do túmulo vazio não é apenas histórico, mas teológico: mostra que a fé surge diante de sinais e cresce na medida em que a revelação é compreendida. A experiência do discípulo amado é paradigmática: ver e crer é o início da caminhada cristã, que será aprofundada pelo testemunho das Escrituras e pela experiência comunitária.
LEITURAS COMPLEMENTARES
SEGUNDA | Lc 24.46 Jesus não está morto.
TERÇA | At 1.3 Jesus ressuscitou.
QUARTA | Lc 24.1 O sepulcro é visitado pelas mulheres.
QUINTA | Mc 15.28 Jesus é colocado entre os maus feitores.
SEXTA | Mc 16.2 Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana.
SÁBADO | Lc 23.4 Pilatos não viu culpa em Jesus.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
SEGUNDA | Lc 24.46 – Jesus não está morto
“E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos.”
- Palavra-chave: anastēnai (ἀναστῆναι) – ressurgir, levantar-se. No NT é usada para descrever a vitória sobre a morte.
- Teologia: O sofrimento e a ressurreição de Cristo estavam nos planos eternos de Deus (Is 53; Sl 16.10). Não foi acaso, mas cumprimento.
- Referência: N.T. Wright (“The Resurrection of the Son of God”) mostra que a ressurreição é o eixo da fé cristã.
- Aplicação: Assim como Jesus venceu a morte, podemos confiar que nosso sofrimento não é o fim, mas parte do plano de Deus.
TERÇA | At 1.3 – Jesus ressuscitou
“Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas...”
- Palavra-chave: tekmerion (τεκμήριον) – prova incontestável, evidência sólida. Usada apenas aqui no NT.
- Teologia: A fé cristã não é baseada em mito, mas em fatos históricos confirmados por testemunhas.
- Referência: F.F. Bruce destaca o caráter histórico das aparições de Cristo.
- Aplicação: Nossa fé descansa em provas objetivas da ressurreição, não em especulação.
QUARTA | Lc 24.1 – O sepulcro é visitado pelas mulheres
“E, no primeiro dia da semana, muito de manhã, foram ao sepulcro, levando as especiarias...”
- Palavra-chave: mnēmeion (μνημεῖον) – sepulcro, memorial, lugar de memória.
- Teologia: Deus escolheu mulheres como primeiras testemunhas (contracultural no mundo judaico e greco-romano), revelando Sua graça e justiça.
- Referência: Craig Keener (“The IVP Bible Background Commentary”) mostra como esse detalhe confirma a autenticidade histórica, pois não seria inventado.
- Aplicação: Deus usa os improváveis para manifestar Sua glória.
QUINTA | Mc 15.28 – Jesus é colocado entre os malfeitores
“E com os transgressores foi contado.”
- Palavra-chave: anomos (ἄνομος) – sem lei, criminoso.
- Teologia: Cumprimento de Isaías 53.12. Jesus, o Justo, é contado entre os injustos para nos justificar.
- Referência: John Stott (“A Cruz de Cristo”) explica que Cristo assumiu a posição dos pecadores para dar-nos Sua justiça.
- Aplicação: Cristo tomou nosso lugar. Hoje podemos viver livres da condenação.
SEXTA | Mc 16.2 – Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana
“E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo...”
- Palavra-chave: prōi (πρωῒ) – cedo, ainda escuro, simbolizando o nascer de uma nova era.
- Teologia: O primeiro dia da semana (domingo) se torna símbolo do novo começo, a vitória da vida sobre a morte.
- Referência: Oscar Cullmann (“Cristo e o Tempo”) associa a ressurreição ao marco do novo tempo da salvação.
- Aplicação: Cada domingo recorda que vivemos no tempo da nova criação.
SÁBADO | Lc 23.4 – Pilatos não viu culpa em Jesus
“E disse Pilatos... Não acho culpa neste homem.”
- Palavra-chave: aitia (αἰτία) – causa, acusação legal.
- Teologia: Pilatos reconheceu a inocência de Cristo. Ele morreu não por culpa própria, mas por nossos pecados (2Co 5.21).
- Referência: Raymond Brown (“The Death of the Messiah”) mostra a ironia: o inocente condenado para salvar os culpados.
- Aplicação: Cristo levou sobre Si nossa condenação, para que fôssemos livres.
📊 Tabela Expositiva
Dia
Texto
Palavra-chave (grego)
Teologia
Referência
Aplicação
Segunda
Lc 24.46
ἀναστῆναι (anastēnai) – ressurgir
Ressurreição planejada por Deus
N.T. Wright
O sofrimento não é o fim
Terça
At 1.3
τεκμήριον (tekmerion) – prova incontestável
Fé baseada em fatos
F.F. Bruce
Nossa fé é segura
Quarta
Lc 24.1
μνημεῖον (mnēmeion) – sepulcro
Testemunhas improváveis
Craig Keener
Deus usa os improváveis
Quinta
Mc 15.28
ἄνομος (anomos) – criminoso
Cumprimento de Isaías 53
John Stott
Cristo tomou nosso lugar
Sexta
Mc 16.2
πρωῒ (prōi) – cedo
Novo começo em Cristo
Oscar Cullmann
Vivemos na nova criação
Sábado
Lc 23.4
αἰτία (aitia) – acusação
Cristo inocente morre por nós
Raymond Brown
Somos livres da condenação
SEGUNDA | Lc 24.46 – Jesus não está morto
“E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos.”
- Palavra-chave: anastēnai (ἀναστῆναι) – ressurgir, levantar-se. No NT é usada para descrever a vitória sobre a morte.
- Teologia: O sofrimento e a ressurreição de Cristo estavam nos planos eternos de Deus (Is 53; Sl 16.10). Não foi acaso, mas cumprimento.
- Referência: N.T. Wright (“The Resurrection of the Son of God”) mostra que a ressurreição é o eixo da fé cristã.
- Aplicação: Assim como Jesus venceu a morte, podemos confiar que nosso sofrimento não é o fim, mas parte do plano de Deus.
TERÇA | At 1.3 – Jesus ressuscitou
“Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas...”
- Palavra-chave: tekmerion (τεκμήριον) – prova incontestável, evidência sólida. Usada apenas aqui no NT.
- Teologia: A fé cristã não é baseada em mito, mas em fatos históricos confirmados por testemunhas.
- Referência: F.F. Bruce destaca o caráter histórico das aparições de Cristo.
- Aplicação: Nossa fé descansa em provas objetivas da ressurreição, não em especulação.
QUARTA | Lc 24.1 – O sepulcro é visitado pelas mulheres
“E, no primeiro dia da semana, muito de manhã, foram ao sepulcro, levando as especiarias...”
- Palavra-chave: mnēmeion (μνημεῖον) – sepulcro, memorial, lugar de memória.
- Teologia: Deus escolheu mulheres como primeiras testemunhas (contracultural no mundo judaico e greco-romano), revelando Sua graça e justiça.
- Referência: Craig Keener (“The IVP Bible Background Commentary”) mostra como esse detalhe confirma a autenticidade histórica, pois não seria inventado.
- Aplicação: Deus usa os improváveis para manifestar Sua glória.
QUINTA | Mc 15.28 – Jesus é colocado entre os malfeitores
“E com os transgressores foi contado.”
- Palavra-chave: anomos (ἄνομος) – sem lei, criminoso.
- Teologia: Cumprimento de Isaías 53.12. Jesus, o Justo, é contado entre os injustos para nos justificar.
- Referência: John Stott (“A Cruz de Cristo”) explica que Cristo assumiu a posição dos pecadores para dar-nos Sua justiça.
- Aplicação: Cristo tomou nosso lugar. Hoje podemos viver livres da condenação.
SEXTA | Mc 16.2 – Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana
“E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo...”
- Palavra-chave: prōi (πρωῒ) – cedo, ainda escuro, simbolizando o nascer de uma nova era.
- Teologia: O primeiro dia da semana (domingo) se torna símbolo do novo começo, a vitória da vida sobre a morte.
- Referência: Oscar Cullmann (“Cristo e o Tempo”) associa a ressurreição ao marco do novo tempo da salvação.
- Aplicação: Cada domingo recorda que vivemos no tempo da nova criação.
SÁBADO | Lc 23.4 – Pilatos não viu culpa em Jesus
“E disse Pilatos... Não acho culpa neste homem.”
- Palavra-chave: aitia (αἰτία) – causa, acusação legal.
- Teologia: Pilatos reconheceu a inocência de Cristo. Ele morreu não por culpa própria, mas por nossos pecados (2Co 5.21).
- Referência: Raymond Brown (“The Death of the Messiah”) mostra a ironia: o inocente condenado para salvar os culpados.
- Aplicação: Cristo levou sobre Si nossa condenação, para que fôssemos livres.
📊 Tabela Expositiva
Dia | Texto | Palavra-chave (grego) | Teologia | Referência | Aplicação |
Segunda | Lc 24.46 | ἀναστῆναι (anastēnai) – ressurgir | Ressurreição planejada por Deus | N.T. Wright | O sofrimento não é o fim |
Terça | At 1.3 | τεκμήριον (tekmerion) – prova incontestável | Fé baseada em fatos | F.F. Bruce | Nossa fé é segura |
Quarta | Lc 24.1 | μνημεῖον (mnēmeion) – sepulcro | Testemunhas improváveis | Craig Keener | Deus usa os improváveis |
Quinta | Mc 15.28 | ἄνομος (anomos) – criminoso | Cumprimento de Isaías 53 | John Stott | Cristo tomou nosso lugar |
Sexta | Mc 16.2 | πρωῒ (prōi) – cedo | Novo começo em Cristo | Oscar Cullmann | Vivemos na nova criação |
Sábado | Lc 23.4 | αἰτία (aitia) – acusação | Cristo inocente morre por nós | Raymond Brown | Somos livres da condenação |
HINOS SUGERIDOS: 48, 112, 183
MOTIVO DE ORAÇÃO
Ore para que sejamos gratos pelo Filho de Deus ter ressuscitado dos mortos.
VIDEO EXPLICANDO E CORRIGINDO O TEMA DA LIÇÃO 11
ESBOÇO DA LIÇÃO
Introdução
1- A prisão do Filho de Deus
2- Jesus ressuscitou
3- As testemunhas da Ressurreição
Conclusão
DINAMICA EXTRA
Comentário de Hubner Braz
📌 Dinâmica: “Tiras de Morte, Voz de Vida”
🎯 Objetivo
Levar os alunos a refletirem que somente Jesus pode libertar-nos das “faixas” da morte espiritual e dar-nos vida abundante.
🛠 Materiais
- Tiras de papel higiênico ou pedaços de pano (para representar as faixas de Lázaro).
- Um voluntário (representando Lázaro).
- Bíblia aberta em João 11.43-44.
📖 Desenvolvimento
- Introdução:
Explique que Lázaro estava morto há quatro dias, envolto em faixas, incapaz de se libertar sozinho. Somente a palavra de Jesus o trouxe de volta à vida. - Atividade:
- Escolha um voluntário para ser “Lázaro”.
- Envolva-o com as tiras de papel/pano, deixando-o preso, sem poder se mover.
- Pergunte à turma: “O que essas faixas representam na nossa vida hoje?”
→ Possíveis respostas: pecado, vícios, medos, dúvidas, falta de fé, feridas emocionais.
- Aplicação:
- Leia João 11.43-44: “Lázaro, vem para fora!”.
- Explique que a voz de Jesus é mais forte do que a morte, o pecado e qualquer amarra espiritual.
- Peça que dois alunos ajudem a “desatar” o voluntário, representando a ação da comunidade cristã (a Igreja) que ajuda o novo convertido a permanecer livre.
💡 Reflexão Final
- Jesus não apenas deu vida a Lázaro, mas também mandou que ele fosse libertado das faixas.
- Assim, Cristo nos chama à vida nova, mas também usa a Igreja para apoiar, discipular e ajudar uns aos outros na caminhada.
✅ Aplicação Prática
- Pergunte: “Quais faixas precisam ser retiradas da nossa vida hoje?”
- Conclua com uma oração, pedindo que Jesus ressuscite áreas “mortas” da vida dos participantes e que a Igreja seja instrumento de libertação.
📌 Dinâmica: “Tiras de Morte, Voz de Vida”
🎯 Objetivo
Levar os alunos a refletirem que somente Jesus pode libertar-nos das “faixas” da morte espiritual e dar-nos vida abundante.
🛠 Materiais
- Tiras de papel higiênico ou pedaços de pano (para representar as faixas de Lázaro).
- Um voluntário (representando Lázaro).
- Bíblia aberta em João 11.43-44.
📖 Desenvolvimento
- Introdução:
Explique que Lázaro estava morto há quatro dias, envolto em faixas, incapaz de se libertar sozinho. Somente a palavra de Jesus o trouxe de volta à vida. - Atividade:
- Escolha um voluntário para ser “Lázaro”.
- Envolva-o com as tiras de papel/pano, deixando-o preso, sem poder se mover.
- Pergunte à turma: “O que essas faixas representam na nossa vida hoje?”
→ Possíveis respostas: pecado, vícios, medos, dúvidas, falta de fé, feridas emocionais. - Aplicação:
- Leia João 11.43-44: “Lázaro, vem para fora!”.
- Explique que a voz de Jesus é mais forte do que a morte, o pecado e qualquer amarra espiritual.
- Peça que dois alunos ajudem a “desatar” o voluntário, representando a ação da comunidade cristã (a Igreja) que ajuda o novo convertido a permanecer livre.
💡 Reflexão Final
- Jesus não apenas deu vida a Lázaro, mas também mandou que ele fosse libertado das faixas.
- Assim, Cristo nos chama à vida nova, mas também usa a Igreja para apoiar, discipular e ajudar uns aos outros na caminhada.
✅ Aplicação Prática
- Pergunte: “Quais faixas precisam ser retiradas da nossa vida hoje?”
- Conclua com uma oração, pedindo que Jesus ressuscite áreas “mortas” da vida dos participantes e que a Igreja seja instrumento de libertação.
INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos a trajetória do Filho de Deus desde Sua prisão, julgamento, crucificação e morte até Sua Ressurreição. Esses acontecimentos já estavam previstos nas Escrituras e fazem parte do desenvolvimento do perfeito plano divino de redenção (Mt 16.21; 17.22,23; 1Co 15.1-4).
PONTO DE PARTIDA: Jesus ressuscitou dos mortos e vive para sempre.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Introdução (tema: prisão → julgamento → cruz → morte → ressurreição)
1) Síntese teológica do ponto de partida
Ponto de partida: Jesus ressuscitou dos mortos e vive para sempre.
Esta afirmação não é um apêndice teológico; é o centro do evangelho (o kerygma) e a chave hermenêutica para ler a paixão: a prisão, o processo, a cruz e a morte fazem parte da economia salvífica — isto é, do modo como Deus, em Cristo, cumpre a obra de redenção. Para estudiosos como N. T. Wright, a ressurreição é o evento que inaugura a “nova criação” e responde historicamente à questão: o que Deus fez em Cristo para derrotar a morte? Raymond E. Brown destaca igualmente como os evangelhos entendem a ressurreição não apenas como facto isolado, mas como clímax do plano redentor testemunhado nas Escrituras.
2) Análise léxica (grego e hebraico) — termos centrais
- Ressurreição — ἀνάστασις (anástasis). Substantivo que, no NT, expressa o “levantar-se” de quem estava morto; etimologicamente ana + histemi (levantar/colocar em pé). Em contextos joânicos e paulinos, refere-se à ressurreição física do crucificado e à esperança final de restauração. Lexicos e léxicos de NT registram esse uso técnico (resurrection).
- Acordar/Levantar/Erigir — formas verbais ligadas: ἐγείρω / ἠγέρθη (aoristo/passivo: “foi levantado/erguido” — usado para descrever a ação pascal sobre Cristo). A ênfase verbal costuma sublinhar tanto a ação de Deus que levanta, quanto a condição nova do Ressuscitado.
- Redenção — ἀπολύτρωσις (apolýtrōsis). Do composto ἀπό + λύτρον (lútron = preço; pagamento). No vocabulário paulino/joanino refere-se ao ato de resgatar, “comprar de volta” — sentido sacrificial/forense de libertação do pecado/morte. Lexicografia patrística e moderna confirma esse sentido técnico.
- Goel / Kinsman-Redeemer e verbos hebraicos — no Antigo Testamento, a redenção aparece por várias raízes: גָּאַל (gaʻal, “redimir, atuar como goel”), e verbos como פָּדָה (pādâh, “resgatar, pagar resgate”) que descrevem a ação de libertação por preço. Esses termos carregam a imagem do parente que volta a restaurar direitos e nome, o que molda a analogia da obra redentora de Cristo.
3) Observações exegético-teológicas dinâmicas
- A trajetória (prisão → julgamento → cruz → morte) é intencional na narrativa cristã. Esses passos não são acidentes históricos isolados: são o meio pelo qual o Filho de Deus cumpre as promessas/expectativas da Escritura e revela a justiça de Deus que salva mediante sacrifício voluntário (a linguagem sacrificial e forense encontra suporte tanto no NT quanto na teologia paulina) — motivo pelo qual a ressurreição é apresentada como a ratificação divina da eficácia do sacrifício.
- A ressurreição como vindicatio divina e inauguração escatológica. A exegese recente sublinha dois papéis da ressurreição: (a) vindicação — Deus “exalta” e confirma o Messias vindicado da morte; (b) inauguração — a ressurreição é início real da nova ordem (a “primeira etapa” da nova criação e das promessas escatológicas). N. T. Wright desenvolve precisamente esse argumento: o acontecimento pascal reconfigura história e esperança, não é apenas sinal ético ou visão interna.
- Redenção: linguagem processual e kinsman-redeemer. A noção hebraica do goel (gaʻal) e os verbos de resgate (pādâh, pidyon) enriquecem a forma como o NT fala de redenção (apolýtrōsis): não é abstrato, mas concretamente “resgate pago” — o Messias atua como o parente que readquire o povo e derrota a escravidão do pecado/morte. Isso conecta a crucifixão ao pagamento do preço e a ressurreição à fruição do efeito — a libertação definitiva.
- Historicidade e credibilidade narrativa. Nos últimos anos, estudos historiográficos têm mostrado que a convicção pascal dos primeiros crentes tem base em experiências e testemunhos que exigem ser levados a sério (ex.: estudos de historiografia contemporâneos e defesas apologéticas). Autores como Michael Licona tratam destas metodologias históricas e mostram que a reconstrução do evento pascal pode ser tratada com rigor académico. (Para leitura apologética e historiográfica ver Michael Licona e obras correlatas.)
4) Implicações teológicas centrais (síntese)
- Cristo como o novo “Goel” (Redentor): a cruz é o lugar do pagamento (ransom, lútron) e a ressurreição é a prova de que o resgate foi aceito e eficaz — a liberdade já é real.
- A ressurreição inaugura a nova criação: a vitória sobre a morte é o sinal de que a história está sendo redimida; a ressurreição não é apenas retorno à antiga vida, mas entrada numa existência transformada e definitiva.
- Missão da igreja: anunciar e viver segundo a novidade pascal. A fé cristã é uma fé que aponta para o acontecido historicamente e espera eschatologicamente.
5) Aplicação pessoal e pastoral (práticas diretas)
- Confiança na presença vencendo o luto: quando a experiência humana se confronta com a morte ou perdas profundas, a fé pascal transforma lamentação em esperança ativa — não nega a dor, mas reorienta a expectativa.
- Vida ética como fruto (não substituto) da ressurreição: a moral cristã não é tentativa de conquistar salvação, mas resposta à graça presente na ressurreição — fé que produz vida nova.
- Coragem para testemunhar: se a ressurreição é a realidade fundamental, a comunidade tem missão profética de vida e reconciliação (prática sacrificial de compaixão e anúncio).
- Pastoral do perdão e reconciliação: entender Cristo como “redentor” impulsiona práticas de reconciliação comunitária e pessoal — o exemplo do goel inspira a restauração de relações.
6) Tabela expositiva (resumo prático)
Tema / etapa
Termo grego / hebraico
Sentido exegético curto
Relevância teológica
Aplicação prática
Prisão / julgamento
— (vocabulário marc. processual)
Culminância do conflito messiânico
O caminho do Servo-Sacrifício que cumpre a justiça divina
Encarar sofrimento como participação no ministério cristão (não glorificação do sofrimento)
Crucifixão
σταύρωσις / λυτρον (lútron — preço)
Ação expiatória e parenética
A cruz é o lugar do “pagamento” que possibilita redenção
Silenciar a lógica de poder; ética do serviço sacrificial
Morte
θάνατος / contrastes OT (מָוֶת)
Realidade da finitude humana que foi derrotada
Morte não é palavra final; é vencida em Cristo
Esperança pastoral em face do luto
Ressurreição
ἀνάστασις (anastasis)
Levantar/ressurgir — inaugura nova ordem
Vitória definitiva; prova divina da obra redentora
Vida de esperança e missão; culto pascal como centro prático
Redenção
ἀπολύτρωσις / גָּאַל (gaʻal) / פָּדָה (padah)
Resgate por preço; ação do goel
Cristo como redentor que restaura e liberta
Vida de gratidão: justiça social, libertação pessoal
7) Referências acadêmicas recomendadas (seleção para estudo aprofundado)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
8) Encerramento e proposta prática
A certeza pascal (Jesus ressuscitado e vivo) não é uma afirmação abstrata: molda leitura das Escrituras, esperança cristã, vida comunitária e a missão.
Introdução (tema: prisão → julgamento → cruz → morte → ressurreição)
1) Síntese teológica do ponto de partida
Ponto de partida: Jesus ressuscitou dos mortos e vive para sempre.
Esta afirmação não é um apêndice teológico; é o centro do evangelho (o kerygma) e a chave hermenêutica para ler a paixão: a prisão, o processo, a cruz e a morte fazem parte da economia salvífica — isto é, do modo como Deus, em Cristo, cumpre a obra de redenção. Para estudiosos como N. T. Wright, a ressurreição é o evento que inaugura a “nova criação” e responde historicamente à questão: o que Deus fez em Cristo para derrotar a morte? Raymond E. Brown destaca igualmente como os evangelhos entendem a ressurreição não apenas como facto isolado, mas como clímax do plano redentor testemunhado nas Escrituras.
2) Análise léxica (grego e hebraico) — termos centrais
- Ressurreição — ἀνάστασις (anástasis). Substantivo que, no NT, expressa o “levantar-se” de quem estava morto; etimologicamente ana + histemi (levantar/colocar em pé). Em contextos joânicos e paulinos, refere-se à ressurreição física do crucificado e à esperança final de restauração. Lexicos e léxicos de NT registram esse uso técnico (resurrection).
- Acordar/Levantar/Erigir — formas verbais ligadas: ἐγείρω / ἠγέρθη (aoristo/passivo: “foi levantado/erguido” — usado para descrever a ação pascal sobre Cristo). A ênfase verbal costuma sublinhar tanto a ação de Deus que levanta, quanto a condição nova do Ressuscitado.
- Redenção — ἀπολύτρωσις (apolýtrōsis). Do composto ἀπό + λύτρον (lútron = preço; pagamento). No vocabulário paulino/joanino refere-se ao ato de resgatar, “comprar de volta” — sentido sacrificial/forense de libertação do pecado/morte. Lexicografia patrística e moderna confirma esse sentido técnico.
- Goel / Kinsman-Redeemer e verbos hebraicos — no Antigo Testamento, a redenção aparece por várias raízes: גָּאַל (gaʻal, “redimir, atuar como goel”), e verbos como פָּדָה (pādâh, “resgatar, pagar resgate”) que descrevem a ação de libertação por preço. Esses termos carregam a imagem do parente que volta a restaurar direitos e nome, o que molda a analogia da obra redentora de Cristo.
3) Observações exegético-teológicas dinâmicas
- A trajetória (prisão → julgamento → cruz → morte) é intencional na narrativa cristã. Esses passos não são acidentes históricos isolados: são o meio pelo qual o Filho de Deus cumpre as promessas/expectativas da Escritura e revela a justiça de Deus que salva mediante sacrifício voluntário (a linguagem sacrificial e forense encontra suporte tanto no NT quanto na teologia paulina) — motivo pelo qual a ressurreição é apresentada como a ratificação divina da eficácia do sacrifício.
- A ressurreição como vindicatio divina e inauguração escatológica. A exegese recente sublinha dois papéis da ressurreição: (a) vindicação — Deus “exalta” e confirma o Messias vindicado da morte; (b) inauguração — a ressurreição é início real da nova ordem (a “primeira etapa” da nova criação e das promessas escatológicas). N. T. Wright desenvolve precisamente esse argumento: o acontecimento pascal reconfigura história e esperança, não é apenas sinal ético ou visão interna.
- Redenção: linguagem processual e kinsman-redeemer. A noção hebraica do goel (gaʻal) e os verbos de resgate (pādâh, pidyon) enriquecem a forma como o NT fala de redenção (apolýtrōsis): não é abstrato, mas concretamente “resgate pago” — o Messias atua como o parente que readquire o povo e derrota a escravidão do pecado/morte. Isso conecta a crucifixão ao pagamento do preço e a ressurreição à fruição do efeito — a libertação definitiva.
- Historicidade e credibilidade narrativa. Nos últimos anos, estudos historiográficos têm mostrado que a convicção pascal dos primeiros crentes tem base em experiências e testemunhos que exigem ser levados a sério (ex.: estudos de historiografia contemporâneos e defesas apologéticas). Autores como Michael Licona tratam destas metodologias históricas e mostram que a reconstrução do evento pascal pode ser tratada com rigor académico. (Para leitura apologética e historiográfica ver Michael Licona e obras correlatas.)
4) Implicações teológicas centrais (síntese)
- Cristo como o novo “Goel” (Redentor): a cruz é o lugar do pagamento (ransom, lútron) e a ressurreição é a prova de que o resgate foi aceito e eficaz — a liberdade já é real.
- A ressurreição inaugura a nova criação: a vitória sobre a morte é o sinal de que a história está sendo redimida; a ressurreição não é apenas retorno à antiga vida, mas entrada numa existência transformada e definitiva.
- Missão da igreja: anunciar e viver segundo a novidade pascal. A fé cristã é uma fé que aponta para o acontecido historicamente e espera eschatologicamente.
5) Aplicação pessoal e pastoral (práticas diretas)
- Confiança na presença vencendo o luto: quando a experiência humana se confronta com a morte ou perdas profundas, a fé pascal transforma lamentação em esperança ativa — não nega a dor, mas reorienta a expectativa.
- Vida ética como fruto (não substituto) da ressurreição: a moral cristã não é tentativa de conquistar salvação, mas resposta à graça presente na ressurreição — fé que produz vida nova.
- Coragem para testemunhar: se a ressurreição é a realidade fundamental, a comunidade tem missão profética de vida e reconciliação (prática sacrificial de compaixão e anúncio).
- Pastoral do perdão e reconciliação: entender Cristo como “redentor” impulsiona práticas de reconciliação comunitária e pessoal — o exemplo do goel inspira a restauração de relações.
6) Tabela expositiva (resumo prático)
Tema / etapa | Termo grego / hebraico | Sentido exegético curto | Relevância teológica | Aplicação prática |
Prisão / julgamento | — (vocabulário marc. processual) | Culminância do conflito messiânico | O caminho do Servo-Sacrifício que cumpre a justiça divina | Encarar sofrimento como participação no ministério cristão (não glorificação do sofrimento) |
Crucifixão | σταύρωσις / λυτρον (lútron — preço) | Ação expiatória e parenética | A cruz é o lugar do “pagamento” que possibilita redenção | Silenciar a lógica de poder; ética do serviço sacrificial |
Morte | θάνατος / contrastes OT (מָוֶת) | Realidade da finitude humana que foi derrotada | Morte não é palavra final; é vencida em Cristo | Esperança pastoral em face do luto |
Ressurreição | ἀνάστασις (anastasis) | Levantar/ressurgir — inaugura nova ordem | Vitória definitiva; prova divina da obra redentora | Vida de esperança e missão; culto pascal como centro prático |
Redenção | ἀπολύτρωσις / גָּאַל (gaʻal) / פָּדָה (padah) | Resgate por preço; ação do goel | Cristo como redentor que restaura e liberta | Vida de gratidão: justiça social, libertação pessoal |
7) Referências acadêmicas recomendadas (seleção para estudo aprofundado)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
8) Encerramento e proposta prática
A certeza pascal (Jesus ressuscitado e vivo) não é uma afirmação abstrata: molda leitura das Escrituras, esperança cristã, vida comunitária e a missão.
1- A prisão do Filho de Deus
Jesus foi preso no Getsêmani pelos servos dos judeus (Jo 18.12), sem nenhuma acusação ou denúncia protocolar. Foi aprisionado sem saber do que o culpavam, na calada da noite. No Getsêmani, onde costumava orar com Seus discípulos (Jo 18.2), Jesus foi traído por Judas (Jo 18.3). Já preso, foi levado a Anás, também identificado como sumo sacerdote (Jo 18.13, 19); depois, ao sumo sacerdote efetivamente no exercício do cargo, Caifás (Jo 18.24); e, por fim, levaram Jesus ao governador Pilatos (Jo 18.29).
1.1. O Filho de Deus é julgado. O julgamento do Filho de Deus foi algo injusto e perverso. Os Evangelhos nos mostram que, conforme crescia a fama de Jesus, também crescia o ciúme dos líderes de Israel. Na noite que Jesus foi preso, eles passaram a madrugada julgando o Mestre e, após a decisão do Sinédrio, foi levado ao governador (Jo 18.28-30). Pilatos, então, após açoitar Jesus (Jo 19.1), declarou não ver nenhum crime pelo qual condenar Jesus (Jo 19.4). Então, submeteu a decisão ao povo, ou seja, às mesmas pessoas que, dias antes, saudaram a entrada do Filho de Deus em Jerusalém (Jo 12.12-19). Agora, elas pediam a crucificação de Jesus (Jo 19.6), e Pilatos O entregou para ser crucificado (Jo 19.16).
Bispo Samuel Ferreira (2019, L.12): “Quanto à pena de execução, ela não poderia ser aplicada pelo Sinédrio. Então, o Sinédrio fez de tudo para que Jesus fosse condenado com a pena máxima, tanto junto a Herodes quanto junto a Pilatos (Lc 23.13-25). Segundo as leis romanas, Pilatos não viu qualquer coisa para que Jesus merecesse tal condenação (Lc 23.4). Ao recebê-lo de volta da parte de Herodes, tentou livrá-lo da condenação, dizendo: ‘Eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho nesse homem’ (Lc 23.14). Porém, a multidão gritava: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!. Como era costume soltar um preso, Pilatos os fez decidir entre Barrabás e Jesus. A multidão escolheu soltar Barrabás”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1. Panorama narrativo (síntese)
Os evangelhos apresentam a prisão de Jesus como um acontecimento noturno e abrupto (Getsêmani), realizado por uma escolta enviada pelos chefes judeus e por Judas (Jo 18.1–12; Mt 26.47–56; Mc 14.43–50; Lc 22.47–53). Em seguida, Jesus passa por uma sequência de audiências: primeiro diante de Anás (Jo 18.12–14, 19–23), depois do sumo sacerdote Caifás e do Sinédrio (noite/madrugada — Mc/Mt/Lc), e finalmente diante de Pilatos (autoridade romana para pena capital). Em Lucas/Marcos houve também audiência perante Herodes (Lc 23.6–12). O processo é marcado por irregularidades legais, motivações políticas e religiosas conflituosas, e culmina com a entrega de Jesus para crucificar (Jo 19.16; Mt 27.26; Mc 15.15).
2. Análise lexical e observações textuais (grego e aramaico/hebraico)
Termos centrais (grego)
- συλλαμβάνω / συλλαβόντες (sullambanō / sullabontes) — “prender, deter” (Jo 18.12). Denota a ação física de levar Jesus às autoridades. (BDAG: to seize, arrest.)
- παραδίδωμι / παρεδόθη (paradidōmi / paredothē) — “entregar, traidoramente entregar / ser entregue” (uso amplo: Judas entrega; autoridades “entregam” Jesus a Pilatos; e o sentido teológico: Jesus “é entregue” conforme o propósito divino). O verbo carrega ambivalência — ação humana e cumprimento do plano salvífico.
- ἐγώ εἰμι (egō eimi) — “Eu sou” (Jo 18.5–6). A resposta de Jesus diante da pergunta “Quem buscais?” provoca recuo da escolta; evoca a auto-designação divina do Êxodo (LXX 3:14) e reafirma a identidade messiânica/teológica de Jesus.
- ἀνακρίνω / ἀνακρίσεις (anakrinō) — “interrogar, examinar” (os interrogatórios de Anás, Pilatos e Herodes).
- αἴτιον / αἰτία (aition/aitia) — “acusação, motivo” — Pilatos declara não encontrar aitia (Lc 23.4; Jo 18.38).
Termos/nomes aramaico-hebraicos relevantes
- Γεθσημανή (Gethsemane) — do aramaico Gat-Shemanim “prensa de azeite” (lugar de oração e angústia).
- Ἰσκαριώτης (Iscariotes) — possivelmente “homem de Kerioth” (Heb. Ish Kerioth), indicando origem; também distingue Judas como agente humano da entrega.
- Βαρραβᾶς (Barabbas) — “filho do pai” (bar-abba) — ironicamente contrastado com Jesus, o verdadeiro Filho do Pai.
3. Irregularidades processuais e contexto jurídico
Do ponto de vista judaico-rabínico (Mishná/Sanhedrin) e da lei romana, vários procedimentos no caso de Jesus são problemáticos:
- Julgamento noturno: segundo normas judaicas (Mishnah Sanhedrin 4:1), julgamentos capitais não deveriam ocorrer à noite; os evangelhos enfatizam que o Sinédrio se reuniu de madrugada — irregular.
- Falta de testemunhos consistentes: os relatos sinópticos mostram testemunhas contraditórias ou forjadas (cf. Mt 26:59–61; Mc 14:55–59).
- Ausência de um processo civil romano apropriado: pontualidade e procedimentos eram instrumentalizados — a acusação relevante perante Pilatos precisava ser política (sedução, insurreição) para justificar pena de morte. Assim os líderes judeus rearticularam as acusações (de blasfêmia religiosa para subversão política: “é rei” / “perturba a paz”).
- Pilatos cede à pressão política: ele declara repetidamente não achar culpa (Jo 18:38; Lc 23:4; Mt 27:24) mas, temendo tumulto e perda de prestígio, entrega Jesus ao suplício (cf. “que seu sangue caia sobre nós…” em Mt 27:25 — passagem historicamente sensível).
Essas irregularidades sublinham a injustiça patente do processo e mostram que o veredito foi motivado por interesses humanos (poder, inveja, medo), não por verdade judicial.
4. Leitura teológica: inocência, entrega voluntária e cumprimento das Escrituras
Inocência e submissão voluntária
Os evangelhos apresentam Jesus como inocente (Pilatos: “non invenio causam” — não encontro culpa). Ao mesmo tempo, Jesus não evita a prisão; ele se entrega como parte da missão (Jo 10:17–18; Jo 18.8–9 — “eu lhes disse que eu sou; por isso saístes, como te disse que eu sou” — e no Getsêmani aceita o processo). Aqui se conjuga inocência factual (é sem culpa criminal) com voluntariedade missionária (ele se submete ao caminho da cruz).
Cumprimento das Escrituras
Os evangelhos evocam Isaías 53, Salmo 22 e outros textos que descrevem o Justo que sofre, é rejeitado e é contado entre transgressores. Lucas e João explicitam que o sofrimento e a morte de Jesus “devem” acontecer para a salvação (Lc 24:26,46; Jo 12.27–33). Assim, a injustiça humana está integrada ao propósito redentor de Deus: o Filho é entregue para que cumpra a obra de redenção (paradoxo da soberania divina e responsabilidade humana).
Nota pastoral importante: essa explicação teológica NÃO transfere culpa coletiva a grupos inteiros nem autoriza antissemitismo. Os textos retratam líderes e multidões específicas daquele momento; a tradição cristã deve sempre condenar qualquer leitura que promova ódio contra judeus.
5. Interpretação sacrificial e soteriológica
A injustiça do julgamento enfatiza a substituição: o Inocente sofre pelos culpados. A linguagem sacrificial aparece em termos como “passio/πάθημα” e no conceito de propiciação (hilastērion) desenvolvido no NT: a entrega do Justo é meio pelo qual Deus declara justos os repentinos e oferece reconciliação (Rm 3; 2 Cor 5:21; Hb 2:9; Isa 53). O julgamento perverso torna ainda mais evidente o amor que dá o inocente em favor do culpado.
6. Aplicação pastoral e pessoal
- Consolo para os que sofrem injustiça — a cruz mostra que Deus vê e redime quem sofre por causa de falsas acusações. A igreja pode ser lugar de refúgio e justiça restauradora.
- Chamado à integridade — Jesus não se esquivou da verdade nem usou poder injustamente; somos chamados à coragem da honestidade e à fé humilde diante da opressão.
- Perdão e reconciliação — Jesus perdoa enquanto é maltratado; a comunidade cristã é chamada a responder ao mal com perdão transformador (Lc 23:34).
- Resistir ao uso religioso do poder — a história da prisão e do julgamento nos avisa contra a instrumentalização da religião para fins de poder, status ou interesse pessoal.
- Missão em meio ao conflito — a submissão voluntária de Jesus nos lembra que o seguimento pode exigir sofrer, mas também que esse sofrimento tem sentido redentor em mãos de Deus.
7. Referências acadêmicas e sugestões de leitura
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
8. Tabela expositiva (sequência, termos, irregularidade, significado teológico)
Etapa / Local
Texto (exemplo)
Termo (grego / aramaico)
Irregularidade jurídica / Observação
Significado teológico
Getsêmani: prisão
Jo 18.1–12; Mt 26.47–56
συλλαβόντες (sullabontes) – prender
Prisão noturna; traição de Judas (παραδίδωσις)
Início do caminho de obediência voluntária; cumprimento do plano
Anás (interrogatório)
Jo 18.12–14,19–23
ἀνακρίνω (anakrinō) – interrogar
Audiência privada, sem processo formal
Jesus revela sua identidade; inocência mantida
Caiaphas / Sinédrio
Mt 26; Mk 14; Lk 22
δικάζω (dikazō) – julgar
Julgamento noturno; testemunhas contraditórias; procedimentos ilegais
Rejeição do Messias; cumprimento do Servo Sofredor (Is 53)
Pilatos (governo romano)
Jo 18:28ff; Lk 23
οὐχ εὑρίσκω αἰτίαν (ouh heuriskō aitian) – “não encontro causa”
Pilatos tem poder p/ pena de morte; relutância; cede à pressão
Revela inocência; política instrumentaliza justiça; Pilatos entrega para manter ordem
Herodes (Lc 23:6–12)
Lc 23
ἐθαύμασεν (ethaumasen) – admirar
Audiência política/cerimonial; devolve Jesus a Pilatos
Demonstra inutilidade da manipulação política
Multidão / Barrabás
Mt 27; Mk 15
Βαρραβᾶς (Barabbas) – “filho do pai”
Escolha popular de um criminoso; pressão para crucificar
Ironia teológica: preferem “filho do pai” a Jesus, o Filho do Pai; participação humana na entrega
Entrega para crucifixão
Jo 19.16; Mt 27.26
παρέδωκεν αὐτόν (paredōken auton)
Execução romana
Culminância do ‘ser entregue’: meio da expiação redentora
9. Conclusão homilética (sugestão para pregar / meditação)
A prisão e os julgamentos de Jesus expõem a face mais brutal da iniquidade humana: mentira, inveja, medo, corrupção do poder. Mas confrontados com essa perversidade vemos, paradoxalmente, a luz da redenção: o Inocente escolhe sofrer, é entregue não por fracasso mas para cumprir o plano que liberta. Há aqui uma teologia do sofrimento — não um divino fatalismo que justifica a injustiça humana — mas a certeza de que Deus pode, na injustiça humana, realizar o bem definitivo.
Convite pastoral: diante das injustiças da vida, não respondamos com ódio; respondamos com a coragem e o amor do Crucificado — confiando que Deus é soberano, agindo por justiça e chamando-nos a ser agentes de reconciliação e defesa dos injustiçados.
1. Panorama narrativo (síntese)
Os evangelhos apresentam a prisão de Jesus como um acontecimento noturno e abrupto (Getsêmani), realizado por uma escolta enviada pelos chefes judeus e por Judas (Jo 18.1–12; Mt 26.47–56; Mc 14.43–50; Lc 22.47–53). Em seguida, Jesus passa por uma sequência de audiências: primeiro diante de Anás (Jo 18.12–14, 19–23), depois do sumo sacerdote Caifás e do Sinédrio (noite/madrugada — Mc/Mt/Lc), e finalmente diante de Pilatos (autoridade romana para pena capital). Em Lucas/Marcos houve também audiência perante Herodes (Lc 23.6–12). O processo é marcado por irregularidades legais, motivações políticas e religiosas conflituosas, e culmina com a entrega de Jesus para crucificar (Jo 19.16; Mt 27.26; Mc 15.15).
2. Análise lexical e observações textuais (grego e aramaico/hebraico)
Termos centrais (grego)
- συλλαμβάνω / συλλαβόντες (sullambanō / sullabontes) — “prender, deter” (Jo 18.12). Denota a ação física de levar Jesus às autoridades. (BDAG: to seize, arrest.)
- παραδίδωμι / παρεδόθη (paradidōmi / paredothē) — “entregar, traidoramente entregar / ser entregue” (uso amplo: Judas entrega; autoridades “entregam” Jesus a Pilatos; e o sentido teológico: Jesus “é entregue” conforme o propósito divino). O verbo carrega ambivalência — ação humana e cumprimento do plano salvífico.
- ἐγώ εἰμι (egō eimi) — “Eu sou” (Jo 18.5–6). A resposta de Jesus diante da pergunta “Quem buscais?” provoca recuo da escolta; evoca a auto-designação divina do Êxodo (LXX 3:14) e reafirma a identidade messiânica/teológica de Jesus.
- ἀνακρίνω / ἀνακρίσεις (anakrinō) — “interrogar, examinar” (os interrogatórios de Anás, Pilatos e Herodes).
- αἴτιον / αἰτία (aition/aitia) — “acusação, motivo” — Pilatos declara não encontrar aitia (Lc 23.4; Jo 18.38).
Termos/nomes aramaico-hebraicos relevantes
- Γεθσημανή (Gethsemane) — do aramaico Gat-Shemanim “prensa de azeite” (lugar de oração e angústia).
- Ἰσκαριώτης (Iscariotes) — possivelmente “homem de Kerioth” (Heb. Ish Kerioth), indicando origem; também distingue Judas como agente humano da entrega.
- Βαρραβᾶς (Barabbas) — “filho do pai” (bar-abba) — ironicamente contrastado com Jesus, o verdadeiro Filho do Pai.
3. Irregularidades processuais e contexto jurídico
Do ponto de vista judaico-rabínico (Mishná/Sanhedrin) e da lei romana, vários procedimentos no caso de Jesus são problemáticos:
- Julgamento noturno: segundo normas judaicas (Mishnah Sanhedrin 4:1), julgamentos capitais não deveriam ocorrer à noite; os evangelhos enfatizam que o Sinédrio se reuniu de madrugada — irregular.
- Falta de testemunhos consistentes: os relatos sinópticos mostram testemunhas contraditórias ou forjadas (cf. Mt 26:59–61; Mc 14:55–59).
- Ausência de um processo civil romano apropriado: pontualidade e procedimentos eram instrumentalizados — a acusação relevante perante Pilatos precisava ser política (sedução, insurreição) para justificar pena de morte. Assim os líderes judeus rearticularam as acusações (de blasfêmia religiosa para subversão política: “é rei” / “perturba a paz”).
- Pilatos cede à pressão política: ele declara repetidamente não achar culpa (Jo 18:38; Lc 23:4; Mt 27:24) mas, temendo tumulto e perda de prestígio, entrega Jesus ao suplício (cf. “que seu sangue caia sobre nós…” em Mt 27:25 — passagem historicamente sensível).
Essas irregularidades sublinham a injustiça patente do processo e mostram que o veredito foi motivado por interesses humanos (poder, inveja, medo), não por verdade judicial.
4. Leitura teológica: inocência, entrega voluntária e cumprimento das Escrituras
Inocência e submissão voluntária
Os evangelhos apresentam Jesus como inocente (Pilatos: “non invenio causam” — não encontro culpa). Ao mesmo tempo, Jesus não evita a prisão; ele se entrega como parte da missão (Jo 10:17–18; Jo 18.8–9 — “eu lhes disse que eu sou; por isso saístes, como te disse que eu sou” — e no Getsêmani aceita o processo). Aqui se conjuga inocência factual (é sem culpa criminal) com voluntariedade missionária (ele se submete ao caminho da cruz).
Cumprimento das Escrituras
Os evangelhos evocam Isaías 53, Salmo 22 e outros textos que descrevem o Justo que sofre, é rejeitado e é contado entre transgressores. Lucas e João explicitam que o sofrimento e a morte de Jesus “devem” acontecer para a salvação (Lc 24:26,46; Jo 12.27–33). Assim, a injustiça humana está integrada ao propósito redentor de Deus: o Filho é entregue para que cumpra a obra de redenção (paradoxo da soberania divina e responsabilidade humana).
Nota pastoral importante: essa explicação teológica NÃO transfere culpa coletiva a grupos inteiros nem autoriza antissemitismo. Os textos retratam líderes e multidões específicas daquele momento; a tradição cristã deve sempre condenar qualquer leitura que promova ódio contra judeus.
5. Interpretação sacrificial e soteriológica
A injustiça do julgamento enfatiza a substituição: o Inocente sofre pelos culpados. A linguagem sacrificial aparece em termos como “passio/πάθημα” e no conceito de propiciação (hilastērion) desenvolvido no NT: a entrega do Justo é meio pelo qual Deus declara justos os repentinos e oferece reconciliação (Rm 3; 2 Cor 5:21; Hb 2:9; Isa 53). O julgamento perverso torna ainda mais evidente o amor que dá o inocente em favor do culpado.
6. Aplicação pastoral e pessoal
- Consolo para os que sofrem injustiça — a cruz mostra que Deus vê e redime quem sofre por causa de falsas acusações. A igreja pode ser lugar de refúgio e justiça restauradora.
- Chamado à integridade — Jesus não se esquivou da verdade nem usou poder injustamente; somos chamados à coragem da honestidade e à fé humilde diante da opressão.
- Perdão e reconciliação — Jesus perdoa enquanto é maltratado; a comunidade cristã é chamada a responder ao mal com perdão transformador (Lc 23:34).
- Resistir ao uso religioso do poder — a história da prisão e do julgamento nos avisa contra a instrumentalização da religião para fins de poder, status ou interesse pessoal.
- Missão em meio ao conflito — a submissão voluntária de Jesus nos lembra que o seguimento pode exigir sofrer, mas também que esse sofrimento tem sentido redentor em mãos de Deus.
7. Referências acadêmicas e sugestões de leitura
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
8. Tabela expositiva (sequência, termos, irregularidade, significado teológico)
Etapa / Local | Texto (exemplo) | Termo (grego / aramaico) | Irregularidade jurídica / Observação | Significado teológico |
Getsêmani: prisão | Jo 18.1–12; Mt 26.47–56 | συλλαβόντες (sullabontes) – prender | Prisão noturna; traição de Judas (παραδίδωσις) | Início do caminho de obediência voluntária; cumprimento do plano |
Anás (interrogatório) | Jo 18.12–14,19–23 | ἀνακρίνω (anakrinō) – interrogar | Audiência privada, sem processo formal | Jesus revela sua identidade; inocência mantida |
Caiaphas / Sinédrio | Mt 26; Mk 14; Lk 22 | δικάζω (dikazō) – julgar | Julgamento noturno; testemunhas contraditórias; procedimentos ilegais | Rejeição do Messias; cumprimento do Servo Sofredor (Is 53) |
Pilatos (governo romano) | Jo 18:28ff; Lk 23 | οὐχ εὑρίσκω αἰτίαν (ouh heuriskō aitian) – “não encontro causa” | Pilatos tem poder p/ pena de morte; relutância; cede à pressão | Revela inocência; política instrumentaliza justiça; Pilatos entrega para manter ordem |
Herodes (Lc 23:6–12) | Lc 23 | ἐθαύμασεν (ethaumasen) – admirar | Audiência política/cerimonial; devolve Jesus a Pilatos | Demonstra inutilidade da manipulação política |
Multidão / Barrabás | Mt 27; Mk 15 | Βαρραβᾶς (Barabbas) – “filho do pai” | Escolha popular de um criminoso; pressão para crucificar | Ironia teológica: preferem “filho do pai” a Jesus, o Filho do Pai; participação humana na entrega |
Entrega para crucifixão | Jo 19.16; Mt 27.26 | παρέδωκεν αὐτόν (paredōken auton) | Execução romana | Culminância do ‘ser entregue’: meio da expiação redentora |
9. Conclusão homilética (sugestão para pregar / meditação)
A prisão e os julgamentos de Jesus expõem a face mais brutal da iniquidade humana: mentira, inveja, medo, corrupção do poder. Mas confrontados com essa perversidade vemos, paradoxalmente, a luz da redenção: o Inocente escolhe sofrer, é entregue não por fracasso mas para cumprir o plano que liberta. Há aqui uma teologia do sofrimento — não um divino fatalismo que justifica a injustiça humana — mas a certeza de que Deus pode, na injustiça humana, realizar o bem definitivo.
Convite pastoral: diante das injustiças da vida, não respondamos com ódio; respondamos com a coragem e o amor do Crucificado — confiando que Deus é soberano, agindo por justiça e chamando-nos a ser agentes de reconciliação e defesa dos injustiçados.
1.2. A crucificação do Filho de Deus. O mais cruel e desumano instrumento de morte da época se transformou no símbolo do cristianismo quando, na cruz, o Filho de Deus levou sobre Si os nossos pecados (1Pe 2.24). Jesus foi crucificado entre dois ladrões, agonizando na cruz (Jo 19.18). Em Seu Ministério, Ele perdoou pecados (Jo 4.25-30; 8.11), curou doentes (Jo 4.48-53; 9.6-7) e ressuscitou mortos (Jo 11.34-44); ainda assim, foi pendurado numa cruz (Jo 19.23). Não podemos nos esquecer de que o motivo que levou Jesus a ser crucificado foram os nossos pecados (Is 53.5); assim, Aquele que não tinha pecado foi designado por Deus para uma oferta pelo pecado (2Co 5.21).
Abinair Vargas Vieira (2022, L. 12): “Para nos fazer compreender o caminho traçado por Jesus antes da crucificação, Marcos narra que a preparação para o ato foi um momento de aflição e amargura, onde Cristo teve que enfrentar a chacota e a desonra (Mc 15.17). Nesta ordem de ideias, lemos que, após a condenação à morte por Pilatos (Mc 15.15), os soldados romanos usaram de ações impiedosas (Mc 15.19). Diante de tanta crueldade, o Servo ficou muito combalido, sendo Simão, o Cireneu, obrigado a ajudá-lo a carregar a cruz (Mc 15.21). Ao chegar ao Seu destino e ser exposto no madeiro, dando um grande brado o Servo expirou (Mc 15.37)”.
1.3. A morte do Filho de Deus. Embora inocente, Jesus tomou o lugar dos que mereciam pagar por seus delitos (Is 53.4,5). Por amor à humanidade, o Pai enviou Seu Filho ao mundo (Jo 3.16) como ser humano (1Jo 4.2), para que tomasse sobre Si as nossas misérias e dores. O Filho foi crucificado, e Sua morte consumou o plano divino de redenção (Jo 19.30). O Evangelho de João ressalta a morte de Cristo como cumprimento das Escrituras (Jo 19.36,37).
Bispo Primaz Manoel Ferreira (2016, L.13): “Mesmo dilacerado e agonizando na cruz, Jesus revelou Seu incomparável amor e Sua poderosa autoridade ao declarar que a um dos ladrões estaria assegurado o Seu Reino (Lc 23.42-43). Era o momento mais inoportuno para ver o Reino estabelecido, mas ali estava a autoridade daquele que decide quem entra ou não na eternidade”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1.2. A crucificação do Filho de Deus
A crucificação era considerada a forma mais cruel de execução no mundo romano, reservada a criminosos e escravos. O termo grego σταυρόω (stauróō) significa “crucificar” e está ligado a σταυρός (staurós), literalmente “estaca” ou “madeiro”. Isaías 53.5 já antecipava que o Servo Sofredor seria “traspassado por causa das nossas transgressões”.
Teologicamente, a cruz tornou-se o centro da fé cristã, não apenas como instrumento de sofrimento, mas como local da expiação substitutiva. Paulo afirma: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós” (2Co 5.21). Isso reflete a doutrina da imputação: nossos pecados foram colocados sobre Cristo, enquanto Sua justiça é imputada ao crente.
O testemunho de João ao narrar Jesus crucificado entre dois ladrões (Jo 19.18) reforça o cumprimento do que estava escrito em Isaías 53.12: “foi contado com os transgressores”. Assim, o justo se fez solidário com os injustos, revelando a profundidade da graça.
Autores como Leon Morris (The Cross in the New Testament) destacam que a cruz é ao mesmo tempo “o lugar de maior maldade humana e da mais profunda revelação do amor divino”.
Aplicação
- A cruz lembra que não foi a injustiça humana que manteve Cristo ali, mas o amor voluntário por nós.
- Somos chamados a viver diariamente em gratidão, carregando também a nossa cruz (Lc 9.23).
- O cristão não pode reduzir a cruz a mero símbolo cultural: ela é o sinal da reconciliação e da vitória sobre o pecado.
1.3. A morte do Filho de Deus
O vocábulo grego para “morte”, θάνατος (thánatos), aqui não se refere apenas ao cessar da vida biológica, mas à entrega voluntária de Jesus. Em João 19.30, o verbo usado é τετέλεσται (tetélestai) — “está consumado” — no perfeito, indicando uma ação plena e definitiva, cujos efeitos permanecem. Assim, a morte de Cristo não foi derrota, mas consumação do plano eterno de redenção (1Co 15.3-4).
A teologia joanina apresenta a morte de Jesus como cumprimento das Escrituras (Jo 19.36-37; cf. Sl 34.20; Zc 12.10), revelando que nada foi acidental. Sua morte é vicária (em nosso lugar), sacrificial (como oferta), e substitutiva (levando sobre Si as nossas iniquidades).
O testemunho do ladrão arrependido (Lc 23.42-43) confirma a autoridade de Cristo, mesmo em agonia, para garantir a salvação. Como observa John Stott em A Cruz de Cristo, “no momento de maior fraqueza, Jesus exerceu a mais extraordinária autoridade — a de conceder a vida eterna”.
Aplicação
- A morte de Cristo nos chama a viver em obediência, sabendo que fomos comprados por preço (1Co 6.20).
- O evangelho não é uma filosofia de vida, mas a proclamação de que o Filho de Deus morreu e ressuscitou para nos reconciliar com o Pai.
- A certeza do “está consumado” nos livra da ansiedade de tentar conquistar a salvação por méritos humanos.
Tabela Expositiva
Seção
Referência
Palavra-chave (grego/hebraico)
Enfoque Teológico
Aplicação
Crucificação
Jo 19.18; 1Pe 2.24
σταυρόω (stauróō) – crucificar
Expiação substitutiva, cumprimento de Isaías 53.
A cruz é símbolo de amor e reconciliação.
Entre ladrões
Jo 19.18; Is 53.12
παράνομος – transgressor
Cristo se identificou com pecadores.
Jesus se fez solidário com os marginalizados.
Perdão e milagres
Jo 4; 8; 9; 11
ἄφεσις (aphesis) – perdão; σημεῖον (sēmeion) – sinal
Jesus já revelava autoridade sobre pecado e morte.
O Cristo que morreu é o mesmo que perdoa e cura.
Morte
Jo 19.30; Is 53.4-5
τετέλεσται (tetélestai) – está consumado
Morte vicária, sacrificial e substitutiva.
O crente descansa na obra completa de Cristo.
Autoridade na cruz
Lc 23.42-43
βασιλεία (basileia) – reino
Cristo concede vida eterna mesmo em agonia.
A salvação é dom gratuito em qualquer circunstância.
1.2. A crucificação do Filho de Deus
A crucificação era considerada a forma mais cruel de execução no mundo romano, reservada a criminosos e escravos. O termo grego σταυρόω (stauróō) significa “crucificar” e está ligado a σταυρός (staurós), literalmente “estaca” ou “madeiro”. Isaías 53.5 já antecipava que o Servo Sofredor seria “traspassado por causa das nossas transgressões”.
Teologicamente, a cruz tornou-se o centro da fé cristã, não apenas como instrumento de sofrimento, mas como local da expiação substitutiva. Paulo afirma: “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós” (2Co 5.21). Isso reflete a doutrina da imputação: nossos pecados foram colocados sobre Cristo, enquanto Sua justiça é imputada ao crente.
O testemunho de João ao narrar Jesus crucificado entre dois ladrões (Jo 19.18) reforça o cumprimento do que estava escrito em Isaías 53.12: “foi contado com os transgressores”. Assim, o justo se fez solidário com os injustos, revelando a profundidade da graça.
Autores como Leon Morris (The Cross in the New Testament) destacam que a cruz é ao mesmo tempo “o lugar de maior maldade humana e da mais profunda revelação do amor divino”.
Aplicação
- A cruz lembra que não foi a injustiça humana que manteve Cristo ali, mas o amor voluntário por nós.
- Somos chamados a viver diariamente em gratidão, carregando também a nossa cruz (Lc 9.23).
- O cristão não pode reduzir a cruz a mero símbolo cultural: ela é o sinal da reconciliação e da vitória sobre o pecado.
1.3. A morte do Filho de Deus
O vocábulo grego para “morte”, θάνατος (thánatos), aqui não se refere apenas ao cessar da vida biológica, mas à entrega voluntária de Jesus. Em João 19.30, o verbo usado é τετέλεσται (tetélestai) — “está consumado” — no perfeito, indicando uma ação plena e definitiva, cujos efeitos permanecem. Assim, a morte de Cristo não foi derrota, mas consumação do plano eterno de redenção (1Co 15.3-4).
A teologia joanina apresenta a morte de Jesus como cumprimento das Escrituras (Jo 19.36-37; cf. Sl 34.20; Zc 12.10), revelando que nada foi acidental. Sua morte é vicária (em nosso lugar), sacrificial (como oferta), e substitutiva (levando sobre Si as nossas iniquidades).
O testemunho do ladrão arrependido (Lc 23.42-43) confirma a autoridade de Cristo, mesmo em agonia, para garantir a salvação. Como observa John Stott em A Cruz de Cristo, “no momento de maior fraqueza, Jesus exerceu a mais extraordinária autoridade — a de conceder a vida eterna”.
Aplicação
- A morte de Cristo nos chama a viver em obediência, sabendo que fomos comprados por preço (1Co 6.20).
- O evangelho não é uma filosofia de vida, mas a proclamação de que o Filho de Deus morreu e ressuscitou para nos reconciliar com o Pai.
- A certeza do “está consumado” nos livra da ansiedade de tentar conquistar a salvação por méritos humanos.
Tabela Expositiva
Seção | Referência | Palavra-chave (grego/hebraico) | Enfoque Teológico | Aplicação |
Crucificação | Jo 19.18; 1Pe 2.24 | σταυρόω (stauróō) – crucificar | Expiação substitutiva, cumprimento de Isaías 53. | A cruz é símbolo de amor e reconciliação. |
Entre ladrões | Jo 19.18; Is 53.12 | παράνομος – transgressor | Cristo se identificou com pecadores. | Jesus se fez solidário com os marginalizados. |
Perdão e milagres | Jo 4; 8; 9; 11 | ἄφεσις (aphesis) – perdão; σημεῖον (sēmeion) – sinal | Jesus já revelava autoridade sobre pecado e morte. | O Cristo que morreu é o mesmo que perdoa e cura. |
Morte | Jo 19.30; Is 53.4-5 | τετέλεσται (tetélestai) – está consumado | Morte vicária, sacrificial e substitutiva. | O crente descansa na obra completa de Cristo. |
Autoridade na cruz | Lc 23.42-43 | βασιλεία (basileia) – reino | Cristo concede vida eterna mesmo em agonia. | A salvação é dom gratuito em qualquer circunstância. |
EU ENSINEI QUE
Embora inocente, Jesus tomou o lugar dos que mereciam pagar por seus delitos.
2- Jesus ressuscitou
A Ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da esperança cristã (Rm 8.11; 2Tm 2.8). Sem a Ressurreição do Filho de Deus, o cristianismo não teria sentido (1Co 15.14), porque a Ressurreição consolida a demonstração do Amor de Deus por nós (Jo 3.16).
2.1. O sepulcro vazio. O discípulo amado fez questão de ressaltar que era madrugada, ainda escuro, quando Maria Madalena notou que a pedra do sepulcro havia sido removida (Jo 20.1). Como relata Lucas, Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena, e ela pôde encontrar paz (Lc 8.2). Após a libertação, Madalena passou a seguir a Cristo. Ao ver o sepulcro vazio, ela vai até João e Pedro e lhes diz que haviam levado o corpo do Senhor, mas não sabia para onde (Jo 20.2).
Bispo Primaz Manoel Ferreira (2016, L.13): “O Apóstolo Paulo nos ensina que, sem a ressurreição de Cristo, nossa fé seria vã (1 Co 15.17). A nossa pregação seria inútil e a nossa esperança seria vazia. Nosso testemunho seria falso e nossos pecados não seriam perdoados. Seríamos os mais infelizes de todos os homens. Sem a Ressurreição de Cristo, o cristianismo seria o maior engodo da história, a maior farsa inventada pelos cristãos. Os mártires teriam morrido por uma mentira. Glórias a Deus porque Jesus ressuscitou e hoje temos vida abundante”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
1. O sepulcro vazio como sinal da ressurreição
O relato de João 20.1–2 destaca que Maria Madalena chega ao sepulcro ainda escuro (πρωῒ σκοτίας ἔτι οὔσης, prōi skotias eti ousēs), e encontra a pedra removida (ἠρμένον, hērmenon do verbo airō, “levantar, remover”).
O sepulcro vazio não é prova absoluta da ressurreição, mas é sinal decisivo que prepara os discípulos para a revelação plena (Jo 20.8–9). O texto enfatiza que Maria ainda não compreendia as Escrituras (οὐδέπω ᾔδεισαν τὴν γραφήν, oudepō ēdeisan tēn graphēn), mostrando que a fé pascal nasce não apenas da experiência sensorial, mas do encontro com Cristo ressuscitado e da iluminação da Palavra.
2. Maria Madalena e a transformação pelo encontro com Cristo
Lucas 8.2 descreve Maria como aquela de quem Jesus expulsara “sete demônios” (ἑπτὰ δαιμόνια, hepta daimonia), número que sugere plenitude da opressão espiritual. A transformação de Maria em seguidora fiel exemplifica o poder libertador de Cristo.
Sua presença no túmulo vazio revela:
- A fidelidade das mulheres como primeiras testemunhas (contracultural no contexto do séc. I, onde o testemunho feminino tinha pouco valor jurídico);
- A graça de Deus que escolhe aqueles antes desprezados para serem os primeiros a anunciar a vitória sobre a morte.
3. Teologia paulina da ressurreição
Paulo é categórico:
- Sem ressurreição, a fé é vã (ματαία, mataia = vazia, inútil; 1Co 15.17).
- O cristianismo não seria apenas um engano piedoso, mas a maior farsa.
- Com a ressurreição, temos vida abundante (Jo 10.10) e a certeza de que “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos vivificará também os vossos corpos mortais” (Rm 8.11).
A ressurreição é, portanto, o fundamento da esperança cristã (ἐλπίς, elpis = esperança firme, confiante).
4. Significado teológico do sepulcro vazio
- Vitória sobre a morte — O túmulo vazio confirma a derrota do último inimigo (1Co 15.26).
- Autenticidade de Jesus como Filho de Deus — A ressurreição é a vindicação divina (Rm 1.4).
- Segurança da fé cristã — O cristianismo não se baseia em ideias abstratas, mas em um evento histórico-escatológico.
- Esperança futura — O sepulcro vazio antecipa a ressurreição dos crentes (1Ts 4.14).
5. Aplicação pessoal
- O sepulcro vazio nos lembra que nossas dores não são finais — Cristo venceu o maior inimigo.
- A transformação de Maria Madalena nos mostra que ninguém está fora do alcance da graça: quem foi dominado pelo mal pode se tornar testemunha da vitória.
- A ressurreição nos convida a viver com esperança ativa, não apenas olhando para a vida eterna, mas experimentando já aqui a vida abundante.
- Assim como Maria correu para anunciar, nós também devemos ser mensageiros da ressurreição em um mundo marcado pelo desespero.
Referências Acadêmicas
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
Tabela Expositiva – O Sepulcro Vazio
Aspecto
Texto
Palavra-chave (grego/hebraico)
Observação Teológica
Aplicação
O túmulo
Jo 20.1
πρωῒ σκοτίας (prōi skotias) = madrugada, ainda escuro
O vazio do túmulo prepara a revelação da vitória
Deus age mesmo quando ainda está “escuro” em nossa vida
A pedra removida
Jo 20.1
ἠρμένον (hērmenon) = removida, retirada
O impedimento foi removido pelo poder de Deus
Nada pode barrar a ação do Senhor em nos dar vida nova
Maria Madalena
Jo 20.1–2; Lc 8.2
δαιμόνια (daimonia) = espíritos malignos
A transformada torna-se a primeira testemunha
A graça transforma nossa história e nos torna testemunhas
Incredulidade inicial
Jo 20.9
γραφή (graphē) = Escritura
A fé pascal se ancora na Palavra cumprida
Nossa fé precisa se firmar na Escritura, não só em sinais
Fundamento da fé
1Co 15.14–17
μάταιος (mataios) = vazio, inútil
Sem ressurreição, não há cristianismo
A fé cristã é sólida porque Cristo vive
Esperança viva
Rm 8.11; 2Tm 2.8
ἐλπίς (elpis) = esperança
A ressurreição garante a vida abundante e futura
Vivemos hoje com esperança ativa e missionária
1. O sepulcro vazio como sinal da ressurreição
O relato de João 20.1–2 destaca que Maria Madalena chega ao sepulcro ainda escuro (πρωῒ σκοτίας ἔτι οὔσης, prōi skotias eti ousēs), e encontra a pedra removida (ἠρμένον, hērmenon do verbo airō, “levantar, remover”).
O sepulcro vazio não é prova absoluta da ressurreição, mas é sinal decisivo que prepara os discípulos para a revelação plena (Jo 20.8–9). O texto enfatiza que Maria ainda não compreendia as Escrituras (οὐδέπω ᾔδεισαν τὴν γραφήν, oudepō ēdeisan tēn graphēn), mostrando que a fé pascal nasce não apenas da experiência sensorial, mas do encontro com Cristo ressuscitado e da iluminação da Palavra.
2. Maria Madalena e a transformação pelo encontro com Cristo
Lucas 8.2 descreve Maria como aquela de quem Jesus expulsara “sete demônios” (ἑπτὰ δαιμόνια, hepta daimonia), número que sugere plenitude da opressão espiritual. A transformação de Maria em seguidora fiel exemplifica o poder libertador de Cristo.
Sua presença no túmulo vazio revela:
- A fidelidade das mulheres como primeiras testemunhas (contracultural no contexto do séc. I, onde o testemunho feminino tinha pouco valor jurídico);
- A graça de Deus que escolhe aqueles antes desprezados para serem os primeiros a anunciar a vitória sobre a morte.
3. Teologia paulina da ressurreição
Paulo é categórico:
- Sem ressurreição, a fé é vã (ματαία, mataia = vazia, inútil; 1Co 15.17).
- O cristianismo não seria apenas um engano piedoso, mas a maior farsa.
- Com a ressurreição, temos vida abundante (Jo 10.10) e a certeza de que “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos vivificará também os vossos corpos mortais” (Rm 8.11).
A ressurreição é, portanto, o fundamento da esperança cristã (ἐλπίς, elpis = esperança firme, confiante).
4. Significado teológico do sepulcro vazio
- Vitória sobre a morte — O túmulo vazio confirma a derrota do último inimigo (1Co 15.26).
- Autenticidade de Jesus como Filho de Deus — A ressurreição é a vindicação divina (Rm 1.4).
- Segurança da fé cristã — O cristianismo não se baseia em ideias abstratas, mas em um evento histórico-escatológico.
- Esperança futura — O sepulcro vazio antecipa a ressurreição dos crentes (1Ts 4.14).
5. Aplicação pessoal
- O sepulcro vazio nos lembra que nossas dores não são finais — Cristo venceu o maior inimigo.
- A transformação de Maria Madalena nos mostra que ninguém está fora do alcance da graça: quem foi dominado pelo mal pode se tornar testemunha da vitória.
- A ressurreição nos convida a viver com esperança ativa, não apenas olhando para a vida eterna, mas experimentando já aqui a vida abundante.
- Assim como Maria correu para anunciar, nós também devemos ser mensageiros da ressurreição em um mundo marcado pelo desespero.
Referências Acadêmicas
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
Tabela Expositiva – O Sepulcro Vazio
Aspecto | Texto | Palavra-chave (grego/hebraico) | Observação Teológica | Aplicação |
O túmulo | Jo 20.1 | πρωῒ σκοτίας (prōi skotias) = madrugada, ainda escuro | O vazio do túmulo prepara a revelação da vitória | Deus age mesmo quando ainda está “escuro” em nossa vida |
A pedra removida | Jo 20.1 | ἠρμένον (hērmenon) = removida, retirada | O impedimento foi removido pelo poder de Deus | Nada pode barrar a ação do Senhor em nos dar vida nova |
Maria Madalena | Jo 20.1–2; Lc 8.2 | δαιμόνια (daimonia) = espíritos malignos | A transformada torna-se a primeira testemunha | A graça transforma nossa história e nos torna testemunhas |
Incredulidade inicial | Jo 20.9 | γραφή (graphē) = Escritura | A fé pascal se ancora na Palavra cumprida | Nossa fé precisa se firmar na Escritura, não só em sinais |
Fundamento da fé | 1Co 15.14–17 | μάταιος (mataios) = vazio, inútil | Sem ressurreição, não há cristianismo | A fé cristã é sólida porque Cristo vive |
Esperança viva | Rm 8.11; 2Tm 2.8 | ἐλπίς (elpis) = esperança | A ressurreição garante a vida abundante e futura | Vivemos hoje com esperança ativa e missionária |
2.2. João e Pedro chegam ao túmulo vazio. Após serem informados por Maria Madalena que o corpo do Senhor havia sido levado, Pedro e João, ainda abatidos pela morte do Mestre, correm até o sepulcro (Jo 20.2,3). João é o primeiro a chegar; entretanto, não entra. Ele só se abaixa e vê os lençóis no chão (Jo 20.4,5). Pedro chega, entra no sepulcro, e vê os lençóis caídos. Quando vê o sepulcro vazio, João crê que Jesus está vivo. O Filho de Deus não foi derrotado pela morte.
Ralph Earle & Joseph Mayfield (2019, pp. 160-161): “Houve muitas conjecturas a respeito do motivo por que João venceu a corrida. A explicação mais plausível é a agilidade. João era o mais jovem dos dois e estava apenas registrando um fato interessante através do seu testemunho ocular. No interior, Pedro e João, que o seguiu, puderam ver algo mais. Não viram apenas os lençóis, mas também que o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte”.
2.3. Ressurreição de Jesus: o centro da mensagem cristã. Na primeira mensagem, após a descida do Espírito Santo, a Ressurreição é apresentada como um fato histórico e crucial no plano divino de salvação (At 2.24-36), que já tinha sido previsto nas Escrituras. Na cura do coxo e diante das autoridades religiosas, o anúncio da Ressurreição de Jesus Cristo também está presente (At 3.15; 4.10). A grande tarefa dos apóstolos era dar “testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus” (At 4.33). No anúncio do Evangelho, é imprescindível comunicar a nova vida que recebemos pela Ressurreição de Jesus Cristo (1Pe 1.3), que é o tema central da mensagem de Salvação e da justificação de todo aquele que crê (Rm 4.23-25).
F.F. Bruce (1990, p.326): “Depois da apresentação da morte de Jesus como sendo sua exaltação e glorificação, um escritor recente observou: ‘A ressurreição chega a surpreender neste evangelho. (…) João está concentrado em relatar eventos que realmente aconteceram, e a ressurreição é um deles, por isso ele não teria como deixá-la de fora. De outra forma, ele poderia ter encerrado sua narrativa com ‘Está consumado’ (Jo 19.30)”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
2.2 João e Pedro no túmulo vazio — exegese e significado
Leitura do relato (João 20.2–9) — o narrador e os detalhes
Maria Madalena corre para informar Pedro e “o outro discípulo, a quem Jesus amava” (o discípulo amado) que “tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram” (Jo 20.2). Pedro e o discípulo amado correm ao túmulo. O outro discípulo chega primeiro, inclina-se e vê os panos funerários; Pedro entra, vê os panos; o outro entra, vê e crê (εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν, Jo 20.8). João faz notar o detalhe peculiar: o soudarion/σουδάριον (o lenço da cabeça) não estava com os lençóis, mas «enrolado num lugar à parte» — indício de que não houve desordem típica de furto, mas de saída ordenada.
Análise lexical (grego) — termos que importam
- ἔδραμε / ἔτρεξαν (dramein/trechein) — correr; João descreve a pressa, o movimento impulsivo provocado pela notícia.
- εἶδεν (eiden) — “viu” (do verbo ὁράω/οἶδα), verbo de percepção imediata.
- εἰσῆλθεν / εἰσῆλθον (eisēlthen) — “entrou”; Pedro entra no sepulcro — ação decisiva.
- ὀθόνια (othonia) — “lençóis, panos funerários” (plural): evidencia material do sepulcro.
- σουδάριον (soudarion) — “lenço, sudário” (sobre a cabeça) — distinto dos ὀθόνια; a posição enrolada indica ordem e propósito.
- ἐπίστευσεν (episteusen) — “ele creu” (aqui João sintetiza a conclusão de fé do discípulo amado ao ver os sinais).
- οὐκέτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν (ouketi ēdeisan tēn graphēn) — já visto: “ainda não haviam compreendido as Escrituras” (Jo 20.9), mostrando que ver e entender são etapas distintas.
Por que os detalhes importam?
- A descrição dos lençóis e do lenço enrolado é uma evidência narrativa que indica que o corpo não foi simplesmente removido por ladrões (a bagunça do furto não aparece). João sugere uma saída controlada: a pessoa que saiu deixou os panos no lugar, e o lenço arrumado à parte como quem terminara um trabalho.
- A cena dramatiza dois tipos de reação: Pedro (o impetuoso) entra e investiga; o discípulo amado observa, entra e crê. João mostra que a fé surge quando os olhos encontram sinais que o Espírito interpreta — não é sentimento vago, mas convicção diante de fatos que apontam para um evento transformador.
O relato de João 20:2-9 é marcado por testemunho ocular. O discípulo amado sublinha os detalhes: quem chegou primeiro, quem entrou, o que viram e como reagiram. A ênfase não está apenas no vazio do sepulcro, mas na ordem dos sinais deixados: os othónia (ὀθόνια – panos de linho funerário) e o soudárion (σουδάριον – lenço usado para a cabeça) arrumado à parte (Jo 20.7).
Esse detalhe exclui a hipótese de roubo ou violação, pois ladrões não perderiam tempo em enrolar o sudário de forma organizada. Como diz Ralph Earle & Joseph Mayfield, João registra um fato concreto e sutil que aponta para a vitória de Cristo sobre a morte de forma consciente e gloriosa.
A reação também é importante: João vê (eiden) e crê (episteusen). O verbo “crer” (πιστεύω, pisteuō) aqui denota confiança e entrega. Ele não apenas constatou o vazio, mas creu que a morte havia sido vencida. Pedro, mais impulsivo, entra primeiro, mas João é quem chega à fé — mostrando que ver não basta, é preciso interpretar os sinais à luz da promessa.
👉 Aplicação: Muitas vezes somos como Pedro e João — diante de evidências do agir de Deus, alguns demoram mais a crer, outros confiam de imediato. A fé cristã não se baseia em especulação, mas em sinais concretos que apontam para a ação de Deus. O sepulcro vazio continua sendo o maior sinal de que a morte foi derrotada.
2.3 A Ressurreição de Jesus: centro da mensagem cristã
A ressurreição não é apenas um evento isolado, mas o fundamento da fé cristã. Sem ela, Paulo afirma que a pregação e a fé seriam “vãs” (kenē, κενή – vazia, sem efeito, 1Co 15.14).
Nos discursos apostólicos de Atos (At 2.24-36; 3.15; 4.10,33), a ressurreição é proclamada como cumprimento das Escrituras e como centro do Evangelho. Ela não só garante perdão e justificação (Rm 4.25), mas inaugura uma nova vida: somos regenerados “para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).
F.F. Bruce destaca que João poderia ter encerrado sua narrativa com “Está consumado” (Jo 19.30), mas o evangelista enfatiza que a obra de Cristo só é plenamente revelada na ressurreição. A morte foi o clímax do sacrifício, mas a ressurreição é a confirmação divina de que o sacrifício foi aceito.
👉 Aplicação: Nossa fé não está em um Cristo morto, mas em um Salvador vivo. Isso transforma nossa esperança, nossa ética e nossa missão. O cristão não teme o futuro porque já sabe que a morte foi vencida. Isso também nos move a testemunhar, como os apóstolos, que Jesus está vivo e continua transformando vidas.
Referências acadêmicas
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
Tabela Expositiva
Ponto
Texto
Palavra-chave (grego)
Teologia
Aplicação
João vê e crê
Jo 20.2-8
πιστεύω (pisteuō) – crer
Fé nasce do encontro com os sinais da ressurreição
Ver não basta: é preciso crer no agir de Deus
Lençóis e sudário
Jo 20.7
ὀθόνια (othonia) / σουδάριον (soudárion)
Ordem indica que não houve roubo, mas ressurreição gloriosa
Cristo não foi vencido, mas venceu a morte
Ressurreição anunciada
At 2.24-36
ἀνάστασις (anástasis) – ressurreição
Centro da pregação apostólica, cumprimento das Escrituras
Nossa fé repousa em um fato histórico: Jesus ressuscitou
Fé sem ressurreição é vã
1Co 15.14
κενή (kenē) – vazia, inútil
Sem ressurreição, não há Evangelho
A fé cristã tem fundamento sólido e vivo
Esperança viva
1Pe 1.3
ζῶσαν ἐλπίδα (zōsan elpida) – viva esperança
Ressurreição gera vida nova e esperança futura
O cristão vive hoje com os olhos na eternidade
2.2 João e Pedro no túmulo vazio — exegese e significado
Leitura do relato (João 20.2–9) — o narrador e os detalhes
Maria Madalena corre para informar Pedro e “o outro discípulo, a quem Jesus amava” (o discípulo amado) que “tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram” (Jo 20.2). Pedro e o discípulo amado correm ao túmulo. O outro discípulo chega primeiro, inclina-se e vê os panos funerários; Pedro entra, vê os panos; o outro entra, vê e crê (εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν, Jo 20.8). João faz notar o detalhe peculiar: o soudarion/σουδάριον (o lenço da cabeça) não estava com os lençóis, mas «enrolado num lugar à parte» — indício de que não houve desordem típica de furto, mas de saída ordenada.
Análise lexical (grego) — termos que importam
- ἔδραμε / ἔτρεξαν (dramein/trechein) — correr; João descreve a pressa, o movimento impulsivo provocado pela notícia.
- εἶδεν (eiden) — “viu” (do verbo ὁράω/οἶδα), verbo de percepção imediata.
- εἰσῆλθεν / εἰσῆλθον (eisēlthen) — “entrou”; Pedro entra no sepulcro — ação decisiva.
- ὀθόνια (othonia) — “lençóis, panos funerários” (plural): evidencia material do sepulcro.
- σουδάριον (soudarion) — “lenço, sudário” (sobre a cabeça) — distinto dos ὀθόνια; a posição enrolada indica ordem e propósito.
- ἐπίστευσεν (episteusen) — “ele creu” (aqui João sintetiza a conclusão de fé do discípulo amado ao ver os sinais).
- οὐκέτι ᾔδεισαν τὴν γραφήν (ouketi ēdeisan tēn graphēn) — já visto: “ainda não haviam compreendido as Escrituras” (Jo 20.9), mostrando que ver e entender são etapas distintas.
Por que os detalhes importam?
- A descrição dos lençóis e do lenço enrolado é uma evidência narrativa que indica que o corpo não foi simplesmente removido por ladrões (a bagunça do furto não aparece). João sugere uma saída controlada: a pessoa que saiu deixou os panos no lugar, e o lenço arrumado à parte como quem terminara um trabalho.
- A cena dramatiza dois tipos de reação: Pedro (o impetuoso) entra e investiga; o discípulo amado observa, entra e crê. João mostra que a fé surge quando os olhos encontram sinais que o Espírito interpreta — não é sentimento vago, mas convicção diante de fatos que apontam para um evento transformador.
O relato de João 20:2-9 é marcado por testemunho ocular. O discípulo amado sublinha os detalhes: quem chegou primeiro, quem entrou, o que viram e como reagiram. A ênfase não está apenas no vazio do sepulcro, mas na ordem dos sinais deixados: os othónia (ὀθόνια – panos de linho funerário) e o soudárion (σουδάριον – lenço usado para a cabeça) arrumado à parte (Jo 20.7).
Esse detalhe exclui a hipótese de roubo ou violação, pois ladrões não perderiam tempo em enrolar o sudário de forma organizada. Como diz Ralph Earle & Joseph Mayfield, João registra um fato concreto e sutil que aponta para a vitória de Cristo sobre a morte de forma consciente e gloriosa.
A reação também é importante: João vê (eiden) e crê (episteusen). O verbo “crer” (πιστεύω, pisteuō) aqui denota confiança e entrega. Ele não apenas constatou o vazio, mas creu que a morte havia sido vencida. Pedro, mais impulsivo, entra primeiro, mas João é quem chega à fé — mostrando que ver não basta, é preciso interpretar os sinais à luz da promessa.
👉 Aplicação: Muitas vezes somos como Pedro e João — diante de evidências do agir de Deus, alguns demoram mais a crer, outros confiam de imediato. A fé cristã não se baseia em especulação, mas em sinais concretos que apontam para a ação de Deus. O sepulcro vazio continua sendo o maior sinal de que a morte foi derrotada.
2.3 A Ressurreição de Jesus: centro da mensagem cristã
A ressurreição não é apenas um evento isolado, mas o fundamento da fé cristã. Sem ela, Paulo afirma que a pregação e a fé seriam “vãs” (kenē, κενή – vazia, sem efeito, 1Co 15.14).
Nos discursos apostólicos de Atos (At 2.24-36; 3.15; 4.10,33), a ressurreição é proclamada como cumprimento das Escrituras e como centro do Evangelho. Ela não só garante perdão e justificação (Rm 4.25), mas inaugura uma nova vida: somos regenerados “para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).
F.F. Bruce destaca que João poderia ter encerrado sua narrativa com “Está consumado” (Jo 19.30), mas o evangelista enfatiza que a obra de Cristo só é plenamente revelada na ressurreição. A morte foi o clímax do sacrifício, mas a ressurreição é a confirmação divina de que o sacrifício foi aceito.
👉 Aplicação: Nossa fé não está em um Cristo morto, mas em um Salvador vivo. Isso transforma nossa esperança, nossa ética e nossa missão. O cristão não teme o futuro porque já sabe que a morte foi vencida. Isso também nos move a testemunhar, como os apóstolos, que Jesus está vivo e continua transformando vidas.
Referências acadêmicas
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
Tabela Expositiva
Ponto | Texto | Palavra-chave (grego) | Teologia | Aplicação |
João vê e crê | Jo 20.2-8 | πιστεύω (pisteuō) – crer | Fé nasce do encontro com os sinais da ressurreição | Ver não basta: é preciso crer no agir de Deus |
Lençóis e sudário | Jo 20.7 | ὀθόνια (othonia) / σουδάριον (soudárion) | Ordem indica que não houve roubo, mas ressurreição gloriosa | Cristo não foi vencido, mas venceu a morte |
Ressurreição anunciada | At 2.24-36 | ἀνάστασις (anástasis) – ressurreição | Centro da pregação apostólica, cumprimento das Escrituras | Nossa fé repousa em um fato histórico: Jesus ressuscitou |
Fé sem ressurreição é vã | 1Co 15.14 | κενή (kenē) – vazia, inútil | Sem ressurreição, não há Evangelho | A fé cristã tem fundamento sólido e vivo |
Esperança viva | 1Pe 1.3 | ζῶσαν ἐλπίδα (zōsan elpida) – viva esperança | Ressurreição gera vida nova e esperança futura | O cristão vive hoje com os olhos na eternidade |
EU ENSINEI QUE:
A Ressurreição consolida a demonstração do Amor de Deus por nós.
3- As testemunhas da Ressurreição
Jesus ressurreto apareceu a várias pessoas, começando por Maria Madalena, no jardim próximo ao túmulo, quando Jesus a mandou dizer aos discípulos sobre Sua Ressurreição. Ele também apareceu a dois discípulos na estrada para Emaús, revelando-se a eles ao partir o pão. Outras aparições significativas incluem encontros com os discípulos no Cenáculo, onde Jesus lhes mostrou Suas feridas. Tomé duvidou inicialmente, mas depois reconheceu a Jesus como “Senhor e Deus”. As aparições de Cristo são um testemunho poderoso da verdade da Ressurreição, confirmando-a como fundamento da fé cristã e da proclamação do Evangelho (Mt 28.9,16,17; Mc 16.9,14-18; Lc 24.13-31, 34, 50-53; Jo 20.15,16,19,26; 21.1-22; At 1.3-11,21,26).
3.1. Jesus aparece a Maria Madalena. Após Pedro e João voltarem para casa, Maria Madalena ficou ali, chorando junto ao sepulcro (Jo 20.11). Ainda chorosa, ela viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde esteve o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Embora estivesse conversando com Jesus, ela não O identificou; e, pensando ser o jardineiro, perguntou onde ele havia posto o corpo do Mestre (Jo 20.14,15). Logo que o reconheceu, ela exclamou: “Raboni (quer que dizer Mestre)”, Jo 20.16. Jesus lhe disse que ainda não havia subido ao Pai, mas que subiria. Então, Maria foi e disse aos irmãos que viu o Senhor e o que Ele lhe tinha dito (Jo 20.17,18).
Myer Pearlman (1978, p.175): “Seus olhos marejados de lágrimas só conseguiram ver, obscuramente, uma forma humana, que julgou ser o jardineiro. Como no caso dos dois discípulos que caminhavam para Emaús, ‘seus olhos estavam como que impedidos de O reconhecer. O coração sobrecarregado com mágoa às vezes perde a consciência da presença de Cristo e se recusa a ser consolado, por causa de não conseguir ver a Cristo no meio da tristeza”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
3. As testemunhas da Ressurreição
As aparições do Cristo ressurreto não são apenas fatos históricos, mas sinais teológicos que fundamentam a fé cristã (1Co 15.3-8). O termo grego usado por Paulo para “aparecer” é ὤφθη (ōphthē), aoristo passivo de ὁράω (“ver”), que carrega a ideia de uma revelação objetiva, não de mera experiência subjetiva.
Autores como N.T. Wright (The Resurrection of the Son of God) e Gary Habermas ressaltam que o consenso acadêmico, inclusive entre críticos, reconhece que os discípulos tiveram experiências reais que eles interpretaram como aparições do Cristo ressurreto.
As aparições a diferentes pessoas e grupos, em locais e circunstâncias distintas, confirmam a natureza corpórea e histórica da ressurreição, não como alucinação, mas como cumprimento das Escrituras.
3.1. Jesus aparece a Maria Madalena (Jo 20.11-18)
Maria é a primeira testemunha da ressurreição, algo notável em um contexto em que o testemunho feminino era socialmente desvalorizado. Isso mostra a autenticidade do relato e a inversão dos padrões humanos pelo evangelho.
- O verbo usado em Jo 20.14, θεωρεῖ (theōreî), significa “observar atentamente”, indicando que Maria olhava mas não compreendia.
- Quando Jesus a chama pelo nome (Jo 20.16), o verbo φωνεῖ (phōneî) ressalta a intimidade do chamado. O reconhecimento se dá não pela visão, mas pela relação pessoal.
- A resposta de Maria, ῥαββουνί (rabbouní), é aramaico e significa “meu mestre”. O pronome possessivo embutido expressa afeição e devoção.
Teologicamente, essa cena ecoa o ensino de João 10.3: “as ovelhas ouvem a sua voz... e ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora”. O reconhecimento do Ressuscitado vem pela voz que chama.
Segundo Rudolf Schnackenburg (The Gospel According to St. John), Maria Madalena é a “apóstola dos apóstolos”, pois recebe de Cristo a missão de anunciar a ressurreição aos discípulos.
Aplicação pessoal
- Cristo nos encontra em nossa dor – Mesmo em lágrimas, Maria foi surpreendida pelo Ressuscitado.
- O chamado é pessoal – Jesus conhece e chama cada discípulo pelo nome.
- A fé transforma pranto em proclamação – Maria passa de luto à missionária do primeiro anúncio da ressurreição.
- Devoção antes de compreensão – Muitas vezes não entendemos plenamente a obra de Cristo, mas somos convidados a crer e anunciar.
Tabela Expositiva
Referência
Palavra-chave (grego/hebraico)
Observação exegética
Aplicação prática
Jo 20.11
θεωρέω (theōréō) – observar atentamente
Maria vê, mas não compreende a realidade espiritual
Muitas vezes olhamos sem discernir; precisamos da revelação de Cristo
Jo 20.14
θεωρεῖ / βλέπει
Ela vê Jesus, mas não o reconhece
A dor pode cegar a visão espiritual
Jo 20.16
ῥαββουνί (rabbouní) – meu mestre
Reconhecimento pela voz, não pela visão
Ovelhas reconhecem a voz do Bom Pastor
Jo 20.17
ἀναβαίνω (anabaínō) – subir
Jesus anuncia sua ascensão ao Pai
A ressurreição aponta para a exaltação de Cristo
Jo 20.18
ἑώρακα τὸν κύριον (heōraka ton kyrion) – “vi o Senhor”
Maria torna-se a primeira mensageira da ressurreição
O encontro com Cristo gera missão e testemunho
3. As testemunhas da Ressurreição
As aparições do Cristo ressurreto não são apenas fatos históricos, mas sinais teológicos que fundamentam a fé cristã (1Co 15.3-8). O termo grego usado por Paulo para “aparecer” é ὤφθη (ōphthē), aoristo passivo de ὁράω (“ver”), que carrega a ideia de uma revelação objetiva, não de mera experiência subjetiva.
Autores como N.T. Wright (The Resurrection of the Son of God) e Gary Habermas ressaltam que o consenso acadêmico, inclusive entre críticos, reconhece que os discípulos tiveram experiências reais que eles interpretaram como aparições do Cristo ressurreto.
As aparições a diferentes pessoas e grupos, em locais e circunstâncias distintas, confirmam a natureza corpórea e histórica da ressurreição, não como alucinação, mas como cumprimento das Escrituras.
3.1. Jesus aparece a Maria Madalena (Jo 20.11-18)
Maria é a primeira testemunha da ressurreição, algo notável em um contexto em que o testemunho feminino era socialmente desvalorizado. Isso mostra a autenticidade do relato e a inversão dos padrões humanos pelo evangelho.
- O verbo usado em Jo 20.14, θεωρεῖ (theōreî), significa “observar atentamente”, indicando que Maria olhava mas não compreendia.
- Quando Jesus a chama pelo nome (Jo 20.16), o verbo φωνεῖ (phōneî) ressalta a intimidade do chamado. O reconhecimento se dá não pela visão, mas pela relação pessoal.
- A resposta de Maria, ῥαββουνί (rabbouní), é aramaico e significa “meu mestre”. O pronome possessivo embutido expressa afeição e devoção.
Teologicamente, essa cena ecoa o ensino de João 10.3: “as ovelhas ouvem a sua voz... e ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora”. O reconhecimento do Ressuscitado vem pela voz que chama.
Segundo Rudolf Schnackenburg (The Gospel According to St. John), Maria Madalena é a “apóstola dos apóstolos”, pois recebe de Cristo a missão de anunciar a ressurreição aos discípulos.
Aplicação pessoal
- Cristo nos encontra em nossa dor – Mesmo em lágrimas, Maria foi surpreendida pelo Ressuscitado.
- O chamado é pessoal – Jesus conhece e chama cada discípulo pelo nome.
- A fé transforma pranto em proclamação – Maria passa de luto à missionária do primeiro anúncio da ressurreição.
- Devoção antes de compreensão – Muitas vezes não entendemos plenamente a obra de Cristo, mas somos convidados a crer e anunciar.
Tabela Expositiva
Referência | Palavra-chave (grego/hebraico) | Observação exegética | Aplicação prática |
Jo 20.11 | θεωρέω (theōréō) – observar atentamente | Maria vê, mas não compreende a realidade espiritual | Muitas vezes olhamos sem discernir; precisamos da revelação de Cristo |
Jo 20.14 | θεωρεῖ / βλέπει | Ela vê Jesus, mas não o reconhece | A dor pode cegar a visão espiritual |
Jo 20.16 | ῥαββουνί (rabbouní) – meu mestre | Reconhecimento pela voz, não pela visão | Ovelhas reconhecem a voz do Bom Pastor |
Jo 20.17 | ἀναβαίνω (anabaínō) – subir | Jesus anuncia sua ascensão ao Pai | A ressurreição aponta para a exaltação de Cristo |
Jo 20.18 | ἑώρακα τὸν κύριον (heōraka ton kyrion) – “vi o Senhor” | Maria torna-se a primeira mensageira da ressurreição | O encontro com Cristo gera missão e testemunho |
3.2. Jesus aparece a dez dos onze discípulos. Após a Ressurreição, antes de subir ao céu, Jesus apareceu aos Seus discípulos várias vezes num período de quarenta dias, falando-lhes acerca do Reino de Deus (At 1.3). Em certo domingo, os discípulos estavam reunidos a portas fechadas, porque estavam com medo dos judeus (Jo 20.19). Jesus, então, aparece e se põe no meio deles: “Paz seja convosco”, Jo 20.19. Aí Jesus lhes mostrou as mãos furadas e o lado ferido, e os discípulos ficaram muito felizes ao ver o Senhor ressurreto (Jo 20.20). Somente Tomé não estava ali.
Bíblia de Estudo de Genebra (2022, p.1414): “Trancadas as portas. O relato dá a impressão de que Cristo ressurreto podia atravessar portas fechadas, e não que ele as destrancou sobrenaturalmente como em Atos 12.10. Esse fato é relevante para as discussões acerca da natureza do corpo ressurreto (1Co 15.35-49). ‘Paz seja convosco! Uma saudação comum e muito bem recebida, uma vez que talvez esperassem uma repreensão pela covardia de terem abandonado Jesus no momento de sua prisão”.
3.3. Jesus aparece aos onze discípulos. João relata que, oito dias após aparecer aos dez discípulos, o Filho de Deus apareceu novamente aos discípulos, só que agora Tomé estava presente (Jo 20.26). Mesmo as portas estando fechadas, Jesus entrou e se pôs no meio deles. Nesta oportunidade, Jesus disse a Tomé: “Veja as minhas mãos e ponha o seu dedo nelas”. Estenda a mão e ponha ao meu lado. Pare de duvidar e creia (Jo 20.27). Foi nessa aparição que Jesus censurou a descrença de Tomé, que logo exclamou: “Senhor meu, e Deus meu!”, Jo 20.28.
Bíblia de Estudo Wiersbe (2016, p.1686): “Jesus queria fortalecer a fé de Tomé e incluí-lo nas bênçãos reservadas aos discípulos. Tomé nos lembra que a incredulidade nos rouba bênçãos e oportunidades. Pode parecer sofisticado e intelectual perguntar o que Jesus fez, mas questionamentos desse tipo são normalmente evidência de coração duro, e não de uma mente disposta a buscar a verdade”.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
3.2 — Jesus aparece a dez dos onze discípulos
Exegese e análise lexical (grego)
- εἰσῆλθεν / ἦν ἐν τῷ μέσω αὐτῶν — João enfatiza que Jesus “entrou” num espaço com portas fechadas e “pôs-se no meio” (μέσος). O verbo indica uma ação de ir-ao-encontro; “pôr-se no meio” sublinha a sua presença comunitária e reconciliadora.
- Εἰρήνη ὑμῖν — saudação pascal. Palavra de paz (eirēnē) remete à restauração integral: não apenas ausência de guerra, mas bem-estar relacional e reconciliamento com Deus.
- δεικνύει τὰς χεῖρας καὶ τὸ πλευρόν — mostrar as mãos e o lado (χείρ, πλευρά) é mostrar as marcas corporais do sofrimento e da vitória. João usa esses sinais como índices de identidade — o Ressuscitado continua o mesmo indivíduo que sofreu.
- O verbo ἐχάρησαν (alegraram-se) registra a reação imediata: do medo à alegria. A sequência medo → presença → paz → confirmação sensorial → júbilo é programada narrativamente para ensinar algo sobre a vida da comunidade pós-Pascal.
Observações teológicas
- Natureza do corpo ressuscitado — João deliberadamente mostra tanto continuidade (marcas, comer em Lucas) quanto transfiguração (capacidade de entrar portas fechadas): o corpo ressuscitado é corporal e histórico, mas transformado. Esse padrão corresponde ao ensino paulino sobre corpo “psíquico” → “espiritual” (1Co 15).
- Reconstituição da comunidade — Jesus aparece “no meio” de um grupo ferido e dissociado; a aparição é gesto de restauração: reconciliação entre os discípulos, remoção do medo, reorientação missionária.
- Autoridade e missão — a saudação de paz vem acompanhada em João por atos que delegam missão (ex.: João 20:22–23; “soprar” o Espírito e autoridade de anunciar perdão). A aparição não é espetáculo pessoal, mas constituição de uma comunidade enviada.
Implicações práticas
- A presença de Cristo cura o medo e legitima a missão mesmo quando a comunidade está frágil.
- A fé cristã é fundada em um encontro real com um pessoa corpórea; testemunho apostólico baseia-se nisso.
- A saudação “Paz” precede a missão: reconciliação é pré-condição para proclamar.
3.3 — Jesus aparece aos onze (Tomé presente)
Exegese e análise lexical (grego)
- Ὀκτὼ ἡμέραι μετὰ — João marca o tempo: oito dias depois. O detalhe cronológico serve para mostrar repetição e confirmação da aparição; não é um evento isolado.
- πάλιν ἦλθεν ὁ Ἰησοῦς, καὶ τὰς θύρας κεκλεισμένας εἰσῆλθεν — novamente entra com portas fechadas. A repetição sublinha a intenção: disponibilidade para aqueles que o recebem.
- A fala a Tomé: βάλε τὸν δάκτυλόν σου... (pôr o dedo; ἴδε τὰς χεῖράς μου; βάλε τὴν χεῖρα) — gesto pedagógico: Jesus convida Tomé a verificar as marcas. O convite mostra que a fé pode dialogar com a evidência sensorial; Jesus não pune a dúvida com desprezo, mas a encara pastoralmente.
- μή γίνου ἄπιστος ἀλλὰ πιστός — contraste entre incredulidade e fé: Jesus chama Tomé a mover-se do ceticismo para a confiança arrependida.
- Ὁ Κύριός μου καὶ ὁ Θεός μου — declaração teológica de Tomé (κύριος/θεός): confissão explícita da divindade e senhorio do Ressuscitado; em João, essa confissão é alta cristologia.
Observações teológicas
- Dignidade da dúvida tratada pastoralmente — Tomé não é execrado; é confrontado com as evidências e conduz à confissão. Isso demonstra que a comunidade cristã pode e deve tratar a dúvida com paciência e provas, não com escárnio.
- Confissão cristológica — a exclamação de Tomé é uma das mais claras confissões do Novo Testamento sobre a divindade do Ressuscitado. João a coloca como culminação: reconhecer o Senhor como “meu” e “Deus meu” tem consequências soteriológicas e trinitárias.
- Fé para além da visão — Jesus conclui com uma bênção sobre os que crerem sem ver (Jo 20:29): afirmação de uma modalidade válida de fé (confiar sem ver) que caracteriza a comunidade cristã futura.
Implicações práticas
- É legítimo levar dúvidas a Cristo; Ele confronta, convida e converte a dúvida em confissão.
- A fé madura inclui reconhecimento da pessoa de Cristo como Senhor e Deus, não apenas aceitação moral.
- A bênção de Jesus aos que creem sem ver legitima a confiança dos crentes presentes e futuros — a tradição apostólica cujo fundamento é testemunho ocular.
Tabela expositiva (resumo: 3.2 e 3.3)
Cena
Texto-chave/elemento
Palavra(s) grega(s)
Observação exegética
Relevância teológica
Aplicação prática
3.2 — Aparição aos dez
Jesus entra a portas fechadas; “Paz”; mostra mãos e lado
εἰσῆλθεν; εἰρήνη ὑμῖν; χεῖρες, πλευρά
Continuidade corporal (marcas) + novidade (entra portas fechadas)
Corpo ressuscitado: real e transformado; restauração comunitária
Cristo cura medo — missão nasce da paz recebida
3.2 — Reação dos discípulos
Alegria após ver o Senhor
ἐχάρησαν
Alegria como resposta teologal ao encontro pascal
Testemunho apostólico nasce do encontro
Cultivar alegria e coragem missionária
3.3 — Aparição a Tomé
Convite a tocar; repreensão pastoral; confissão: “Senhor e Deus”
βάλε τὸν δάκτυλόν σου; μή γίνου ἄπιστος ἀλλὰ πιστός; Κύριος, Θεός
Jesus trata a dúvida com evidência; Tomé confessa divindade
Fé cristã envolve reconhecimento pessoal e adoracional
Levar dúvidas a Cristo; discipulado que esclarece e aponta à confissão
3.3 — Bênção aos que creem sem ver
Palavra de Jesus sobre os futuros crentes
μακάριοι οἱ μὴ ἰδόντες καὶ πιστεύσαντες
A comunidade do testemunho é legitimada mesmo sem visão ocular
Valida-se a fé apostólica transmitida por testemunho
Confiar no testemunho apostólico; viver como igreja de missão
Referências acadêmicas recomendadas (para aprofundamento)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
Aplicações pessoais e pastorais diretas
- Comunidade em crise — quando a igreja tem portas “fechadas” pelo medo, a presença de Cristo (a paz) precede e habilita a missão. Pastores: proclamar a paz e reconstituir a esperança.
- Lidar com dúvidas — não humilhar o que duvida; oferecer diálogo, evidência, convite ao encontro. A pastoral de Tomé é modelo de como transformar ceticismo em confissão.
- Confissão pública e intimidade — Tomé demonstra que a fé verdadeira é tanto confessional (“Senhor e Deus”) quanto relacional (“meu Senhor”). O discipulado visa crescer nas duas direções.
- Missão baseada em testemunho — a bênção sobre os que crerem sem ver legitima a proclamação apostólica: o corpo de crentes vive e se multiplica por meio do testemunho que anuncia o evento pascal.
3.2 — Jesus aparece a dez dos onze discípulos
Exegese e análise lexical (grego)
- εἰσῆλθεν / ἦν ἐν τῷ μέσω αὐτῶν — João enfatiza que Jesus “entrou” num espaço com portas fechadas e “pôs-se no meio” (μέσος). O verbo indica uma ação de ir-ao-encontro; “pôr-se no meio” sublinha a sua presença comunitária e reconciliadora.
- Εἰρήνη ὑμῖν — saudação pascal. Palavra de paz (eirēnē) remete à restauração integral: não apenas ausência de guerra, mas bem-estar relacional e reconciliamento com Deus.
- δεικνύει τὰς χεῖρας καὶ τὸ πλευρόν — mostrar as mãos e o lado (χείρ, πλευρά) é mostrar as marcas corporais do sofrimento e da vitória. João usa esses sinais como índices de identidade — o Ressuscitado continua o mesmo indivíduo que sofreu.
- O verbo ἐχάρησαν (alegraram-se) registra a reação imediata: do medo à alegria. A sequência medo → presença → paz → confirmação sensorial → júbilo é programada narrativamente para ensinar algo sobre a vida da comunidade pós-Pascal.
Observações teológicas
- Natureza do corpo ressuscitado — João deliberadamente mostra tanto continuidade (marcas, comer em Lucas) quanto transfiguração (capacidade de entrar portas fechadas): o corpo ressuscitado é corporal e histórico, mas transformado. Esse padrão corresponde ao ensino paulino sobre corpo “psíquico” → “espiritual” (1Co 15).
- Reconstituição da comunidade — Jesus aparece “no meio” de um grupo ferido e dissociado; a aparição é gesto de restauração: reconciliação entre os discípulos, remoção do medo, reorientação missionária.
- Autoridade e missão — a saudação de paz vem acompanhada em João por atos que delegam missão (ex.: João 20:22–23; “soprar” o Espírito e autoridade de anunciar perdão). A aparição não é espetáculo pessoal, mas constituição de uma comunidade enviada.
Implicações práticas
- A presença de Cristo cura o medo e legitima a missão mesmo quando a comunidade está frágil.
- A fé cristã é fundada em um encontro real com um pessoa corpórea; testemunho apostólico baseia-se nisso.
- A saudação “Paz” precede a missão: reconciliação é pré-condição para proclamar.
3.3 — Jesus aparece aos onze (Tomé presente)
Exegese e análise lexical (grego)
- Ὀκτὼ ἡμέραι μετὰ — João marca o tempo: oito dias depois. O detalhe cronológico serve para mostrar repetição e confirmação da aparição; não é um evento isolado.
- πάλιν ἦλθεν ὁ Ἰησοῦς, καὶ τὰς θύρας κεκλεισμένας εἰσῆλθεν — novamente entra com portas fechadas. A repetição sublinha a intenção: disponibilidade para aqueles que o recebem.
- A fala a Tomé: βάλε τὸν δάκτυλόν σου... (pôr o dedo; ἴδε τὰς χεῖράς μου; βάλε τὴν χεῖρα) — gesto pedagógico: Jesus convida Tomé a verificar as marcas. O convite mostra que a fé pode dialogar com a evidência sensorial; Jesus não pune a dúvida com desprezo, mas a encara pastoralmente.
- μή γίνου ἄπιστος ἀλλὰ πιστός — contraste entre incredulidade e fé: Jesus chama Tomé a mover-se do ceticismo para a confiança arrependida.
- Ὁ Κύριός μου καὶ ὁ Θεός μου — declaração teológica de Tomé (κύριος/θεός): confissão explícita da divindade e senhorio do Ressuscitado; em João, essa confissão é alta cristologia.
Observações teológicas
- Dignidade da dúvida tratada pastoralmente — Tomé não é execrado; é confrontado com as evidências e conduz à confissão. Isso demonstra que a comunidade cristã pode e deve tratar a dúvida com paciência e provas, não com escárnio.
- Confissão cristológica — a exclamação de Tomé é uma das mais claras confissões do Novo Testamento sobre a divindade do Ressuscitado. João a coloca como culminação: reconhecer o Senhor como “meu” e “Deus meu” tem consequências soteriológicas e trinitárias.
- Fé para além da visão — Jesus conclui com uma bênção sobre os que crerem sem ver (Jo 20:29): afirmação de uma modalidade válida de fé (confiar sem ver) que caracteriza a comunidade cristã futura.
Implicações práticas
- É legítimo levar dúvidas a Cristo; Ele confronta, convida e converte a dúvida em confissão.
- A fé madura inclui reconhecimento da pessoa de Cristo como Senhor e Deus, não apenas aceitação moral.
- A bênção de Jesus aos que creem sem ver legitima a confiança dos crentes presentes e futuros — a tradição apostólica cujo fundamento é testemunho ocular.
Tabela expositiva (resumo: 3.2 e 3.3)
Cena | Texto-chave/elemento | Palavra(s) grega(s) | Observação exegética | Relevância teológica | Aplicação prática |
3.2 — Aparição aos dez | Jesus entra a portas fechadas; “Paz”; mostra mãos e lado | εἰσῆλθεν; εἰρήνη ὑμῖν; χεῖρες, πλευρά | Continuidade corporal (marcas) + novidade (entra portas fechadas) | Corpo ressuscitado: real e transformado; restauração comunitária | Cristo cura medo — missão nasce da paz recebida |
3.2 — Reação dos discípulos | Alegria após ver o Senhor | ἐχάρησαν | Alegria como resposta teologal ao encontro pascal | Testemunho apostólico nasce do encontro | Cultivar alegria e coragem missionária |
3.3 — Aparição a Tomé | Convite a tocar; repreensão pastoral; confissão: “Senhor e Deus” | βάλε τὸν δάκτυλόν σου; μή γίνου ἄπιστος ἀλλὰ πιστός; Κύριος, Θεός | Jesus trata a dúvida com evidência; Tomé confessa divindade | Fé cristã envolve reconhecimento pessoal e adoracional | Levar dúvidas a Cristo; discipulado que esclarece e aponta à confissão |
3.3 — Bênção aos que creem sem ver | Palavra de Jesus sobre os futuros crentes | μακάριοι οἱ μὴ ἰδόντες καὶ πιστεύσαντες | A comunidade do testemunho é legitimada mesmo sem visão ocular | Valida-se a fé apostólica transmitida por testemunho | Confiar no testemunho apostólico; viver como igreja de missão |
Referências acadêmicas recomendadas (para aprofundamento)
- D. A. Carson — O Comentário de João.
- Andreas J. Köstenberger, Introdução ao Novo Testamento.
- Craig S. Keener, O Espírito na Igreja.
- Leon Morris, Série comentário bíblico de Lucas.
- Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, ed. Stanley M. Horton (CPAD).
- Comentário Bíblico Beacon – João (CPAD).
- R. C. Trench, Synonyms of the New Testament (para distinção hypódeigma / typos).
- Colin Brown (ed.), Dicionario de Teologia do NT e AT.
- W. E. Vine, Dicionário Vine de Palavras do NT.
- G. Kittel & G. Friedrich (eds.), Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), verbetes ὑπόδειγμα; ποιέω.
- Myer Pearlman, 07 livros - Coleção (CPAD), cap. sobre a humildade de Cristo e a ética cristã.
- Léxicos e dicionários: Biblia de Estudo Palavra Chave Grego e Hebraico
- Raymond E. Brown, Box 2 Volumes - Comentário de João.
- Richard Bauckham, O Mundo Cristão em torno do Novo Testamento.
- Herman Ridderbos, A Vinda do Reino
Aplicações pessoais e pastorais diretas
- Comunidade em crise — quando a igreja tem portas “fechadas” pelo medo, a presença de Cristo (a paz) precede e habilita a missão. Pastores: proclamar a paz e reconstituir a esperança.
- Lidar com dúvidas — não humilhar o que duvida; oferecer diálogo, evidência, convite ao encontro. A pastoral de Tomé é modelo de como transformar ceticismo em confissão.
- Confissão pública e intimidade — Tomé demonstra que a fé verdadeira é tanto confessional (“Senhor e Deus”) quanto relacional (“meu Senhor”). O discipulado visa crescer nas duas direções.
- Missão baseada em testemunho — a bênção sobre os que crerem sem ver legitima a proclamação apostólica: o corpo de crentes vive e se multiplica por meio do testemunho que anuncia o evento pascal.
EU ENSINEI QUE:
Tomé duvidou inicialmente, mas depois reconheceu a Jesus como Senhor e Deus.
CONCLUSÃO
É relevante tornar conhecido por todo ser humano o desenvolvimento do grande e perfeito plano divino de salvação, que passa pela prisão, sofrimento, morte na cruz e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tais acontecimentos já estavam previstos nas Escrituras e foram anunciados pelo Senhor aos Seus discípulos. Assim, a Ressurreição de Cristo é o evento central da fé cristã, pois atesta a aceitação por Deus da obra da redenção e confirma a vitória sobre a morte e a promessa de Vida Eterna para todos os crentes.
COMENTARIO EXTRA
Comentário de Hubner Braz
Conclusão
A consumação da obra redentora em Cristo encontra sua culminação na ressurreição. A palavra grega usada no Novo Testamento é anástasis (ἀνάστασις), que significa literalmente “levantar-se de novo” (cf. 1Co 15.21). Ela não se refere apenas ao retorno físico da morte, mas ao início de uma nova realidade escatológica em que a vitória sobre o pecado e a morte se torna definitiva (Rm 6.9).
A crucificação (σταυρός, staurós) e a ressurreição estão inseparavelmente ligadas no plano divino. Enquanto a cruz manifesta a profundidade do amor sacrificial de Cristo (Jo 3.16), a ressurreição demonstra a aceitação do sacrifício pelo Pai (Rm 4.25). Como bem observa N. T. Wright (The Resurrection of the Son of God, 2003), a ressurreição não foi apenas um “sinal de continuidade da vida de Jesus”, mas o ato central de Deus inaugurando a nova criação e validando a identidade messiânica do Filho.
Além disso, Paulo declara que, se Cristo não tivesse ressuscitado, “vã seria a nossa fé” (1Co 15.17). Essa afirmação enfatiza que a ressurreição é o fundamento epistemológico e teológico do cristianismo. O termo grego kenós (κενός), traduzido por “vão”, denota algo sem conteúdo ou propósito. Assim, sem a ressurreição, a fé cristã seria esvaziada de sentido.
Do ponto de vista pastoral, a ressurreição oferece ao crente esperança escatológica. A vitória de Cristo sobre a morte é também a garantia de nossa futura ressurreição (1Ts 4.14). Como observa Wiersbe (Comentário Bíblico Expositivo, 2016, p. 695), “o túmulo vazio é a maior prova de que o crente não luta por uma vitória, mas a partir da vitória já conquistada em Cristo”.
Aplicação Pessoal
- O cristão é chamado a viver diariamente sob a realidade da vitória de Cristo, não mais dominado pelo medo da morte.
- A ressurreição convida o crente a testemunhar com ousadia, pois anuncia que Jesus está vivo e ativo na história.
- Assim como os discípulos foram comissionados após verem o Cristo ressurreto, também hoje somos enviados ao mundo como proclamadores da vida eterna.
Tabela Expositiva – Conclusão
Tema Central
Palavra-Chave
Referência
Ensinamento Teológico
Aplicação Pessoal
A ressurreição como clímax do plano divino
ἀνάστασις (anástasis) – levantar-se de novo
1Co 15.21
Marca o início da nova criação e valida a obra de Cristo
Viver com esperança na vida eterna
A cruz e a ressurreição como unidade redentora
σταυρός (staurós) – cruz
Jo 3.16; Rm 4.25
A cruz revela o amor, a ressurreição confirma a aceitação divina
Testemunhar a obra completa de Cristo
A fé fundamentada na ressurreição
κενός (kenós) – vão, sem valor
1Co 15.17
Sem a ressurreição, a fé cristã não teria fundamento
Permanecer firmes na fé em Cristo ressuscitado
Esperança escatológica
ζωὴ αἰώνιος (zoē aiōnios) – vida eterna
1Ts 4.14
A vitória de Cristo é garantia da nossa vitória futura
Enfrentar a morte com confiança e coragem
Conclusão
A consumação da obra redentora em Cristo encontra sua culminação na ressurreição. A palavra grega usada no Novo Testamento é anástasis (ἀνάστασις), que significa literalmente “levantar-se de novo” (cf. 1Co 15.21). Ela não se refere apenas ao retorno físico da morte, mas ao início de uma nova realidade escatológica em que a vitória sobre o pecado e a morte se torna definitiva (Rm 6.9).
A crucificação (σταυρός, staurós) e a ressurreição estão inseparavelmente ligadas no plano divino. Enquanto a cruz manifesta a profundidade do amor sacrificial de Cristo (Jo 3.16), a ressurreição demonstra a aceitação do sacrifício pelo Pai (Rm 4.25). Como bem observa N. T. Wright (The Resurrection of the Son of God, 2003), a ressurreição não foi apenas um “sinal de continuidade da vida de Jesus”, mas o ato central de Deus inaugurando a nova criação e validando a identidade messiânica do Filho.
Além disso, Paulo declara que, se Cristo não tivesse ressuscitado, “vã seria a nossa fé” (1Co 15.17). Essa afirmação enfatiza que a ressurreição é o fundamento epistemológico e teológico do cristianismo. O termo grego kenós (κενός), traduzido por “vão”, denota algo sem conteúdo ou propósito. Assim, sem a ressurreição, a fé cristã seria esvaziada de sentido.
Do ponto de vista pastoral, a ressurreição oferece ao crente esperança escatológica. A vitória de Cristo sobre a morte é também a garantia de nossa futura ressurreição (1Ts 4.14). Como observa Wiersbe (Comentário Bíblico Expositivo, 2016, p. 695), “o túmulo vazio é a maior prova de que o crente não luta por uma vitória, mas a partir da vitória já conquistada em Cristo”.
Aplicação Pessoal
- O cristão é chamado a viver diariamente sob a realidade da vitória de Cristo, não mais dominado pelo medo da morte.
- A ressurreição convida o crente a testemunhar com ousadia, pois anuncia que Jesus está vivo e ativo na história.
- Assim como os discípulos foram comissionados após verem o Cristo ressurreto, também hoje somos enviados ao mundo como proclamadores da vida eterna.
Tabela Expositiva – Conclusão
Tema Central | Palavra-Chave | Referência | Ensinamento Teológico | Aplicação Pessoal |
A ressurreição como clímax do plano divino | ἀνάστασις (anástasis) – levantar-se de novo | 1Co 15.21 | Marca o início da nova criação e valida a obra de Cristo | Viver com esperança na vida eterna |
A cruz e a ressurreição como unidade redentora | σταυρός (staurós) – cruz | Jo 3.16; Rm 4.25 | A cruz revela o amor, a ressurreição confirma a aceitação divina | Testemunhar a obra completa de Cristo |
A fé fundamentada na ressurreição | κενός (kenós) – vão, sem valor | 1Co 15.17 | Sem a ressurreição, a fé cristã não teria fundamento | Permanecer firmes na fé em Cristo ressuscitado |
Esperança escatológica | ζωὴ αἰώνιος (zoē aiōnios) – vida eterna | 1Ts 4.14 | A vitória de Cristo é garantia da nossa vitória futura | Enfrentar a morte com confiança e coragem |
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